Saudação ao 8º Congresso Nacional da Esquerda Marxista

A nossa presença na abertura deste Congresso só foi possível porque recentemente percebemos afinidades em questões decisivas, como o combate às ilusões em reformas que “humanizem” o capitalismo.

Saudação ao 8º Congresso Nacional da Esquerda Marxista
Imagem: Thiago Padovane

Ivan Pinheiro (3 de novembro de 2023)

Camaradas,

Em nome do Movimento Nacional em Defesa da Reconstrução Revolucionária do PCB (PCB-RR), venho saudar a militância da Esquerda Marxista[1] e agradecer o honroso convite para nos pronunciarmos na abertura do seu 8° Congresso Nacional, formalizado em reunião bilateral que tivemos o privilégio de manter com a direção nacional desta organização, em agosto passado, logo em seguida à recente cisão do PCB – provocada por uma facção antileninista – com o expurgo de centenas de militantes das fileiras do partido, porque divergíamos da linha oportunista do Comitê Central e clamávamos pela realização de um Congresso extraordinário e unitário, para debater democraticamente questões táticas, estratégicas, organizativas e ideológicas.

Impediram-nos de expressarmos internamente nossas divergências e agora tentam nos censurar publicamente, derrubando nossas redes sociais, além de requerer a uma instituição do estado burguês que registra marcas e patentes (INPI) a propriedade da UJC (União da Juventude Comunista) que, de maneira amplamente majoritária, não só decidiu aderir, mas impulsiona a Reconstrução Revolucionária do PCB. Já havíamos assistido esse filme em 1991, quando o oportunista Roberto Freire tentou registrar na referida instituição a sigla e o nome do partido, como propriedade do falecido PPS.

Uma das consequências positivas desta crise foi nosso reencontro com a Esquerda Marxista e outras organizações revolucionárias com as quais, até 2016, procurávamos construir uma frente anticapitalista e anti-imperialista no Brasil. Nesse período, em uma de nossas bilaterais, contamos com a importante participação de Allan Woods, Secretário Geral da Corrente Marxista Internacional (CMI), com quem tive a honra de me comunicar recentemente.

A nossa presença na abertura deste Congresso só foi possível porque recentemente percebemos afinidades em questões decisivas, como o combate às ilusões em reformas que “humanizem” o capitalismo e por esta via abram caminho ao socialismo, nos marcos da democracia burguesa, o instrumento ideal que as classes dominantes utilizam para exercer sua hegemonia, enquanto esta não é ameaçada pelo proletariado.

Entre a reforma e a revolução, encontramo-nos na segunda!

Percebemos também nossa convergência em torno da atualidade do legado de Lênin e da necessidade de nos dedicarmos ao internacionalismo proletário, ao diálogo, a aproximação e a unidade de ação dos partidos comunistas revolucionários no âmbito mundial, sobretudo neste momento em que se agravam simultaneamente a crise sistêmica do capitalismo e as contradições interimperialistas, resultando em guerras regionais que podem se transformar em uma guerra mundial de proporções devastadoras, mas que, por outro lado, regam um terreno fértil para o surgimento de movimentos de massas que suscitem insurgências proletárias em vários países, mas que só terão alguma possibilidade de êxito se encontrarem uma vanguarda revolucionária capaz de conduzi-las à vitória.

Jogou importante papel neste sentido o Ato Contra as Guerras Imperialistas promovido na quinta-feira (02/11), na abertura de seu 8º Congresso Nacional, do qual nos honramos de ter participado.

Gostaria de lembrar que a iniciativa dos camaradas de convocar este ato se deu num momento em que não havia sinais de que o conflito desigual de mais de 75 anos entre palestinos e israelenses chegaria ao estágio dramático que vivemos nos dias de hoje, em que o sionismo, apoiado e sustentado sobretudo pelo imperialismo estadunidense, tenta impor pelo terrorismo uma “solução final” para o conflito, ou seja, o assassinato e a expulsão em massa do povo palestino do seu próprio solo pátrio, onde não pode viver em paz!

Estamos às vésperas da ampliação desta guerra covarde e assimétrica, contra um povo  que nunca pôde sequer ter um exército regular para se defender. O ódio ao sionismo que se espalha pelo mundo, como vemos em manifestações em praticamente todos os países, impulsiona muitos governos, inclusive da América Latina (exceto, entre outros, lamentavelmente o governo Lula), a se solidarizarem com os palestinos.

Por este genocídio, Israel pagará um preço altíssimo para garantir seu futuro, incerto a partir de agora. Não só pela repulsa e condenação mundial, mas porque o ódio ao sionismo e a elevação da consciência política das novas gerações de palestinos e seus vizinhos mais próximos tornará um inferno a manutenção da ocupação, do Apartheid e do próprio Estado de Israel, até porque revela-se impossível o seu convívio pacífico, lado a lado, com um Estado palestino.

Quando, em agosto, a Esquerda Marxista nos convidou para compartilhar este ato contra a guerra imperialista já havia motivos de sobra para levar à frente esta iniciativa.

A guerra interimperialista que se trava na Ucrânia, hoje abafada pela monstruosa barbárie sionista, provavelmente sobreviverá a uma eventual solução provisória para o genocídio em Gaza. Até porque, na Ucrânia, o resultado do confronto será muito mais impactante na disputa pela hegemonia mundial do modo de produção capitalista, que antagoniza o polo imperialista liderado pelos Estados Unidos, com a Europa sempre a reboque, e aquele liderado pela China, que tem na Rússia seu mais poderoso aliado, em termos econômicos e sobretudo militares.

Ambos firmaram pouco antes do início da guerra na Ucrânia uma inédita “aliança sem limites” e atuam em parceria para a exportação massiva de capitais em toda a África, roteiro hoje prioritário da expansão da chamada “rota da seda”, e onde a China entra com o capital e a Rússia com as armas e forças militares do chamado “Grupo Wagner”,  para disputar a influência no continente africano, que pode se transformar em palco de mais um conflito interimperialista, uma nova cova coletiva de proletários.

O PCB-RR e a Esquerda Marxista coincidem na opinião de que em uma guerra entre dois países capitalistas, como é o caso da Ucrânia e da Rússia, os comunistas não escolhem uma das burguesias para apoiar. Em vez de serem coniventes com o assassinato recíproco entre os proletários dos dois lados, conclamam estes a se voltarem contra suas próprias burguesias, que os usam como bucha de canhão para se apoderar de mercados, territórios, riquezas naturais, rotas de distribuição de mercadorias e mão de obra mais barata.

Viva a revolução socialista!

Viva o internacionalismo proletário!


[1] – No referido Congresso, a Esquerda Marxista resolveu passar a se denominar ORGANIZAÇÃO COMUNISTA INTERNACIONALISTA.