'Um pequeno, pequeno detalhe - Ainda sobre a unificação das CRs e es delegadas nates' (Arthur Gabriel)

Não só as necessidades e os horizontes da UJC mudaram no último período, como essa metodologia limou a maioria des militantes de debater, na base, o profundo racismo e a prática de fofoca, apadrinhamento e de “queimar militantes” que tem muitos dirigentes desse organismo.

'Um pequeno, pequeno detalhe - Ainda sobre a unificação das CRs e es delegadas nates' (Arthur Gabriel)
"É absurdamente cínico querer dizer que são es delegades “a maioria da militância” ou que, por serem eleites “pela base”, existiu a “participação da base” quando, de fato, a ampla maioria des militantes não teve nem a chance de fazer o convencimento e essa questão polêmica não foi colocada às claras para balizar as eleições des delegades."

Por Arthur Gabriel para a Tribuna de Debates Preparatória do XVII Congresso Extraordinário.

Sem muitas delongas, essa é a minha resposta (tréplica?) individual à resposta do camarada Machado à crítica coletiva do núcleo UNICAMP sobre a questão des delegades nates e da unificação das CRs.

De maneira muito simples, a resposta do camarada se baseia na pequena omissão sobre o que ele chama de “problema na apresentação do debate”, que é, na realidade, o ponto principal da manobra que foi realizada naquela Plenária.

As falhas na apresentação de debate sobre a organização dos trabalhos, cuja consequência lógica é a eleição imediata de mais de 60 pessoas como delegades nates para a Etapa Estadual do Congresso Nacional não é um “problema”, tanto que foi rechaçado não só individualmente por militantes, mas por núcleos inteiros.

Reitero individualmente o que colocamos coletivamente na tribuna do núcleo UNICAMP: na sua resposta, camarada, tem uma tentativa de dar “ares democráticos” para essa decisão só pelo fato de ela ter sido tomada em plenário, quando o fundamental para a garantia da direção coletiva faltou.

A inversão que você realiza nesse texto tem 3 partes:

1) reduzir o papel da “apresentação da discussão” a um mero “problema”, como se ela não condicionasse as possibilidades de formulações que poderiam ser feitas naquele espaço;

2) tratar es delegades eleites da Plenária como “a maioria da militância”, sendo que “a maioria da militância” foi operacionalmente impedida de participar do debate e realizar o convencimento e a polêmica em seus núcleos;

3) vestir a armadura do paladino da democracia interna contra militantes que não legitimam essa decisão porque, de fato, ela não cumpriu o básico da forma comunista de formar uma direção coletiva, anterior a qualquer decisão de qualquer pleno, que é a discussão e a organização da polêmica nas base.

Ao primeiro ponto, fica demonstrado pelas datas dos emails que a base da militância só poderia ter acesso a esse debate, no máximo, 7 dias antes da Plenária, nosso núcleo teve 3 dias.

Isso não é um detalhe menor, ele é central para entender do porquê essa decisão foi rechaçada, não só pelo núcleo UNICAMP, mas causou mal estar em vários outros organismos no estado.

Na sua segunda inversão você tenta de uma maneira muito sorrateira, camarada, tratar es delegades como “participação das bases” e vender sua posição como “defensor da participação dessa mesma base”.

Ora camarada, a base não teve nenhuma chance real de fazer o mínimo, que é o convencimento des delegades e a formulação de sínteses locais justamente pelo “problema da apresentação do debate”.

É absurdamente cínico querer dizer que são es delegades “a maioria da militância” ou que, por serem eleites “pela base”, existiu a “participação da base” quando, de fato, a ampla maioria des militantes não teve nem a chance de fazer o convencimento e essa questão polêmica não foi colocada às claras para balizar as eleições des delegades.

É óbvio para todes que, se essa questão estivesse apresentada da forma correta, a “correlação de forças” na eleição des delegades seria outra, ou melhor, es delegades estariam verdadeiramente preparades com as sínteses tiradas localmente, aí sim, pela ampla participação das bases.

Muito antes de você querer fazer parecer que o ponto do Gustavo fosse “elitismo acadêmico”, como se que estivesse dizendo que a militância e es delegades são burros e como se ele não estivesse se colocando também dentro dessa militância, reitero aqui que, de fato, a maioria da militância, à época, não estava habilitada a fazer a crítica porque, justamente pela apresentação tangencial do tema em atas e a discussão que só aconteceu na Plenária, a maioria da militância não conhecia o debate, tanto que a questão se acirrou somente depois, quando tomamos conhecimento das implicações dessa picaretagem para a eleição de delegades nates para o Congresso Estadual.

