'Um olhar comunista sobre o ensino de artes nas escolas' (Júlia Reginato)
Que hajam mais possibilidades para exposições, festivais e show de talentos nas escolas para os estudantes poderem expressar sua arte. A educação revolucionária é o único caminho.
Por Júlia Reginato para a Tribuna de Debates Preparatória do XVII Congresso Extraordinário.
Saudações camaradas! Escrevo esta tribuna para trazer uma reflexão sobre a importância e os desafios de despertar o interesse pela arte em crianças e adolescentes na educação. Como comunista e licencianda em artes, acredito ser de extrema necessidade colocar esta discussão em pauta.
Antes de entrar especificamente no ensino brasileiro, quero falar primeiro um pouco sobre a origem da importância que os comunistas dão à educação, incluindo em relação às artes, para a formação do ser humano na sociedade.
Na União Soviética, as Escolas-Comunas eram gratuitas e acessíveis a todos. Elas visavam a organização coletiva, respeitando os limites de acordo com a idade da criança, oferecendo a prática e conhecimento de várias formas de trabalho. Professores usavam métodos de ensino ativos e criativos. Nas aulas de artes, eram feitas excursões para exposições, galerias e locais de trabalho para desenvolver o interesse artístico e o senso crítico de crianças e jovens, proporcionando um espaço de debate, colaboração e criatividade para realizarem os próprios trabalhos em conjunto.
Vimos até aqui como o ensino de arte tem o poder de trazer para criança o entendimento do mundo e um despertar para o senso de coletividade, mas infelizmente não é de hoje que a educação aqui no Brasil sofre duros golpes. A disciplina Artes (na época educação artística) só foi reconhecida e introduzida no currículo escolar em 1971, pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional/LDB, e apenas em 1996, passou-se a considerar disciplina obrigatória na Educação Básica. Além disso, após o Novo Ensino Médio, a disciplina teve a carga horária severamente reduzida, desfavorecendo o conhecimento e o interesse na área.
Outra questão a ser apontada é em relação a falta de estrutura escolar das escolas públicas, sejam municipais ou estaduais. Professores têm enfrentado diversos problemas, como desvalorização docente, falta de materiais necessários para as aulas e desacordo com as estratégias de ensino, resultando em uma dificuldade em desenvolver projetos que aumentam o repertório cultural e desenvolvem a imaginação do estudante e, assim, reduzindo as aulas apenas a atividades manuais meramente estéticas em um curto espaço de tempo.
Soma-se isso aos diversos ataques que a extrema-direita sempre fez em relação a educação, com as artes não seria diferente. A propagação rápida de fake news pelas redes sociais por militantes e políticos são bem persuasivas, com isso pais e mães acabam temerosos com uma suposta doutrinação ideológica de esquerda, fazendo com que hajam muitos protestos e pedido de punições a docentes. Para além das acusações de doutrinação, os projetos com artes periféricas, como grafite ou hip hop, também são consideradas como “inúteis” ou “não arte”, uma clara visão racista e elitista extensamente propagada.
Como vimos, são diversos os desafios que professores de artes tem enfrentado e que englobam toda a educação brasileira. A docência em arte é um constante desafio e demanda um trabalho complexo, complicado de ser executado em aulas com horários tão reduzidos. A arte nas escolas ainda é vista como mera recreação, um passatempo, e não como uma disciplina que ensina crianças e adolescentes a serem pessoas sociáveis, críticas, com voz ativa e participativos no coletivo.
É preciso que nós comunistas lutemos para melhorias na educação e, com isso, conseguir mais condições de realizar projetos de artes acessíveis para todes nas escolas. Que hajam mais possibilidades para exposições, festivais e show de talentos nas escolas para os estudantes poderem expressar sua arte. A educação revolucionária é o único caminho.
Por uma educação em artes popular!