Rio de Janeiro: Por um Partido da nossa classe e a seu serviço
Portanto, mesmo diante de uma crise tão grave, a movimentação das células e coletivos pode contribuir para formular e construir saídas que não apenas preservem os avanços conquistados até aqui, como também apontem para a superação dos limites escancarados nas últimas semanas.
“…Não estamos alegres, é certo, mas também por que razão haveríamos de ficar tristes? O mar da história é agitado. As ameaças e as guerras havemos de atravessá-las, rompê-las ao meio, cortando-as como uma quilha corta as ondas” Vladimir Maiakovski
A crise deflagrada nas últimas semanas pegou muitos camaradas de surpresa, o que revela a fragilidade da democracia interna no PCB. Divergências e polêmicas importantes foram ocultadas dos militantes, não apenas pela mera responsabilidade individual de um ou outro dirigente, mas por um amplo processo de degeneração do centralismo democrático.
Por mais que fosse difícil apreender esse fenômeno em toda a sua complexidade, seus aspectos mais explícitos eram sentidos em muitas células e coletivos, principalmente os mais ativos, que desenvolvem trabalho de base junto à nossa classe nas periferias, favelas e diferentes territórios onde moram, trabalham e estudam o proletariado e a juventude. Mandonismo, ausência de planejamento e balanços coletivos, congelamento de recrutamentos, boicotes, fofocas, queimação de militantes críticos, “quebra” de militantes pela sociabilidade liberal dentro da organização, falta de apoio no trabalho sindical e popular, promoção de quadros por afinidades pessoais e assistências burocráticas são alguns exemplos.
As recentes expulsões sumárias de quatro membros do Comitê Central, do Secretário no Geral no período 2005–2016 e do camarada que assumiu a tarefa de candidato a governador de SP nas últimas eleições, além do adiamento indefinido da Conferência Política (informado no dia 31 de julho), portanto, não são fatos isolados. Na verdade, são a expressão mais aguda de uma crise gestada há muito tempo.
O esforço de unidade realizado no XVI Congresso, mesmo que compreensível diante da situação política, econômica e sanitária do país, revelou-se, com efeito, uma grande armadilha. Apesar do risco da mais alta instância do partido ser implodida por uma mudança abrupta na forma de condução das divergências políticas, foi um erro acreditar que o “novo” CC seria capaz de cumprir as resoluções aprovadas, organizar as polêmicas e promover, de cima para baixo, a ampliação da democracia interna.
Quase dois anos após a conclusão do XVI Congresso, por que já foi realizada a regulamentação do uso das redes sociais, mas ainda não foram implementados o boletim interno e a cotização progressiva? Por que o ex-Secretário de Relações Internacionais permaneceu no CC e na CPR-RJ enquanto quem denunciou o afastamento político do PCB do campo revolucionário do Movimento Comunista Internacional teve seu direito de defesa cerceado e foi expulso do partido? Por que a reação imediata do CC à crise no partido foi classificar parte de seus membros como liquidacionistas, acirrar o conflito, fechar o diálogo e se abster de qualquer autocrítica séria?
A utilização das redes sociais para expor os graves problemas internos do PCB sem que antes a própria militância do partido e de seus coletivos pudesse conhecê-los e discuti-los contribuiu para que muitos comunistas valorosos desconfiassem do método da crítica, prejudicando a compreensão da sua justeza e de seu conteúdo. Enquanto isso, a fração academicista, dirigida pelos membros do Instituto Caio Prado Jr. (ICP), aproveitou-se dos acordos que evitaram seu desmascaramento no último Congresso para se apresentar agora como baluarte de uma suposta defesa do PCB contra o “fracionismo”. Seu verdadeiro objetivo, porém, é resolver divergências políticas e ideológicas por meio de mecanismos disciplinares e administrativos, excluindo adversários internos — como já queriam há algum tempo, paradoxalmente, a pretexto do combate ao stalinismo.
