Brasília: Coletivo LGBT Comunista em defesa da Reconstrução Revolucionária do PCB

Essa situação impossível na qual nos encontrávamos levou à quebra de camaradas. Isso não é acidente, é método. E com esse método é impossível se construir um partido pautado no centralismo democrático.

Brasília: Coletivo LGBT Comunista em defesa da Reconstrução Revolucionária do PCB
"A Reconstrução Revolucionária se apresenta como uma possibilidade de revitalizar o PCB e de retomar os princípios do marxismo-leninismo que nos levam a lutar pela emancipação da classe trabalhadora."

O céu de Brasília às vezes é rosa, mas sempre, vermelho.

Camaradas,

Nós, do Coletivo LGBT Comunista do Distrito Federal, dirigimo-nos a vocês neste momento crucial para declarar nossa adesão ao XVII Congresso (Extraordinário) do Partido Comunista Brasileiro (PCB) e ao movimento pela Reconstrução Revolucionária. Acreditamos que a unidade dentro do partido não deve ser construída pela imposição de silêncio ou pela marginalização de vozes divergentes. Pelo contrário, é por meio do debate franco que construiremos um partido mais forte e verdadeiramente capaz de liderar as massas.

Em nosso contexto, esse tensionamento foi exacerbado pela Circular 26/2023 da CPN, na qual as direções do PCB antagonizam o complexo partidário com o item 5-C):

“Orientamos que os coletivos partidários (CFCAM, CNMO, LGBT Comunista, UC, UJC) não debatam questões internas do PCB. Os coletivos são construídos para potencializar nossa intervenção nas lutas sociais e o acúmulo relacionado a elas. As/os militantes interessadas/os em debater questões internas do PCB devem ingressar no Partido, e, uma vez nele, buscar espaços adequados para a realização do debate.”

Ora camaradas, em momento de crise — onde parte significativa dos militantes vinculados ao Partido estão nos coletivos, UC ou UJC — decidem nos lembrar que não somos partido. Decidem se encastelar para barrar as discussões e nos comparar aos “qualquer um” comprados por Roberto Freire na tentativa liquidacionista de 1992. Não somos qualquer um. Não somos meros amigos do partido ou curiosos. Somos militantes comunistas formados no seio do PCB, nos submetemos às suas resoluções e ao seu estatuto, carregamos sua bandeira na hora de falar com o trabalhador cansado na rodoviária ou na hora de fugir da polícia em manifestação debaixo do Sol.

O CC revelou seu cinismo através da fala da Sofia Manzano em entrevista pública:

“Quem quiser discutir, criticar, apontar todos os problemas que nós temos, que reconhecemos que temos, bora vim militar no PCB”

Isso quando bem sabemos a dificuldade que é entrar para o partido, quando bem sabemos que todes os recrutas que desejam entrar no PCB serão encaminhados para os coletivos que cumprem a função mais que ideal de depósito de militantes de segunda classe em pautas de segunda classe. Enquanto isso, encastelam-se, fecham os portões, nos colocam para fora, se armam até os dentes e dizem pela janelinha “as portas estão abertas para o debate, não há desculpa para essa revolta toda”.

Do nosso lado, não faltaram tentativas de promover um diálogo e manter a unidade dentro do Coletivo. Desde o dia 20 de Julho, 10 dias antes do expurgo promovido pelo Comitê Central, nós, do núcleo do Coletivo LGBT Comunista do Distrito Federal, fizemos uma reunião extraordinária com a presença de nossos assistentes da CN e CR para debater a crise no partido e propor à Coordenação Nacional do coletivo soluções para permitir um diálogo produtivo e satisfatório com a militância do LGBT Comunista. Nesta ocasião, deliberamos um encaminhamento que foi direcionado à CN do LGBTCom por unanimidade.

Solicitamos a viabilização de uma plenária virtual nacional com todos os núcleos para debater a crise, buscar caminhos internos para sua resolução e garantir à militância a possibilidade de ser informada a respeito do que realmente estava acontecendo dentro do Partido, sem que precisássemos escolher entre nos informar através da polêmica pública nas redes sociais ou confiar cegamente no CC sem que nos fossem apresentados todos os fatos e evidências dos bastidores, os quais a CPN se limitava a reafirmar que existiam, sem de fato apresentá-los. O objetivo do Coletivo, durante todo esse processo, foi buscar formas de firmar a unidade de ação que foi perdida e propor, através do debate e do convencimento entre os militantes, soluções para que a disputa interna não atropelasse o trabalho coletivo.

