'Convicção ou arrogância?' (Gustavo Figueiredo)

Esta tribuna é breve, para um questionamento específico em relação à resposta do camarada Machado [1] aes camaradas do núcleo Unicamp da UJC [2].

'Convicção ou arrogância?' (Gustavo Figueiredo)
"Devo dizer que é extremamente satisfatório ver as nossas direções se mexendo para rediscutir, a partir das críticas da base, uma decisão. Para aqueles que dizem que “nada mudou” após a cisão, este é mais um exemplo de que estão terrivelmente equivocados."

Por Gustavo Figueiredo para a Tribuna de Debates Preparatória do XVII Congresso Extraordinário.

Esta tribuna é breve, para um questionamento específico em relação à resposta do camarada Machado [1] aes camaradas do núcleo Unicamp da UJC [2]. Sobre o mérito do debate - a saber, a decisão da CRP-SP de outorgar a seus próprios membros a condição de delegades nates da etapa regional do Congresso -, estou mais que contemplado peles camaradas do núcleo Unicamp, posição reforçada na resposta do camarada Arthur ao camarada Machado [3]. A decisão pela delegação nata, inclusive, foi retificada pelo CRP-SP em reunião extraordinária. Devo dizer que é extremamente satisfatório ver as nossas direções se mexendo para rediscutir, a partir das críticas da base, uma decisão. Para aqueles que dizem que “nada mudou” após a cisão, este é mais um exemplo de que estão terrivelmente equivocados.

Ao ler a resposta do camarada Machado, logo em seu primeiro ponto, achei estranho ele dizer que a ata da reunião da CRP “naturalmente não registrou com precisão” as suas palavras, seguindo em redigir o que seria o “sentido” de sua fala. Naturalmente, camaradas, ninguém que não estava na reunião poderia descobrir qual foi o real “sentido” da fala do camarada, sendo a ata o único recurso válido para conferi-la, assim como para invocá-la em sua própria defesa.

A fala do camarada, constante na ata, foi essa:

“Machado: [...] Acho que as críticas da base sobre a plenária parte [sic] de um sentimento de derrotados que não aceitam a derrota, e por isso acho que não devemos escrever a autocrítica para não cairmos no erro de falar como se reconhecermos [sic] que teve algum golpe, pois não teve. [...]”

Na ata, podemos ver que, nesta fala, o camarada Machado diz que concorda em partes com um outro camarada que lhe antecedeu. Este disse que achava que o processo de unificação entre a CRP-SP-RR e a CRUJC-SP fora realizado “de maneira atropelada e rápida”, e que portanto cabia à CRP, agora unificada, redigir uma autocrítica para as bases acerca deste processo. É evidente, para quem lê a ata, que o camarada Machado não diz nada sobre “avaliar com precisão se há realmente um amplo descontentamento com a decisão” por parte des militantes de base que a criticam. É impossível, portanto, deduzir que este seria o “sentido” de sua fala.

Por que o camarada Machado escolheu omitir a sua fala como consta na ata para fazer parecer que ele disse o que não disse? A meu ver, o camarada demonstra-se incapaz de ao menos dizer que errou ao tratar críticas da base como “sentimento de derrotados” em uma decisão que a base sequer participou de fato. No lugar disso, o camarada preferiu, como bem disse o camarada Arthur, “vestir a armadura do paladino da democracia interna”, reforçando seu primeiro posicionamento e investindo-se da responsabilidade de defender a democracia partidária daquelus que, derrotados, buscam “deslegitimar a decisão da maioria”.

Há uma questão óbvia de legitimidade nas direções provisórias da nossa organização, neste período pré-congressual. É uma questão que não deveria tirar o sono de nenhume dirigente que compõe essas instâncias, de tão óbvia e previsível, pelas circunstâncias que se deu a cisão. A legitimidade das direções, agora, não emana, de maneira nenhuma, de nenhum documento, manifesto ou decisão em plenária; ela deve ser construída na prática, com a consciência de que está permanentemente em corda bamba, pelo menos até o Congresso. Daqui de onde estou, percebo que es dirigentes que foram alçados a essa função durante a cisão, especialmente quando indicades por seus organismos de base, possuem a sensibilidade de se preocuparem com essa questão da legitimidade. Demonstram o compromisso de sempre informar as bases e buscá-las para o debate, a fim de que nenhuma decisão sequer pareça que tenha sido tomada de maneira atropelada.

Infelizmente, o mesmo não se pode dizer daquelus que já eram dirigentes antes de julho, muito acostumades a repetir ou pelo menos fazer vista grossa a todas as práticas criticadas à exaustão durante o processo de cisão. Ainda que haja honrosas exceções, estas existem para confirmar a regra. Não obstante, essus dirigentes, meses atrás, falavam com convicção que estavam prontes para passar por um profundo processo de autocrítica, afinal, aprenderam a dirigir na carcomida estrutura do PCB-CC, e, portanto, era esperado que repetissem as mesmas práticas; agora, porém, estão cientes de que essas práticas devem ficar no passado. Penso que, entre essus, há aquelus que realmente têm a intenção de fazer essa autocrítica, e conseguirão; outres há que têm a intenção mas não conseguirão; e, por fim, há o grupo que nunca teve a menor intenção de fazer autocrítica nenhuma. Nada além do esperado, eu diria. O que todes precisam entender é que agora, pelo menos, as atas descem, e a base pode ler tudo o que falam. Resta a elus a humildade de assumir, eventualmente, que erram, ou a arrogância de explicar o “sentido” verdadeiro de falas cristalinas registradas em ata.


Referências

[1] 'Resposta ao Núcleo UJC/UNICAMP – Unificação dos CRs e Delegação Nata' (Machado) - https://emdefesadocomunismo.com.br/resposta-ao-nucleo-ujc-unicamp-unificacao-dos-crs-e-delegacao-nata/

[2] 'Da União das CRs aos Delegados Natos – A Cronologia de uma Picaretagem' (Núcleo Unicamp da UJC) - https://emdefesadocomunismo.com.br/da-uniao-das-crs-aos-delegados-natos-a-cronologia-de-uma-picaretagem/

[3] 'Um pequeno, pequeno detalhe - Ainda sobre a unificação das CRs e es delegadas nates' (Arthur Gabriel) - https://emdefesadocomunismo.com.br/um-pequeno-pequeno-detalhe-ainda-sobre-a-unificacao-das-crs-e-es-delegadas-nates/