Edmilson Rodrigues (PSOL) tem a maior taxa de rejeição popular diante das novas eleições municipais

Construir um governo diferente, que atendesse as demandas da população mais pobre era totalmente possível, assim como a clara viabilidade de resolução das promessas feitas em campanha.

Edmilson Rodrigues (PSOL) tem a maior taxa de rejeição popular diante das novas eleições municipais
Créditos: Alex Ferreira/Câmara dos Deputados

Nas eleições de 2020, Edmilson Rodrigues (PSOL) conquistou o mandato para o período de 2021 a 2024 ao enfrentar o candidato Everaldo Eguchi (PATRIOTA), ex-delegado da Polícia Federal afastado do cargo em julho de 2022. Embora Eguchi fosse um novato na política paraense, conseguiu levar a disputa até o segundo turno, onde foi derrotado. Essa ameaça coincidiu com a queda da onda bolsonarista, já evidenciada nas eleições municipais de 2020. Inicialmente, Edmilson teve um desempenho positivo, cumprindo 21% das promessas em seu primeiro ano de governo, conforme reportagem do jornal "Ponto de Pauta". Contudo, o início promissor acabou cedendo espaço para a maior rejeição da história da prefeitura nos anos subsequentes.

Durante a campanha, Edmilson apresentou 24 promessas, destacando-se duas delas direcionadas a políticas administrativas. A primeira propunha equipar pelo menos 20% da frota de ônibus com ar-condicionado nos primeiros 3 anos, o que não foi concretizado. Para enfrentar questões de transporte público, Edmilson aliou-se ao governo estadual, que adquiriu 300 ônibus climatizados, sem previsão de início de operação. A segunda promessa versava sobre a criação de subprefeituras para lidar com demandas da população, mas essa proposta, embora já aplicada em outros estados brasileiros, permanece apenas no papel, sugerindo uma estratégia eleitoreira do PSOL.

No âmbito dos direitos humanos e sociais, Edmilson falhou em propor políticas específicas para a população LGBT de Belém. Além disso, sua única iniciativa para combater o racismo foi a criação do "Conselho dos Negros", oferecendo serviços de advocacia e educação permanente. Tanto nas políticas administrativas quanto nas sociais e habitacionais, a gestão de Edmilson não alcançou suas promessas, divergindo de sua orientação política e histórica como gestor.

Devido a uma série de problemas, a gestão enfrenta uma forte desaprovação, com 71,3% da população insatisfeita, segundo pesquisa do Instituto Paraná. Edmilson atribui as dificuldades aos dois primeiros anos de seu mandato, mencionando endividamento e interferência da extrema-direita, embora críticos questionem essas justificativas, apresentando os problemas discutidos como argumento contrário. O Instituto DOXA, em pesquisa realizada de 3 a 5 de maio de 2023, corrobora esses dados, indicando que 7 em cada 10 habitantes de Belém desaprovam o prefeito e seu partido.

Com uma elevada porcentagem de rejeição, pode-se chegar à conclusão que a gestão de Edmilson Rodrigues foi um verdadeiro fracasso. Apesar das altas expectativas e da mobilização significativa da classe trabalhadora e dos movimentos sociais durante a campanha, o prefeito não conseguiu atender às demandas e promessas, deixando uma parcela significativa da população insatisfeita e relegando sua atuação à obscuridade durante seu mandato.

ONDE EDMILSON FRACASSOU?

O prefeito psolista enfrenta um problema crítico na coleta de lixo em Belém, especialmente relacionado ao aterro de Marituba. A falta de eficácia na gestão municipal levou a uma crise, com o aterro operando sem centro de triagem inicialmente. Apesar de ser o único aterro sanitário autorizado no Pará, o local enfrentou reclamações e ações judiciais devido a falhas ao longo dos anos. Além da crise do lixo contribuir para a atual rejeição do prefeito, ainda houve outro caso envolvendo a companheira de Edmilson, Nayra Cunha, que enfrenta investigações do Ministério Público por acumular cargos públicos, recebendo salários significativos de diferentes funções, incluindo cargos comissionados, o que levanta questionamentos éticos e legais.

