Nota de adesão da célula de Itu-Salto-Indaiatuba-Porto Feliz ao Manifesto em Defesa da Reconstrução Revolucionária do PCB

Entendendo que o partido deve ser o instrumento de luta da classe trabalhadora, a forma mais avançada de organização que podemos empreender e, nesse sentido, devendo abarcar a nossa realidade material, a história da nossa classe no Brasil, é necessária uma gigantesca autocrítica.

Nota de adesão da célula de Itu-Salto-Indaiatuba-Porto Feliz ao Manifesto em Defesa da Reconstrução Revolucionária do PCB

"Ninguém no partido deveria temer perder poder. Muitos países vieram à ruína porque os governantes tiveram medo de perder a liderança. Nós não devemos temer nada. Nós devemos contar a verdade francamente para o nosso povo, para os nossos militantes, para os nossos camaradas. Se eles não estão felizes e poderiam, eles irão nos perseguir, nos jogar para fora. Mas nenhum de nós deve ter medo de nada, nós não devemos esconder a verdade para preservar nossa posição. Isso seria uma traição aos interesses do povo, do nosso país e a todos aqueles que depositaram sua confiança em nós.”
Amílcar Cabral

Reunida em diversas oportunidades para debater a crise que se instaurou em nosso partido, a militância da célula de Salto-Itu-Indaiatuba-Porto Feliz decidiu, na última quarta-feira (16), de forma unânime, aderir ao Manifesto em Defesa da Reconstrução Revolucionária do PCB.

Camaradas, a crise diante de nós não surgiu de forma espontânea, tampouco é fruto da perversidade de um grupo de ex-militantes que estariam instrumentalizando as críticas da militância em benefício de um projeto pessoal. Esta perspectiva, presente nas diversas notas e circulares encaminhadas pela CPN e pelo CC, é uma das razões para a agudização das tensões e o sintoma de um dos vários problemas que temos diante de nós.

A participação do partido na Plataforma Mundial Anti-imperialista (PMAI), em especial no encontro realizado em Seul, capital sul-coreana, à revelia da CPN e do CC que haviam suspendido a presença neste espaço, foi tornada pública pelo camarada Ivan Pinheiro. A partir daí pudemos ver, não o início de uma ação arquitetada por um grupo fracionista para tomar de assalto o partido, mas sim o estopim para que diversas questões extremamente graves se tornassem públicas e revelassem a constante quebra de centralismo por parte das direções de diversos estados, expressão do federalismo reinante no partido. A perseguição de militantes, a pressão moral e psicológica empreendida, o amiguismo e as denúncias de assédio ignoradas ou postergadas por meses foram publicizadas. Não que antes fosse segredo para uma significativa parcela da militância.

Apenas alguns meses antes da agudização da crise, tivemos diante de nós a denúncia à Carlos Antonio Mazzeo, secretário político do CR-SP, por defender em rede social o professor universitário Boaventura de Sousa Santos, acusado de assédio moral, intelectual e sexual. Numa postura liberal, machista e academicista, atropelando o centralismo democrático e o próprio conjunto de princípios que estruturam o partido, Mazzeo foi apenas orientado a redigir uma autocrítica. Esta, em sua primeira tentativa, se revelou uma justificativa para sua ação, sem ao menos esboçar a superação de seu desvio recorrente; na segunda, com uma comissão o auxiliando, apenas coloca de forma genérica seu erro, sem ao menos se aproximar do que de fato é uma autocrítica. Este caso, camaradas, é apenas um exemplo do centralismo seletivo e do privilégio que determinadas figuras das direções possuem.

Camaradas, entendemos que a publicização da crise e o uso das redes sociais para debate, de forma improdutiva e irresponsável, é a simples consequência da total ausência de espaços internos para desenvolver de forma organizada as polêmicas. Podem argumentar que o Boletim Interno estava para sair ou que a Tribuna sairia logo mais não fosse a crise. Ora, este se assemelha a um discurso tipicamente eleitoreiro, prometendo a solução de problemas antigos e de fácil solução para garantir apoio. Em nosso caso, tentar assegurar uma unidade ilusória.

Enquanto uma célula relativamente nova e localizada no interior do estado, não nos faltam exemplos de como o CR age de forma a ignorar nossos acúmulos e nossas críticas. A sobrecarga das assistências, a ausência de informações, a pouca ou nenhuma integração com outras células na região, além do claro amadorismo em termos de organização, que tornou possível duas cidades vizinhas, Itu e Salto, com uma distância de pouco mais de 5 km, atuassem separadas e isoladas por um período de 1 ano sem uma saber da existência de militantes na outra, são sintomas do desinteresse das direções em de fato formar quadros qualificados que atuem numa dinâmica distinta das capitais, especialmente do eixo Rio-São Paulo. Não nos convenceu, portanto, a tentativa desesperada do CR em entender nossas críticas e nossos problemas candentes de forma oportunista e pouco consequente.

Cabe relatar o completo desinteresse das direções do partido em incorporar os acúmulos dos coletivos partidários. Trazendo debates avançados referentes a diversos temas, atuando em ocupações, quilombos, favelas e diversos espaços, ês camaradas chegaram a ser colocades, num apego ao formalismo, como não militantes e sua presença em um eventual Congresso Extraordinário sendo comparada com a tentativa de liquidar o partido nos anos 1990.

