Trabalhadoras da saúde dão exemplo de luta no RS
Nas cidades de Cachoeirinha, Alvorada e Viamão, Região Metropolitana de Porto Alegre, três hospitais que estão sob a gestão privada da Fundação Universitária de Cardiologia, concedida pelo governo do Estado, terão mudança na empresa administradora, levando 970 trabalhadores ao desemprego.
Por Redação.
Trabalhadoras(es) da saúde de três hospitais declararam greve em assembleias realizadas na última semana de março. Nas cidades de Cachoeirinha, Alvorada e Viamão, Região Metropolitana de Porto Alegre, três hospitais que estão sob a gestão privada do Instituto de Cardiologia - Fundação Universitária de Cardiologia (IC-FUC), concedida pelo governo do Estado, terão mudança na empresa administradora, levando 970 trabalhadoras(es) ao desemprego. Além disso, a IC-FUC está em recuperação judicial e já anunciou não ter condições de pagar os mais de R$40 milhões em verbas rescisórias. O Estado do Rio Grande do Sul também se desresponsabilizou pelo pagamento.
As greves em Alvorada e Cachoeirinha foram decididas em assembleia organizada pelo Sindisaúde-RS e teve apoio total da categoria. A demissão em massa estava prevista para a 00h do dia 1º de abril e, em contrapartida, a greve iniciaria no mesmo horário. Esta decisão se deu pois a nova empresa gestora só assumiria às 7h da manhã do dia seguinte, ou seja, contava com a "colaboração" das centenas de trabalhadoras demitidas e sem rescisão para que continuassem trabalhando durante a madrugada. Para piorar, no caso do Hospital de Alvorada, diversas trabalhadoras tinham carreiras com mais de 20 anos e foram demitidas com apenas um e-mail. Virgínia Machado Ferreira, de 62 anos, mãe solo e trabalhadora da saúde há cerca de 40 anos, era funcionária do FUC-IC há 24 anos e foi transferida para o Hospital de Alvorada em 2005. Emocionada, ela relata a angústia e a tristeza que sente com a situação, mas também a esperança e a importância da luta. "Eu estou aprendendo que a gente tem que se unir mais e mais. Sempre achei isso, mas agora está mais claro pra mim como isso é necessário. Como a gente se uniu, como a gente está na luta todos os dias. Sem luta, não há vitória, que eu espero que a gente alcance". Virgínia ainda fez questão de ressaltar que a sua situação não é única e que há colegas com ainda maiores dificuldades.
Segundo o Sindisaúde-RS, o Programa Assistir, lançado pelo governo estadual em 2021, que visa a "melhor distribuição dos recursos públicos" para a assistência secundária e terciária, não aumentou as verbas destinadas à saúde. Isso, somado ao Regime de Recuperação Fiscal adotado por Eduardo Leite em 2022, que impede o aumento dos investimentos nos serviços públicos, resultou em um desinvestimento e uma redução das verbas da saúde, dado o aumento de preços causado nos insumos e instrumentos hospitalares. Na prática, foram milhões de reais a menos no orçamento de diferentes hospitais, inclusive os que agora entram em crise.
A categoria de trabalhadoras(es) da saúde da Região Metropolitana, composta por mais de 80% de mulheres, dá um exemplo de luta nestas últimas semanas. Em assembleias lotadas, observou-se uma tremenda indignação e vontade de enfrentar o governo e as empresas para garantir o direito à rescisão. Nas tratativas com o governo e audiências públicas, as trabalhadoras não aceitam o desdém e a "enrolação" das autoridades, que tentam justificar a situação, mas não se comprometem em garantir o pagamento das rescisórias.
A secretária de Saúde do RS, Arita Bergmann, na televisão, declarou que todo o processo de transição da gestão foi bem planejado e está indo bem. Evidentemente, desprezou a dignidade e os problemas econômicos que centenas de trabalhadoras(es) estão enfrentando neste momento. Por isso, a categoria grita pelo "Fora Arita e Fora Leite!". É a política econômica deste governo que tem esfixiado cada vez mais o sistema de saúde gaúcho.
Esta política, porém, converge com a do Governo Federal, o qual, para além de ter restringido os investimentos públicos em saúde por meio do Teto de Gastos de Lula e Haddad, também incentiva as Parcerias Público-Privadas na administração de hospitais e outras instituições, bem como não revogou as Reformas Trabalhista, da Previdência e das Terceirizações. Todas essas reformas contribuíram para a situação de enorme fragilidade jurídica em que a maioria dos trabalhadores se encontram, em especial os que prestam serviços a empresas terceirizadas e/ou concessionárias.