Maringá: Nota política sobre a cisão com a célula do partido e adesão à Reconstrução Revolucionária

Não há espaço para a disputa interna - já que muitos de nossos camaradas que a fizeram ou tiveram a tentativa de fazê-la, foram expulsos! Temos o nosso compromisso com a construção da revolução brasileira e não com um partido que, cada vez mais, se vira à direita.

Maringá: Nota política sobre a cisão com a célula do partido e adesão à Reconstrução Revolucionária
"O Paraná se enxerga como uma espécie de escolhido messiânico, avaliação que, a essa altura, não passa de um delírio de um organismo semimorto."

Tendo em vista os recentes acontecimentos que publicizaram e aprofundaram a crise que enfrenta o PCB, tornamos pública a fundação de uma célula do PCB-RR em Maringá, Paraná. Somos um grupo que foi militante da célula do PCB em Maringá, e seus coletivos, e, não vendo mais razões que justifiquem nossa permanência, esmiuçaremos, a seguir, as questões que motivam nosso rompimento com a instância e aproveitamos o momento para colocar críticas a algumas posições preponderantes no interior do PCB, especialmente em Maringá.

1. Dirigismo (ou: O Partido e a dialética direção-base)

Talvez a mais importante das razões que levam ao nosso rompimento seja uma constatação imediata e necessária a qualquer comunista consequente: o Partido Comunista Brasileiro, enquanto uma organização marxista-leninista e que opera nacionalmente mediante o centralismo democrático na perspectiva da Revolução Brasileira, se encontra hoje esquartejado, perdido, difuso e, portanto, inexistente na prática. O centralismo democrático deveria ser o princípio político-organizativo que tem por prerrogativa centralizar o andamento e o trabalho positivo da política do Partido, em estreita e total consonância com as deliberações e decisões das bases militantes e das instâncias superiores tomadas periodicamente no Congresso Nacional, instância máxima da organização. Na prática, não é isto que se verifica. O grupo que hoje ocupa o Comitê Central ignora escancaradamente as Resoluções Congressuais e fecha-se em uma redoma.

Nas últimas reuniões da célula de Maringá, diversos camaradas reiteraram insistentemente que “O PCB é composto por sua base, o PCB somos nós!” e essas não são afirmações completamente vãs. Contudo, entendemos como um erro grave o silogismo: “O PCB é a base, CC e CRs são apenas direções e centralizadores do nosso trabalho”. Ora, camaradas, este não é justamente o diferencial de um Partido Comunista? É verdade, sim, que uma direção jamais pode ser nada sem sua base, entretanto e, por consequência, sua máxima oposta também se aplica: uma base sem direção não pode ser um partido. Uma base sem direção não pode, nem ao menos, ser considerada uma base, visto que são categorias que só existem quando relacionadas: uma base só existe e só se distingue enquanto tal em função de uma direção, e uma direção só existe onde há uma base a ser dirigida. A célula ainda aposta na luta interna? Ainda reconhece o CC? Não? Mas reconhece o CR? CR este que, ainda que se mostre descontente, ainda responde ao CC? Até que ponto a cadeia de comando pode ser “não reconhecida” sem descaracterizar o centralismo-democrático? Já está amplamente constatado que não há mais disputa a ser feita com a fração que se apossa do Comitê Central. Esgotadas todas as tentativas de tratativas internas, resta-nos a associação por fora do Partido, junto a quem se propõe a reconstruir a unidade de ação, dizimada no PCB.

A verdade, camaradas, é que hoje nos encontramos, na prática, sem Partido, sem instâncias, sem orientações, a célula sem assistência. Nos aborrece a passividade, o conformismo e a morosidade vigente no complexo partidário de Maringá. Outros estados tiveram intervenções e expulsões sumárias, processos de perseguição empreendidos pela direção para quebra de militantes, num esforço claro de liquidar qualquer chance de divergência. O Paraná se enxerga como uma espécie de escolhido messiânico, avaliação que, a essa altura, não passa de um delírio de um organismo semimorto.

