Enchentes em Feira de Santana (BA): o resultado da política empresarial e do racismo ambiental de José Ronaldo, Colbert Martins e seu grupo político

A falta de políticas públicas que garantam o acesso e o direito à cidade e à moradia digna configuram-se como mais uma forma de vitimar a classe trabalhadora. São as populações negras e indígenas, moradoras de bairros periféricos e da zona rural, que mais sofrem com os supostos desastres climáticos.

Enchentes em Feira de Santana (BA): o resultado da política empresarial e do racismo ambiental de José Ronaldo, Colbert Martins e seu grupo político
"A problemática dos diversos alagamentos na cidade soma-se ao aumento crescente de casos de dengue, visto que o momento acaba sendo mais favorável ao acúmulo de água e reprodução do Aedes aegypti e o risco de contaminação por leptospirose, que se agrava em casos de alagamento."

Por Redação

As chuvas na Bahia atingiram com grande impacto a população de Feira de Santana, que sofre com o aumento exponencial dos índices de chuva causadas pelo efeito estufa e, especialmente, com o projeto excludente de cidade protagonizado pelo grupo empresarial de José Ronaldo. O enorme volume de chuvas, com pico na última terça - feira, causou uma série de alagamentos em regiões centrais da cidade e em diversos bairros, levando a inundação de casas, perdas de bens e contato direto de moradores com as águas. A população tem compartilhado imagens assustadoras de viadutos e carros submersos e casas totalmente alagadas.

Esses alagamentos não são meramente ocasionados pelo maior índice de chuvas, eles têm relação direta com o processo de desenvolvimento desordenado da cidade, descaso público com obras de saneamento e de drenagem das águas e o aterramento de diversas lagoas em território urbano, para construção de avenidas, rodovias e empreendimentos imobiliários.  Isso é o resultado de um modelo de cidade que privilegia grandes obras monumentais, em detrimento à garantia das necessidades básicas da classe trabalhadora. Os bairros mais atingidos estão nas regiões periféricas, e abrigam os setores mais empobrecidos e a classe trabalhadora negra da cidade, a exemplo da Queimadinha, Mangabeira e Feira X. 

O grupo de José Ronaldo e as megaobras desastrosas para a classe trabalhadora feirense 

O grupo político oligarca que domina Feira de Santana há mais de 20 anos, comandada por José Ronaldo (União Brasil), e com Colbert Martins (MDB) à frente da prefeitura, construiu uma cidade pensada e organizada para pessoas que, em geral, têm transporte próprio e vivem em condomínios de média e alta renda. A maior prova disso foi a construção do BRT, uma obra superfaturada que sai do bairro SIM para o shopping e do shopping para o centro. Os recursos dessa mesma obra teriam possibilitado dobrar o número da tão defasada frota de ônibus de Feira de Santana. 

A inexistência de um planejamento urbano adequado, debatido com a população e com setores técnicos e a falta de investimentos organizados em obras de drenagem, levam a esse caos recorrente na cidade. A “Princesinha do Sertão” vem passando por um vertiginoso crescimento horizontal, sem organização e estudos de impacto ambiental, a fim de garantir os lucros das grandes empreiteiras e da especulação imobiliária. Para atender os interesses desse mercado imobiliário e outros setores do empresariado feirense, há uma falha grotesca de fiscalização, e o descumprimento até mesmo dos limitados Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano - PDDU e Código Municipal de Meio Ambiente. 

Esse crescimento não é acompanhado por uma expansão dos serviços públicos e de saneamento nos bairros onde estão os setores mais empobrecidos e negros da população. Colbert Martins, frequentemente, nos períodos de chuvas, afirma que está fazendo obras de drenagem, porém as mesmas sempre aparecem de forma conveniente nos períodos eleitorais ou nos momentos dos alagamentos para “tapar buraco”.

Os vereadores e a base governista do prefeito tentam atribuir a culpa da falta de obras urbanas de saneamento, à posição contrária de Eremita Mota (PSDB), atual presidenta da câmara de vereadores e ex-integrante do grupo ronaldista, a um projeto que previa um empréstimo de mais de 250 milhões. Tal empreendimento não previa os locais que a verba seria destinada, estudo de viabilidade, impacto das obras e audiência pública para debate em relação à mesma. Provavelmente, esse projeto seria semelhante aos outros “ grandes empreendimentos” feitos pelo grupo, que beneficiaram apenas as empresas responsáveis pelas obras e pioraram a vida dos trabalhadores. Exemplos não faltam na cidade: a extinção das linhas de ônibus bairro - bairro e a construção dos terminais, o BRT, o projeto higienista e racista do “Novo Centro” - que expulsou de forma truculenta os trabalhadores do centro para regiões afastadas - e o fracassado “Shopping Popular”.

Enchentes e saúde pública: um duplo buraco 

A problemática dos diversos alagamentos na cidade soma-se ao aumento crescente de casos de dengue, visto que o momento acaba sendo mais favorável ao acúmulo de água e reprodução do Aedes aegypti e o risco de contaminação por leptospirose, que se agrava em casos de alagamento. Dado o cenário do agravamento dessas doenças, a cidade enfrenta uma série de dificuldades para lidar desde as mais simples questões de saúde até mesmo as mais graves, dado como é estruturado modelo privatista do sistema de saúde, que relega às Organizações Sociais (OS) a administração das policlínicas, UPAs e hospitais, levando à precarização, falta de medicamentos, infraestrutura inadequada e descumprimento dos direitos trabalhistas. 

Racismo ambiental e os supostos desastres naturais 

Não podemos naturalizar o que não é natural, as chuvas são resultado de um processo natural - apesar do notório desequilíbrio, devido a ação do capitalismo -, mas o impacto que elas causam é fruto direto da dinâmica que este modo de produção impõe. A falta de políticas públicas que garantam o acesso a uma infraestrutura de qualidade e à moradia digna configuram - se como mais uma forma de vitimar a classe trabalhadora em geral, e revitimizar as pessoas e grupos historicamente mais explorados e discriminados socialmente. São as populações negras e indígenas, moradoras de bairros periféricos e da zona rural, que mais sofrem com os supostos desastres climáticos.  

A população trabalhadora, sobretudo dos bairros Mangabeira e Feira V, indignados com o descaso de décadas e o caos gerado devido a inação e omissão do poder público, realizaram uma manifestação, fechando um trecho da Avenida Fraga Maia - uma das principais avenidas fora da região central da cidade. A luta dos moradores não é somente legítima, mas também parte fundamental das lutas que precisam ser encabeçadas pela a classe trabalhadora.