Seca no Rio Negro: Impactos ambientais e humanitários
Nas últimas semanas, o Rio Negro, maior afluente da margem esquerda do Rio Amazonas, registrou seu nível mais baixo da história, atingindo 12,55 metros. A seca extrema tem causado impactos devastadores para a população local e para o ecossistema da região.
Por Redação
Essa seca é uma alerta sobre os impactos e expansão do agronegócio na destruição ambiental e social do Brasil. Assim como os incêndios que destroem o Cerrado e a Amazônia, a seca que afeta milhões de pessoas não pode ser vista de forma isolada.
Em outubro de 2024, o nível do Rio Negro em Manaus atingiu apenas 12,66 metros, o menor registrado em 122 anos de medições. Esse fenômeno está longe de ser um evento isolado, pois o Solimões e o Madeira, também apresentam níveis críticos. Só no estado do Amazonas, estima-se que cerca de 770 mil pessoas estejam sendo impactadas diretamente pela seca.
Essa seca histórica é resultado do que já pontuamos anteriormente: a degradação dos ecossistemas e intenso período de estiagem devido as mudanças globais, além do desmatamento acelerado e a expansão desenfreada do agronegócio e da mineração.
As comunidades locais, que historicamente mantêm uma relação com o rio, estão sendo forçadas a lidar com a falta de alimentos, transporte e meios de subsistência, enquanto a fauna e a flora enfrentam destruição.
Essa relação destrutiva entre o agronegócio e o meio ambiente já é amplamente conhecida. Desde 1985, cerca de 110 milhões de hectares de áreas naturais foram destruídos para dar lugar a pastagens e lavouras, especialmente na Amazônia e no Cerrado. Isso representa 13% de todo o território nacional e coloca o Brasil como um dos maiores emissores de gases de efeito estufa (GEE) do mundo, contribuindo diretamente para o aquecimento global e as mudanças climáticas que intensificam secas, incêndios e outros eventos extremos. As mudanças climáticas são amplificadas por esse modelo de produção, que destroi florestas, polui o ar e os rios, e concentra a riqueza nas mãos de poucos.
O governo do Amazonas busca medidas emergenciais mínimas, como a distribuição de água potável e cestas básicas, sem um planejamento estrutural de longo prazo. Existem poucos investimentos em infraestrutura hídrica e saneamento básico, junto a isso temos o impacto negativo do modelo econômico predatório, que demonstra as contradições do capitalismo no contexto amazônico, com toda exploração dos recursos naturais em benefício do agronegócio e mineração, enquanto as comunidades mais vulneráveis são negligenciadas. A crise hídrica é uma questão ambiental, como também expressão da desigualdade social e destruição ecológica resultantes do capitalismo dependente.
O impacto sobre as comunidades locais é devastador. Como já comentamos aqui em nosso jornal, Ribeirinhos e indígenas, que tradicionalmente pescam e navegam no rio, estão enfrentando escassez de água potável, perda de suas terras, culturas e modos de vida, sendo forçadas a se adaptarem a um ambiente cada vez mais inóspito.
Comunidades que dependem do transporte fluvial para receber suprimentos agora enfrentam o isolamento, já que muitos trechos do rio se tornaram inavegáveis. A saúde também é afetada, com aumento de doenças transmitidas pela água e pela má nutrição devido à perda de alimentos básicos. Nesse contexto é fundamental lutar contra avanços que vão prejudicar ainda mais a região como é caso da pavimentação da BR-319.
A resposta governamental permanece insuficiente e, muitas vezes, conivente com os interesses do agronegócio. Mesmo com a crise climática se agravando, o governo Lula destinou R$400 bilhões para o Plano Safra 2024/2025, oferecendo crédito subsidiado para que os grandes proprietários continuem expandindo suas áreas de produção, muitas vezes às custas de terras públicas desmatadas ilegalmente. Além disso, a isenção de impostos sobre agrotóxicos e exportações de commodities agrícolas continua incentivando um modelo de produção devastador que beneficia grandes corporações, enquanto milhões de brasileiros vivem em insegurança alimentar.
O Plano Safra 2024/2025 no Amazonas terá um total de R$100 milhões, um aumento em relação ao ano anterior, que contava com R$76,2 milhões. Além disso, o Banco da Amazônia destinou R$11 bilhões para a região Amazônica no Plano Safra 2024/2025, sendo R$1,3 bilhões direcionados especificamente para a agricultura familiar e o restante ficando para o grande agronegócio predatório.
A seca no Rio Negro mostra que o tempo para agir é agora. A defesa da natureza e dos povos que dela dependem não pode ser separada da luta contra o capitalismo e o agronegócio. É necessário construir um novo modelo de desenvolvimento que coloque as necessidades humanas acima do lucro.