2. Federalismo (ou: PCB-Paraná?)

Dados os últimos desdobramentos da crise vigente, nossa base hoje conhece o caráter federalista da organização a nível nacional, uma prática execrável e danosa, além de um efetivo entrave para o desenvolvimento nacional dos trabalhos do PCB e que opera, já há muito tempo, em nossas fileiras. O federalismo (que implica, naturalmente, autonomismo e espontaneísmo), esgotadamente denunciado e constatado no decorrer das discussões, apesar de estar ali, parece ser encarado pela militância da célula de Maringá como um mero detalhe, e mais ainda, como uma “ferramenta” para driblarmos a crise e o autoritarismo do Comitê Central. Assim, ao notarmos o elefante branco no meio da sala e, ao invés de nos empenharmos para retirá-lo dali, achamos que o melhor mesmo é nos escondermos atrás dele.

É irônico lembrar o quão ridicularizado foi o nome da iniciativa PCB-RR, quando surgiu: “PCB-Roraima” era a alcunha provocadora de risos. Agora, a proposta vigente abandona (ou ignora) essa ironia, na tentativa de permanecer na mais genuína pureza marxista-leninista em aparência. Aparece no Paraná e na Célula a roga por uma “terceira fração”, o tragicômico PCB-Paraná, ou PCB-PR. Na prática, a reivindicação dessa “terceira fração” parece ainda mais dúbia e ambígua. A proposta é abrir uma tribuna de debates estadual, para socializar “acúmulos” e daí tirar uma “decisão coletiva enquanto Paraná”, que pode acarretar ou não na organização de um Congresso (que, se aprovado, terá que ser construído à revelia do CC e, obviamente, não será o do RR, pois eles, assim como o CC, são vistos como oportunistas). Fingimos uma “unidade de ação” estadual - ou celular - com o intuito de debater o sexo dos anjos para no fim escolhermos entre o pântano e o cemitério.

Essa visão egocêntrica é exemplo do autonomismo presente na organização. Afinal, como argumentado acima, o autonomismo não é encarado pelos comunistas paranaenses como um mal fundante da práxis partidária, mas é algo a ser endossado e desenvolvido nas fileiras do nosso estado, para que assim, possamos superá-lo e retomemos a unidade de ação a nível nacional. Camaradas, considerem a seguinte observação: o Partido Comunista Brasileiro, hoje, a nível nacional, de fato apresenta três frações: 1) a fração CC; 2) a fração RR; 3) a fração des camaradas que já não veem mais sentido em continuar lutando. A fração já natimorta PCB-PR pode desembocar na adesão de apenas duas destas frações: a primeira ou a terceira. Rechaçamos a ideia delirante de que o Paraná goza de algum “privilégio” ou “sorte” por ter uma maior “liberdade de debate”. Isso é, como já apontado, sintoma do federalismo em nossas fileiras. Reflitam: de que forma a negligência e o ostracismo por parte da direção que, até então, se imaginava legítima pode vir a ser algo positivo, principalmente em uma crise partidária? É positivo por que, exatamente? Sorte onde? Tomada alguma decisão enquanto “Paraná”, e depois?

3. Artesanalismo (ou: Máquina de moer militante)

Foi também expressiva a quantidade de camaradas que se pronunciaram em defesa da manutenção da “unidade de ação” e da “continuidade do trabalho local”. Analisaremos, então, o andamento do trabalho político da Célula e do complexo partidário como um todo nos últimos anos. Antes de tudo, ressaltamos que os problemas aqui apontados não são de responsabilidade individual de ume ou outre camarada, ou um ou outro coletivo específico, mas um problema estrutural que a própria configuração do Partido a nível nacional nos impõe. Às vezes, é muito dificultoso distinguir a prática política do PCB das demais organizações reformistas que dizemos combater ou contrapor, não apenas nos trabalhos nacionais e internacionais (vide a polêmica envolvendo dirigentes do Comitê Central e a PMAI), como também a nível local.

