População da zona sul de São Paulo lança movimento pela criação de universidade e instituto federal no Jd. Ângela
Com exceção da zona leste, há poucas instituições públicas de ensino superior nas regiões mais periféricas do município. Esses números se tornam ainda mais discrepantes se considerarmos apenas as universidades,.
A zona sul do município de São Paulo é a segunda região mais populosa da cidade, com mais de 3,8 milhões de pessoas. Além disso, de acordo com pesquisa da Seade (Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados) essa é a região com maior número de desempregados, maior percentual de pessoas com ensino fundamental incompleto e o menor índice de pessoas com ensino superior. Apesar desses dados, existem poucas faculdades e nenhuma universidade localizada na região.
Para remediar essa situação, associações, movimentos e partidos atuantes na zona sul da capital criaram o Movimento Universidade e um Instituto Federal no Jd. Ângela. O movimento tem como objetivo a criação de um polo de uma universidade e do IFSP na região, ou seja, exige a criação de uma instituição pública que realize não só o ensino, mas também a pesquisa e a extensão.
Tal instituição não deve servir apenas para levar conhecimento à população do sul paulistano e, sim, construir uma unidade real com essa população. Para que isso ocorra é necessário que a instituição além de pública e gratuita, seja também popular. Uma universidade que não se isole da sociedade dentro de seus muros, mas cuja extensão e pesquisas em ciência e tecnologia estejam voltadas para a melhoria da vida da classe trabalhadora dessa região.
Hoje, existem cinco instituições públicas de ensino superior e presencial no município de São Paulo: USP (Universidade de São Paulo), UNIFESP (Universidade Federal de São Paulo), UNESP (Universidade Estadual Paulista), IFSP (Instituto Federal de São Paulo) e FATEC (Faculdade de Tecnologia do Estado de São Paulo). Essas instituições se dividem em 16 campi nas cinco regiões da cidade, onde temos, considerando o centro expandido (região onde vigora o rodízio de carros na capital): 7 no centro expandido (Fatec São Paulo, Fatec Sebrae, Fatec Ipiranga, IFSP Campus São Paulo, UNIFESP, Instituto de Artes da UNESP, Campus Quadrilátero Saúde-Direito da USP); 6 na zona leste (Fatec de Esportes, Fatec Itaquera, Fatec Tatuapé, Fatec Itaquera, Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP e o Campus Zona Leste da Unifesp); 1 na zona oeste (Cidade Universitária da USP); 1 na zona norte (IFSP Campus Pirituba) e 1 na zona sul (Fatec Zona Sul).
Com apenas esses dados podemos perceber que, com exceção da zona leste, há poucas instituições públicas de ensino superior nas regiões mais periféricas do município. Esses números se tornam ainda mais discrepantes se considerarmos apenas as universidades, onde teremos, de um total de 6 campi, metade está localizado no centro expandido, 2 na zona leste e o último na zona oeste. Porém, levando em conta as quatro faculdades que compõe o Campus Quadrilátero Saúde-Direito da USP, localizado no centro expandido, e as outras vinte faculdades que compõe a Cidade Universitária dessa universidade, separada apenas pelo Rio Pinheiros desse centro fica evidente a significativa carência de instituições públicas de ensino superior enfrentada pelas regiões mais periféricas do município em comparação com as regiões centrais.
Na zona sul estão localizados dois dos bairros mais populosos da capital: Grajaú e Jd. Ângela, cada um com cerca de 400 mil e 350 mil habitantes, respectivamente. Esses bairros distam mais de trinta quilômetros do centro da cidade o que faz com que os trajetos, utilizando transporte público, dessas regiões até essas regiões centrais ou até a Cidade Universitária levem cerca de duas horas. Esse alto tempo de percurso no acesso às universidades públicas da cidade torna-se mais um entrave para que essa população do sul da capital curse o ensino superior.
Essa distribuição explica os dados da Seade de 2020 que encontrou que enquanto 15,3% da população total da cidade de São Paulo possuía ensino superior completo, essa taxa aumentava para 28,3% considerando apenas a população do centro expandido e caía para 10% na zona sul. É, portanto, notório que a dificuldade da população ao acesso às faculdades públicas da cidade aumenta as desigualdades territoriais do município.
A criação de uma universidade no Jd. Ângela é uma demanda urgente para o povo paulistano. O interesse da burguesia brasileira é confinar a classe trabalhadora a mera reprodutora de força de trabalho e para isso é necessário impedir que nossa classe tenha acesso e seja produtora de conhecimento. A dicotomia entre o trabalho intelectual e manual favorece a classe dominante de nosso país, é ela que determina quais classes devem governar e quais devem ser governadas. A criação de universidades populares nas periferias de nossas cidades ajuda a atenuar os baixos índices de escolaridade, renda e emprego nessas regiões, mas serve também para combater a divisão social do trabalho imposta pela burguesia de nosso país que, hoje, relega aos filhos e filhas da classe operária à pobreza e exploração.