Campinas: Das mentiras propagadas pelo CM do PCB e do esclarecimento sobre a nossa cisão

Sem medo da polêmica pública, trazemos todas as nossas críticas e autocríticas para aqueles que quiserem apreciá-las na presente nota e convidamos as direções de Campinas a fazerem o mesmo, caso sustentem, de fato, suas arguições.

Campinas: Das mentiras propagadas pelo CM do PCB e do esclarecimento sobre a nossa cisão
"Camaradas, pedimos a gentileza de que, ao saírem desta nota, consultem a produção leninista com seus próprios olhos e chequem por si próprios quais as considerações política do camarada Lenin sobre o “espírito de círculo”, “a liberdade para criticar”, a “unidade de ação”, a centralidade da “polêmica”, a polêmica como central para a “elevação da consciência” não apenas das massas, como do próprio partido."

INTRODUÇÃO

A célula Laudelina de Campos Melo do PCB-RR em Campinas, que decidiu por maioria aderir ao movimento pela Reconstrução Revolucionária (PCB-RR) do partido no dia 14 de agosto, tomou conhecimento de que o PCB-Campinas, alinhado à fração que hegemoniza o Comitê Central e instâncias subordinadas (PCB-CC), optou novamente pela tática da difamação em círculos privados – especialmente na figura de dirigentes do Comitê Municipal de Campinas e da Macrorregional Centro-Leste do CR-PCB-SP – ao invés de trilhar o caminho político do pronunciamento público, honesto e crítico que apenas aqueles que não contam meias verdades podem assumir. Nós, do PCB-RR, não somos adeptos a táticas desta estirpe e, na verdade, antes o contrário: sem medo da polêmica pública, trazemos todas as nossas críticas e autocríticas para aqueles que quiserem apreciá-las na presente nota e convidamos as direções de Campinas a fazerem o mesmo, caso sustentem, de fato, suas arguições.

Este texto organiza-se em três eixos: 1) nossas críticas ao Comitê Municipal de Campinas; 2) o acirramento das disputas intrapartidárias locais diante da caricatura da guinada à direita: EIPCO, PMAI e plenária municipal; 3) o processo de cisão da célula Laudelina de Campos Mello e nosso balanço crítico; 4) anexos.

1) DAS MENTIRAS DO COMITÊ MUNICIPAL

O epicentro da nossa crítica ao Comitê Municipal emana do coro que esta instância reiteradamente faz com o trabalho artesanal, especial – mas não exclusivamente – no que se refere às tarefas que envolvem todo o complexo partidário campineiro. Entendemos que a instância se propõe a reproduzir esta “forma primitiva de trabalho”, justamente pela ausência de um planejamento sistemático que guie a ação municipal, treinando e coordenando as “diferentes partes do trabalho revolucionário”, como o próprio Lenin caracteriza na sua brochura Que Fazer?. Há quem possa argumentar que esta tarefa deve partir dos organismos de base, é verdade, mas quem o fizer possivelmente se verá diante do desafio de apontar em que medida as diretrizes político-organizativas elaboradas por Lenin em Carta a um Camarada, deixam de se sustentar neste momento da luta de classes.

Para trazer aos camaradas e amigos expressões concretas desta prática política, apresentamos três exemplos que nos parecem caricatos: I) a oposição à profissionalização dos atos de rua em Campinas; II) a oposição às eleições como método legítimo para a recomposição das instâncias de direção;  III) isolamento político, difamação e processo disciplinar.

I) A oposição à profissionalização dos atos de rua em Campinas

A primeira caricatura do compromisso do Comitê Municipal de Campinas com o trabalho artesanal pode ser, sem dúvidas, verificada na própria construção dos atos na cidade. Ao longo do tempo, os blocos têm se tornado um fim em si mesmos, com pouca ou nenhuma agitação e propaganda prévia realmente capazes de massificar a nossa linha política entre os trabalhadores da cidade. Várias foram as críticas colocadas a este desvio, nenhuma delas suficiente para chamar o CM à sua responsabilidade dirigente de conduzir politicamente os trabalhos.

Em nossa avaliação, o bloco deve ser a síntese de um trabalho político prévio entre as massas, organizado, cadenciado, profissional e bem distribuído entre todos os segmentos estratégicos para da economia política municipal. Para concretizar esta finalidade, precisaríamos 1) de um calendário político-organizativo com as principais datas do ano, com prazos previamente determinados para a organização de toda a estrutura que subscreve o avanço da nossa organização: 2) prazos para iniciar as pesquisas municipais sobre a linha que defenderemos a nível local; prazos para a formação de Grupos de Trabalho de propaganda e agitação, aptos a produzir materiais virtuais e analógicos sobre as nossas leituras políticas; 3) prazo para as políticas financeiras de arrecadação pré-ato, centrais para custear não apenas materiais impressos, faixas e bandeiras como a própria locomoção de camaradas em maior vulnerabilidade social; 4) operacionalização das brigadas de panfletagem em pontos realmente estratégicos da cidade; 5) realização de reuniões municipais de alinhamento político de todo o complexo partidário, para corrigir eventuais falhas no curso do processo; 6) profissionalização da nossa brigada de segurança, com avaliação objetiva dos poderes ofensivos envolvidos em eventuais confrontos; 7) profissionalização da nossa agitação, organização e cobertura durante os blocos, instruindo camaradas para assumir progressivamente essas funções; 8) plenárias municipais de balanço coletivo dos espaços, com formulação de sínteses autocríticas à nossa atuação etc. Boa parte destas contribuições, como já mencionamos, foram enviadas pelos próprios núcleos e células de base, especialmente pela juventude e coletivos e nenhum desses passos jamais foi dado com o fôlego político que o complexo partidário de Campinas e região precisa, demanda e merece. Todos os esforços de profissionalização dos atos que empreendemos nos últimos dois anos foram categoricamente castrados pela direção do Comitê Municipal e, aqui, trazemos um exemplo caricato.

Durante o 1º de Maio de 2023, os coletivos de Campinas, cansados de uma sequência de atos mal organizados, reuniram-se para traçar linhas gerais de atuação conjunta na organização dos aspectos que lhes cabiam na construção dos atos na cidade: tomaram a iniciativa de checar quais dimensões dos atos poderiam ser organizadas pela base e quais eram de competência exclusiva/prioritária do Comitê Municipal; organizaram um pequeno convite ao complexo partidário convidando-os para a discussão coletiva sobre como melhorar a nossa presença no bloco dentro do calendário possível; distribuíram tarefas e, na presença do próprio Comitê Municipal, organizaram o cumprimento das atividades que ainda se faziam possíveis. O saldo político da plenária para o Comitê Municipal? O espaço representa um “desvio da nossa forma político-organizativa”, repasse que sequer foi formalizado ao complexo partidário: só tivemos acesso a esse entendimento porque ele foi mencionado brevemente mais de 3 meses depois do ato propriamente dito. Há quem possa perguntar qual foi a contraproposta apresentada pelo CM, então, para atender às demandas da base pela profissionalização dos atos em Campinas. A resposta, até onde sabemos, é uma só: nenhuma. A organização dos atos continua dependendo exclusivamente da organização isolada de cada uma das células e núcleos da cidade, mesmo que este procedimento tenha se mostrado abertamente mal sucedido.