Camaradas, quando foi a última vez que conseguimos, de fato, empreender uma atividade com apelo para com o proletariado maringaense e que avançasse minimamente o rumo do movimento de massas local nas perspectivas do programa revolucionário? O máximo que estamos conseguindo, considerando uma direção nacional espúria e sem compromisso com a linha política estabelecida em congresso, é tapar os buracos e lacunas deixados pelas forças reformistas e social-democratas, que vêm abandonando mais e mais a política real, junto às massas trabalhadoras, em favor de um projeto reformista e pelego. Numa conjuntura onde deveríamos aproveitar o vácuo deixado pelas forças reformistas no seio da política de bases, nos encontramos completamente perdides. Não sabemos como disputar um sindicato com apelo real entre os filiados, nem mesmo qual sindicato disputar a longo prazo. Não temos acesso a nenhum acúmulo ou avanço empreendido nos locais onde o Partido tem maior inserção e experiência na luta por terra e moradia, na perspectiva de planejarmos uma atuação consequente e ativa junto à Ocupação Dom Hélder Câmara. Não temos claro para o conjunto da militância o papel da Brigada Solidária e suas implicações estratégicas junto aos imigrantes e demais setores do proletariado mais precarizado, nem com as organizações do campo democrático-popular ao qual prestamos assistência, nos deixando incapazes de superar o caráter meramente assistencialista que empreendemos na Brigada.

Quando isso era pautado em reuniões, a resposta era negativa, trazendo como razão a necessidade imediata do assistencialismo, que por si só prerrogava qualquer planejamento estratégico de atuação. Essa visão etapista, de que a luta política não existe até a luta econômica ser vencida, é típica da social-democracia e justamente aquilo que um partido marxista-leninista deve combater. Vejam, não se trata de interromper os trabalhos e se recusar a construir com outras organizações que não são de nosso campo, nem de que não devemos praticar o assistencialismo quando necessário, mas de ter  definido os limites de nossa atuação conjunta nas pautas econômicas de modo a preparar a massa trabalhadora para a luta política. Dar aos trabalhadores as armas para avançar, não ser puxado a reboque.

Nas manifestações de rua, o complexo do PCB é usado pelas forças da esquerda institucional para fazer o trabalho pesado de organização, enquanto os partidos da social-democracia dão a linha política. Nossa inserção nos bairros é completamente mediada por outras organizações do campo democrático-popular, limitando nossa atuação ao assistencialismo puro. E isso também se estende, sim, à juventude que agora integra em maioria o RR. Porém, camaradas, as conclusões que reduzem nossas debilidades a apenas "correlação de forças", "momentos inoportunos" ou a "falta de braços" não respondem por completo. Se faltam braços, devemos planejar em dobro para que nenhuma força seja desperdiçada. Se falta tempo, temos que estreitar o foco para que a tarefa seja construída qualitativamente. Contudo, sabemos que não é assim que o PCB funciona. Não só na célula de Maringá mas em todos os cantos do Brasil e em sua direção, o planejamento e guia de ação é trocada pelo espontaneísmo e imediatismo.

Cansamos de andar em círculos. Sem a ruptura com essa cultura organizativa aflorada no PCB, tenderemos a ver cada vez mais o rebaixamento dessa organização. Nos cansa essa morosidade e cinismo com que tratam a profunda crise que assola o Partido. Acreditamos que era questão de tempo até que todos se convencessem da importância de encontrar um caminho único para a solução da crise. Hoje, porém, já está claro para nós que esse caminho não existe. Os militantes que ainda permanecem o fazem esclarecidamente sabendo que estão aceitando a permanência da fração CC e a manutenção do trabalho artesanal que é regra no Partido.

4. Formalismo (ou: O critério da verdade é a prática)

Entre os argumentos defendidos em espaços de debate internos do PCB sobre a crise partidária, evidencia-se que o debate se atém frequentemente à forma, e não ao conteúdo das críticas. Cita-se o tom da fala, a mensagem em grupo, a postagem em rede social, até mesmo a expressão facial do militante, enquanto deixa-se de discutir o conteúdo trazido nas críticas e uma possível solução para os problemas apresentados. Apela-se ao formalismo como maneira de evitar confrontar as próprias ações, tanto atuais como passadas, e verificar que os erros apontados no CC estão presentes também nas atuações locais.

Apontamos, como já o fazemos há muito tempo, a presença de comportamentos de formalismo, legalismo, personalismo e amiguismo entre os militantes da célula de Maringá. Nossos apontamentos e críticas sempre foram feitos com o propósito de debater as consequências nocivas que essas posturas trazem para os trabalhos militantes. Entretanto, sempre fomos solenemente ignorados. Vemos militantes que encontram-se acima de críticas e veem qualquer discordância como um ataque pessoal, até mesmo acusando-nos de perseguição. Repudiamos essa acusação, mas, depois de tanto tempo, já não temos mais nenhuma esperança de que nossas críticas sejam acolhidas verdadeiramente, refletidas e entendidas como críticas à uma cultura política nociva e desgastante. Para além disso, também não esperamos que exista nenhum processo de autocrítica a ser realizado, até porque o último processo apenas desgastou física e psicologicamente nossos camaradas, causou diversos afastamentos e foi uma plena "defesa" de posições - que enxergou as críticas da UJC como meros ataques à célula. Fomos vencidos pelo cansaço.

