'Uma ferramenta revolucionária só fará revolução com disciplina revolucionária' (Filipe Bezerra)
Venho através desta tribuna, trazer uma questão que me incomoda profundamente a bastante tempo: A disciplina individual e coletiva do militante comunista e a dificuldade de aceitar as orientações.
Por Filipe Bezerra para a Tribuna de Debates Preparatória do XVII Congresso Extraordinário.
(Uma análise crítica sobre a indisciplina militante, o comportamento liberal e individualista de não aceitar ordens: O dilema entre cosplay de guerrilheiro e a birra de não aceitar receber determinações)
Venho através desta tribuna, trazer uma questão que me incomoda profundamente a bastante tempo: A disciplina individual e coletiva do militante comunista e a dificuldade de aceitar as orientações. Informo aos camaradas que ao longo do texto, não usarei mais a palavra “orientações”, mas sim ordem, pois na minha concepção, dentro da nossa estrutura organizativa, esta se faz, além de presente, necessária.
Peço aos camaradas paciência, pois sei que a forma e o assunto que aqui irei tratar, poderá causar estranheza, desconforto ou surpresa.
Senado assim, início trazendo algumas reflexões sobre a palavra Ordem
- “Ordem” tem como conceito: determinação de origem superior, de autoridade, mandado, prescrição, ordenação;
- Trata-se então de uma relação inteligível estabelecida entre uma pluralidade de elementos; organização, estrutura
Para mim, que não sou e jamais serei o dono da verdade, portanto passível de críticas e discordâncias, a ordem é necessária para garantir dinâmica e progresso de uma organização. A nossa organização, assim como o partido de Lênin, é vertical, porém de mão dupla, tendo como princípio fundamental a liberdade de crítica, o debate e a exposição das divergências. Mas isso não significa que não temos hierarquia – sim, nós a temos, e esta se apresenta como fundamental para o funcionamento da organização. Temos a estrutura de direção de base, direção intermediária e direção central.
Comitê Central
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Comitê Regional
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Direção de Instancia de base
A nossa forma organizativa é de hierarquia, porém diferente das estruturas organizativas de instrumentos do capital: Ela permite que todos os elos possam debater e construir os rumos da ferramenta, através do centralismo democrático. Porém, dentro dessa estrutura democrática e hierárquica, há funções cujo poder de tomada de decisões e de determinar (e não impor) ordens, não é permitido para todos membros da organização. Portanto dentro da organização, todos nós somos importantes e fundamentais, mas nós não somos iguais, temos funções diferentes, responsabilidades diferentes – perceba que não estou qualificando a responsabilidade como maior ou menor, menos ou mais importante, mesmo que em alguns momentos terão tomadas de decisões com responsabilidades mais importantes, pois um hipotético resultado negativo trará maiores proporções de prejuízos. Exemplificando: Se uma célula, instância de base, da universidade ou de um sindicato, decide abandonar uma greve local, e posteriormente percebeu que esse posicionamento foi equivocado, os prejuízos serão um fato, mas em escala local ou regional, obviamente causando um desgaste com aquela categoria, mas que ao longo do tempo, após autocrítica, essa relação pode se restabelecer. Na Segunda situação, imaginemos que o acirramento da luta de classes está fervendo, nervoso, e existe um tensionamento de parte da esquerda e da classe trabalhadora de partirmos para luta armada, o Comitê Central deverá tomar um posicionamento para ordenar o partido nesta conjuntura, então, o comitê decide aderir à luta armada, mas sem analisar com a devida responsabilidade a inferioridade na correlação de forças, encontra um cenário posterior onde os que aderiram à luta armada são derrotados e além disso o Partido perde quase todos os seus militantes. Nesse caso 2, está correto que tomada de decisão deva ser feita pelas/os e nossas/os dirigentes superiores, pois é uma decisão que ultrapassa a alçada das instâncias de base e da direção intermediária,e é claro que com o resultado negativo da tomada de decisão, esta causará prejuízos infinitamente maiores do que o caso 1 apresentado. Ambas situações causarão prejuízos para o Partido e consequentemente pra assembleia trabalhadora, mas em proporções totalmente diferentes
Peço perdão aos camaradas pela longa explicação, não estou em hipótese alguma subestimando a inteligência e poder de análise crítica dos camaradas. Apresento desta forma pois é importante para mim, para seguir a linha de raciocínio, e porque eu acredito que tenham camaradas que de fato necessitam observar esses exemplos (seja pela deficiência de formação que temos desde o PCB velho, ou também, pela origem de alguns camaradas, que sempre estiveram em posições “superiores” dentro desta sociedade, por conta da sua condição socioeconômica e que nunca estiveram do lado daqueles que recebem ordens, ou que nunca foi permitido que eles se contrariassem, no bom português: A classe média não aceita as coisas que não são do jeito delas, não aceita está “abaixo “, não aceita e não é socializado para ceder ou ser mandado, é criado para mandar e ter tudo .sempre ao seus benefícioo, em resumo, criados como o dito popular: “farinha pouca meu pirão primeiro”)
Mas afinal, o que difere a nossa estrutura hierárquica da estrutura hierárquica das ferramentas da burguesia? A resposta é simples: na nossa organização, as tomadas de decisões de uma instância superior, são e devem ser pensando no coletivo, e as ordens determinadas, não são e não deverão ser de cunho autoritário, ou sem pensar no coletivo, ou seja, diferente só que enclntsmos nas instituições burguesas, onde a hierarquia serve para impor um poder sobre aqueles que se encontram abaixo, serve para dominar, controlar, uma característica totalmente liberal.
