Rio Tapajós atinge seu nível mais baixo já registrado
Com perspectivas de um agravamento para os próximos meses, principalmente em novembro e dezembro, áreas já impactadas tendem a sofrer repercussões ainda mais severas, devido à iminente temporada de verão na Amazônia.
Nas últimas semanas, os relatórios regionais têm progressivamente focado na premente situação que diversas cidades e comunidades enfrentam devido à prolongada escassez de precipitação na vasta região amazônica. Com perspectivas de um agravamento para os próximos meses, principalmente em novembro e dezembro, áreas já impactadas tendem a sofrer repercussões ainda mais severas, devido à iminente temporada de verão na Amazônia.
Caracterizado pelo aumento das temperaturas do oceano Pacífico, o fenômeno El Niño trouxe uma significativa perturbação climática desde o mês de junho, desencadeando uma crise de secas excepcionais em vários municípios da região amazônica. No mês de setembro, marcado pelo penetrante odor proveniente de incêndios florestais e pela persistência de nevoeiros ao longo do dia, foi observado o segundo maior registro de focos de calor na região delimitada pela Amazônia Legal, dos últimos 25 anos.
Atualmente, oito estados amazônicos enfrentam a mais severa aridez das últimas quatro décadas. Na última segunda-feira, a cidade de Manaus registrou uma temperatura extraordinária de 39,2 ºC, superando um recorde estabelecido há mais de trinta anos.
Às margens do rio Amazonas, a água está recuando a uma taxa de aproximadamente 13 a 14 centímetros por dia, um valor consideravelmente acima da média, como constatado no relatório do Serviço Geológico do Brasil. Consequentemente, rios e afluentes estão desaparecendo de forma acelerada, promovendo uma transformação dramática na paisagem local.
No município de Santarém, localizado no estado do Pará, diversas áreas ribeirinhas foram oficialmente declaradas em situação de emergência. A decisão foi tomada após a emissão de um parecer técnico da Coordenadoria Municipal de Defesa Civil, que delineou as regiões adicionais que necessitavam de apoio emergencial. Como resultado, o número de áreas em situação de emergência aumentou para seis.
Com a insuficiência de precipitações, no dia 21 de setembro, o rio Tapajós atingiu o seu nível mais baixo, registrando apenas 94 centímetros de profundidade. Levando em consideração que em 2010, durante a maior estiagem documentada, o rio atingiu o seu menor índice somente em novembro, é surpreendente que esse número tenha sido alcançado cerca de dois meses antes do período previsto, com 38 centímetros abaixo do anterior registro, de 1,32 metro.
Conforme informado pelo Coordenador da Defesa Civil do Município, Darlison Maia, em entrevista concedida à revista “Tapajós de Fato", foi realizada uma ampla avaliação da região para desenvolver estratégias que auxiliem neste momento de crise.
Segundo Darlison, o papel da Defesa Civil engloba a realização de um levantamento minucioso das comunidades afetadas e das famílias que sofrem os impactos, trabalho esse que já está em andamento há três semanas.
Ele também destaca que ao realizar esse levantamento, foram identificadas três regiões que, historicamente, são suscetíveis à falta severa de chuvas. Considerando que essas áreas poderiam se encontrar isoladas, a Defesa Civil tomou a iniciativa de se antecipar a esse iminente problema.
Em municípios como Aveiro, a estiagem tem um efeito direto no fornecimento de alimentos, uma vez que o transporte de mercadorias é predominantemente realizado por via fluvial. Esses impactos significativos nas comunidades resultam em dificuldades tanto na pesca quanto no acesso à água potável.
Além disso, as comunidades ribeirinhas enfrentam um novo problema: a suspensão temporária de escalas em Juruti por parte de uma navegação que realiza a linha Santarém - Manaus. A Defesa Civil emitiu nota alertando que a região Juruti Velho tem diversas comunidades atingidas e até as crianças estão com dificuldades de chegar à escola através do transporte escolar.
Embora a Defesa Civil, juntamente com a prefeitura, afirme estar empenhada em adotar as medidas necessárias para atender a população afetada, ainda restam dúvidas quanto à efetiva realização dessas ações. Isso torna a situação mais preocupante, em um momento em que o rio Tapajós diminui o seu nível de forma tão brusca.
Diante desse contexto crítico, o prefeito de Santarém, Nélio Aguiar (UNIÃO BRASIL), planeja uma viagem à China, onde permanecerá de 22 a 27 de outubro, como integrante de uma comitiva nacional. Essa missão tem o propósito de promover relações comerciais e abrir portas para o agronegócio entre o município de Santarém e o país asiático. Tal decisão é particularmente controversa, dado que mais de 70 municípios já decretaram estado de emergência em uma seca recorde, que pode se estender até o mês de janeiro.
Exigimos do governo federal a declaração de estado de calamidade pública e a imediata atenção às nossas comunidades. Como podemos sediar um evento climático, enquanto os povos ribeirinhos, quilombolas e indígenas continuam a ser negligenciados pelos governos estaduais e federal? Quais medidas têm sido adotadas pelos governos para apoiar a agricultura familiar, bem como os pequenos e médios agricultores na região? São eles os principais responsáveis pela produção dos alimentos que chegam à mesa dos trabalhadores. Qual é a justificativa para investir no agronegócio, uma vez que ele é um dos principais contribuintes para o desmatamento e impactos ambientais no Brasil?