Julieta Hernández, presente hoje e sempre!
O cruel assassinato de Julieta Hernández, uma multiartista, palhaça, cicloviajante, feminista e migrante venezuelana evidencia a gritante realidade que as mulheres e população LGBTQIA+ vivenciam cotidianamente.
Por Redação
O cruel assassinato de Julieta Hernández, uma multiartista, palhaça, cicloviajante, feminista e migrante venezuelana evidencia a gritante realidade que as mulheres e população LGBTQIA+ vivenciam cotidianamente: qualquer fuga do padrão patriarcal dominante imposto deve ser punido com extrema violência.
A estarrecedora notícia da morte da artista Julieta Ines Hernández Martinez, no último dia 5, abalou a América Latina e o mundo. A bonequeira, de 38 anos, viajava o Brasil de bicicleta se apresentando como circense e espalhando alegria por onde passava. Em 2015, Julieta veio para o Brasil estudar Teatro do Oprimido e em 2019 começou a viajar de bicicleta, quando atravessou mais de nove estados brasileiros, do Norte e Nordeste. Julieta percorria o país se apresentando como a palhaça Miss Jujuba, mas se encontrou com as brutais estatísticas do país em termos de assassinatos violentos cometidos contra mulheres. Se “enquanto houver uma criança, sempre haverá um circo”, no capitalismo, enquanto houver uma mulher, sempre haverá a possibilidade do emprego das mais diversas violências contra seus corpos.
Julieta foi brutalmente assassinada por ser mulher, feminista, imigrante e trabalhadora da cultura na informalidade. Foi morta com o emprego das piores violências possíveis (há evidências, que antes de ser morta, foi estuprada e queimada) para ser apagada justamente por sua existência carregar os alvos de diversas opressões no Brasil. Mulher, venezuelana, artista circense e trabalhadora da cultura na informalidade, a morte de Julieta nos indigna profundamente por todos os motivos possíveis que levaram à morte e à ocultação do seu corpo. Na Venezuela, a notícia da morte de Julieta causou comoção principalmente por escancarar a situação de vulnerabilidade em que se encontram milhares de cidadãos venezuelanos que, assim como a artista, optam pela imigração enfrentando níveis alarmantes de insegurança econômica.
Mesmo após a Lei do Feminicídio, em 2017, o Brasil registrou, em 2022, que uma mulher é morta a cada seis horas. A lei sobre o feminicídio qualifica o homicídio quando o crime contra a vida é motivado pelo gênero da vítima e, por isso, agrava-se a pena. Anualmente são produzidas pesquisas que mostram a situação alarmante sobre esses casos no território brasileiro. Essas pesquisas não apenas registram o crescimento dos casos de homicídios (mesmo após a Lei de Feminicídio), mas formaliza em estatísticas que a gigantesca maioria dos crimes cometidos contra a vida das mulheres é feito em casa, geralmente por parceiros ou ex-parceiros. Assim, além da motivação clara pelo gênero, a relação dos crimes também está direta e umbilicalmente ligada às questões sexuais.
Julieta Hernández não foi apenas vítima de um crime bárbaro cometido contra sua vida, mas também foi vítima da xenofobia contra imigrantes de países vizinhos da América Latina, foi vítima da completa ausência de incentivos públicos à classe trabalhadora dos setores de arte, cultura e entretenimento. Foi vítima da informalidade que precariza diariamente o trabalho de artistas no Brasil. Foi vítima de crimes contra as mulheres que não são resolvidos com uma formalização da justiça criminal brasileira em um tipo penal diferenciado e específico.
Hoje, 12 de janeiro, irão ocorrer manifestações e bicicletadas em mais de 120 cidades brasileiras e em pelo menos outros dez países - Argentina, França, México, Uruguai, Chile, Portugal, Espanha, Colômbia, Estados Unidos e Holanda - homenageando e pedindo justiça por Julieta. As manifestações para dar visibilidade à situação é fundamental, porém como o movimento feminista classista e marxista tem apontado: “é preciso ir além de simples pedidos de justiça pela morte das mulheres ou continuaremos a viver incontáveis lutos!” A superação das violências de gênero perpassa pela organização revolucionária da classe trabalhadora para superar todas as formas de opressão que sustentam e aprofundam a exploração estruturante do modo de produção capitalista.
Assim, no dia 12 de janeiro, as ruas devem ser palco de manifestações contra o feminicídio que acomete as mulheres mundialmente e contra todas as violências estruturais do capitalismo.