II) A oposição às eleições como método legítimo para a recomposição das instâncias de direção

A segunda dimensão do caráter primitivo dos trabalhos empreendidos pelo Comitê Municipal diz respeito ao “espírito de círculo” – para usar o termo leniniano – que se estabelece em torno da política de recomposição das direções. Em nosso entendimento, “disputar o partido” passa por disputar, inclusive, as suas instâncias de direção. Essa possibilidade de disputa política, no entanto, é minada quando a recomposição das instâncias não é feita por meio dos processos eleitorais (que podem, sim, ser realizados fora das conferências nacionais e estaduais, haja vista que não há qualquer vedação estatutária ou congressual a esta prática), mas traçada por acordos paralelos aos espaços deliberativos, especialmente aqueles estabelecidos em mesas de bar e afins.

Ao longo dos últimos dois anos, várias foram as solicitações direcionadas aos membros do Comitê Municipal presentes em nossa célula, em especial à assistente, no que se refere à realização de eleições para a composição da instância. A resposta concedida era a de que “era preciso esperar a conferência do final de 2023” para que um processo eleitoral fosse conduzido. Como já deve ter ficado claro aos que acompanham esta leitura, consultamos tanto o estatuto partidário quanto as resoluções congressuais e chegamos nos certificamos que nada impedia que o processo eleitoral fosse levado a cabo. Apresentamos este contraponto ao Comitê Municipal mais de uma vez, inclusive presencialmente, e recebemos apenas um silêncio constrangido como resposta. Foi aí que começou a ficar claro para vários de nós, inclusive para militantes recém-ingressos à célula, que a não realização das eleições tratava-se de uma escolha política do CM-PCB-Campinas, na clara tentativa de evitar que camaradas com compreensões divergentes da condução da luta política na cidade pudessem acessar o direito-dever de votar e serem votados[1] para a construção do trabalho político na cidade.

A nossa última tentativa de demandar por eleições, no entanto, desvelou ainda uma outra dimensão. Após mais uma nominata para a recomposição tanto do Comitê Municipal de Campinas quanto da Macro Centro-Leste do CR-PCB-SP, questionamos, novamente, quando eleições seriam realizadas para estas instâncias, repetindo a argumentação de que não há qualquer vedação à sua realização. A reação do Secretário de Agitação e Propaganda do CM foi um silêncio nitidamente desconfortável e constrangedor; a reação da assistência – que também compõe o CR-PCB-SP mesmo residindo no Canadá e faltou à reunião de planejamento, onde a demanda foi apresentada – foi colocar posteriormente, em reunião de secretariado (e não para a toda a célula, como se sabe correto) que ficou “muito chateada” com a solicitação por eleições, adicionando que “o nosso CM é muito bom” e que não tínhamos motivos plausíveis, portanto, para demandar a realização de processos eleitorais.

Camaradas, todo aquele que teve real contato com o pensamento filosófico, político e organizativo de Lenin sabe que esta é uma conduta completamente desconectada da forma-partido leninista. Demandar processos eleitorais é um direito-dever de todo e qualquer militante e, reforçamos, disputar a direção é um direito estatutário que deve ser, inclusive, ampliado (e não burlado, secundarizado ou engavetado, como vem operando a direção municipal). Não cabe, portanto, qualquer posicionamento político que constranja a demanda legítima por eleições diretas, ainda mais sob alegações estapafúrdias como um “fiquei chateada”.

III) Isolamento político, difamação e processo disciplinar

A última e não menos importante das dimensões que assinala o caráter primitivo, artesanal e o “espírito de círculo” do Comitê Municipal certamente reside na praxe desta instância de negar a existência de processos persecutórios em Campinas e, inclusive, fazer desta negativa uma justificativa para que o assunto sequer fosse discutido em nossa célula (Anexo A). Com o acirramento da crise partidária, por exemplo, em que uma infinidade de casos de perseguição política passaram a vir à tona – o que em muito acelerou o adoecimento de camaradas de todos os cantos do país – a assistente da célula Laudelina sugeriu que “não existiam casos de perseguição política no CM ou na Macro [centro-leste]”, e que, portanto, apontar para o impacto que os casos de perseguição política tiveram sobre a militância de modo geral seria uma “análise parcial ou equivocada” e que seria necessário mais “cuidado”, “responsabilidade” e “seriedade” ao tratar da questão (Anexo A). Para observadores externos, esta pode parecer apenas uma objeção cautelosa da assistência, mas, como os demais registros anexados demonstrarão, trata-se de uma das suas manobras para evitar que o debate acontecesse sem se indispor abertamente com a base da célula. Levando esse adendo em consideração, camaradas, cabe delinear com muita honestidade aos nossos leitores que, para nós, não existe argumento mais caricaturalmente federalista do que “se não está acontecendo aqui, onde militamos, então talvez isso não precise ser discutido”.

A tentativa de vedar um debate franco, honesto e pelas vias corretas sobre os processos persecutórios partidários oculta, em nossa avaliação, a intenção de evitar a reflexão crítica sobre a expressão local destas práticas em Campinas. Para nós, a perseguição política não se manifesta apenas através da abertura de Processos Disciplinares (PD’s) viciados ou desproporcionais, mas também – e em alguns casos, como na Bahia, principalmente – no isolamento político proposital de camaradas, no constrangimento ao seu direito de expor sua opinião nos espaços deliberativos, na punição desigual para camaradas que cometeram falhas similares, nas campanhas difamatórias empreendidas nos espaços de convivência da militância  etc. Todas essas práticas, em maior ou menor escala praticadas, sim, pelo Comitê Municipal de Campinas, são para nós expressões locais da prática política que emana da fração que hegemoniza hoje o Comitê Central do PCB-CC.

