O CONUNE e algumas coisas mais...

A educação como espaço constante de disputa ideológica deve ter uma luta marcada pelo nosso programa, que será superior a agenda socioliberal, neoliberal e liberal que combatemos diariamente pelos campis de nosso país.

O CONUNE e algumas coisas mais...
Reprodução/Foto: Francisco Diniz.

Por Raul Orcy | Tribuna de Debates

Nota Editorial: Publicamos a seguinte tribuna para ensejar um necessário debate a respeito de nossa participação no Congresso da UNE e nossa atuação no movimento estudantil universitário como um todo. Destacamos que o camarada aponta, logo de início, que o programa a ser agitado no espaço em questão não estaria disponível para a militância, sugerindo, na realidade, que a defesa da Universidade Popular teria sido abandonada no IX Congresso da UJC, não tendo seguimento em nosso partido. Isso está incorreto. Nosso partido não rompeu com a defesa da Universidade Popular. Partimos dos acúmulos pregressos para formular as Teses da UJC para o 60º CONUNE, que o próprio camarada linka no texto, onde se encontram pontos programáticos, táticos e estratégicos, que agitamos em nossa militância. Além disso, nas resoluções congressuais do PCBR lemos o seguinte: “§108 Os comunistas defendem uma Universidade Popular, na medida em que se trata de uma proposta de educação subordinada à estratégia socialista, culminando na superação da mercantilização da educação. O Movimento por uma Universidade Popular, ao se consolidar como um projeto revolucionário de luta pelo socialismo-comunismo, popularizou-se e cresceu, estabelecendo mediações táticas e bandeiras de luta coerentes com as demandas da classe trabalhadora, ao mesmo tempo que apresenta uma alternativa além dos limites da ordem burguesa e de seu modelo próprio de educação”. Ao subordinarmos a luta por uma Universidade Popular à luta pelo socialismo-comunismo, compreende-se que nosso programa se trata de um só programa, de classe, o programa proletário, no qual já se apontam quais as possíveis mediações para com os interesses das demais classes exploradas. O programa a ser seguido não se trata de uma escolha dos dirigentes do partido, como o camarada sugere, mas, sim, do resultado objetivo de nosso processo amplo de debates congressuais, sintetizados em nosso programa, que consta nas resoluções.


Após um ano sem escrever tribunas ou textos longos ao partido, a necessidade novamente bateu à minha porta. Em minha concepção, espelhada, por óbvio, em diversos referenciais, a filosofia parte de um problema, e um problema indica um impasse. Sendo assim, a essência de um problema é a necessidade, esta já citada. Entendendo a filosofia como uma reflexão aprofundada e coletiva, bora tentar filosofar sobre os problemas do movimento estudantil universitário e sobre a universidade popular, com enfoque em nossa presença no último CONUNE.

Segundo o Documento final do V pleno do Comitê Central do PCBR os objetivos da nossa militância para o CONUNE de 2025 eram:

a. Manter nossa participação na Executiva da UNE;
b. Formar dentro da UNE um campo sólido de unidade a partir da independência completa ao Governo Federal e do combate à austeridade;
c. Propagandear o programa da Universidade Popular nas bases e no Congresso;
d. Coesionar nosso trabalho universitário e fortalecer nossos organismos de base a partir da intervenção e disputa do movimento;
e. Garantir a democracia e a ampla participação dos estudantes no processo.

Irei discorrer ao longo desta tribuna sobre estes objetivos e quais foram alcançados em minha opinião, porém, neste momento irei me ater apenas ao ponto “c”.

