'Minimanual do Jornaleiro Comunista' (Tabaco)

É importante que a camaradagem se debruce sobre esse assunto, pois um Jornal para todo o Brasil é uma das tarefas mais importantes da nossa organização para o próximo ciclo.

'Minimanual do Jornaleiro Comunista' (Tabaco)

Por Tabaco para a Tribuna de Debates Preparatória do XVII Congresso Extraordinário.

Apresentação

Nesta tribuna não pretendo fazer o debate teórico com relação a imprensa partidária, já muito bem feito em O jornal de Lenin (Tavinho) nem tão pouco me aprofundar na importância do formato impresso do jornal, discussão colocada também por camarada Machado em O jornal não foi ultrapassado: resposta ao camarada Bruno Franzoni

O objetivo deste texto é, no contexto de lançamento muito próximo do nosso próprio Jornal Partidário, coletivizar os conhecimentos que adquiri a partir da experiência de operacionalização da versão impressa do jornal O Poder Popular no DF, ainda no velho PCB e socializar os acúmulos desde os debates políticos iniciais, até as questões práticas finais, para a partir daí ter um documento que possa servir como guia para os trabalhos futuros. Utilizei vários trechos da análise de custos que eu mesmo fiz para o GT do Jornal O Poder Popular no mês de Março de 2023.

Espero que a partir dessa leitura os camaradas possam fazer avançar mais ainda o trabalho do Jornal, que ainda era muito capenga no velho PCB.

Embates e contradições políticas pré-operacionalização

É digno de nota que O Poder Popular só foi totalmente organizado (da impressão e distribuição para a militância até a venda) no DF a partir do mês de Janeiro de 2023 e, pessoalmente, avalio que a política adotada pelo CC naquele momento, de responsabilização dos CR’s pela impressão do jornal, teve muito peso para isso. 

Primeiramente, porque ficou a cargo dos militantes dos Comitês Regionais decidir o nível de prioridade dessa tarefa e, em muitos casos (como o do Distrito Federal), essa prioridade era nula. A segunda razão, como vou expor mais a frente nesse texto, é que sai muito mais caro imprimir pequenas quantidades localmente do que imprimir grandes quantidades em pontos centralizados pelo país para, a partir daí, distribuir pelos Estados.

Sendo assim, no DF tínhamos esses dois desafios: nosso Comitê Regional com disposição abaixo de 0 para tocar a tarefa com seriedade, e dificuldade financeira de manter a tarefa de forma permanente devido aos preços.

Quando notei, em 2021, que o DF raramente tinha edições do Jornal O Poder Popular, procurei chamar atenção ao assunto nas reuniões do meu núcleo e em conversas com dirigentes mais experientes. Mas entendendo que a questão não saía do lugar, escrevi nesse mesmo ano uma carta ao Secretário de Finanças do Comitê Regional em que constava todo o projeto para implementação das atividades relacionadas ao JOPP (Jornal O Poder Popular) na UJC, incluindo custos, estimativa de pessoas que poderiam se dedicar às tarefas, despesas e lucro em diferentes cenários nos períodos de 2 meses, 6 meses e 1 ano, além de pontos e datas para brigadas de jornal.

Infelizmente não fui respondido e o projeto acabou ficando para trás devido às outras tarefas que foram surgindo para tocar. Mas após algum tempo, o núcleo Taguatinga da UJC abriu novamente essa discussão, inclusive a partir dessa análise de custos que já havia sido feita, e pressionamos a CR (Antiga CD) da UJC para que a tarefa fosse para frente. Devido aos tensionamentos do núcleo, em Janeiro de 2023 a CR/UJC decidiu por criar um Grupo de Trabalho responsável por cuidar de todas as tarefas associadas ao Jornal.

Planejamento

A partir da criação do GT, os trabalhos finalmente poderiam começar. O GT tinha as seguintes propostas:

  1. Ter a presença de ao menos uma pessoa de cada núcleo, de preferência que não fosse o Sec. Fin;
    1. Cada membro seria responsável por organizar e acompanhar que fosse cumprida uma cota individual de 3 jornais vendidos por militante orgânico em seu núcleo, a proposta é que esse número fosse aumentando de 2 em 2 a cada mês até encontrarmos um número médio que poderia ser vendido por cada pessoa;
    2. Cada núcleo deveria também comprar 15 jornais que deveriam ser vendidos coletivamente em uma brigada de jornal;
  2. Fazer o orçamento de impressão do jornal;
  3. Estabelecer o preço de venda;
  4. Organizar e acompanhar as brigadas de venda;
  5. O Secretário de Finanças da Coordenação Distrital estaria acompanhando o grupo no papel de assistente, seria responsável por pegar os PDF’s do Jornal com o Partido e imprimir em tempo hábil na gráfica orçada com o melhor valor;
  6. Organizar uma formação sobre como vender jornais em um dos núcleos que afirmou nunca ter feito;

Sobre o orçamento

Devido a, no primeiro momento, o GT entender que não havia nenhuma possibilidade de diálogo com outros Estados para envio de jornais impressos por eles, decidimos que iríamos fazer orçamentos em gráficas e copiadoras do Distrito Federal para impressão local.