Nos debruçaremos, agora, sobre alguns dos argumentos presentes nas falas des camaradas nas últimas discussões sobre a crise partidária.

"Devemos permanecer para lutar pela legenda PCB." Ora, camaradas, somos comunistas ou uma igreja? O PCB foi por muito tempo um importantíssimo instrumento de luta da classe trabalhadora brasileira, fato que deve ser reconhecido e elogiado. O histórico de cento e um anos de luta é notável e também o reivindicamos. Entretanto, nosso compromisso como comunistas é com a revolução, não com legalismo. Se esse partido se perdeu, se a direção nacional hoje é ocupada por um grupo de dirigistas e academicistas que 1) não pauta luta de classes, em prol de um apoio pelego ao governo de conciliação de classes; 2) rebaixou o nível do debate da solidariedade internacional em prol de construir alianças com organizações nacional-chauvinistas e burguesas; 3) abandona o marxismo-leninismo e a estrutura partido pautado pelo centralismo democrático; 4) mente para suas bases; e 5) expulsa quem discorda; que esse partido seja abandonado e definhe até morrer. Nosso compromisso será construir um que esteja à altura da tarefa histórica que temos à frente: a revolução.

"A fração RR tem o conteúdo correto mas desrespeita a forma; enquanto o CC respeita a forma, mas abandonou o conteúdo."

Similar à resposta anterior. Nosso compromisso é justamente com o conteúdo, não com a forma.

"A militância jovem vem pela internet, não tem local de atuação, e é facilmente manipulada."

Primeiramente, é importante pontuar que a internet é um meio de comunicação amplamente utilizado hoje e que seu uso não só não deve ser condenado, como deve ser aprovado e entendido como um canal a mais de agitação. Nem todes nasceram em famílias militantes, ou tem uma mãe sindicalista, ou um pai que atua em movimentos sociais, ou esteve na universidade tendo acesso às leituras marxistas. Somos todes da classe trabalhadora e sentimos na pele, a vida toda, a exploração do trabalho e as incontáveis violências e injustiças decorrentes dele, mas ninguém chega naturalmente às reflexões revolucionárias. O trabalho de agitação e propaganda tem que ser feito de alguma forma. Muitos jovens (e até mesmo pessoas mais velhas) tiveram seu primeiro contato com as ideias comunistas por meio da internet. Desprezar essas pessoas como se seu entendimento da realidade fosse menor que o nosso é uma postura excludente e elitista.

Em segundo lugar, a UJC tem feito o esforço de integrar seus militantes em todo seu trabalho de base, seja estudantil, trabalhadora, movimentos de cultura ou de bairro. Para aqueles que não compõem uma dessas frentes de atuação, o esforço tem sido na direção de formação teórica de militante, com o objetivo de formação de quadros para formulações teóricas e agitação e propaganda. Tratar a UJC como um grupo que milita por meio da internet só pode ser falta de conhecimento da ampla atuação da UJC em todo o Brasil, ou então puro desdém com a juventude.

Em terceiro lugar, definir a crise atual do partido como simples consequência da entrada de muitos novos militantes sem experiência partidária é o mesmo que aceitar todas as ações tomadas pelo CC - por este ser composto por militantes experientes. Corresponde a afirmar que aqueles que tem tempo de militância partidária necessariamente fazem tudo certo e, os que não tem, fazem tudo errado e não sabem de nada. Este argumento de materialista não tem nada! É carteirada! Idade, experiência, tempo de partido, tempo de militância não são por si só coisas qualitativas. O que atesta a qualidade do militante é sua militância! O critério da verdade não é a prática? Se, atualmente, o militante rasga as resoluções congressuais, comete todo tipo de desvio, considera-se como um deus na terra, que seja criticado! Rechaçar críticas simplesmente porque elas vêm de jovens, pessoas com menos tempo de militância e sem ampla experiência partidária, não passa de uma soberba de quem não consegue debater seriamente. Devemos lembrar também que não estamos falando de um complexo partidário com longas décadas de atuação, embora tenhamos sim pessoas com mais experiência de militância. A maioria absoluta do complexo de Maringá, seu Partido incluso, se formou nas lutas que explodiram logo após a eleição de Bolsonaro. Aplicar essa formação apenas aos militantes da UJC não corresponde à realidade.