Um dos casos mais irrisório se deu com uma das nossas camaradas, que foi ameaçada de processo disciplinar pelo Comitê Municipal não por ter cometido qualquer infração verdadeiramente grave, mas por discordar do entendimento organizativo particular do seu secretário político da época (também membro do CM) no que se refere às partes competentes para a circulação de informações horizontais e verticais dentro do partido. O que se passou foi o seguinte: uma das nossas camaradas foi convidada para compor o GT de Comunicação da campanha do camarada – hoje expulso – Gabriel Colombo ao governo do estado. Este convite foi feito pelo instagram e o próprio Colombo, que o fez, autocriticou-se posteriormente por adotar este procedimento. A camarada, entendendo o Colombo como seu dirigente estadual e compreendendo-se como avocada da base para cumprimento de uma tarefa específica do CR-PCB-SP, competência esta que todo o CR tem diante da urgência de suas tarefas, aceitou o convite e, tão logo passou a compor o GT, solicitou que um edital fosse enviado para todo o complexo partidário informando quais eram os atuais componentes e demandando por novos membros. O documento foi organizado e enviado à Comissão Política Regional (CPR-SP) que não enviou o documento às bases. Neste ínterim, o secretário político da Laudelina à época toma conhecimento da participação da nossa camarada neste GT (pela própria camarada, inclusive) e acusa-a de “quebra de centralismo” argumentando que ela era “centralizada pela célula” e que deveria desconfiar, a priori, de suas próprias direções antes de aceitar qualquer convite. Um bate-boca improdutivo e inadequado se inicia e a camarada deixa o grupo da célula em uma atitude – esta sim – abertamente equivocada.

Vejam bem, camaradas: estamos novamente diante de mais um raciocínio abertamente federalista. Nenhum camarada é centralizado “por sua célula de base”, pois não é da célula que emana (ainda que a manifeste, é claro) a unidade de ação partidária . A unidade de ação partidária emana diretamente das teses congressuais e do estatuto partidário, só se podendo alegar “quebra de centralismo” quando qualquer uma delas for comprovadamente escamoteada, como no caso da participação reiterada do CC na PMAI, por exemplo. As instâncias intermédiárias têm competência política para avocar da base militantes para a operacionalização de tarefas, dentro de todo e qualquer partido revolucionário, bastando cumprir com a sua tarefa de informar que isto foi feito. Não há, portanto, que se alegar “quebra de centralismo” quando nenhuma tese congressual, artigo estatutário ou diretriz estadual foi rompida. Essa máxima, básica para qualquer militante da juventude, por exemplo, parece não ter sido compreendida nem mesmo pelos mais experientes dos membros do Comitê Municipal. Partindo de compreensões cambiantes sobre a unidade de ação – mesmo que elas defendê-las implicasse negar as contribuições político-organizativas de Lenin – a secretaria política do Comitê Municipal, na reunião de mediação que marcou o retorno da nossa camarada ao PCB, disse com todas as letras que, no partido [em Campinas] além de camaradas nós éramos “amigos” insinuando, com esta máxima, que deveríamos “evitar a disputa sobre as divergências” buscando pelo consenso forjado não pelo exame científico das contradições, mas pela sua atenuação e ocultamento. A questão não era, para o Comitê Municipal, atingir um consenso com qualidade, mas atingir um consenso com velocidade, ainda que isso implicasse o não debate.

Camaradas, pedimos a gentileza de que, ao saírem desta nota, consultem a produção leninista com seus próprios olhos e chequem por si próprios quais as considerações política do camarada Lenin sobre o “espírito de círculo”, “a liberdade para criticar”, a “unidade de ação”, a centralidade da “polêmica”, a polêmica como central para a “elevação da consciência” não apenas das massas, como do próprio partido. Cremos veementemente que a leitura atenciosa deste camarada que o atual PCB-CC diz reivindicar seja-lhes mais do que suficiente para dar a dimensão dos impropérios políticos e organizativos levados a cabo pelo atual Comitê Municipal de Campinas.

Mas não parou por aí. Uma série de outros camaradas passaram a ser objeto de difamação política em espaços de convivência da militância, como o sabido Boteco Vermelho, em que o secretário de agitação e propaganda do Comitê Municipal e demais membros da Macrorregional Centro-Leste destilavam, inclusive para convidados provenientes de outras partes do estado, uma longa lista de difamações e meias-verdades sobre vários de nós – alguns, inclusive, que sequer haviam concluído o seu ingresso às fileiras partidárias – lista esta que nenhum deles jamais teve a coragem de apresentar nas instâncias corretas. As acusações são várias: a de que não tocávamos tarefas na base, a de que usávamos o partido para nos autopromover, a de que éramos excessivamente grossos, a de que “tínhamos um problema pessoal com eles” e toda uma sorte de impropérios correlatos. Vamos colocar aqui o que se passava.

De fato, alguns de nós não tocavam mais tarefas práticas no partido e os motivos se entrelaçam: a nossa célula era composta, até pouco tempo, de uma maioria de trabalhadores CNPJ, regime este que obriga os nossos camaradas à jornadas de 12h, 14h e às vezes até 16h de duração. Combinar este ritmo de venda da força de trabalho com os horários das tarefas não é, como a maior parte dos leitores sabem, uma tarefa fácil. Nenhum dos que hoje apontam que “não tocávamos tarefas” jamais propuseram a reflexão, nas instâncias devidas, de uma política coletiva e partidária que ajudasse a nós e mesmo aos camaradas de outras células, a superar essa condição. Inclusive, alguns de nós adoecemos gravemente nos últimos anos – tentativas de suicídio, nódulos em diferentes partes do corpo, lesões etc – e, novamente, o mesmo grupo que hoje lidera as acusações contra a nossa suposta morosidade jamais se mobilizou pela construção de qualquer alternativa coletiva de avanço nesse sentido.

No que se refere à autopromoção, o que se passa é que fomos obrigados a comunicar à célula qualquer atividade externa de que participássemos (podcasts, canais no YT, lançamentos, mesas e afins), mas, logo em seguida, nos vimos acusados de “autopromoção” – nos bastidores da militância, é claro, pois estas críticas nunca foram colocadas diantes de nós, em célula – pelos mesmos militantes que nos ameaçaram de “quebra de centralismo” caso não dessemos satisfações destas atividades! Não obstante, iniciou-se um processo tácito de, inclusive, debochar do uso das contribuições de Marx e Lenin para refletir sobre os nossos desafios políticos na cidade, em conduta difícil de classificar como qualquer outra que não “antileninismo”. Um exemplo muito visceral: para qualificar a nossa atuação radical nos assentamentos, propusemos vincular o caráter econômico da luta por moradia – a falta de recursos para pagar os aluguéis na cidade – à dimensão política de especulação imobiliária, amplamente fomentada pelas gestões Jonas Donizette e Dário Saadi. Com isso, pretendíamos colocar em curso uma diretriz básica das contribuições de Lenin – que segue absolutamente atual – que é a da imbricação da luta econômica à luta política no curso das tarefas partidárias[2]. A esta altura do campeonato, peço que os camaradas façam o esforço de tentar adivinhar o que aconteceu com essa proposta antes de prosseguir a leitura. Como vocês devem imaginar: ela foi completamente ignorada em todas as vezes que foi apresentada.