Outra coisa que nos diferenciamos, é que nós, em tese, temos uma ferramenta que possibilita nós mesmos escolhermos quem vai nos dirigir em determinado período. O centralismo democrático, em tese, permite criar um ambiente onde as escolhas possam ser o mais democráticas possíveis, mas, necessita que as pessoas que seguem esse.emtodo, tenham ética, valores e conduta comunista exemplar, e o espírito de camaradagem, caso contrário estaremos deixando a ferramenta da nossa classe nas mãos de parasitas, que criam dentro do Partido o seu feudo, criando monopólios políticos e cartéis, cujo o único objetivo, é de alimentar o rei que existe em suas barrigas. Estes merecem o paredão.
Com essa reflexão acima, parto para um texto importantíssimo de Mao Tsetung - Contra o Liberalismo, que trata exatamente sobre comportamentos liberais, que tem tudo a ver com essa postura liberal, individualista e egocêntrica que observamos em toda esfera da sociedade, que não compreende que o coletivo deve estar acima de suas vontades e desejos pessoais. Por isso Mao Tse-Tung afirma:
“Não obedecemos a ordens, colocamos as nossas opiniões pessoais acima de tudo. Não esperamos senão atenções por parte da organização e repelimos a disciplina desta. Eis uma quarta forma de liberalismo.”
Logo em seguida ele coloca:
“Em vez de refutar e combater as opiniões erradas, no interesse da união, do progresso e da boa realização do trabalho, entregamo-nos a ataques pessoais, buscamos questões, desafogamos o nosso ressentimento e procuramos vingar-nos. Eis uma quinta forma de liberalismo.”
O que quero trazer nesta tribuna é o liberalismo instaurado na esquerda brasileira e em nós, Comunistas. É inadmissível que nós, militantes revolucionários, tenhamos esse comportamento, mesquinho, individualista, exatamente comportamento que a burguesia adora ver a gente reproduzindo , trabalhador sabotando trabalhador, em troca de que? De alimentar o ego de uma pessoa que diz estar a serviço da revolução, mas só está atrapalhando.
É totalmente desconfortável e um atraso para o processo de construção da revolução ter que ordenar algo para a militância e ter que pisar em ovos, para não ferir o ego de determinados camaradas. Não estou dizendo que a direção tem que chegar gritando, de maneira grosseira e autoritária, até porque em outro parágrafo eu pontuei que na nossa estrutura não é aceitável posturas autoritárias. Infelizmente tanto militantes que estão do lado de receber alguma determinação não se comportam como comunistas e NÃO LIBERAIS, como alguns camaradas, dirigentes, se comportam extremamente liberais nessas situações, muitas vezes autoritária e com forte comportamento da síndrome do pequeno poder, outra postura que deve ser repudiada dentro das nossas fileiras. Camaradas, em dado momento nós iremos nos alterar, agir de maneira desrespeitosa, equivocada com os nossos camaradas, mas isso não deve ser o modus operandi de um dirigente. Por isso a necessidade de autocrítica e ir ao longo do tempo irmos no lapidando em relação a isso.
Gostaria de ir encerrando colocando alguns exemplos que eu acho extremamente necessários para que possa contribuir para que essas posturas não apareçam mais.
Situação 1: Se eu sou direção regional e estou indo para um ato que foi ordenado, através de uma convocatória,onde quem estará dirigindo será a UJC, e eu, na condição de dirigente regional, não fui escalado para nenhuma tarefa neste ato, eu preciso entender que eu vou ter que acatar as ordens dos camaradas da direção regional que e foram escalados para esta tarefa e dos dirigentes da UJC que lhe foram incumbido também a direção neste ato, ponto. Se o camarada da juventude me pede para sair da calçada e marchar na rua, eu não tenho que questionar ou me portar com ar de desdém e superioridade com o camarada, não aceitando as ordens dela/e.
Situação 2: Um camarada de base não deve questionar ou desacatar, fora do espaço cabível, uma determinação de seu dirigente Em diversas situações reais esse tipo de postura de militante de base ocorreu após uma determinação/ordem de dirigente: “porque devo fazer?” “Eu tô cansado, pede pra fulano” “Não vou sair da comissão de segurança, porque eu gosto dessa tarefa” . Da mesma maneira que o camarada dirigente deve saber o momento e o local correto para dar um balanço em algum camarada, é inadmissível que faça isso no meio da rua, na frente de pessoas que não são da organização, e mesmo na frente de pessoas da organização, constrangido a/o camarada, colocando numa posição de inferioridade, de dominado.
Encerro por aqui essa questão e deixo o meu enorme desejo que o debate não se encerre, que possamos debater, fazer críticas construtivas, sugerir e/ou discordar. E como análise final, de minha parte, neste momento, deixo os camaradas com a seguinte reflexão: PRA DIRIGIR TEM QUE SABER SER DIRIGIDO.
“é entre os militantes que realizam de uma maneira mais saliente estas qualidades de militante, que se deve escolher os membros que devem dirigir a organização e em particular os membros do Comité Central. O membro do Comité Central deve vir das fileiras da luta. O membro do Comité Central deve distinguir-se pela sua devoção à luta de libertação nacional, pelo abandono de si próprio para entregar-se à luta e para servir os interesses do Povo”
Samora Machel
1974