"É triste ver pessoas que se tratavam como camaradas até ontem se tratando como inimigos hoje."

Como se sabe, não é de hoje que existem os problemas apontados tanto nesta carta quanto em todos os textos já divulgados pela iniciativa PCB-RR. Não foi por falta de tentativa que os problemas não se resolveram. Quando não há liberdade para debate, para crítica, nem autocrítica, não há centralismo democrático. E se o PCB já não é mais um partido que tem o centralismo democrático como forma de organização interna, não há o que construir internamente.

Agora, que fique claro que a postura de tratar como inimigos aqueles que fazem críticas tem sido a postura adotada pela fração CC, desde o início dessa crise - e, até mesmo, anterior a ela, vide o exemplo da perseguição sofrida pela camarada Ana Karen, da Bahia. Em Maringá, a postura de excluir de atividades, não construir conjuntamente e em alguns casos até ignorar sumariamente um militante em espaços públicos como se não o conhecesse, tem sido o comportamento adotado por militantes da célula, desde pelo menos o período eleitoral do ano passado. Não confundir a reação com a ação que deu início a isso. Se hoje alguns militantes optam pelo desligamento sem mais discussões é porque todas as tentativas de diálogo foram frustradas e es militantes se encontram esgotades de tanto dar murro em ponta de faca.

"Não devemos ter pressa pra resolver essa crise."

Nunca se tratou de ter pressa, mas de reconhecer que o problema existe e tentar encontrar uma solução, em algum momento. Somos contra a morosidade de deixar o partido definhar enquanto não tomamos posição. Nossa proposta não é a simples adesão a outra organização comunista, mas o debate amplo e a posterior tomada de decisão. O debate tem sido feito em todos os organismos - aliás, contrariando as orientações do CC, que nos deu um "cala a boca" quando tudo começou a vir à público - e todes es militantes estão tendo a oportunidade de 1) se informar sobre tudo o que está acontecendo; 2) debater e ouvir opiniões convergentes e contrárias; 3) tomar uma decisão. Permanecer alheio à toda essa crise não terá consequência positiva alguma.

"O Comitê Central sempre cometeu desmandos; não é com um Congresso Extraordinário que se resolverá isso."

Pois bem, o CC nunca foi perfeito - ninguém nunca disse isso. Mas permanecer mais de uma década em um partido e reconhecer que tem ignorado os problemas existentes na direção nacional por todo esse tempo é uma postura que não condiz com nenhum militante estudioso e sério. Deveria se envergonhar, na verdade. Exemplifica o mais tolo e vil imobilismo.​​​​

5. Personalismo (ou: A relação entre Partido e Juventude)

Já foi extensamente debatida a relação da célula do PCB de Maringá com o núcleo da UJC. Na carta enviada ao Partido no mês de abril foram expostos acontecimentos desde o início do ano de 2022 e foi explicitada qual é a posição da Juventude, acompanhada de balanço da atuação, crítica e autocrítica. Nosso posicionamento se mantém. A célula respondeu negando a grande maioria dos acontecimentos narrados e, em reunião conjunta, insistiu nessa postura. O único encaminhamento encontrado foi o recrutamento de militantes da UJC para a célula, o qual foi feito. Após integrarem a célula, es militantes constataram a persistência do amiguismo já mencionado, que ficou ainda mais evidente durante a crise partidária. Um claro sintoma do citado amiguismo é a postura de camaradas que, durante a reunião da célula, realizam falas com o maior cuidado possível para não "ofender" ninguém. Pois bem, a crítica não deve ter tom nem teor de ataque pessoal, ela deve ser um mecanismo de aperfeiçoamento da prática militante.