Edmilson Rodrigues também promoveu um acordo entre a prefeitura de Belém e a refinaria North Star para explorar depósitos auríferos no Pará. Apesar de a empresa ter antecedentes problemáticos e estar proibida de prestar serviço em vários países europeus devido a inúmeros escândalos de corrupção envolvendo seus gestores, o prefeito endossou a iniciativa como benéfica para a economia amazônica, apesar das controvérsias e da possível exportação do ouro para multinacionais.

A administração do PSOL na prefeitura revelou-se, surpreendentemente, semelhante às práticas de qualquer outro partido de orientação política à direita. Apesar das promessas de campanha, ao ser eleito, o prefeito não apenas deixou de cumprir tais compromissos, mas também adotou medidas que contradiziam suas próprias propostas. O compromisso com o piso nacional da Educação, por exemplo, foi postergado, sendo afirmado que sua implementação integral só ocorreria no final do mandato. Da mesma forma, a equiparação do salário-base dos Auxiliares de Serviços Gerais ao salário mínimo foi uma promessa não cumprida, resultando em remunerações abaixo desse patamar. Ao questionarem tais descumprimentos, os trabalhadores foram confrontados com truculência, calúnias e acusações de "fascismo" por parte do prefeito e seus assessores. O realinhamento da tabela salarial dos servidores de nível superior da FUNPAPA também foi recentemente ignorado, rompendo com um acordo previamente estabelecido.

A gestão de Edmilson manteve a saúde pública municipal em estado crítico. Atrasos nos salários dos médicos, falta de leitos, medicamentos e insumos, além da superlotação, destacam-se como problemas críticos. A decisão de manter contratos com Organizações Sociais (OS) - que historicamente pagam mal aos profissionais de saúde, atrasam salários e reduzem o atendimento à população - evidencia uma continuidade preocupante na abordagem do sistema de saúde. Adicionalmente, a opção por contratos temporários em vez de convocar trabalhadores concursados inchou os órgãos municipais de DAS, beneficiando os partidos aliados da frente criada nas eleições. A lista extensa de problemas apontados pela população, como a precariedade nos postos de saúde, a má qualidade dos ônibus, o abastecimento irregular de água e a coleta de lixo insatisfatória, denota uma administração municipal incapaz de enfrentar os desafios essenciais para a qualidade de vida dos cidadãos, revelando-se como um cenário desanimador na única capital do país sob gestão do PSOL.

O contexto destaca a fragilidade do prefeito diante de escândalos, a necessidade de ações para reverter sua imagem e a concessão a acordos com a oposição, incluindo a família Barbalho, evidenciando sua vulnerabilidade política. 

É fundamental extrair considerações mais abrangentes a partir dos problemas vivenciados pela classe trabalhadora belenense. Apesar de Edmilson Rodrigues ser um dos grandes responsáveis pela má gestão, ele não é o único causador do problema: a principal questão reside no programa adotado pelo Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), o qual necessita de uma estratégia revolucionária e de ruptura com o sistema capitalista. 

Ironicamente, a legenda do partido advoga por uma política de reformas graduais para melhorar as condições de vida dos trabalhadores. , quando assumem posições de governo e implementam tal política de "reformas sociais", dão de contra com a inviabilidade de concretizá-las sem romper com a burguesia e sua institucionalidade. Este cenário se materializou nos dois primeiros mandatos do governo Lula, nas gestões de Dilma, na administração estadual de Ana Júlia, além das prefeituras sob o comando do PSOL em diversas localidades do país. Os resultados desta campanha reformista se traduz na desmoralização da classe trabalhadora e nos sentimentos de desconfiança e desengano que permeiam a população.

Construir um governo diferente, que atendesse as demandas da população mais pobre era totalmente possível, assim como a clara viabilidade de resolução das promessas feitas em campanha. Edmilson poderia adotar iniciativas em prol dos trabalhadores, como a criação de uma empresa pública de transporte, incluindo ônibus modernos com ar condicionado e tarifas reduzidas, caminhando rumo à gratuidade, em sintonia com experiências já implementadas em 67 cidades do Brasil, assim não teria que lidar com o boicote de empresários que reduzem a frota, aumentando o tempo de espera nas paradas e introduzem ônibus antigos em respostas às negativas do prefeito.