Camaradas, reformamos: a ênfase no aspecto econômico de qualquer das expressões mais imediatas da luta de classes, especialmente quando atrelada à supressão da dimensão política (propositalmente ocultadas pela ideologia dominante) atende ao famoso nome de economicismo, segmento do movimento operário ampla e ferozmente combatido por Lenin em clássicos como Quem são os Amigos do Povo. Não há qualquer margem para que um partido que se reivindica leninista abandone, no curso do seu próprio trabalho prático, os princípios políticos que fundamentaram a compreensão da forma-partido de Lenin.

Adicionamos ainda um adendo: há quem se apresse em clamar que não podemos cair em uma “reprodução mecânica do pensamento de Lenin” quando qualquer retomada à atualidade das suas formulações é feita. A verdade, no entanto, é que os que aderem a esse argumento nada conhecem sobre a verdadeira dialética que assinala as elaborações teórico-políticas do camarada Lenin. Vladmir Ilyich Uliánov jamais defendeu qualquer manual partidário que guiasse a ação proletária na luta contra o capital. O que ele de fato defendeu foi um partido cuja forma partidária assumisse a feição que mais se mostrasse eficiente diante dos desafios da luta de classes em uma determinada quadra histórica. Também – e principalmente – neste aspecto, o PCB-CC, ao qual o CM-Campinas escolheu manter-se vinculado, falha miseravelmente.

2) DO ACIRRAMENTO DAS TENSÕES DIANTE DA GUINADA À DIREITA: EIPCO, PMAI E PLENÁRIA MUNICIPAL


Com a eclosão das tensões relativas à participação de membros da CPN na PMAI, a célula Laudelina iniciou um franco processo de discussão sobre os sentidos políticos da aproximação do partido de segmentos nacional-chauvinistas. A célula encaminhou críticas e demandou explicações por parte do Comitê Central e, inclusive, propôs a realização de um Congresso Extraordinário do PCB como caminho para solução da crise, antes mesmo que o tema se tornasse objeto de defesa de qualquer dos camaradas perseguidos e expulsos pelo CC-PCB – a saber, Ivan Pinheiro, Gabriel Lazzari, Jones Manoel, Ana Karen ou Gabriel Landi. Nenhuma das nossas demandas foi respondida por qualquer das circulares enviadas pelo CPN em mais de dois meses de acirramento das tensões. Muito contrário: o movimento foi, como sabemos, o de circunscrição dos debates em limites cada vez mais estreitos.

Com o avanço das expulsões e das perseguições, os camaradas que hoje compõem a Laudelina-RR intensificaram também os o teor e o ritmo dos debates políticos, organizando mais uma reunião extraordinária em que se encaminhou, após amplo debate devidamente realizado na presença da assistência, a produção de um convite da Laudelina para a uma plenária municipal aberta a todo o complexo partidário, a ser realizada no dia 12 de agosto de 2023, de forma online e com garantia de voz e voto para todos os camaradas organizados nos coletivos partidários – que, importante ressaltar, vinham sendo proibidos de discutir a crise partidária por parte da CPN. Foi aprovado, também diante da assistência, que o convite subiria para o Comitê Municipal apenas para ser convertido em convocatória caso o CM assim concordasse. Não houve, durante a reunião, qualquer objeção da assistência a este entendimento.

Grande foi a nossa surpresa, camaradas, quando o Comitê Municipal desceu o entendimento de que a plenária municipal de fato aconteceria, mas apenas no dia 2 de setembro de 2023 e de forma presencial. O argumento foi o de que a data e o formato haviam sido modificados em nome do “acolhimento de outras propostas”, da “organização de infraestrutura” e “em respeito ao adoecimento da militância”. A assistência ainda trouxe o argumento de que pleitear a simples conversão do convite em convocatória por parte do CM era “não entender sobre a nossa forma organizativa” (Anexo B), argumento este que, repetimos, ela não apresentou em nenhum momento no transcorrer de um debate cujo processo deliberativo ela acompanhou.

Iniciou-se em nossa célula então uma disputa política pela realização da plenária municipal tal como havíamos encaminhado em reunião legítima, com quórum e devidamente assistida. Nenhuma das nossas argumentações era verdadeiramente rebatida e a assistência apenas propunha-se ao constrangedor papel de seguir repetindo argumentos já extensamente vagos e insuficientes. Vários são os episódios que explicitam essa dinâmica e os deixaremos organizados e anexados em C e D, para que os camaradas leitores possam conferir por si próprios.

Foi desta forma, com mais um dos posicionamentos políticos pouquíssimos fundamentados por parte do Comitê Municipal – desta vez, importante destacar, alocados no curso da franca guinada à direita pelo Comitê Central do PCB – que iniciou-se o processo de cisão da Laudelina em Campinas.

3) DO PROCESSO DE CISÃO E DAS NOSSAS AUTOCRÍTICA

Os primeiros contatos de organização da cisão foram feitos entre os camaradas Larissa, Gustavo e Otávio, na ocasião do acesso que os camaradas tiveram ao conteúdo político da Circular 21/2023 da CPN, que instituía que o aprofundamento da vigilância e da perseguição dos militantes da direção sobre os militantes das bases do PCB e coletivos. Esta circular, importante mencionar, não havia chegado ao conhecimento das bases, mas apenas de algumas direções estaduais[3]. A camarada Larissa telefonou pessoalmente para o camarada Gustavo informando sobre o conteúdo da circular e sugerindo que o camarada se expusesse menos em plataformas online para evitar retaliações, especialmente após o corajoso enfrentamento encabeçado pelo camarada contra a aberta misoginia de um dos membros do CR-PCB-SP e CC-PCB no que se refere às denúncias de assédio contra Boaventura de Sousa Santos.

Com a negativa da plenária, estes camaradas, somados ao camarada Luiz, Gui e, em certa medida, também Gabriel Felipe e Renan, passaram a tensionar progressivamente pelo cumprimento do encaminhamento legitimamente aprovado em célula, a saber, a organização de uma plenária municipal online realizada em 12 de agosto de 2023. Como deixamos anexado (Anexo C e D), o conteúdo deste tensionamento[4] não fez qualquer alusão à vida ou às características pessoais de qualquer dos militantes com os quais disputávamos – diferentemente da assistência que, na incapacidade política de apontar nossas limitações teórico-práticas, limitava-se a repetir os mesmos argumentos de sempre e à chamar-nos aberta ou veladamente de “irresponsáveis”, “imaturos”, “imprudentes” e demais termos correlatos (Anexo A). Nossas objeções, mantiveram-se estritamente no plano da disputa política, mobilizando, para tanto, as próprias teses congressuais, o estatuto partidário e as compreensões de Lenin expostas ao longo da sua produção política e intelectual (Anexos C e D).  O despreparo político da camarada assistente e do camarada secretário de organização – que, a esta altura, vinha destilando também uma série de incompreensões básicas sobre o funcionamento (Anexo E) do nosso partido apesar de ser um dirigente da Macro Centro-Leste – passaram a tornar-se cada vez mais gritantes para a célula, de tal modo que os próprios camaradas da Laudelina, à revelia do grupo tacitamente entendido por alguns de nós como centro-direita[5], passaram a cogitar a expulsão da camarada assistente do grupo da célula. Quanto aos demais camaradas – que hoje assumem a dianteira das meias-verdades sobre a Laudelina-RR e encabeçam o aprofundamento (e não a autocrítica) da tática difamatória diante do complexo partidário – cabe destacar que mantiveram-se em absoluto silêncio ao longo de toda a disputa política em torno da plenária, seja a que se materializou nas nossas tribunas, nas nossas reuniões ou no próprio grupo virtual da célula.