Essa cultura é efetivada não somente por quem realiza as falas, mas também por quem as recebe. Em determinados momentos, o camarada G. teve falas acima do tom e realizou a autocrítica quando necessário. Porém, em outros momentos, sua firmeza e sua assertividade foram confundidas com agressividade, justamente pela dificuldade em entender as críticas como, de fato, críticas. Camaradas, não devemos ter medo de colocar críticas, assim como não podemos ter medo de reconhecer os erros. A autocrítica não é um mero reconhecimento de erros e uma busca do perdão católico, é um processo e parte integrante de uma organização comunista, necessária para o avanço da organização. Entendemos que o processo de autocrítica de nossa cultura política do complexo partidário - quando é feito - é colocado em termos individualistas, moralistas e subjetivistas, entre outros adjetivos que denunciam a vulgarização desse conceito e a incompreensão de sua plena aplicação para a construção do centralismo democrático.

Em uma tribuna de debate amplamente divulgada durante o IX Congresso da UJC (Tribuna 144 - Sobre Crítica e Autocrítica no Partido de Lenin), o camarada João Elias, do Núcleo de Taguatinga - DF, fez algumas considerações importantes sobre o que NÃO é autocrítica, que avaliamos ser interessante de compartilhar:

"Não é autocrítica a perspectiva individualista, subjetivista, firmada na moral cristã e neoliberal brasileira. Tal posição é [...] antimarxista por produzir distorções ao ponto de impossibilitar o embate político e a disputa aberta e fraterna da linha política! É oportunista ao sustentar a manutenção de qualquer compreensão coletiva que esteja positivada no conjunto da militância, impedindo a reavaliação e superação dialética dos problemas inerentes a cada conjuntura, pois sustenta a defesa de um processo de auto avaliação pessoal e individual, perdão e remissão do “pecado” gerado por determinada prática “desgastante” ao conjunto da militância ou de sua atuação. Autocrítica nesse uso se torna a prática de se arrepender de uma ação ou omissão, e pedir desculpas sobre essa ação ou omissão, gerando dois problemas profundos e muito sérios à nossa práxis: O primeiro é o de construir relações internas que não são políticas, e muito menos fraternas! A partir deste conceito de autocrítica, qualquer prática que gere mal-estar dentro da organização (leia-se, embate político aberto e honesto) é profundamente rechaçada, pois o processo verdadeiro de autocrítica resulta em mal-estar entre militantes que não foram formados para o debate e disputa da linha política, e sim formados para o acordo artificial, formados para evitar a polêmica, para seguir a linha presente e elocubrar formas de justificar as contradições existentes! [...] O segundo é o de construir uma vida política morta dentro da juventude! Ao aceitarmos a autocrítica como a definida pela burguesia, jogamos no lixo a nossa capacidade de compreensão e intervenção na realidade, não fazemos balanços, não enfrentamos nossos camaradas pois estes percebem a disputa da linha como uma AFRONTA pessoal e individual, e não como um processo de avanço coletivo e materialista, tratamos o desacordo político enquanto negação de indivíduos, e assim sepultamos de vez a democracia interna dos espaços onde nos organizamos! O desvirtuamento e rebaixamento da autocrítica nos leva a tratar os nossos camaradas que efetivamente constroem autocrítica como indivíduos problemáticos, “brigões” e que perturbam a “paz e estabilidade” da juventude e do partido [...]”.

Nessa linha, a incapacidade de realização verdadeira da autocrítica também foi e é um fator importante no desenrolar de todo o conflito entre juventude e partido. Não exageramos ao dizer que os militantes da célula têm uma dificuldade colossal de realizar autocrítica. Prova disso é que o balanço enviado pela UJC teve como devolutiva um texto que não tratou dos problemas individualmente. O coleguismo citado anteriormente tem impacto nesse comportamento, pois militantes não são cobrados, responsabilizados e, como consequência, não aperfeiçoam sua prática militante. Pelo contrário, os problemas são jogados para debaixo do tapete para não ocasionar atritos e situações desconfortáveis no grupo de amigos-camaradas. Pedidos frequentes de desligamento do camarada J. frente a polêmicas no complexo, que não são seguidos por um balanço ou autocrítica consequentes, são reflexo dessa cultura e não deveriam acontecer.

