Associação de Moradores da Bode Zé e UJC realizam evento de comemoração dos 50 anos de Hip-Hop
No domingo, dia 26 de novembro, a Associação de Moradores da Bode Zé e a União da Juventude Comunista se uniram para promover o "Evento 50 Anos de Hip-Hop". A celebração ocorreu das 17h às 22h30.
Por Núcleo Zona Oeste da UJC-SP
No domingo, dia 26 de novembro, a Associação de Moradores da Bode Zé e a União da Juventude Comunista se uniram para promover o "Evento 50 Anos de Hip-Hop". A celebração ocorreu das 17h às 22h30.
O propósito central do evento foi homenagear e fortalecer a cultura periférica ao comemorar os 50 anos do movimento Hip-Hop. Além disso, a ação buscou destacar a luta contra a privatização dos presídios, o extermínio da juventude negra e a violência direcionada às mulheres negras.
O evento contou com a participação dos artistas: DJ Fiel da ZN, Ideologia Fatal, Manos Urbanos e a Escola de Samba Acadêmicos do Butantã.
Localizada no Butantã, a 1 km da Universidade de São Paulo, a favela da Bode Zé enfrenta uma realidade de dura opressão do capital. A ausência de projetos culturais na região e o custo elevado do transporte público têm limitado o acesso dos moradores, especialmente das mães solteiras, aos centros culturais da cidade. Esta iniciativa representa mais um esforço da recém-fundada Associação de Moradores em enfrentar a tentativa de privação de cultura por parte do Estado.
A questão da privatização dos presídios, planejada e executada durante o governo Lula (PT), foi denunciada como mais uma forma de opressão à população negra brasileira. A favela da Bode Zé e suas áreas adjacentes, como POLOP, Camarazal, 1010 e São Remo, sofrem diretamente as consequências da repressão policial.
Carol, presidente da Associação de Moradores, compartilhou sua visão sobre o evento: “Novembro é um mês de intensa luta, estamos empenhados na batalha contra a privatização dos presídios. Queremos conscientizar e mobilizar a comunidade da Bode Zé. [...] Neste evento, destacamos grupos da própria comunidade, [...] todos cria da comunidade, aqui e no Butantã”.
Thiago, membro ativo da Associação, fez denúncias acerca da recente ação do Estado em relação aos encarcerados em penitenciárias federais: “Familiares relatam tentativas frustradas de visitas, chegaram lá e foram negligenciados pela polícia, [...] houve bagunça na comida e a visita foi impedida de entrar. O sistema diz que o tempo de visita aos presos foi cortado por período indeterminado. O preso de uma penitenciária federal não difere daquele de uma CDP. São seres humanos com direitos [...]. O descaso não é apenas com o preso, mas também com sua família.”
Wanda, líder comunitária e moradora da 1010, discorreu sobre a ligação entre a Bode Zé e a 1010: “Existe uma divisão na mente dos moradores, mas estamos lutando para unir as associações, todos juntos. [...] Somos todos 1010. A formação desta Associação é de extrema importância, temos muitas pessoas carentes, sem moradia digna, falta de assistência médica adequada. Antes, a USP atendia plenamente, agora apenas 30%. Também tem muito desemprego e falta de recursos para transporte. Os médicos não atendem mais aqui. [...] Gostaria de dizer: vamos acordar e nos unir. Vamos lutar por um Brasil melhor.”
O Evento de Hip-Hop teve como objetivo aproximar-se do setor artístico da comunidade, fortalecendo vínculos com as lideranças locais. A União da Juventude Comunista participou em todas as fases do processo: desde a concepção até a pós-produção do evento, acreditando que a união entre a Associação de Moradores da Bode Zé e o Partido Comunista aumentará a consciência média do proletariado local.
Durante o evento, a UJC fez uma fala pública denunciando a política petista de privatização dos presídios. Segue:
“A privatização dos presídios é um exemplo do que é o liberalismo na prática. É uma gestão pública, do Estado brasileiro, sendo apanhada pela gestão privada, de meia dúzia de burgueses. É dar poder à burguesia e tirar poder do povo.