Em tempo, adicionamos um novo adendo, que dialoga mais diretamente com o item 2), é verdade, mas que alocamos neste ponto do texto pela similaridade que estabelece com a tentativa do Comitê Municipal de arrefecer uma contradição que atinge a espinha dorsal para todo e qualquer defensor do internacionalismo proletário. Em uma das nossas reuniões extraordinárias para tratar da PMAI, o Secretário de Agitação e Propaganda do Comitê Municipal, chegou a afirmar que “esta era uma questão menor”, que o “Eduardo Serra iria tomar uma ‘dura’ na próxima reunião do CC” e que a nossa conduta enquanto célula deveria ser, fundamentalmente, a de “aguardar” o desdobramento destas tensões “na Conferência Política Nacional” cuja previsão de realização da etapa nacional era a páscoa de 2024.

Camaradas, aqui, pedimos novamente que os leitores consultem por si próprios as contribuições de Lenin sobre as guerras inter-imperialistas, quais os posicionamentos de princípios devem guiar revolucionários diante da sua eclosão e sob que condições os acordos pontuais com segmentos pequeno-burgueses são ou não aceitáveis para políticas como a da frente única e a da consolidação da hegemonia proletária. Após fazê-lo, retomem o parágrafo anterior e respondam a si próprios, com honestidade: a conduta mais apropriada diante de um claro aceno do CC ao nacional-chauvinismo é, de fato, aguardar por uma etapa nacional que,  na melhor das hipóteses, acontecerá em quase um ano? É realmente palatável, diante do aprofundamento dos processos persecutórios conduzidos pelo CC, CR’s as instâncias que os têm apoiado, manter-se “aguardando a Conferência Política Nacional”, conferência esta que talvez sequer paute a questão?

As tratativas finais em torno da cisão com o grupo que alinhou-se – direta ou indiretamente, conscientemente ou não – à linha da fração encabeçada pelo CC se concretizou pela articulação direta dos camaradas Luiz, Otávio, Larissa e Gustavo, com grande protagonismo também para o camarada Gabriel Felipe. Todos estes camaradas teriam se responsabilizado por contatar os demais camaradas da célula Laudelina e checar se eles tinham ou não acordo com 1) expulsão da assistência; 2) expulsão de todos os membros da centro-direita (que poderiam aderir à RR, caso quisessem, mediante autocrítica; 3) adesão ao Manifesto pela Reconstrução Revolucionária do PCB. A devolutiva que recebemos foi a de que, sim, a maioria absoluta da célula, à exceção dos militantes entendidos como componentes da centro-direita, tinha pleno acordo com a execução de todos os itens supracitados[6].

Organizamos, então, um texto que fundamentava tanto a expulsão da assistência quanto a adesão à RR, e contatamos todos os camaradas para que estivessem a postos tão logo fosse enviada a mensagem, na tentativa de impedir qualquer dissolução ou ofensiva do CM neste processo. Assim foi feito e, por maioria, expulsamos a assistência e aderimos ao PCB-RR. Tão logo este processo foi realizado houve, no entanto, considerável objeção à expulsão dos demais componentes da centro-direita, efeito que começou a desatar os nós de uma falha cuja extensão só viríamos a entender, de fato, dias depois, em reunião marcada exclusivamente para este fim: os camaradas contatados pelo camarada Gabriel Felipe (e o próprio camarada Gabriel Felipe, inclusive) eram favoráveis ao XVII Congresso Extraordinário do PCB, mas não tinham necessariamente acordo com sua construção nos termos em que está proposto pelo Manifesto da Reconstrução Revolucionária do PCB e sentiram-se manipulados na condução do processo. Esta foi, em nossa avaliação, uma falha grave na condução do processo de cisão na medida em que desrespeitou politicamente estes camaradas, que viram-se dando um passo que não estavam suficientemente convencidos a dar.

Encaramos esta falha grave pelos únicos métodos possíveis aos marxistas-leninistas, a crítica e a autocrítica. Em reunião, colocamos às claras e detalhadamente boa parte das questões apresentadas nesta nota, discorrendo 1) sobre a nossa organização enquanto fração em resposta à articulação formada por membros do Comitê Municipal (que já estavam votando em bloco nas reuniões do secretariado da célula); 2) reconhecendo todas as limitações impostas à uma luta clandestina e desigual travada entre frações no interior de um partido que há muito tempo já se distancia do leninismo; 3) autocriticando com seriedade e firmeza a péssima cadeia de comando e de repasses que estabelecemos na averiguação do posicionamento político dos camaradas que compunham a célula.

Não fugimos, importante frisar, a uma outra dimensão importante das nossas responsabilidades: cientes de que a autocrítica implica um exame acurado das decisões políticas que nos levaram ao erro e que ela requer uma mudança prática no curso da nossa atuação militante, a célula consensuou com a interrupção imediata de quaisquer acordos paralelos traçados entre os camaradas e comprometeu-se coletivamente com a retomada de um compromisso que há muito desejávamos ter no PCB: com as críticas apresentadas nas instâncias corretas – ou mesmo em tribunas públicas – desde que preservando, sempre, a todos os camaradas criticados o direito inalienável de apresentar clara e categoricamente seus porquês, suas justificativas e suas reflexões.

Com este encaminhamento não temos qualquer pretensão de produzir um “final feliz” para as falhas que assinalaram a cisão da célula Laudelina e a formação da célula Laudelina-RR. Muito pelo contrário: distantes de quaisquer idealismos, o nosso compromisso é com a mais radical construção de uma autocrítica responsável, duradoura e honesta, capaz de conduzir pelas vias da polêmica – aberta e fraterna – uma unidade de ação verdadeira (e não meramente formal). Nada disso, no entanto, se coloca para nós como um fim em si mesmo, isto é, como uma vaidade diante dos incontáveis “antileninismos” que hoje assinalam o PCB-CC. Para nós, todo este processo tem como finalidade última a construção vigorosa da Revolução Brasileira.