Tivemos algumas dificuldades e também cometemos erros. Vou listar aqui para que sirva de acúmulo para tentativas em outros Estados ou novas tentativas no DF.

A primeira dificuldade que tivemos foi devido a não participação de todos os núcleos no nosso GT, além do não cumprimento da tarefa por parte da maioria dos membros do GT. Os orçamentos foram feitos por 2 camaradas de um mesmo núcleo, então os locais para impressão acabaram se centralizando no Plano Piloto (centro) e Taguatinga (local de atuação desses militantes). Isso aconteceu possivelmente porque não definimos exatamente quantos orçamentos cada membro do GT deveria fazer, além disso, nem todos os núcleos fizeram o debate político que houve no núcleo Taguatinga acerca do jornal, e isso influenciou no nível de participação de membro do GT na tarefa.

Em reunião para acelerar as tarefas do GT (até agora já haviam se passado mais de 20 dias e apenas fizemos orçamentos), identificamos um erro ao fazer o orçamento: orçamos a impressão em folhas A4, sendo que o jornal é diagramado para o formato A3. Ao notarmos isso, tivemos que refazer o orçamento nas copiadoras que se mostraram mais em conta. Aproveitamos para fazer um teste de qualidade em cada uma e por fim selecionar o local.

Nessa mesma reunião, identificamos que o número estimado de militantes no DF não correspondia à realidade, então a impressão de 230 jornais faria com que sobrassem cópias. Fizemos um novo cálculo com uma nova estimativa de militantes disponíveis para a tarefa e com menos jornais por núcleo, porque devido a falta de formação para vendas em todo o DF, cada núcleo precisaria de ajuda para fazer as brigadas. Com a antiga quantidade, havia risco de sobrarem muitos jornais ao fim do mês. Então o novo orçamento seria para 150 jornais, com expectativas de aumentar o número de jornais progressivamente.

Os preços variaram, no formato A3, de R$675,00 (PIX) até R$1050,00 em copiadoras. Ficou evidente que a baixa quantidade de jornais faz com que o preço pela impressão da unidade fique maior. Nesse sentido, debatemos no GT a possibilidade de integrar a nossa produção para venda a camaradas de Estados próximos, como o Goiás, e outros coletivos do complexo partidário do PCB. 

Saindo R$675,00 para 150 cópias, a unidade do jornal estaria custando R$4,50 para ser produzida. Nesse cenário, temos algumas opções com relação ao preço do jornal:

  • 5 reais a unidade: 50 centavos de lucro por jornal (11,1% de lucro)
  • 5,50 reais a unidade: 1 real de lucro por jornal (22,2% de lucro)
  • 6 reais a unidade: 1,50 reais de lucro (33,3% de lucro)

Dessa forma, o dinheiro que arrecadaríamos até o fim do ano com as vendas iria variar entre 650, 1300 e 2250 reais, conforme o gráfico abaixo:

Nessa tarefa, conseguimos notar algumas dificuldades com relação a venda mais massificada do jornal. Uma delas é o fato de sair excessivamente cara a impressão a nível estadual do jornal. É possível que a impressão centralizada e posterior distribuição nacional do jornal sairia mais barata do que a impressão sob responsabilidade do Estado que está imprimindo, pois o preço da impressão da unidade do jornal fica progressivamente mais barato conforme o tamanho da remessa solicitada. Isso se mostrou acertado quando alguns meses depois, comprando com camaradas que imprimiam em São Paulo, a unidade do Jornal saiu a R$0,80. Um valor muito mais em conta, mas por outro lado tínhamos bem menos tempo para circular os jornais, pois o frete demorava mais da metade do mês.