Camaradas, para propagandear algo, precisa-se dominar conceitualmente este algo, certo? Visto que, segundo o nosso querido Vladimir em “Que fazer?”:

Um propagandista, ao tratar, por exemplo, do problema do desemprego, deve explicar a natureza capitalista das crises, mostrar o que as torna inevitáveis na sociedade moderna, mostrar a necessidade da transformação dessa sociedade em sociedade socialista etc. Em uma palavra, deve fornecer ‘muitas ideias’, um número tão grande de ideias que, de imediato, todas essas ideias tomadas em conjunto apenas poderão ser assimiladas por um número (relativamente) restrito de pessoas. (LÊNIN, 1902)

Então partindo da premissa que o objetivo “c” era propagandear o nosso programa para uma universidade popular, deve-se por lógica a nossa base presente no congresso ter o domínio deste programa… mas, onde a base tem este acesso? Em qual drive, biblioteca, documento, ou circular foi disponibilizado este programa? a verdade é que não há!

Após uma pesquisa, que inclusive demonstrou uma dificuldade absurda para encontrar documentos importantes do partido, pude encontrar alguns poucos momentos em que pautamos este tema. Acredito que os mais relevantes são as “teses da UJC para o 60 CONUNE” e a brochura do camarada Gabriel Lazzari intitulada “ O Que é a Universidade Popular?”. A questão que problematizo é, em nenhum desses escritos é pautado um programa, na verdade até a definição de universidade popular é um cntrl C cntrl V do IX Congresso da UJC de 2022 (ainda PCB). Me pergunto camaradas, vamos reivindicar as Resoluções deste congresso? Por que caso o nosso “programa” seja o mesmo decidido naquele momento, não podemos depender de que nossos dirigentes decidam o que é bom e o que é ruim e assim reivindiquem parcialmente as resoluções.

Nos dois escritos que citei no parágrafo acima é feito uma cópia do ponto 4 das resoluções de “a” a “h”, nós ainda não conseguimos nem reescrever estes tópicos, afirmando um possível desconhecimento do tema. Outro ponto a ser observado é que nestas resoluções o programa da Universidade popular é discorrido até o ponto 13, que delimita 10 páginas escritas sobre a universidade popular que aparentemente não estão sendo reivindicadas. Trago como exemplo dois pontos esquecidos:

d. Indissociabilidade do tripé universitário de Ensino, Pesquisa e Extensão, visando uma formação não-tecnicista, crítica a divisão social do trabalho na sociedade burguesa;  (UJC, 2022. p 19)
a. Por um Congresso Estatutário da União Nacional dos Estudantes! Reformar o funcionamento da Plenária Final do Congresso da UNE, colocando ênfase nos encaminhamentos dos Grupos de Discussão. Democratizar a UNE para dar poder às bases estudantis e combater o oportunismo! (UJC, 2022. p 26)

É interessante que o congresso estatutário da UNE, apesar de definido como pauta de luta em 2022, hoje não é comentado por nossa militância em nenhuma tese, inclusive na nota “Por uma União Nacional dos Estudantes democrática!” publicada em 17 de Abril de 2025 pela UJC, encontrei o título “ O ESTATUTO PRECISA SER RESPEITADO!” temos uma contradição aqui camaradas. Ou reivindicamos por completo as resoluções congressuais referentes a universidade popular de 2022 da UJC, para definirmos lutas de estudantes universitários a favor da pauta, ou necessitamos de novas resoluções para a atuação destes, visto que, por exemplo, nosso programa define apenas quatro incisos para o MEU, sendo eles do §104 ao §107. Inclusive o §107 definindo:

Os comunistas defendem uma Universidade Popular, na medida em que se trata de uma proposta de educação subordinada à estratégia socialista, culminando na superação da mercantilização da educação. O Movimento por uma Universidade Popular, ao se consolidar como um projeto revolucionário de luta pelo socialismo-comunismo, popularizou-se e cresceu, estabelecendo mediações táticas e bandeiras de luta coerentes com as demandas da classe trabalhadora, ao mesmo tempo que apresenta uma alternativa além dos limites da ordem burguesa e de seu modelo próprio de educação. (PCBR, 2024.)