ANEXO A

No trecho, a assistência da célula coloca o gérmen do que, depois, viria a se apresentar mais claramente como federalismo: o entendimento de que, se não está ocorrendo em Campinas, então talvez a discussão em torno das expulsões não seja tão séria assim. Mensagem enviada em 20 de julho de 2023, um dia após a live em Jones Manoel apresenta publicamente uma série de denúncias de processos persecutórios contra militantes em todas as regiões do país[7].

ANEXO B

Mensagem da assistência, enviada em 12 de agosto de 2023, em que ela esclarece uma “incompreensão organizativa” sobre a conversão do convite em convocatória, incompreensão esta que não foi por ela apresentada em qualquer momento durante a reunião, cujos encaminhamentos ela acompanhou.

ANEXO C[8]


1. Explicações da assistência, 12 de agosto de 2023, repetindo informações ao invés de sanar as novas dúvidas a ela direcionadas:

“Camaradas,

Na função de assistência farei algumas pontuações. Algumas delas já foram justificadas no signal, mas reiterarei pois parece que foram secundarizadas ou desconsideradas na argumentação dos camaradas:

1)   A célula subiu uma demanda, mas a instância do CM recebeu uma série de demandas/ponderações referente a crise política, inclusive com posições antagônicas a aqui apresentada. Enquanto instância foi necessário considerar o conjunto de questões, inclusive que tem muitos camaradas adoecendo emocionalmente e é um limite tênue dar conta da conjuntura de maneira firme, respeitando os camaradas e os processos internos constituídos, sendo que se levou também em consideração as agendas das células e sua discussão em tempo hábil, bem como possibilitar o prosseguimento de suas tarefas de base, além de considerar a agenda das instâncias superiores. Isso levou ao encaminhamento de realizar a plenária agendada para dia 02 de setembro.

2)   Mas acredito que realmente teremos que colocar como ponto de pauta a questão organizativa do partido pois tirar em célula que a instância municipal simplesmente "encaminhe uma convocação" para as instâncias de base do partido e dos coletivos partidários como se fosse uma "mala direta", e indicar que como isso não aconteceu da exata proposta pela célula, a instância tem que ficar justificando detalhadamente, realmente é ter no mínimo uma leitura equivocada do nosso processo de organização partidária.

3)   Como já pontuei, as questões não podem ser analisadas isoladamente, como “falta de democracia interna”, “a pauta do congresso extraordinário” ou “solicitação de debates coletivos em plenárias” como se não estivesse sendo coordenado uma série de processos em torno disso. Temos desafios organizativos e políticos sem dúvida e teremos que nos debruçar sobre eles. Mas o manifesto do PCB RR convoca o chamado para o congresso extraordinário, a realização de plenárias e a constituição de direção provisória. No estado tiveram organismos que encaminharam por romper organizativamente com o PCB e aderir ao Manifesto em Defesa da Reconstrução Revolucionária do PCB (MDRR-PCB) e ao PCB-RR, constituindo uma direção paralela e cortando os meios de comunicação direta com o resto do partido. Não preciso desenhar o quanto que isto é anti estatutário e este próprio movimento tem indicado ruptura com a organização.

4)   Em Campinas contamos com um organismo de base que também optou por romper organizativamente com o PCB e aderir ao PCB-RR. Sobre isto, ainda não tivemos uma reunião do CM para lidar com esta situação e enviaremos um informe qualificado posteriormente.

5)   Em relação aos camaradas que estavam na CE da UJC, há o entendimento de que fizeram inscrição em outro partido ou outra organização, como a constituição de direção provisória do PCB RR e isto é anti estatutário. Isto camaradas, não se constitui expulsão sumária, mas a retirada do partido de camaradas que já declararam estar construindo efetivamente uma outra organização. Na circular é indicado que todos os núcleos e militantes da UJC SP, inclusive membros da CE que foram/são contrários a adesão do PCB RR, podem se manter no partido. Temos que discutir qual é a posição do camarada Luiz que estava na CE UJC para avaliar a retirada ou permanência da célula Laudelina.

6)  Reitero, todos os camaradas que querem construir uma outra organização deverão ter a decência de assumir a adesão a este novo coletivo e se retirar das instâncias partidárias. Falo isso com muito respeito e sinceridade, e realmente acho que cada camarada terá que avaliar se irá se manter no PCB ou irá construir esta nova organização. Até a próxima reunião de célula solicito que os camaradas apresentem seu posicionamento para avaliarmos como iremos reorganizar as tarefas da célula com os que desejam ficar no partido. Teremos que fazer uma série de transições e entendo ser muito melhor fazer isso com respeito político por estes anos/período que construímos uma organização conjuntamente, do que apostar no desgaste ou ruptura de tarefas abruptas”.

2. Contrapontos do camarada Gustavo [com supressão do nome da camarada assistente], enviada em 11 de agosto de 2023:

Olá, camaradas.

Para não criar um novo e-mail, como se trata do mesmo tema, responderei aqui às mensagens da nossa assistente no grupo, respeitando a solicitação do camarada secretário de organização de que trouxéssemos o debate para cá a fim de não congestionar o Signal.

Em primeiro lugar, sobre o encaminhamento da célula acerca da plenária. Creio que a Larissa já explicou, assim como eu mesmo fiz no signal, mas volto a explicar. Não encaminhamos que o CM convocasse uma plenária, isso sequer faria sentido. Encaminhamos que o CM replicasse o convite (e não uma convocação) e que, caso julgasse procedente, transformasse o convite em convocação, visto que apenas a instância superior pode fazê-lo. Este encaminhamento foi tirado levando em conta: a urgência para a realização desta plenária e o entendimento de que não é necessário, e poderia ser até prejudicial para o debate coletivo do complexo partidário em Campinas, a discussão prévia nas células. O CM não foi acusado de "falta de democracia" por desfigurar o nosso encaminhamento, mas queremos sim saber a razão para isso. Até agora, a camarada assistente, na minha concepção, não apresentou nenhum argumento consistente para isso. Por outro lado, apontou que os questionamentos partem de uma "leitura leviana".

Em segundo lugar, sobre a minha posição de integral concordância com o texto Por um Partido da nossa classe e a seu serviço, publicado pelo camarada Caio Andrade e subscrito por outros tantos camaradas do Rio de Janeiro. Há um equívoco na colocação da camarada assistente. Ela afirma que este texto "referenda a constituição de Coordenações Paralelas ao partido (o que está posto no chamado do PCB RR)". Camarada, este texto não menciona em nenhum momento o "PCB-RR", o tal do manifesto ou qualquer outra coisa referente a isso. Ao contrário, o texto, na minha interpretação, se atém às resoluções do nosso XVI Congresso. Afinal, é o XVI Congresso que afirma, com todas as letras, que "o atual momento do PCB caracteriza-se pelo aprofundamento da etapa de reconstrução revolucionária". Até por isso, não me preocupei com mediação alguma para dizer que concordo 100% com o que está escrito naquele texto. Assim sendo, não preciso escolher entre a "decência" de construir outra organização ou a indecência de me manter no PCB. Estou seguro de que, até agora, o que tenho feito está alinhado com o nosso último Congresso. Diga-se de passagem, diferente do que a nossa direção nacional tem feito.