Na impressão local, cobramos pelo menos 5 reais por jornal, que nos devolve uma margem de lucro baixa, para vender um jornal que tem apenas 5 páginas de conteúdo (1 delas é capa). Talvez o papel-jornal, ou papel de imprensa, que é utilizado convencionalmente em jornais, seria uma boa escolha alternativa para baixar o custo de impressão do jornal, e consequentemente o preço de venda, que aumentou em pelo menos 100% (era R$2,50) desde a última vez que havíamos feito vendas no Distrito Federal.

Já quando o Jornal começou a vir de São Paulo, tivemos a possibilidade de reduzir o preço.

Distribuição

O problema da distribuição pode ser maior ou menor, a depender da realidade de cada uma das células. No meu entendimento, quanto mais especializada a célula, mais fácil é fazer com que os jornais sejam distribuídos para todos os membros dela. É mais fácil a distribuição dos jornais para 50 militantes de um mesmo campus de uma universidade do que para 20 militantes de uma célula de “zona”, que às vezes engloba militantes de diferentes cidades que têm sua vida a mais de 20 km de distância um do outro.

No nosso caso, cada membro do GT, responsável da célula pelo jornal, ficou responsável por garantir que os jornais fossem distribuídos em sua célula. Não houve balanço coletivo com relação a esse processo, mas uma estratégia que funcionou na minha célula foi levar todos os jornais na primeira atividade presencial que ocorresse, e nesse espaço dividimos a responsabilidade entre os presentes de levar os jornais aos camaradas restantes, como demonstra o diagrama abaixo:

Nesse caso, o membro B do GT leva os jornais durante a reunião e distribui para os camaradas presentes, que por sua vez devem se responsabilizar por distribuir para os militantes restantes conforme quem tiver melhores condições de entregar para cada um. O mais importante é que todos saibam de quem receberá os jornais e a quem deve entregar. 

Além disso, pode ser uma boa opção definir que “fulano é responsável por entregar para ciclano e beltrano todos os meses” a partir do local de moradia de cada um (os camaradas que são vizinhos podem ser responsáveis por entregar um para o outro sempre).

Vendas

Superado o problema da impressão e distribuição do jornal, o próximo passo foi se debruçar com relação às vendas. Nessa etapa estão os dois pilares que sustentam nossos trabalhos com o Jornal. 

  • Cotas individuais
  • Brigadas de Jornal

Nesses dois tópicos não tivemos balanço coletivo, então vou trazer reflexões a partir de uma perspectiva individual.

Cotas individuais

As cotas individuais são muito importantes, é a partir delas que cada militante consegue estabelecer um diálogo com a classe trabalhadora no seu local de estudo, trabalho ou moradia. Esses são os jornais que vendemos aos nossos vizinhos, parentes, colegas de trabalho ou da escola/faculdade e amigos que são simpáticos ao nosso partido. É importante lembrar que nós somos comunistas não só durante as reuniões ou tarefas coletivas, mas também no cotidiano perante as pessoas que são próximas de nós. 

As vendas individuais de jornal devem acontecer em conjunto com uma conversa com a pessoa que está comprando acerca do conteúdo do jornal. O objetivo é que cada militante esteja consciente com relação a linha da sua organização para abrir um diálogo franco, se estabelecer como uma referência política. Muitas vezes não conseguimos vender o jornal para alguém, mas só o diálogo pode servir para apresentar a nossa organização e linha política sobre assuntos importantes que estão sendo abordados no jornal.

O primeiro passo, nesse sentido, é estabelecer uma rede de compradores do jornal. No meu caso, comecei falando sobre o jornal para as pessoas que eu sei que simpatizam em algum grau com o comunismo, cada vez que saía uma nova edição do Jornal, divulgava em todos os grupos de estudantes na minha universidade, e dessa forma consegui alguns novos contatos (que hoje se perderam, devido ao fim dos trabalhos após a cisão).

Após me organizar para divulgar o jornal, criei listas de divulgação no WhatsApp e Telegram para conseguir disparar mensagens para vários compradores ao mesmo tempo, sempre que saísse uma nova edição. Isso é importante para não esquecer de ninguém.

Essas vendas individuais devem ser acompanhadas pelas células. Um militante, responsável pelas tarefas do jornal na célula, deve estar sempre acompanhando quanto cada um vendeu, e manter de forma organizada em uma planilha a quantidade de jornais que cada militante pegou, quantos vendeu e quantos reais conseguiu juntar. É interessante que os responsáveis pelos jornais de cada uma das células se reunam com alguma periodicidade para fazer balanços e formular novas técnicas para melhorar os trabalhos. A planilha ficou mais ou menos assim (nomes censurados):

Como podem ver, alguns militantes receberam mais (e também venderam mais). Acredito que essa cota não deve ser uniforme para toda a militância, mas adaptada conforme as capacidades de cada militante e em debate na célula, com acompanhamento da instância superior. Minha proposta é que a cota inicial comece com 5 jornais, considerando que 1 deles é para o próprio militante, enquanto os outros 4 para vender a outras pessoas. Aos poucos, com aprendizado, cada militante pode receber mais jornais para vender.

