Botucatu (SP): Nota sobre a crise partidária

Por um partido à altura da nossa tarefa

No último mês, veio a público a crise que vem sendo germinada no PCB nos últimos anos. Em reunião, a célula do Partido na cidade decidiu por se posicionar publicamente, em respeito a quem constrói conosco a luta revolucionária na cidade.

O trabalho e o crescimento do PCB nos últimos anos aconteceu apesar das instâncias de direção. A nossa célula viveu isso na prática: com a célula fundada em 2019, fomos vetados da tiragem de delegados de um Congresso que viria a acontecer dois anos depois. Solicitamos o envio de pelo menos um ouvinte, sem resposta. Questionamos - também sem resposta - a exclusão de todos os membros da célula da tribuna de debates do Congresso.

Num partido em que o silêncio é a tônica, o resultado é a ausência de formulações que correspondam à tarefa dos Comunistas. Sem debates e discussões vivas sobre a formação brasileira, internacionalismo, conjuntura e o papel do Partido, torna-se protocolar o entendimento da nossa estratégia, elaborada em círculos formados pela mesma meia-dúzia de pessoas do comitê central. Uma estratégia que não é colocada à crítica resulta, no melhor cenário, na estagnação tática e, nos piores momentos, na sua vacilação.

Uma grande evidência da degeneração de um Partido Comunista é a reprodução da lógica jurídico-burguesa no seu interior. A lei e as regras, no Estado burguês, são flexíveis, dependente de a quem (ou a qual classe) se aplicam. No Partido, o estatuto e as resoluções devem ser sólidos, já que são acúmulos coletivos. Não é o que acontece conosco: na prática vivemos sob a máxima do "aos amigos tudo, aos inimigos, a lei", em que as resoluções não valem para os membros mais prestigiosas da direção, enquanto são evocados para punir a divergência.

Esses e muitos outros elementos, tornados públicos no últimos mês, deixam evidente a nossa divisão, até então escondidas debaixo do tapete do "centralismo". Mas foi no XVI Congresso que o fracionismo foi institucionalizado, quando o Secretário Geral do partido negociou o silêncio de alguns quadros críticos ao CC ao colocá-los na nominata para a instância dirigente. Ao negociar em defesa da direção vigente, foi legitimada a divisão do partido em grupos. O saldo é o que visualizamos hoje: a atual direção entra na história como aquela incapaz de garantir a unidade do PCB, sendo maestra do fracionismo e de uma realidade em que as divergências partidárias não mais cabem na unidade.

Os camaradas que aceitaram suspender a crítica no momento devido, no XVI Congresso, aceitando o acordo com a fração-CC também devem ser alvos de severa crítica, em que se pese a autocrítica pública já realizada. Talvez, se cristalizassem frente à militância congressual as divergências e as críticas necessárias ao CC naquele momento, a polêmica tivesse resultado em uma organização da divergência que hoje ainda coubesse no interior do PCB. Mas não o fizerem.

É por todos esses elementos que reafirmamos: o PCB cresceu e se organizou nos últimos anos apesar de sua direção. Se dirigido com consequência poderia ter crescido mais e com mais qualidade, à altura da tarefa que nos cabe.

Por isso, a célula de Botucatu do PCB - em decisão unânime - declara o não reconhecimento do Comitê Regional de São Paulo e do Comitê Central para dirigirem nosso partido, tendo a realização do XVII Congresso como única alternativa capaz de reorganizar as necessidades e as urgências do nosso coletivo de revolucionários.

O movimento PCB-RR se mostra como alternativa organizada para a retomada da unidade do Partido, por isso aderimos a esse movimento para nossa organização a nível nacional, não eximindo outros membros desse grupo das cabidas críticas já citadas nessa carta. Mas é importante demarcar: não estamos aderindo a outro partido - somos a célula de Botucatu do Partido Comunista Brasileiro, independente de qualquer sanção ou intervenção que possa surgir em nome dos comitês regional ou central - ilegítimos por sua corrompida atuação.

Manteremos nosso trabalho em Botucatu, juntando esforços pela Reconstrução Revolucionária na cidade. Convidamos a todas e todos a participarem dos espaços que construímos, a conhecerem nosso trabalho e a se somarem à nossa militância. Mais do que nunca, seguimos motivados pela construção do Poder Popular em Botucatu, em São Paulo e no Brasil.

EM DEFESA DO PARTIDO COMUNISTA BRASILEIRO
PELA RECONSTRUÇÃO REVOLUCIONÁRIA
PELO XVII CONGRESSO DO PCB

PCB BOTUCATU