Por fim, sobre a inferência de que "o que tem acontecido é a busca de criar fato político com agitação interna apoiando o chamado a adesão de uma nova coordenação, e caso seja questionada a postura do(a) acamarada ou aberto um PD, isto é usado como meio de manter o argumento de perseguição política". É importante que a camarada assistente demonstre mais detidamente porque esta é a sua conclusão. Mais importante, que aponte quem é que está fazendo isso. Enquanto isso não for colocado de maneira clara, é mais difícil de conversar sobre essa ilação. De qualquer maneira, o que não tem faltado é fato político para justificar debates acalorados e agitação por soluções. Afinal, o que nossas direções tem feito é atuado para aprofundar a crise, replicando expurgos, debatendo inclusive expulsão sumária por defender a convocação de um Congresso Extraordinário. Camaradas, vocês acham mesmo que no meio desta grave crise, seja necessário "criar" fatos políticos? Eles emergem diariamente.

Veja, camaradas, peço que não me entendam mal. Esta crise é séria, a cada dia que passa eu tomo mais consciência de sua amplitude e gravidade, e assim sendo, endureço meus posicionamentos. Busco, e acredito que consigo, não ser desrespeitoso neles, tampouco moralizar aqueles que discordam de mim. Mas não vou recuar nos meus questionamentos, críticas e colocações. Muito pelo contrário, pretendo cada vez mais avançar com eles, pois estou convencido que é no tensionamento de nossas contradições que conseguiremos encontrar uma solução verdadeira.

Sem mais, abraços”.

3. Contribuições da camarada Larissa, enviada 11 de agosto, às 13h29:

Camaradas,  

Conforme coloquei no grupo, me comprometi a trazer para a tribuna eventuais desdobramentos sobre as ponderações relativas ao envio da plenária para a convocação do Comitê Municipal. Queria colocar a minha discordância com as modificações perpetradas pelo CM com relação à proposta que enviamos – proposta essa, importante destacar, elaborada a partir do debate assistido e democrático realizado conforme prevê o estatuto do partido. Coloco também uma crítica política à assistência pelo constrangimento ensejado contra o camarada Gustavo no grupo da célula apenas por expressar sua opinião e chamo a célula à uma reflexão crítica sobre isso.  

Em primeiro lugar, como o camarada Gustavo e a camarada Gui já mencionaram no grupo, a proposta que enviamos ao CM solicitava apenas a conversão da alcunha de “convite” para a de “convocação” no que se refere à plenária. Não fizemos aceno para qualquer uma das modificações trazidas pelo Comitê Municipal, em especial àquelas que tocam no ponto central e democraticamente consensuado: a celeridade da organização da plenária diante da velocidade dos acontecimentos do partido. No mais, a devolutiva do CM ainda aponta que uma das dimensões que os camaradas levaram em consideração foi o fato de que “nem todas as células tem feito o debate com a mesma agilidade”, aspecto que a célula Laudelina também levou em consideração, mas apontamos, em debate, para uma saída diferente: ao invés de apostar na dupla discussão – primeiro a nível de célula e, só depois, a nível de município – que poderia produzir “blocos” no espaço municipal e prejudiar a formação da unidade, agir direto pelo amplo debate municipal, com camaradas de diferentes níveis de inserção nesse debate construindo um entendimento coletivo e fraterno, como se deve proceder.  Em suma, o que o Comitê Muncipal efetivamente fez foi não apenas modificar o tipo de apreciação que solicitamos à proposta, como ainda remover um dos seus elementos centrais, a urgência, com pouca ou nenhuma contra-argumentação ao que discutimos.

Em segundo lugar, a camarada assistente estabelece uma falsa correlação entre discutir a crise partidária e discutir o Manifesto em defesa da Reconstrução Revolucionária do PCB, como fica expresso em seu último parágrafo, que reproduzo aqui: “mas o manifesto publicado faz explicitamente um chamando para composição de Coordenações Provisórias”. Acho importante adicionar a ponderação de que em momento algum esta célula propôs uma plenária para a discussão de qualquer Manifesto. O que foi proposto é a discussão ampla e coletiva da crise partidária que se nos coloca, ainda mais após as denúncias de que o secretário geral do partido, Edmilson Costa, teria proposto um acordo na etapa nacional do XVI Congresso para evitar que os casos de perseguição política fossem levados às claras na plenária final (coloquei as referências na minha contribuição anterior, mas as reproduzo aqui também para facilitar). Como sabemos, nenhum acordo paralelo pode ser traçado fora do espaço deliberativo, pois isso configura formação de tendência. O camarada Boné, em seu perfil pessoal no Twitter, confirmou a existência desse acordo e ainda o atrelou à própria composição do Comitê Central o que é, em minha avaliação pessoal, um verdadeiro escândalo para um partido marxista-leninista. Até agora, o CC não fez qualquer pronunciamento sobre a sua composição atual ter sido garantida via acordo entre frações.

Por fim, faço um apelo à célula Laudelina para que nós não nos permitamos mais receber da camarada assistente o tratamento desrespeitoso que viemos recebendo quando o assunto são as objeções da camarada aos nossos posicionamentos políticos. Sem qualquer constrangimento, a camarada assistente insinuou que postura do nosso secretário político, um dos mais combativos e corajosos que já tivemos, seria “leviana” apenas por ele ter expresso categoricamente que, no entendimento dele – pessoal e intransferível – um determinado texto estava irretocável. Ora, todos os camaradas desta célula tem o pleno direito de discordar da posição do camarada Gustavo, mas que façam isso pela via da política e não pelo ataque pessoal: apontem em que medida o texto tem falhas, quais perspectivas ele não contempla, quais contradições ele não põe à mesa etc. Isso sim é muito bem-vindo, politizante e “polemista”, para usar os termos de Lenin. Agora, a insinuação de “leviandade” apenas por expressar uma opinião pessoal dentro de um partido político realmente me parece despropositada e digna apreciação crítica por toda a célula.

Sem mais, camaradas, peço que participem do debate.

Saudações comunistas,

Lari.


Sobre o acordão:

[1] https://emdefesadocomunismo.com.br/antes-que-seja-tarde-carta-de-ivan-pinheiro-ao-comite-central-do-pcb/

[2] https://www.youtube.com/watch?v=jTW03y-JX9k&t=1954s&ab_channel=JonesManoel

[3] https://www.youtube.com/watch?v=tMuz5Lc-RQE&ab_channel=DiegoMiranda

[4] https://emdefesadocomunismo.com.br/manifesto-em-defesa-da-reconstrucao-revolucionaria-do-pcb-post/

[5]:


ANEXO D

1. Contribuições da camarada Larissa, 14 de agosto de 2023

Camaradas, respondo por meio desta ponderações às considerações controversas e, em minha avaliação, até mesmo descentralizadas que a camarada assistente enviou no grupo da nossa célula.