Tanto em nosso programa, quanto nas teses para UJC no CONUNE nós tratamos a universidade popular como uma pauta quase agitativa, sem profundidade, sem os meios para alcançá-la… saúdo o trabalho dos camaradas que se empenharam para que a escrita do camarada Lazzari esteja disponível hoje em forma de brochura, mas a mesma, apesar de muito boa por apresentar de forma aprofundada e até metodológica a luta pela universidade popular, não abrange por completo as resoluções citadas do ponto 4 ao 13. Considero que esta brochura seja o material, dos tempos de PCBR, mais qualificado para compreendermos a pauta e propagandearmos com qualidade, infelizmente a disponibilizamos pouquíssimo tempo antes do congresso, fazendo com que, e lembrando que estou discorrendo sobre o objetivo “c” do CONUNE, nós não cumprissemos o obejtivo.

Caso não haja um material amplamente divulgado, de fácil acesso, e produzido de forma metódica, radical, rigorosa e coletiva que evidencie a pauta que dá título a este tópico, nós não teremos a capacidade de diferenciar a nossa proposta para o MEU das propostas das outras frentes da Oposição de esquerda. Dizer que queremos trabalhador na universidade, cotas, fim do vestibular, fim da lista tríplice, e democracia, até um papagaio pelego da UJS diz.

Na tribuna: 'A UNE somos nós, nossa força e nossa voz!' de KOBA, é escrito o seguinte:

Nosso trabalho e nossa disputa na UNE não se dará e não será resumido a rebaixamento de linha e acordos com a majoritária, ele se dará pela nossa capacidade de organizar as massas de estudantes, de hegemonizar com uma linha revolucionária o Movimento Estudantil, tomaremos a UNE e as entidades gerais deste país quando formos uma das principais forças em cada universidade, escola e unidade educacional deste país, rumando para a construção do Poder Popular junto aos estudantes e trabalhadores, e novamente digo: na construção de uma linha revolucionária e proletária para o Movimento Estudantil. (KOBA, 2023)

Novamente, vemos que apesar de um confronto a majoritária, não é definida a linha revolucionária de disputa, ou programa, ou a forma. PCR, PSTU, MRT e alguns mais, defendem linhas revolucionárias também, por isso, novamente, devemos urgentemente definir como é a universidade que queremos, como iremos construí-la, e por que nós iremos e devemos dirigir este processo de organização e emancipação da classe trabalhadora.

Para finalizar, trago a reflexão sobre o poder hegemônico na universidade, a partir de Gramsci (1975):

Nós não podemos afirmar em sã consciência que a burguesia faça uso da escola no sentido de sua dominação de classe; se ela assim o fizesse isso significa que a classe burguesa tem um programa escolar a ser cumprido com energia e perseverança; a escola seria uma escola viva. isso não acontece: a burguesia, classe que domina o estado, desinteressa-se da escola, deixa que os burocratas façam dela o que quiserem, deixa que os ministros da educação sejam escolhidos ao acaso de interesses políticos, de intrigas, de “conchavos” de partidos e arranjos de gabinetes (Gramsci, 1975a, pp 255)

Aproveitemos esta brecha de descaso, e desprezo da burguesia pela educação para sermos a força contra hegemônica que se tornará hegemônica. A educação como espaço constante de disputa ideológica deve ter uma luta marcada pelo nosso programa, que será superior a agenda socioliberal, neoliberal e liberal que combatemos diariamente pelos campis de nosso país.

CONUNE: reflexões acerca da organização do espaço; alimentação; cultural; e agitação e propaganda

Camaradas, pretendo aqui em 5 tópicos dissertar um pouco sobre a minha experiência no CONUNE. Privilegiei usar uma escrita menos formal e mais dialógica, com direito a trocadilhos e metáforas, a fim de aproximar a militância da experiência e das reflexões propostas.

Organização do Espaço

Camaradas, começando pelo começo: a organização do espaço físico. Quando cheguei ao alojamento, junto a camaradagem sulista, não houve nenhum direcionamento sobre onde, ou como, organizar as barracas, apenas foi delimitado o espaço que seria “nosso” em relação a outras forças, logo, não importava a direção o local ou quais delegações estavam aglomeradas em cada espaço. Acredito que estes pontos citados contribuem pontualmente para nossa organização em relação ao conforto da camaradagem.