Não apenas antidemocrática, já que o setor privado não deveria ter poder sobre a gestão do País, mas também racista! Esta é só mais uma forma de vender a população preta e periférica, que é a única população que é presa no Brasil - até porque ninguém aqui é criança né... a gente sabe que a lei bate diferente dependendo de onde você pisa e dependendo de quem você é. Ninguém é preso em Higienópolis. Eles querem reduzir gastos públicos e diminuir o tamanho do Estado. É vender a democracia.
O programa das privatizações começa com Temer, que bem sabemos o que ele fez com os direitos trabalhistas e com a aposentadoria de todos que estão aqui, mas nem ele teve culhão de colocar os presídios neste programa. Já o governo Lula e Haddad, para agradar a base conservadora e liberal (a meia dúzia de acionistas, a burguesia), colocaram os presídios, a educação e a saúde nesse programa de privatizações!
E é claro que esse tipo de política agrada demais a vermes como o Tarcísio, que avança em tempo recorde a privatização do Metrô, da CPTM, da SABESP e até da Fundação Casa, antiga FEBEM.
A gente tá fazendo essa denúncia porque se esse programa seguir pra frente, vamos ficar tal qual os Estados Unidos, em que tem taxa mínima de presos, trabalho forçado para empresas e até dívidas para estadia.
Nós, da UJC, estudamos essa situação como a continuação de um projeto histórico. “Brasileiro” é aquele que trabalha com pau-brasil. Desde 1500, com a colonização, passando por Dom Pedro, Primeira República, Getúlio, Ditadura Militar, Democracia, Collor, FHC, Dilma, Temer, Bolsonaro e Lula: todos eles, TODOS, sem exceção, estão dispostos a vender o povo preto trabalhador para pagar as dívidas dos empresários ricos, da burguesia. É histórico, não de um governo ou de outro. Não queremos derrotar o projeto de exploração do povo preto e pobre hoje: queremos acabar com a exploração para sempre. A luta que fazemos hoje é em nome das lutas passadas. “Exu matou um pássaro ontem com uma pedra que atirou hoje”, a luta é agora!
Bom, agora, denunciar é a parte fácil. Precisamos ter duas coisas muito bem colocadas aqui: 1) O que fazer, e 2) Como fazer.
Precisamos vigiar e cobrar os políticos, nas ruas e nas redes, temos de mostrar que não somos gado indo pro abate. Temos que cobrar governadores, prefeitos, deputados, vereadores e o presidente! Para que eles se posicionem publicamente contra essa política racista e apoiem iniciativas de luta, como essa.
E mais importante, temos de pressioná-los coletivamente. A verdade é que sozinhos somos fracos. Temos de nos organizar em grupo. Todo trabalhador, ou filho da classe trabalhadora, precisa se organizar, seja na União da Juventude Comunista, seja na Associação de Moradores, seja em outro lugar!
Sozinhos não podemos muito, mas, organizados coletivamente, não só vamos derrubar essas políticas racistas, mas tantas outras, como a “guerra às drogas”, que só servem pra prender morador de comunidade preto. Vamos pautar uma política nacional de emprego, renda e moradia, e jogar no lixo o novo teto de gastos. E o mais importante: vamos acabar com tudo que é reacionário e abrir os braços para uma nova forma de organização, que é o socialismo-comunismo, em que a gente vai tomar o que nos pertence e pôr fim a essa história de mais de 500 anos de morte e exploração do povo preto e periférico.
Não podemos nos deprimir ou acovardar, não teremos medo de nenhum Sr. Tarcísio. Medo a gente tem de barata que voa, agora de vermes como aqueles que oprimem a nossa classe, os nossos pais, os nossos camaradas, que perseguem e matam nossos amados, desses nós teremos nojo. Medo a gente tem de barata, de verme a gente tem nojo.
Muito agradecida pela atenção, muito agradecida pela presença hoje, muito obrigada à todos os artistas. Bom final de evento. Lutar, criar, poder popular!”