Este fato nos leva a refletir acerca da resistência por parte deste grupo a frente da CPN em reconhecer e reforçar o giro operário-popular em andamento nos últimos anos. Não se fizeram presentes no XVI Congresso ês militantes que, ao contrário do desejo dos acadêmicos, aproximaram-se do partido não para comentarem a luta de classes e sim para atuarem ativamente pela construção da Revolução Brasileira em bases de fato marxistas hífen leninistas, superando aquilo que Clóvis Moura chamou de marxismo desdentado, isto é, um marxismo inofensivo e pouco ameaçador para as classes dominantes. Esta é a tônica do receio em absorver as contribuições dos coletivos, uma vez que superando um marxismo formal, aceitável, ês camaradas trazem autores e autoras para o debate teórico e buscam empreender ações coletivas que inflamam os militantes que buscam a real tomada do poder e o fim do caráter passivo da esquerda radical brasileira.

Em outra ponta, destacamos o completo desrespeito com a militância na sequência de erros cometidos no, agora público, acordo ocorrido nos bastidores do XVI Congresso. Apelando para uma unidade ficcional e deixando que assediadores e outras figuras avessas ao avanço da linha revolucionária continuassem em seus locais privilegiados pela dita “cultura partidária”, que nada mais é do que o instrumento de manutenção do ego de figuras mesquinhas, machistas e racistas; além do meio pelo qual as críticas são deslegitimadas, minando o espírito criativo e a vontade dos militantes, camaradas permitiram, direta ou indiretamente, que diversas práticas sistemáticas de assédio, com o objetivo de quebrar militantes, destacadamente mulheres negras, continuassem e dessem lugar a uma quebra da confiança nas direções e ao imobilismo dos últimos anos.

Assim, nas últimas semanas, nossa célula manteve o debate interno a fim de elucidar diversas questões, como as raízes da crise e as críticas feitas pelos alegados fracionistas. Não é demais ponderar que o argumento dos que se utilizam do personalismo não encontra bases materiais, já que os problemas passam longe de ser um grande complô individualista. Lamentamos que, apelando para questões morais e pessoais, ês camaradas se recusem a debater o caráter político da crise e alimentem um espírito de seita, manifestado no chamado pecebismo. Entendemos que no caráter público da crise, orientados pelo dever de defender o partido, nossos camaradas se lancem às redes e combatam ês defensores da Reconstrução Revolucionária, principalmente seus "líderes". Acontece, camaradas, que a situação tem saído de controle. Tratar a situação com deboche já é, em si, um problema. O racha em nosso partido já não é novidade e, assim, devemos tratá-la com seriedade.

Vemos também, com muita frustração, o partido ignorar ou tratar com desdém a agitação e propaganda feita por nosses camaradas na internet. Ao invés de estimular um estudo aprofundado sobre e traçar estratégias e táticas para a atuação militante nas redes, vemos o partido escolher o descarte, a ambivalência e, agora durante a crise, a desqualificação não apenas dos trabalhos realizados peles camaradas, mas ao trabalho midiático em si. Existem, sim, inúmeras críticas a serem feitas ao conteúdo criado por váries camaradas, mas críticas camaradas e construtivas, buscando a evolução e profissionalização da agitação e propaganda dos comunistas.

É nesse sentido, camaradas, que, frente a diversos relatos, cartas, denúncias e manifestos de camaradas de diversos estados do Brasil, seria incoerente, irresponsável e vergonhoso se olhássemos apenas para nossa situação, que por si só materializa o caminho equivocado que vem sendo trilhado pelas direções da ala direita.

Frente aos diversos casos de expulsões em processos dúbios e com justificativas contraditórias empreendidas pelo CC e pela CPN (que tanto publicamente como em circulares internas agiu alimentando o sectarismo e se negando a esclarecer as polêmicas, em especial os casos de perseguição nos estados de Minas Gerais e Bahia) e as acusações de fracionismo aos que agitavam internamente por um Congresso Extraordinário, pressionando em redes sociais e por aplicativos de mensagem aqueles que colocaram críticas interna ou externamente, tornou-se insustentável qualquer tentativa de disputa interna para solucionar a crise.

Entendendo que o partido deve ser o instrumento de luta da classe trabalhadora, a forma mais avançada de organização que podemos empreender e, nesse sentido, devendo abarcar a nossa realidade material, a história da nossa classe no Brasil, é necessária uma gigantesca autocrítica. Uma autocrítica no sentido de compreender o partido como um organismo que não reproduza a ideologia burguesa nos seus moldes racistas, machista e LGBTfóbicos. Que não relegue apenas aos militantes dos coletivos as lutas contra as opressões. Que não seja pautado no carguismo e no espírito de grupo. Que supere o amadorismo nas finanças e na agitação e propaganda, e não se apegue ao seu caráter artesanal. Que busque de fato a hegemonia proletária em sua atuação.

Portanto, camaradas, fazemos adesão ao Manifesto em Defesa da Reconstrução Revolucionária do PCB, buscando organizar o XVII Congresso em caráter Extraordinário para forjar novamente nossa unidade e superar nossos problemas candentes.

Fomos, somos e seremos comunistas!