Apagão após chuvas em São Paulo mostra fracasso das privatizações

Duas principais distribuidoras de energia do estado, controladas por empresas italiana e chinesa, acumulam reclamações enquanto bairros inteiros continuam sem energia.

Apagão após chuvas em São Paulo mostra fracasso das privatizações
Desde que os temporais causaram a queda de energia, a Enel não reestabeleceu o fornecimento de energia, negligencia o atendimento ao público e posterga a manutenção da infraestrutura.

Por Guilherme Sales e Mariana Pedroso

As fortes chuvas que atingiram o estado de São Paulo desde a última sexta-feira (03/11) levaram a queda de energia em diversos municípios, além de ter causado a morte de 6 pessoas. Passadas cerca de 96 horas, a falta de energia elétrica perdura em diferentes bairros da região metropolitana da capital e no interior. Enquanto isso, a atuação das companhias de eletricidade mostram o fracasso das privatizações.

Em Sorocaba, a Ocupação Dandara foi severamente afetada, com moradores feridos, tendo suas casas derrubadas, enfrentando falta de água e luz. Uma campanha de arrecadação está sendo mantida para reverter os danos. Nas diversas cidades é também possível constatar o prejuízo para trabalhadores de aplicativo, que foram afetados com a queda do sinal de telefone e internet por diversas horas.

A Companhia Piratininga de Força e Luz (CPFL), com sede em Campinas, após diversas reclamações dos moradores de bairros que ainda estão sem luz, chegou a bloquear o atendimento ao público. A empresa é responsável por 8 usinas hidrelétricas (UHE) e 45 Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCH) distribuídas em diferentes regiões do país.

Em São Paulo, a empresa possui 3 distribuidoras, a CPFL Paulista, a CPFL Santa Cruz e a CPFL Piratininga. Esta última é responsável pela distribuição nas cidades da região metropolitana de Sorocaba e cidades da Baixada Santista. Nesta primeira localidade, as chuvas causaram a interrupção do fornecimento de energia em pelo menos 5 municípios, situação que perdura por mais de 96 horas em alguns locais.

Já a Enel, empresa italiana que adquiriu em 2018 o controle acionário da Eletropaulo, estatal que atuava na distribuição de energia na região metropolitana, atua fornecendo o serviço de geração e transmissão para cerca de 18 milhões de pessoas em pelo menos 3 estados. Desde que os temporais causaram a queda de energia, a Enel não reestabeleceu o fornecimento de energia, negligencia o atendimento ao público e posterga a manutenção da infraestrutura.

A CPFL foi privatizada em 1991, junto com a Companhia Energética de São Paulo. Recentemente, em 2017, ela teve o controle acionário adquirido pela empresa chinesa State Grid, que atua em diversas regiões da China e também possui participação em serviços do setor em Portugal.

Lucro

Apenas no primeiro trimestre de 2023 a CPFL registrou um lucro líquido de 1,65 bilhão. Já o Grupo Enel teve um crescimento de 52% dos lucros no primeiro semestre deste ano, apesar de desde 2019 ter demitido 36% dos funcionários dos serviços de eletricidade. Enquanto isso, o valor acionário das companhias segue aumentando, afetando a vida da classe trabalhadora que recebe a negligência no atendimento, quedas esporádicas do fornecimento, preços abusivos e redes defasadas e sem manutenção.

Privatizações

Em meio a tentativas de privatizar outros serviços, o governador Tarcísio de Freitas segue a lógica neoliberal de entregar nas mãos da iniciativa privada diversos setores estratégicos com a desculpa de que nas mãos do Estado o serviço é insuficiente e ruim. Nesse cenário também se encontra o processo de privatização da Eletrobras, finalizado em 2022 e só parcialmente revertido pelo governo Lula, que agora detém apenas 42% das ações e 10% do poder de voto.

Ao contrário do que afirma a mídia hegemônica burguesa, é perceptível para população a piora dos serviços com a privatização. É preciso enfatizar que o sucateamento e a negligência são também parte da intenção dos governos burgueses para assim venderem “a preço de banana” as estatais para os investidores privados. A abertura de uma consulta popular é, portanto, impensável para aqueles que atendem o interesse do grande capital.