Além disso, a introdução do transporte hidroviário entre Outeiro-Centro de Belém, Icoaraci-Centro de Belém e Mosqueiro-Belém poderia aliviar o congestionamento viário na cidade. Outras propostas que foram feitas em campanha incluem o fim das Organizações Sociais (OS) na saúde, garantindo concursos públicos e a regularidade nos pagamentos aos profissionais da Secretaria Municipal de Saúde (Sesma), bem como assegurando insumos, medicamentos e atendimento adequado nas unidades de saúde e pronto-socorros municipais. Adicionalmente, a construção de mais unidades de educação infantil (creches) para atender todas as famílias necessitadas e a valorização dos profissionais da educação, com concursos públicos para assistentes sociais, psicólogos e professores, são aspectos cruciais.

APRENDER PARA NÃO REPETIR

Durante as eleições de 2022 e o grande fervor criado entre o avanço da extrema direita e o combate ao bolsonarismo, Belém foi uma das poucas capitais onde a estratégia de construção de uma frente ampla contra o bolsonarismo não se consolidou integralmente. Apesar da vitória de Edmilson Rodrigues com o apoio de partidos como o PT, PCdoB, REDE, PV e PDT no primeiro turno e PSB somente no segundo turno, Edmilson não conseguiu respaldo de partidos ou candidatos derrotados do campo da centro-direita. Porém, PCdoB e PT já compunham o governo estadual de Helder Barbalho na época, surgiria então a seguinte questão: a que política os secretários do PT responderiam na administração de Edmilson? Ao programa do PSOL ou ao programa do Helder Barbalho? visto que são programas distintos, estava posta a contradição bem antes do começo da disputa e que ganharia força após a eleição do psolista.

Por que a frente ampla foi e continua sendo uma estratégia de fracasso anunciada para grupos de esquerda? Essa não é uma pergunta difícil de responder. Um partido de esquerda, geralmente, se difere daqueles que ocupam outros espectros devido ao seu método de ação e dos indivíduos que serão objeto desse método. Assim, comumente é esperado que qualquer organização de esquerda aja em defesa dos oprimidos e explorados pelo sistema. O compromisso com a população que sofre as piores mazelas do cotidiano é a fonte do prestígio e confiança que faz com que movimentos de esquerda garantam apoio popular.

A frente ampla reúne partidos de todos os espectros, ou seja, até mesmo aqueles que outrora foram oposição um do outro, podem se aliar em um contexto onde essa “união” mostra-se oportuna. Dentro do espectro político, há organizações que não possuem compromisso popular e servem como meros representantes dos interesses de empresários e afins. Assim, unir a esquerda com tradição histórica de lutar por pautas populares com grupos que não possuem outra função, senão aquela de representar aos interesses de grandes conglomerados empresariais, trará a anulação de algum desses pólos, e, obviamente, os grupos de esquerda serão os mais prejudicados nessa relação.

Ao passo em que a frente ampla se consolida, essa união se constituirá em um conglomerado de linhas distintas que herdará as demandas dos grupos com maior força política e sistêmica atualmente - regionalmente, o MDB, de Helder Barbalho, tem grande influência no Pará, porém, a nível nacional, o maior partido de esquerda do Brasil ocupa a cadeira mais importante do poder executivo. Ou seja, a frente ampla, no fim das contas, será apenas mais um governo que servirá aos interesses da burguesia. Caso Edmilson se una aos Barbalho, pode ter chances de garantir a prefeitura, porém, eliminará qualquer resquício de pauta popular que ainda resta hoje na prefeitura. Helder Barbalho não é um político de esquerda e nunca mostrou intenção em atender as demandas desse espectro, sua popularidade aumentou devido à adoção da sua postura anti bolsonarista durante a pandemia de COVID-19 e que garantiu visibilidade ao político até mesmo de militantes de esquerda, porém, Helder nunca se propôs a debater as contradições do sistema. Sua atuação desde a reeleição se resume na adoção de uma “agenda verde”, sobretudo com a escolha de Belém para ser a sede da COP 30. Porém, enquanto muitos compram a alcunha de “ativista ambiental” de Helder Barbalho, por baixo dos panos, ele aproxima suas parcerias com o agronegócio e fortalece esse setor. Helder também demonstra um grande descaso com a violência sofrida no interior do estado pelos povos originários que lutam diariamente contra invasores de suas terras.