No entanto, o CNMO, o LGBT Comunista e a UJC vêm se apresentando em vários estados como coletivos capazes de enfrentar com muita firmeza e coerência o momento delicado que estamos passando. Sua (re)organização, crescimento e consolidação seriam impossíveis sem o PCB. Porém, nos últimos anos, as contradições do partido, sobretudo de suas direções, se tornaram entraves práticos ao trabalho político dos coletivos que se dedicam à Revolução Brasileira, principalmente a União da Juventude Comunista. Dependendo do local, há diversos aspectos, como na agitação e propaganda, na formação política, na capacidade de planejar ações, realizar balanços, organizar as finanças, fazer recrutamentos, coordenar nossa participação em manifestações de rua etc. nos quais a UJC se destaca em relação ao partido, muitas vezes sem apoio ou apesar do CC e dos CRs.
Portanto, mesmo diante de uma crise tão grave, a movimentação das células e coletivos pode contribuir para formular e construir saídas que não apenas preservem os avanços conquistados até aqui, como também apontem para a superação dos limites escancarados nas últimas semanas. Entendendo que a democracia interna, a garantia das instâncias de direção coletiva, a unidade de ação, a prioridade do trabalho de base e das lutas concretas não podem mais ser deixadas de lado, nos somamos à defesa da RECONSTRUÇÃO REVOLUCIONÁRIA DO PARTIDO COMUNISTA BRASILEIRO. Propomos que a militância contrária aos processos efetivados pela ala majoritária do CC construa esse movimento coletivamente.
Fomos, somos e seremos comunistas!
ASSINAM
Alexandre Vasilenskas - Ex-secretário político da célula de Saúde do RJ, militante do PCB de 2012 a 2023.
Beatriz Barbiere - Militante da UJC/PCB-RJ.
Bernardo - Militante da célula de Direitos Humanos do PCB-RJ.
Bruno Leite - Militante da célula de Niterói/São Gonçalo e do MUP-UFF.
Caio Andrade - Professor, ex-diretor do SEPE-RJ, candidato a deputado federal (2014) e a vereador pela cidade do Rio de Janeiro (2018), militante do PCB desde 2012 e ex-membro do Comitê Central (2016- 2023).
Carol Zamborlini - Militante do CNMO-RJ e do PCB Sul Fluminense.
Claudio Lacerda - Professor da rede estadual e militante da célula de Educação Básica do PCB — RJ
Gabriela Fero - Artista plástica e secretária política da célula de comunicação do PCB.
Igor Andrade - Professor e militante da célula de Educação Básica do PCB-RJ.
Isabele Alves - Militante da célula do PCB Sul Fluminense, e do CNMO-RJ.
Ivie Mendonça - Militante do CNMO-RJ.
Jean Carlos - Militante da UC-RJ e da célula do PCB Sul Fluminense.
João Marcelo - Militante da UJC-UERJ.
Juliana Catinin - Militante da célula de cultura do PCB-RJ e do CNMO-RJ.
Lara Pedret - Militante da UJC-UERJ.
Lorena Martins - Militante do CNMO-RJ e da célula de Direitos Humanos do PCB-RJ.
Lucas Moutta - Militante da célula de Direitos Humanos do PCB-RJ.
Mariana L. Nogueira -Professora e pesquisadora em Saúde Coletiva, enfermeira, militante do PCB desde 2017, candidata a deputada federal pelo PCB-RJ em 2022, ex-membro do Comitê Regional do PCB-RJ (2019–2023), ex-secretária de formação da Fração Nacional de Saúde (2021–2023).
Matheus Mantuani - Militante da UJC-UERJ.
Milton Santos Martins da Silva - médico, militante UJC núcleo UFRJ (2017–2019), ex-secretário de organização da UC Saúde/RJ, militante da célula de saúde/PCB-RJ (2019–2023).
Raul Santos - Militante da UC-RJ e da célula do PCB Sul Fluminense.
Ruggeron Caetano - Militante do CNMO-RJ e da célula de Comunicação do PCB-RJ.
Stella Aragão - Militante da UC-RJ e da célula do PCB Sul Fluminense.
Vinícius Neves Vasconcelos -Diretor do Sepe Núcleo Duque de Caxias e militante da Célula de Educação Básica do PCB-RJ.
Wagner Farias -Morador de Duque de Caxias (RJ), Técnico de Enfermagem, Educador Popular, candidato a Vice-governador e Governador em São Paulo (2010 e 2014, respectivamente), ex-militante do PCB (2005–2022) e ex-membro do Comitê Central (2009–2016).
Zamiliano - Militante da UC-RJ do PCB Sul Fluminense.