Em minha opinião um acampamento organizado deve primeiro observar a quantidade de tomadas e como será a sua utilização, pensando em extensões, segurança e conforto. Após isso, o espaço no qual será destinado à infraestrutura como: “espaço de trabalho”, onde não possa haver barracas e circulação de pessoas. Para que assim possa ser guardado materiais de agitação, alimentação e demais necessidades da organização.

Deve ser pensada, previamente a montagem das primeiras barracas, uma dinâmica de montagem dessas mesmas, na qual o espaço de circulação seja garantido entre elas e entre os locais de socialização, isto, além de uma medida de segurança, é uma medida organizativa de conforto.

A um grande debate em torno da cultural que eu irei abordar no tópico específico, porém em caso de novamente acontecer no mesmo espaço do alojamento devemos pensar como isolar ao máximo as barracas do espaço em que a cultural acontece, privilegiando a distância máxima para pessoas com necessidades especiais; tarefas que demandem o despertar mais cedo; e pessoas que não participam da cultural por opção.

Eu particularmente gosto de organizar no acampamento um espaço específico para cozinha/alimentação, mas entendo que isso é uma demanda que não tem caráter prioritário como as outras citadas.

Entendo que como nos distribuímos e lidamos com o espaço no qual ficamos 4 dias reflete diretamente em nossa atuação e em nossa relação no decorrer dos dias, logo, refletir sobre é fundamental.

Alimentação

"EU NÃO AGUENTO MAIS OLHAR PARA UM PACOTE DE AMENDOIM.”

Camaradas, brincadeiras à parte, mas acredito que pecamos muito na alimentação deste congresso.

Primeiro, não há como pensar a alimentação sem pensar no café da manhã e no lanche da tarde. Acredito que ambos devem ser pensados com prioridade na tabela de gastos, para garantia de sua qualidade junto com almoço e janta, claro. 

Acredito que as marmitas de almoço e janta estavam coerentes com as necessidades básicas de nutrição diária (ainda mais quando sobrava para os militantes que comiam mais), porém as demais refeições deixavam muito a desejar em relação à nutrição.

Camaradas, bolacha, suquinho, amendoim e banana das 7h da manhã (horário do despertar) até as 13h (horário do almoço) é muito complicado. O café da manhã é uma refeição importantíssima e deixar que apenas essa proposta sustente 5h que o militante vai estar de pé tocando tarefa é preocupante. Mais preocupante ainda é o período da tarde no qual o militante ficava das 13:30h até as 19h, ou mais, com apenas uns saquinhos de amendoim, ou bolacha na barriga.

Fiquei muito surpreso com a força, literal, de nossos militantes que aguentaram sem ficar doentes ou passarem mal durante os 4 dias.

A falta de café em diversos momentos para os militantes tomarem, foi outra questão, visto que nos últimos dois dias não havia café em nenhum espaço, o que é complicado compreendendo a necessidade da cafeína nas veias de nossas bases que são açoitadas diariamente pelo capitalismo.

Finalizando este tópico com um diálogo descontraído: “Bah, eu não aguentava mais a dinâmica de estar com fome, comer um amendoim, ficar com a boca seca igual o deserto do saara, beber uma garrafa de água, ir no banheiro, ficar com fome, comer um amendoim, beber água…. era um ciclo interminável e muito salgado!!”

Cultural

Gostaria que minha tribuna tivesse caído nas graças da militância antes que nossa cultural tivesse virado polêmica no twitter, mas, infelizmente não foi possível.       Iniciando com a afirmação: É ÓBVIO que deve haver cultural. Para além da contribuição financeira deste momento, a integração e o lazer coletivo entre militantes é fundamental para que nossa militância se conecte e dialogue entre si, com certeza este momento “dá um gás” para diversos camaradas. Agora, deve acontecer todos os dias? deve ter horário limite que seja RIGOROSAMENTE seguido? pode ser no mesmo espaço do alojamento?