A frente ampla de Edmilson, para 2024 em Belém, se configura como uma estratégia oportunista e também vacilante. Edmilson Rodrigues se afastou das massas e caminhou rumo a um destino diferente daquele que promoveu em sua campanha de 2018, com o slogan “Belém de Novas Ideias”, aparentemente, as ideias ficaram só no papel e agora o Psolista tenta de tudo para garantir sua reeleição, mesmo que tenha que “vender” sua alma à oligarquia Barbalho para conseguir seus objetivos. Assim, fica evidente que os interesses da prefeitura e sua atuação estarão submetidos direta ou indiretamente aos interesses do governo do estado.

EXPECTATIVAS PARA 2024

Os desdobramentos da administração de Edmilson e do PSOL confirmam a impossibilidade de governar de maneira eficaz para a população de baixa renda e trabalhadora, sem confrontar os interesses dos segmentos mais abastados e das grandes corporações. Ao afirmar o compromisso com "todos", abarcando todas as classes sociais, Edmilson acaba prejudicando especialmente a classe trabalhadora e os desempregados.

Por exemplo, em vez de lidar de frente com as empresas de ônibus, que reduziram a frota, aumentando o tempo de espera nas paradas e introduzindo ônibus antigos, Edmilson procrastinou a realização de uma licitação que até agora não produziu resultados. Como resultado, a população sofre com uma tarifa elevada, ônibus desconfortáveis, precários e que demoram a chegar aos pontos.

A dinastia Barbalho, liderada por Hélder Barbalho no governo estadual, exerce uma influência sólida na política paraense, consolidando alianças estratégicas e ampliando sua presença no cenário político nacional. A possível retirada de apoio a Edmilson Rodrigues, indicada nos bastidores políticos, sugere uma reconfiguração nas alianças e a busca por um candidato que melhor possa atender aos interesses do governo estadual. As opções de sucessão para a prefeitura de Belém apresentam nomes com características e trajetórias políticas distintas, seja do PT ou MDB, orientando a dinâmica política nos próximos anos. Contudo, permanece a incerteza quanto à autonomia da prefeitura em relação aos interesses do governo estadual, que exerce uma influência significativa na condução dos destinos municipais. O PT ainda não tem nome para indicar porque o diretório estadual não quer “entrar numa barca furada”. O partido acredita que lançar um nome próprio é mais vantajoso justamente por não haver rejeição na capital.

Para a classe trabalhadora belenense, é vital analisar de maneira crítica as propostas e históricos dos candidatos, considerando não apenas as alianças partidárias, mas também o comprometimento com as necessidades da população mais desfavorecida, como moradia, segurança, melhorias salariais, infraestrutura e educação de qualidade, além da gestão eficiente dos serviços públicos e a preservação ambiental diante da exploração de recursos internacionais.

A realização da COP 30, prevista para ocorrer em Belém em 2025, adiciona um elemento adicional ao cenário eleitoral, com potencial para influenciar as estratégias dos candidatos em relação à visibilidade internacional da cidade.

As eleições municipais de 2024 em Belém se configuram como um momento crucial para redesenhar a trajetória política da cidade e do estado, considerando tanto os aspectos locais quanto as influências externas. No entanto, a população não pode contar com uma oposição efetiva ao governo estadual, uma vez que a prefeitura de Belém está submetida aos interesses dos Barbalhos. No campo da esquerda, o PCdoB em Belém está inteiramente alinhado aos interesses do PSOL, ocupando cargos comissionados na prefeitura em órgãos municipais, o que impede que o partido direcione críticas à gestão atual.

Enquanto não se organiza uma força que atue entre as massas e represente todas as demandas da classe trabalhadora, da população periférica e das minorias sociais, o Pará continuará subjugado aos interesses das oligarquias locais. Estas dilapidam o serviço público para inserir seu próprio capital como solução, seguindo o exemplo dos Barbalho, que estão implementando práticas semelhantes no sistema de saúde e na educação no estado do Pará. É necessária uma prefeitura que enfrente os grandes empresários e que aponte em direção ao socialismo, somente assim conseguirá atender as expectativas da população pobre e trabalhadora, pois uma vida digna e decente, sem opressão e exploração, não é possível no capitalismo.


REFERÊNCIAS