'Pensar uma linha político-pedagógica dentro das resoluções congressuais!' (Camarada Lipe)
É hora de tomarmos frente para pensarmos uma linha político-pedagógica e construir um programa político para uma educação socialista, emancipadora e libertadora.
Por Camarada Lipe para a Tribuna de Debates Preparatória do XVII Congresso Extraordinário.
Camaradas,
Início esta tribuna após desenvolver certas reflexões minhas ao ler a ótima tribuna da camarada Julia Reginato. Esta tribuna, assim como a dela, visa a abertura de um debate que pessoalmente vi pouco ou quase nada discutido nas tribunas. Permitam-me contextualizar: sou estudante de licenciatura em História e bolsista de iniciação à docência (PIBID) em um colégio de aplicação, ou seja, estou no início de meu fazer-se enquanto professor, digo isso para lembrá-los de que muitas das reflexões aqui ainda estão em desenvolvimento e serão amadurecidas, corrigidas ou mesmo alteradas à medida que eu ver seus problemas com o tempo e outras leituras.
Sobre a educação e a pedagogia dentro e fora das nossas fileiras.
De qualquer forma, camaradas, o debate sobre pedagogia e educação é um do qual nossa militância está longe de ser capacitado, formativo ou propositivo, não à toa, tal como é posta na tribuna de L. Queen, nossa abordagem atual é reativa e etapista para pensar um programa político da educação, já que o programa do MUP passa uma concepção etapista da universidade que passa mais pela ampliação dos horizontes da universidade pública burguesa, pautado mais pela negação do avanço neoliberal sobre a educação, do que pela proposição de pensar uma universidade socialista.
Ainda dentro de nossas fileiras, a tribuna de camarada Ive sobre o SNFP contribui fortemente para o que pretendo trazer aqui, sequer temos uma linha político pedagógica para pensar as formações dentro de nossas fileiras, nossas formações internas são muitas vezes verticais, curricularizadas e mecânicas. Com isso, se o militante que ocupa a secretaria de formação não consegue dar conta organizativamente de pensar esse calendário do SNFP e o seguir, toda a estrutura de formação prática-teórica e organizativa do núcleo cai em uma encruzilhada, mostrando que a estrutura da secretaria de formação precisa ser repensada, pois tal como a mesma é organizada hoje, leva a um déficit formativo e a uma atuação cega, distante da análise prático-teórica da práxis Marxista-Leninista.
Com todos esses problemas dentro de nossa organização, como seremos capazes de pensar um programa político coerente para a educação? É fundamental colocar que o secretário de formação deve ser mais que um “professor” que centraliza os textos que devemos ler e os eixos teóricos que devemos estudar. Devemos demonstrar como todos militantes do núcleo são capazes de contribuir teoricamente para nossa organização, e que por isso todos estão necessariamente abertos a criticar e a serem criticados por erros e desvios, o que não era (e talvez ainda não é) factível, como foi observado com os acadêmicos do CC que pensavam ser a intelectualidade iluminada que deveria conduzir a classe ao socialismo. Para os outros militantes, basta seguir as leituras que eles organizam de forma verticalizada, já que os militantes de base não seriam capazes de construir conhecimento político-teórico para as resoluções e linhas congressuais de nossa organização.
Pensar uma linha política-pedagógica congressual
Com isso, caminho para uma resolução desta tribuna, coloco que é questão de ordem pensarmos uma linha política-pedagógica no XVII congresso, que sejamos capazes de discutir e deglutir as contribuições teóricas de Paulo Freire, Darcy Ribeiro, Vygotsky, entre muitos outros. Pontuo especialmente, pensar as contribuições e pelo estudo de uma atualidade crítica do Paulo Freire, um autor que entendia de forma chave o papel de professor e aluno na construção do conhecimento na sala de aula como nas obras “Pedagogia da Autonomia (1996)”[1] e de “Professora sim, tia não (1997)”[2], que é chave para pensarmos em como devemos organizar o papel do secretário de formação e dos outros militantes na questão candente a formação dentro de nossas fileiras. Além disso, devemos estudar a contribuição dele em pensar a estrutura de um programa político para a educação, devemos estudar o seu Programa Nacional de Alfabetização, “Educação como prática de Liberdade (1967)”[3] e a “Pedagogia do Oprimido”[4], quem sabe incorporar e readaptar em nossas fileiras, as dinâmicas dos círculos de cultura.
Reforço camaradas, cito esses autores pois são somente um pontapé do qual eu tenho mais proximidade, jamais devemos nos prender somente a eles. E coloco também que nós, Marxista-leninistas, temos o papel de Vanguarda de pensá-los e criticá-los para que sejamos capazes de trazer à luz suas contribuições e claro, seus problemas e discordâncias conosco em direção a formulação de nosso programa político educacional.
Isto porque o próprio Paulo e Darcy foram cercados ao longo de sua vida pelo reformismo e o Nacional-Desenvolvimentismo trabalhista, no caso de Paulo Freire, com um reformismo ainda mais acentuado no seu período dentro do PT e na Secretaria da Educação de São Paulo na prefeitura de Luiza Erundina.
Devemos resgatar e reivindicar esses autores de forma crítica que escapem de um reivindicação saudosista e sem qualquer teor de resgate prático de suas contribuições, como o próprio Campo Democrático Popular faz com o Paulo Freire e Darcy Ribeiro, não à toa, até hoje Lula diz “reivindicar Paulo Freire”, quando seu governo anda de mãos dadas com os tubarões da educação bancária que Paulo Freire viveu para combatê-los e propor uma educação libertadora.
É hora de tomarmos frente para pensarmos uma linha político-pedagógica e construir um programa político para uma educação socialista, emancipadora e libertadora. Insto cada camarada a refletir sobre essas questões que coloco nesta tribuna em nossas fileiras e além delas. Agradeço a atenção!
[1] FREIRE, P. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.
[2] FREIRE, Paulo. Professora sim, tia não: cartas a quem ousa ensinar. São Paulo: Editora Olho d 'Água, 1997.
[3] FREIRE, P. Educação como prática da liberdade. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1967.
[4] FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. São Paulo: Paz e Terra, 1974.