Nesse sentido, enfrentamos alguns desafios. O primeiro deles, e principal, é que alguns militantes são tímidos e tiveram dificuldades de fazer vendas. Isso pode ser contornado designando um camarada mais experiente para fazer vendas em conjunto com esse militante tímido, de forma que aos poucos a timidez seja quebrada e o mesmo se sinta mais confortável para a tarefa. As brigadas de jornal podem ser um bom espaço para quebrar essa timidez também.

Além disso, alguns militantes pagavam a cota e não vendiam os jornais, deixando-os empoeirando em casa. Essa prática é prejudicial ao partido, visto que a venda do jornal não tem um objetivo puramente financeiro, mas também político, de trabalho de base. Essas vendas contribuem para conseguir recrutamentos para o partido.

É possível distribuir gratuitamente jornais para pessoas interessadas que não tenham dinheiro para comprar, ou que possam se tornar compradores no futuro. É interessante que a organização preveja uma certa quantidade de jornais que podem ser distribuídos gratuitamente por mês para que o militante não precise arcar com dinheiro do seu próprio bolso.

É essencial que toda a militância tenha ciência do por que está cumprindo essa tarefa, sob risco de cair no tarefismo. Não vendemos e divulgamos só por vender. Dessa forma, a direção intermediária tem um papel importante no trabalho de convencimento de toda a base com relação ao papel político que o jornal cumpre no Partido Comunista Marxista-Leninista. Podem ser feitos ativos, ou até reuniões com pontos de pauta abordando apenas esse assunto.

Brigadas de Jornal

As brigadas são o momento de venda coletiva do Jornal e, primeiramente, todo militante obrigatoriamente deve ter lido o jornal antes de tentar vendê-lo. Para mim, os pontos de brigada de Jornal devem ser definidos pela instância intermediária, coletando acúmulos de cada uma das células. Isso porque através das brigadas podemos fazer vendas em locais estratégicos buscando nos inserir em novas categorias, cidades, escolas e universidades.

Essas brigadas precisam acontecer no mínimo mensalmente, mas podem ser mais frequentes conforme profissionalizamos os trabalhos, vendendo jornais adquiridos pela instância intermediária (e nesse caso, acredito que o lucro deva também ir para essa instância). Aqui no DF, quando fizemos, tínhamos um grande desafio: menos de 3 camaradas já haviam vendido jornal em algum momento na vida. Devido a essa questão, dividimos os camaradas para acompanhar presencialmente as brigadas que ocorreram no mesmo horário e em diferentes pontos do DF. Na ocasião, esses camaradas ensinaram os outros a fazer o trabalho. 

Chegando no local, não faz sentido os camaradas se juntarem em grupos muito grandes para vender. Os camaradas que organizaram a tarefa devem levar em conta a segurança do local para, a partir daí, definir o quanto os militantes podem se separar para fazer as vendas, se vão sair em duplas ou em trios, a depender da realidade de cada lugar. Em caso de maior risco, pode ser definido um pequeno grupo de camaradas, descaracterizados, responsáveis pela segurança da brigada.

O saldo dessas atividades, aqui no DF, foi muito positivo, tanto no quesito formativo e político, quanto no quesito financeiro. Não tivemos prejuízo financeiro em nenhuma brigada.

Nessas ocasiões, é interessante convidar recrutamentos para participar, pois nesses espaços eles têm contato direto com a política do partido e a partir disso se engajam mais na organização

Considerações finais

Esse texto não se pretende ser um documento final com relação ao assunto, mas um incentivo para que mais camaradas formulem sobre os aspectos práticos do trabalho de Jornal no Partido. É importante que a camaradagem se debruce sobre esse assunto, pois um Jornal para todo o Brasil é uma das tarefas mais importantes da nossa organização para o próximo ciclo.

Estamos organizando aqui no DF a estrutura para tocar o Jornal que está por vir, e nesse momento todo acúmulo é muito útil.

Os camaradas que tiverem interesse em se juntar para formular em conjunto, podem me buscar via instâncias, sou do Distrito Federal. Ousar lutar, ousar vencer!