Acredito que as perguntas feitas acima necessitam de um debate coletivo, que siga algumas análises da materialidade: No alojamento que nós estávamos, era impossível que realizassemos em outro espaço senão próximo ao de descanso, o que não anula a discussão para que futuramente nos organizemos para garantir um alojamento com dois lugares separados para estas atividade; Em relação aos dias e ao horário, vai muito do que a base que está no congresso avalia, da vontade da base de saracotear com responsabilidade, sendo interessante que haja uma consulta prévia em plenária sobre o tema.

Camaradas, refletido já sobre as questões acima, para finalizar: não podemos falar de Cultural sem falar de Alvorada (Horário definido: 6h), logo, este tema gera o próximo subtema.

Alvorada

“Alvorada, no CONUNE que tristeza”

 Ah, a alvorada. Camaradas, o assunto da alvorada faz com que a palavra disciplina venha para ponta da língua, logo, trarei novamente uma tribuna, agora, do camarada Filipe Bezerra, no seu texto: 'Uma ferramenta revolucionária só fará revolução com disciplina revolucionária', ele escreve: “Portanto dentro da organização, todos nós somos importantes e fundamentais, mas nós não somos iguais, temos funções diferentes, responsabilidades diferentes" (Bezerra, 2023). Atento para “funções diferentes” e “responsabilidades diferentes". Pessoalmente tenho um pé atrás com qualquer definição padronizada ou padronizante, acredito que a disciplina carrega consigo a responsabilidade e esta não é imposta ou conquistada ao acaso, mas sim construída e compreendida. Tenho pleno conhecimento que havia camaradas que realmente precisavam estar de pé às 6h para dar cabo de suas tarefas (inclusive eu no último dia) agora acordar toda militância por conta disso? Houve um dia, no qual acordamos às 6h e o ônibus saiu do alojamento às 10h… Camaradas temos que estar sempre atento aos horários, ainda mais quando a UJS está controlando o transporte, mas devemos ser coerentes com o tempo de descanso.

Neste tópico me foi argumentado que havia pessoas que demoravam 15 minutos para se arrumar e pessoas que levavam 1h por isso devíamos acordar bem cedo. Camaradas, é exatamente o contrário, se a pessoa leva 1h pra se arrumar ela que através do conhecimento de suas responsabilidades e horários que acorda 1h mais cedo enquanto o camarada que leva 15 minutos descansa. Lembrando que somos pessoas diferentes com vidas diferentes e tarefas diferentes.

Agora trazendo um tópico para a discussão. Se fazemos uma cultural até às 3h e estipulamos o horário de alvorada para as 6h, nós estamos reproduzindo uma contradição. Por que caso o camarada decida participar da cultural, ou trabalhe nela, é sabido que irá dormir apenas 3h. O que volta para o debate de horários e dias de cultural, o que volta para a proposta do tópico “CULTURAL” de que haja uma consulta em plenária.

Para finalizar camaradas, imaginem se ao invés de delimitarmos um horário para acordar nós delimitarmos um horário para dormir? Solucionaria a questão? O problema não está no turno e sim na falta de participação na organização dos espaços/horários assim gerando uma padronização forçada e cansativa.

Agitação e propaganda

Partindo da premissa argumentada no início do texto, não conseguimos fazer de forma ampliada e qualitativa nossa propaganda. No quesito agitação acredito que o balanço é um pouco mais positivo, pois estávamos com um bloco coeso e organizado e com palavras de ordem fortes. Dito isso, algo que me incomodou profundamente durante os dias de CONUNE foi a forma como tratamos o nosso jornal na maioria dos dias. Ficávamos levando aquela cacetada de jornal de um lado para o outro sem um encaminhamento firme do que deveríamos fazer com eles, vi militantes que durante o ato externo ficaram o tempo inteiro carregando em média 20 jornais, ou mais, por que não estava claro o que deveria ser feito com eles.