Contudo, a postura cínica do CC já se reproduzira em nosso círculo: quando indagada sobre as inúmeras (e graves) denúncias de práticas de perseguição e quebra de militantes dentro do complexo e o desgaste mental que levava ao afastamento ou desligamento, nossa assistência do CR-DF respondeu dizendo que o que via ali (em nosso núcleo) eram militantes que “não tinham convicção se queriam entrar para o partido.” Em levantamento minutos antes, todos expuseram o objetivo de ingressar no partido.

Após a reunião extraordinária realizada pelo Coletivo, a Coordenação Nacional (CN) do LGBT Comunista emitiu uma circular para toda a militância proibindo os debates e a adesão ao XVII Congresso Extraordinário “sob hipótese alguma” (SIC). A circular que foi distribuída sequer citava a existência e o recebimento do documento que foi elaborado pelos militantes do LGBT Comunista — DF e, quando foi questionado aos assistentes do Coletivo se nossa carta havia sido realmente ignorada pela Coordenação Nacional, a resposta que tivemos foi a orientação, que já é prática recorrente dentro do Partido, de esperar uma resposta individualizada para o nosso Coletivo, já que a circular distribuída nacionalmente não abordaria encaminhamentos específicos de um Coletivo. Essa resposta, por óbvio, nunca chegou. Ora, camaradas, se, na tentativa de buscar caminhos para a solução de uma crise que afeta toda a militância, o Coletivo produziu um documento sugerindo uma plenária nacional, que certamente não foi ideia exclusiva do nosso núcleo, por que razão essa sugestão não poderia ser, pelo menos, citada na circular produzida pela reunião onde o documento foi lido e deliberado? Da mesma forma seguiram todas nossas indagações para a CN e CR.

A sensação que o nosso núcleo experimentou foi de impotência, abandono e silenciamento, principalmente quando, após uma reunião extraordinária realizada pela CN, decidiu-se pelo afastamento de um camarada da direção distrital do Coletivo em retaliação por incentivar o debate dentro do Coletivo, trazer as discussões para dentro do nosso espaço orgânico, e se posicionar, o que foi descrito como “incitar conflito” e “tensionar a base”, algo que, de acordo com eles, “não é esperado de alguém em uma posição de direção”. De fato, esperava-se que colocássemos uma venda enquanto o partido desmoronava à nossa volta em nome de uma frágil aparência de unidade. Essa situação impossível na qual nos encontrávamos levou à quebra de camaradas. Isso não é acidente, é método. E com esse método é impossível se construir um partido pautado no centralismo democrático.

A Reconstrução Revolucionária se apresenta como uma possibilidade de revitalizar o PCB e de retomar os princípios do marxismo-leninismo que nos levam a lutar pela emancipação da classe trabalhadora. Nos dá a oportunidade ímpar para que nos debruçamos, com honestidade e coragem, sobre nossas profundas contradições, nos permite lutar, criar e construir o Poder Popular, fazendo com que este deixe de ser uma palavra de ordem vazia, mas sim uma práxis revolucionária. Ao declararmos nossa adesão ao XVII Congresso Extraordinário do PCB e à Reconstrução Revolucionária, reafirmamos nosso compromisso na luta por um partido comunista revolucionário, verdadeiramente inclusivo, democrático e comprometido com a liberação dos oprimidos.

Camaradas, conclamamos a todes a se unirem a nós nesse processo de aprofundamento da reconstrução revolucionária, a compartilharem suas vozes e experiências no debate para fortalecer o PCB e transformá-lo em uma força ainda mais poderosa na luta pela emancipação da classe trabalhadora rumo ao socialismo.

Fomos, somos e seremos comunistas

Saudações comunistas

Coletivo LGBT Comunista — Distrito Federal

Assinam esta carta:

João Barbosa

Rafa Pardan

Kamilla Massilon

Lucas Rodrigues

Alinne Pereira