A consequência dessa inversão é que você trata a decisão tomada na Plenária como um artigo sagrado pelos “ares democráticos” que você dá aes “⅔ des militantes” que decidiram tomar a decisão naquele momento, mas ignora de maneira magistral o fundamental anterior para que essa decisão fosse acatada com legitimidade pela base: a participação e o convencimento político.

É verdadeiramente a maior inversão tratar a decisão do pleno como o condicionador da disciplina, do “voto vencido” e da legitimidade, quando, do contrário, é a habilidade da direção em fomentar um debate verdadeiro, amplo e de qualidade pelas bases que cria o consenso e a possibilidade de legitimidade de qualquer decisão ou organismo.

A reação que você viu não é o “choro de derrotados” ou os resquícios “da mentalidade universitária acadêmica”, (até porque eu e tantos outros do núcleo UNICAMP somos jovens trabalhadores racializades e precarizades, e essa adjetivação tosca, além de falsa e ofensiva, é a marca do cinismo dos membros da direção da UJC que há muito vem deteriorando as relações com o nosso núcleo) mas a reação legítima de uma grande parte da militância, na UJC e no Partido, que não aceitaram essa decisão justamente porque não tivemos nenhuma possibilidade de participar da sua formulação e, portanto, ela foi sim imposta por um debate que em nenhum momento contemplou a participação “maioria da militância”.

Reitero, estou me lixando* para o que foi decidido na Plenária, não porque a minha posição foi vencida naquele pleno, mas porque em nenhum momento eu e nenhume outre militante de base tivemos possibilidade de participar de verdade da discussão nos termos concretos: unificar a CRUJC em bloco, sem a possibilidade de destaque de nomes, e eleger essa mesma CR como delegades nates por consequência.

Essa é a verdadeira discordância das nossas posições, eu não trato as formulações dos “espaços amplos” como legítimos a priori por serem “espaços amplos”, mas porque eles exigem um processo de participação real, com tempo e com os debates apresentados de maneira sistemática, com a possibilidade de formulações coletivas e de convencimento político na base, coisa que não aconteceu com a discussão sobre a unificação das CRs.

Ao contrário do que você tenta vender, não só defendo os espaços amplos de debate, defendendo pela existência do jornal e a polêmica pública desde antes do racha, mas agora defendo eles da sua posição cínica.

Defendo tanto os espaços amplos de debate que levei essa questão para ser discutida de forma ampla e qualificada em reunião de núcleo, privilégio que não foi garantido para nós no debate inicial sobre a questão da unificação das CRs, e aceitaria de bom grado a decisão majoritária desse organismo, não porque a direção coletiva parte do princípio do voto da maioria, mas porque ela parte do princípio da formação de consensos pelo debate franco e é por ele legitimada.

Para além disso, tenho total discordância com uma eleição para a direção do partido, mesmo que seja “por seis meses”, que não seja feita a partir de uma nominata previamente lançada à totalidade da militância para debate do mérito de cada nome e possibilidade de destaque individual dos nomes.

Sem entrar no mérito sobre a eleição da CRUJC-SP no último Congresso, que toda militância do estado sabe que foi, no mínimo, cheia de problemas e vícios, mas hoje não faz sentido eleger toda essa CR como um bloco para a direção do partido.

Não só as necessidades e os horizontes da UJC mudaram no último período, como essa metodologia limou a maioria des militantes de debater, na base, o profundo racismo e a prática de fofoca, apadrinhamento e de “queimar militantes” que tem muitos dirigentes desse organismo e que são impeditivos para alguns deles de estarem à frente do processo de Reconstrução Revolucionária desse Partido, mesmo que de forma “provisória”.

Vícios que ficam mais evidentes a partir da leitura da carta de afastamento da camarada Raquel Luxemburgo e deixam claro como no estado de São Paulo esses atropelos e conversas de corredores se dão de forma planejada, na contramão da formulação conjunta des comunistas paulistas para uma política estadual do avanço da classe, mas para fomentar pequenos golpes de dirigentes que não poderiam estar no secretariado de um núcleo, quanto mais dirigindo a Reconstrução Revolucionária do nosso partido.