'Megaoperação' espetáculo em favelas do Rio de Janeiro chega ao 2º dia

Sob comando do governador Cláudio Castro (PL), a ação mobiliza mais de mil policiais, quatro aeronaves e 10 caveirões. Maré, Vila Cruzeiro e Cidade de Deus estão em alerta.

'Megaoperação' espetáculo em favelas do Rio de Janeiro chega ao 2º dia
"Só no primeiro dia, 21 mil estudantes ficaram sem aulas nas comunidades em razão das operações"

Por Gustavo Pedro

RIO DE JANEIRO — Uma "megaoperação" policial e midiática promovida pelas polícias civil e militar do Rio de Janeiro está em curso desde esta segunda-feira (9). Comandada pelo governador Cláudio Castro (PL), a ação mobiliza mais de mil policiais, quatro aeronaves, 10 caveirões e já se encontra em seu segundo dia.

A operação atinge territórios do Complexo da Maré e da Vila Cruzeiro, ambos na Zona Norte da capital, além da Cidade de Deus, na Zona Oeste.

O uso das forças de repressão vem sendo divulgado como uma forma de resposta a dois episódios recentes: a divulgação de imagens pela Polícia Civil de treinamentos de traficantes na Maré, em matéria do programa Fantástico, da rede Globo; e o assassinato dos três médicos na Barra da Tijuca, dentre os quais Diego Ralf de Souza Bomfim, irmão da deputada federal Samia Bomfim (PSOL).

Segundo informações divulgadas pelo jornal A Voz das Comunidades, só no primeiro dia, 21 mil estudantes ficaram sem aulas nas comunidades em razão das operações. Destes, 16 mil eram do Complexo da Maré e 5 mil do Complexo da Penha, com 44 escolas fechadas na Maré e 16 na Vila Cruzeiro. Foram suspensos também serviços de saúde das clínicas da família e de um centro municipal de saúde.

No segundo dia de operação, 10 de outubro, as escolas da Maré amanheceram novamente fechadas.

"As ações reforçam a lógica dos confrontos, que espalham tiroteios pela cidade desde as primeiras horas da manhã"

Espetáculo

A operação espetáculo de Cláudio Castro já vinha sendo anunciada por seus comandados, com a prisão de nove pessoas — incluindo um PM que portava 151 quilos de cocaína — e apreensões de um fuzil, uma arma falsa, munições, meia tonelada de maconha e drogas sintéticas, todas em áreas controladas pelo Comando Vermelho (CV).

O governador reivindicou como uma grande vitória o prejuízo de 12 milhões de reais à facção nas apreensões.

No segundo dia, a Polícia Militar divulgou, pela manhã, as apreensões de mais dois fuzis, uma carabina e outra réplica de fuzil, desta vez em territórios dominados pelo Terceiro Comando Puro (TCP). Ainda não há registro de mortos nos confrontos ocorridos.

A "megaoperação" prossegue e diversos questionamentos acerca da efetividade de tais métodos de ação já são levantados por especialistas em segurança pública e de movimentos sociais e comunitários.

Essas ações reforçam a lógica dos confrontos, que espalham tiroteios pela cidade desde as primeiras horas da manhã. Soma-se a apreensão de quantidade ínfimas de armas e o foco na espetacularização, causando medo, suspensão do funcionamento de escolas e aparelhos de saúde, além de dificultar aos moradores o deslocamento até os seus trabalhos. Tudo isso gera gastos milionários que não são revertidos em maior segurança para os moradores, pelo contrário.

Se fortalecem os fornecedores da indústria armamentista e os anunciantes de telejornais que regam com sangue seus anúncios milionários. Findada a operação, o roteiro já conhecido será o de retorno dos grupos armados de traficantes a seus postos e das polícias para seus quartéis e delegacias. Para os trabalhadores que ali moram, permanece o clima de insegurança e medo.