Greve nacional no Serpro: Gigante de TI paralisa atividades diante da intransigência da direção

Em meio à greve, a direção do Serpro tem adotado táticas de assédio e monitoramento dos trabalhadores, tentando enfraquecer o movimento.

Greve nacional no Serpro: Gigante de TI paralisa atividades diante da intransigência da direção
Reprodução/Fonte: Convergência Digital.

Por Redação

No dia 27 de agosto de 2024, os trabalhadores do Serviço Federal de Processamento de Dados (Serpro) deram início a uma greve nacional por tempo indeterminado. O movimento se dá em resposta à intransigência da direção da empresa em atender as reivindicações da categoria e teve adesão massiva nas regionais espalhadas por todo o país. Organizados na reivindicação de seus direitos, a greve é um marco na luta por direitos e condições dignas de trabalho na maior empresa pública de Tecnologia da Informação do Brasil.

Serpro: Gigante da TI pública brasileira

O Serpro, com sede em Brasília e unidades em 11 capitais, é uma empresa fundamental na infraestrutura digital do governo federal. A empresa é responsável por uma série de serviços críticos, como o Portal gov.br, o sistema de Imposto de Renda (IRPF), o Cadastro de Pessoas Físicas (CPF) e o Sistema Integrado de Administração Financeira (Siafi). Com mais de 7.575 empregados distribuídos em mais de 330 municípios, o Serpro é uma potência no setor, com ativos de R$ 4,8 bilhões e um lucro de R$ 559,7 milhões, segundo dados em 2022.

Apesar desses números impressionantes, a direção da empresa tem demonstrado um total descompasso com as necessidades e reivindicações de seus trabalhadores. Mesmo com um faturamento de R$ 3 bilhões no ano passado, o Serpro insiste em negar demandas básicas que buscam corrigir distorções e garantir direitos fundamentais aos seus empregados.

Reivindicações justas negligenciadas pela direção

Os trabalhadores do Serpro entraram em greve com uma pauta de reivindicações clara e justa:

  1. Reajuste de 20% no tíquete-alimentação, essencial para repor perdas inflacionárias e assegurar o poder de compra dos trabalhadores.
  2. Aumento da participação da empresa no custeio do plano de saúde para 70%, conforme permitido pela legislação, aliviando o pesado ônus que recai sobre os empregados.
  3. Exclusão da cláusula do Programa de Demissão Voluntária (PDV), que ameaça a segurança e a estabilidade dos trabalhadores.
  4. Retorno do anuênio e da licença-prêmio para todos os empregados, direitos que têm sido sistematicamente atacados pela gestão.
  5. Isonomia de direitos, garantindo que todos os trabalhadores sejam tratados com igualdade e respeito.
  6. Regulamentação do trabalho remoto, uma realidade que se consolidou com a pandemia, mas que ainda carece de regramento adequado para proteger os trabalhadores.

Intransigência, assédio e monitoramento

A greve foi a resposta dos trabalhadores à postura inflexível da direção do Serpro, que optou por não negociar diretamente com a categoria, preferindo envolver o Tribunal Superior do Trabalho (TST) como mediador. A primeira reunião de mediação, realizada no dia 27 de agosto, não trouxe avanços significativos, reforçando a consciência dos trabalhadores de TI de que o sistema judiciário também não irá assegurar condições dignas para a categoria. Enquanto isso, a adesão à greve continua a crescer em todas as regionais, mesmo enfrentando condições adversas, como o trabalho remoto sem regulamentação. O movimento grevista prova que, mesmo dispersos por mais de 330 municípios, estão organizados em torno de suas pautas.

Em meio à greve, a direção do Serpro tem adotado táticas de assédio e monitoramento dos trabalhadores, tentando enfraquecer o movimento. A empresa tem se utilizado de pressões internas para dissuadir os empregados de aderirem à greve, ao mesmo tempo em que monitora de perto as atividades dos grevistas. Práticas de clara tentativa de intimidação que somente reforçam a necessidade da luta.

Um setor estratégico em luta

O setor de Tecnologia da Informação é um dos que mais sofre com a precarização e com as doenças ocupacionais, a maior estatal do ramo no país é um exemplo disto. Porém, a estatal se nega a oferecer um plano de saúde com aporte de 70% do custo pela empresa e 30% pelos trabalhadores. Doentes pelo trabalho e gerando lucros na casa dos R$ 500 milhões de reais aos cofres públicos, a lógica do capital impera para que os trabalhadores custeiem do seu próprio salário as enfermidades necessárias para gerar tamanha receita.

A greve nacional de 2024 é um marco na luta por melhores condições no setor de TI. Os trabalhadores do Serpro estão mostrando que, mesmo diante da intransigência e das adversidades, a luta unificada é não apenas possível, mas necessária e o único caminho possível. É um coro por justiça e dignidade, que ecoa por todo o país e que exige a atenção e o apoio de todos aqueles que acreditam em um serviço público de qualidade e na valorização dos trabalhadores.