Todos sabemos a importância central que o nosso jornal tem para nossa militância, só que tem uma questão, ele precisa ser lido. Lido por nós e pela classe trabalhadora. Levantar o jornal com palavras de ordem e carregá-lo de um lugar para o outro em grandes quantidades não cumpre o papel formador e informativo do jornal, pelo contrário o limita a um material auxiliar da agitação.

Acredito que no último dia de congresso fizemos uso melhor do jornal, isso após algumas críticas feitas na plenária interna de nossa militância, assim, foi incentivado a distribuição dos mesmos para os estudantes presentes na plenária final, porém acredito que poderíamos ter feito um planejamento prévio mais qualificado para com o uso do grandioso O FUTURO.

CONUNE: reflexões acerca dos objetivos e acontecimentos deste congresso

Fiz questão de conversar com o maior número de militantes possível nestes 4 dias. Descobri trabalhos lindos que são tocados de norte a sul, de leste a oeste, também fui apresentados a diversos problemas de sul a norte e de oeste a leste. Quero citar algumas questões que percebi em meio a esses diálogos que tem relação direta com o CONUNE.

Eu tentei, mas não encontrei nenhum militante que relatou que seu organismo alcançou a meta de valores para a tarefa, na verdade todos os militantes que eu questionava sobre já virava os olhos para cima e fazia uma cara de decepção, logo após vinha um diálogo sobre como os valores estavam muito mais altos do que a capacidade do organismo de contemplá-lo.

Também questiono a decisão de levar mais do que o dobro dos delegados eleitos, pensando nas condições financeiras de um partido em construção que recentemente esteve ou está passando por uma transição organizativa nos comitês. Ter uma bancada grande é bom em diversos aspectos, porém isso aumentou nossa capacidade de disputa na direção da UNE? Garantiu a nossa presença política na oposição? fez valer o rombo financeiro de diversos organismos, inclusive alguns que nem tem célula de movimento estudantil?

Trago algumas problematizações para refletirmos, pensando nas futuras tarefas de MEU como a disputa das UEEs e DCEs.

Dissertando ainda sobre valores, acredito que a militância precisa de esclarecimentos sobre alguns assuntos, como: militantes que estavam hospedados em Airbnb, e militantes que foram de avião. Sempre pensando em contribuir para a reflexão coletiva sobre o uso de nosso caixa e as tarefas a serem cumpridas e a relação de prioridade delas.

Considerações finais

Nem bom, nem ruim. Gauchamente falando foi só tri!“

Um bom congresso para a militância presente. Um espaço de formação, de troca de conhecimentos e experiências, de integração coletiva e muitas outras questões positivas envolvendo a relação entre militantes. Porém, um saldo negativo para o partido.

Não alcançamos nem 70% da meta de delegados, e quando avaliamos os objetivos:

a. Manter nossa participação na Executiva da UNE;
b. Formar dentro da UNE um campo sólido de unidade a partir da independência completa ao Governo Federal e do combate à austeridade;
c. Propagandear o programa da Universidade Popular nas bases e no Congresso;
d.  Coesionar nosso trabalho universitário e fortalecer nossos organismos de base a partir da intervenção e disputa do movimento;
e. Garantir a democracia e a ampla participação dos estudantes no processo.

Temos a seguinte conjuntura: a. ainda não temos certeza; b. sim, visto que toda oposição se articulou neste sentido, tendo ainda que ser avaliado qual foi o nosso papel de protagonismo na decisão; c. não, por tudo argumentado na presente tribuna; d. A princípio sim; e. Olha, dada a amplitude e abstratividade desse objetivo não acredito que de nem para cumpri-lo nem para descumpri-lo.

Para finalizar essa longa escrita, acredito que avançamos. É nítido ver o crescimento do partido organizativamente desde o racha, fico contente em dividir a militância com tanta gente capacitada. Agradeço pelo espaço vivido e dividido, espero que esta tribuna gere boas reflexões coletivas e debates internos. Lutemos por mais!