Outra grave prática recorrente na célula, que infelizmente é reflexo da relação entre PCB e UJC em todo o país, é o que chamamos de "dois pesos e duas medidas". Da UJC, é exigida extrema organização e disciplina militante. Dos militantes da célula, não se cobra nada e se tolera todo tipo de desvio. Um exemplo crasso foi a condução da resolução desse conflito pelo CRPR-PCB, que ao invés de procurar a construção de uma autocrítica dos organismos, procurou tornar o processo um "tribunal" onde discutia-se quem estava mais correto e fomentou os conflitos pessoais, com a assistente do CRPR, T., comentando em reunião casual do partido que era para os militantes "deixarem a UJC pra lá". Já durante a crise partidária, destacam-se as falas enérgicas de militantes do PCB contra a carta a favor do XVII Congresso Extraordinário votada unanimemente pelo núcleo de base de Maringá, considerada um absurdo e uma terrível quebra de centralismo. Ao mesmo tempo, nada se falou de militantes da célula do partido em Maringá emitirem suas opiniões nos perfis pessoais, enquanto pisavam em ovos ou calavam-se nos espaços amplos da plenária e da reunião.

Também é importante destacar, camaradas, que algumas das críticas que os militantes da célula fazem à UJC também possuem um caráter personalista bastante grave. Atualmente, algumas das críticas que os camaradas fazem e circulam na internet (como o fio postado no perfil do militante V. no Twitter e apagado minutos depois) trazem, novamente, uma UJC amorfa e acrítica, onde o militante G. "instrumentaliza" todo o núcleo com suas opiniões e posições individuais. Novamente, frisamos que isso não corresponde à realidade. Além disso, caso esse fio fosse feito por um militante da UJC, caberia um processo disciplinar para este. Mas fazemos a seguinte pergunta: será que na célula isso também será levado a sério, como um problema político-organizativo, ou a autocrítica realizada vai se basear no perdão e na remissão do pecado? Ou nem autocrítica vai haver?

Assim, a célula relega os problemas políticos a segundo plano. Divergências táticas e estratégicas são entendidas como descontentamento pessoal entre militantes, contradições entre juventude e partido são lidas como rebeldia, e a resolução passa a ser um pedido de desculpas e não uma autocrítica profunda do organismo. Novamente, a crítica da forma, mesmo que às vezes correta, se sobressai e o conteúdo escapa pela tangente.

Que fique claro: nossa divergência não nasceu porque militante X foi rude com militante Y, ou porque a assistência fez um comentário infeliz, ou porque um dirigente falou algo que não gostássemos pessoalmente. Esses são exemplos de como a divergência política foi rebaixada ao nível interpessoal. A nossa crítica se dirige não só para es camaradas dos casos citados, mas também para todes es camaradas que foram coniventes com a ausência de autocrítica. Que organização comunista é essa em que a crítica é condenada e a autocrítica é ofuscada pelo amiguismo?

6. Conclusão

Considerados os pontos aqui apresentados, além e em consonância com tudo o que vem sendo exposto por camaradas militantes do complexo partidário de todo o Brasil e não nos convém aqui repetir, não vemos o Partido Comunista Brasileiro como um espaço no qual nossos esforços serão bem investidos a partir de agora. Não há espaço para a disputa interna - já que muitos de nossos camaradas que a fizeram ou tiveram a tentativa de fazê-la, foram expulsos! Temos o nosso compromisso com a construção da revolução brasileira e não com um partido que, cada vez mais, se vira à direita. Aqueles que não tomarem posição serão arrastades.

Camaradas que ficam no PCB-CC, é importante frisar que nós não somos seus inimigos e, para além disso, nós temos muito claro quem são nossos verdadeiros inimigos. Temos seriedade e compromisso com as posições que estamos tomando e nutrimos profundo respeito pela militância tocada por todes do complexo. Ninguém está "cuspindo na cara" de ninguém. Não estamos "traindo" ninguém. As nossas divergências são políticas e, infelizmente, neste momento, são divergências inconciliáveis.

Na lacuna deixada pelo PCB no movimento comunista brasileiro, colocaremos nossos esforços no intuito de forjar uma organização verdadeiramente marxista-leninista, com liberdade para criticar e unidade na ação!

PELA RECONSTRUÇÃO REVOLUCIONÁRIA DO PARTIDO COMUNISTA BRASILEIRO!

RUMO AO XVII CONGRESSO EXTRAORDINÁRIO DO PCB!

FORA BUROCRATAS! FORA OPORTUNISTAS! FORA DAS FILEIRAS DO PARTIDO COMUNISTA!