Sem anistia? Abaixo o pacto de esquecimento nacional!

A verdade é que uma generosa anistia ainda está em vigor para a burguesia e os militares golpistas, enquanto apenas uns poucos bois-de-piranha são sacrificados no altar da opinião pública. Como sempre, a burguesia e seus serviçais de coturno entregam os anéis para preservar os dedos.

Sem anistia? Abaixo o pacto de esquecimento nacional!
O presidente Lula e o ministro da defesa, José Múcio.

EDITORIAL – Em 8 de janeiro de 2023, fracassou de forma retumbante a aventura golpista das bases bolsonaristas. Essa desmoralização certamente deve ser celebrada pela classe trabalhadora, uma vez que contribuiu para desagregar as forças fascistas e para lançá-las momentaneamente para o segundo plano da conjuntura política nacional. Mas, passado um ano do ocorrido, continuam havendo mais motivos para a indignação do que para a celebração. Embora Bolsonaro tenha sido declarado inelegível pelo TSE e um punhado de seus apoiadores "de base" permaneçam presos por participarem na intentona de janeiro, a verdade é que a maioria dos grandes empresários e generais que financiaram, apoiaram e se beneficiaram de seu governo continuam enriquecendo em suas posições de poder - de fato, já se consideram anistiados pelo grande pacto de esquecimento e "unidade" nacional que o Governo Lula-Alckmin põe em prática.

Ao fim e ao cabo, toda a retórica sobre o caráter genocida do governo Bolsonaro era, para os social-liberais, apenas isso: retórica. Mas para quem grita "sem anistia" e deseja ser coerente com essa reivindicação, é inaceitável que José Múcio Monteiro (que já foi da ARENA, o partido de sustentação da ditadura civil-militar) permaneça em seu cargo de Ministro da Defesa, mesmo depois de suas incontáveis declarações de simpatia e amizade em relação aos golpistas de 8 de janeiro. É inaceitável que os altos escalões das Forças Armadas e diversas outras instituições públicas ainda estejam infestados de confessos simpatizantes do bolsonarismo. É inaceitável que empresários que financiaram a escalada fascista em nosso país permaneçam não apenas livres, mas enriquecendo mais a cada dia graças à permanência das contrarreformas aprovadas por Bolsonaro e graças às benesses econômicas que o governo Lula-Alckmin despeja sobre esses mesmos capitalistas! A verdade é que uma generosa anistia ainda está em vigor para a burguesia e os militares golpistas, enquanto apenas uns poucos bois-de-piranha são sacrificados no altar da opinião pública. Como sempre, a burguesia e seus serviçais de coturno entregam os anéis para preservar os dedos.

Enquanto os fascistas caminham impunemente pelos corredores de Brasília, o governo Lula-Alckmin parece acreditar que a melhor tática para evitar o retorno da extrema-direita consiste em atender sem qualquer reservas as exigências econômicas da burguesia, na esperança de que os capitalistas, se conseguirem tudo o que desejam por meios democráticos, não terão motivo para se voltar contra a mesma... Por isso, sem sequer sonhar em revogar as medidas econômicas e as contrarreformas dos governos golpistas de Temer e Bolsonaro, o governo implementa uma política que, no plano econômico em especial, representa uma continuidade dos governos anteriores. Isso é evidenciado não apenas pelo Teto dos Gastos elaborado por Fernando Haddad e elogiado pela burguesia e seus representantes (como o próprio Paulo Guedes, ex-Ministro da Economia de Bolsonaro), mas também pela onda de privatizações deflagrada pelo governo federal não apenas sobre os transportes, em especial, mas até mesmo sobre a gestão de florestas e presídios! Com isso, o governo Lula-Alckmin põe em prática medidas neoliberais que nem o próprio governo Bolsonaro ousou levar até o fim! No entanto, é justamente essa política econômica do Governo Lula que mais aumenta o risco de uma nova investida fascista, uma vez que a contínua deterioração das condições de vida do povo pobre é o maior aliado de uma extrema-direita que deseja desalojar a esquerda liberal do governo federal.

Por isso, neste próximo dia 8 de janeiro, nós do Movimento pela Reconstrução Revolucionária do Partido Comunista Brasileiro (PCB-RR) iremos às ruas, panfletando e agitando a nossa linha política, em todo o país. Não para celebrar a narrativa governamental, mas para denunciar a leniência e a conivência do Governo Lula-Alckmin com os golpistas, e ainda mais: denunciar a cumplicidade da política econômica de Lula-Haddad em relação ao fortalecimento da burguesia golpista brasileira, enriquecendo-a ao mesmo tempo em que oferece aos fascistas uma ampla plataforma para sua agitação golpista. Vamos às ruas contra o pacto de esquecimento nacional vigente, exigindo:

Fora José Múcio do Ministério da Defesa!

Fora todos cúmplices do bolsonarismo nos altos escalões das Forças Armadas e do governo!

Confisco dos bens dos empresários financiadores do fascismo e do golpismo!

Revogação imediata das contrarreformas trabalhista e da Previdência!

Ou começamos por aí ou teremos, de fato, a anistia dos golpistas. Convictos de que apenas a luta da classe trabalhadora pode mudar essa situação, convidamos à luta por essas reivindicações, sabendo que não derrotaremos o fascismo sem combater o capitalismo, que é o meio no qual esse câncer social viceja. Vamos às ruas por esses e todos os outros interesses do proletariado e do povo oprimido - não só agora, mas ao longo do ano todo!