O que a camarada enviou:

"Camaradas como já pontuado de diferentes maneiras neste último período, o Manifesto do PCB RR tem o chamado para uma organização paralela, o que se constitui formação de grupo (Respondi no item 2). Camaradas que tem feito postagem de outra organização deverá sair do grupo da célula (Respondi no item 1). Caso a pessoa queira permanecer no PCB deverá haver um processo de autocrítica e teremos que avaliar através de um PD como possivelmente fazer uma retratação pública. Isso não é coerção camaradas, é um procedimento comum de um partido que não prevê configuração de grupos internamente. Estávamos fazendo debate internamente e mesmo assim, camarada insiste em tensionar desta maneira" (grifos meus).

e

"Fazer chamado para o PCB RR. Acredito que em cada situação teremos que avaliar pontualmente,  mas há quem esteja fazendo uma campanha pública pela reconstituição revolucionária do PCB (respondi no item 3) o que é caracterizado como constituição de fração como trouxe argumentos anteriormente. Como já pontuei, no manifesto com chamado para a constituição de Coordenações paralelas etc não cabem em nossa forma organizativa. Mesmo que camaradas tenham feito alguma postagem podemos fazer uma discussão sobre como lidar, discutindo politicamente as postagens públicas como fazemos em outros casos internamente, mas terá que ter alguma forma de mediação camaradas" (grifos meus).

Minhas ponderações:

1) O argumento de que “não se pode compartilhar coisas de outras organizações” é falso. O próprio site do PCB, por exemplo, em diferentes anos e em diferentes assuntos replica a íntegra de textos do Esquerda Diário, o jornal político do MRT, um movimento trotskista famoso por desarticular espaços de luta dos trabalhadores. Não é cabível que esta regra, portanto, surja somente agora e apenas para um movimento, o PCB-RR, que oferece críticas muito melhores ao PCB do que o das organizações que ele próprio replica. Deixo anexadas lista de matérias que provam isso.

2) Você solicitou uma pauta em reunião para discutir o entendimento sobre o PCB e PCB-RR. Eu estou aguardando para colocar o meu posicionamento lá, conforme orientado, mas creio que a mesma regra que se aplique a mim, deva também se aplicar também à assistência. Como já mencionei, eu não entendo o PCB-RR como uma nova organização e estou mobilizando os estudos que preciso para sustentar essa defesa. Para que o debate seja verdadeiramente democrático, seria bom que você evitasse criar o consenso fora do espaço deliberativo e também evitasse dar como “categórico” algo que, por solicitação desta própria militante ainda é (bem) passível de discussão.

3) Por fim e mais preocupante: a Reconstrução Revolucionária do PCB está prevista nas teses congressuais do PCB a pelo menos três congressos, camarada. Aqui, eu é que te faço o convite respeitoso e fraterno, nos mesmos termos do que você coloca aqui para nós e sem qualquer intimidação (até porque eu sou apenas base do partido): o PCB defende a Reconstrução Revolucionária. Se você não concorda com ela, camarada, então é você (e não a célula) que deve procurar uma outra organização para construir.

Saudações comunistas à célula,

Lari.


Lista de matérias do PCB que reproduzem a íntegra do Esquerda Diário, jornal político do MRT, organização trotskista e abertamente oportunista:

https://pcb.org.br/portal2/17965

https://pcb.org.br/portal2/13715

https://pcb.org.br/portal2/23845

https://pcb.org.br/portal2/17968

https://pcb.org.br/portal2/21246

https://pcb.org.br/portal2/18041

https://pcb.org.br/portal2/17149

https://pcb.org.br/portal2/24459

https://pcb.org.br/portal2/18089


2. ponderações da camarada Larissa sobre a natureza do PCB-RR, sem qualquer ataque pessoal à camarada assistente ou aos demais camaradas da célula

3. Ponderações do camarada Luiz às inconsistências políticas apresentadas pela assistência no que se refere aos processos disciplinares [supressão de todos os nomes]

4. Ponderações do camarada Gustavo sobre a RR

ANEXO E

Mensagem enviada pelo secretário de organização da célula à época, em que o camarada, mesmo já compondo a Macrorregional Centro-Leste, demonstra desconhecer a natureza política do secretariado.

Resposta da camarada Larissa


Marcações que tem ao longo  do texto:

[1] Art. 9º. Todos os militantes são iguais, em direitos e deveres: b) Votar e ser votado nas eleições para qualquer função eletiva ou representativa do Partido. Adicionamos o entendimento de que, em nossa avaliação, este é um dos direitos-deveres que podem e devem se tornar a regra, e não a exceção, no curso da vida partidária. Não é, infelizmente, o que vigora hoje no PCB: na prática, a militância da cidade frequentou mais vezes a urna eletrônica burguesa do que o voto direto para os seus dirigentes políticos (que não raro ela sequer sabe quem são).

[2] “Os revolucionários também reconhecem a necessidade da luta econômica, de responder também às necessidades vitais do dia a dia e de também aprender a usar as associações ilegais. [...] no entanto é preciso cuidar para que as associações legais e as organizações puramente econômicas não separem o movimento operário [...] da luta política revolucionária, mas elas devem, ao contrário, ligá-los mais estreita e indissoluvelmente possível”.

Cf.: LENIN, V. Cartas para Apollinaria Iakúbova. Traduagindo. Disponível em: https://traduagindo.com/2021/08/13/vladimir-ilich-lenin-sobre-o-papel-da-polemica/.

[3] A própria circulação deste documento, até onde sabemos, foi desigual no complexo partidário, com instâncias algumas instâncias recebendo-as e outras não, mesmo que alocadas em um mesmo nível da hierarquia partidária.

[4] Forma de luta intrapartidária absolutamente válida para o partido leninista e, importante frisar, de modo algum equivalente à “gritaria” e à desfraternidade, como a “cultura política” do PCB teimou em nos educar.

[5] Essa classificação foi cravada, em linhas gerais, pelos camaradas Larissa, Luiz, Gustavo e Otávio e, em menor medida, Gui, Gabriel Felipe e Renan, após a recusa do Comitê Municipal em fundamentar adequadamente os porquês do adiamento da plenária municipal.

[6] Descobrimos, mais tarde, que este repasse não se sustentava: parte considerável não concordava com parte das propostas e não tinha, inclusive, qualquer pretensão de aderir à RR. Os desdobramentos desta falha serão apontados no curso do texto.

[7] Disponível em: https://www.instagram.com/reel/Cu5FJL5Ig9H/.

[8] Não adicionamos os prints dos e-mails para não expor os endereços e nome que os camaradas usam na militância.