Contra ataques fundamentalistas, Marcha da Maconha defende o fim da guerra aos pobres e a autonomia do corpo

Sob o lema “Bolando O Futuro Sem Guerra”, a 16ª edição da Marcha da Maconha em São Paulo denunciou, através do Manifesto da Marcha, o caráter racista e antipopular da chamada "Guerra às drogas". A marcha aconteceu no último domingo (16/06), reunindo dezenas de milhares de pessoas nas ruas.

Contra ataques fundamentalistas, Marcha da Maconha defende o fim da guerra aos pobres e a autonomia do corpo
Reprodução: Redes Sociais / Créditos: Lucas Martins

Por Redação

Sob o lema “Bolando O Futuro Sem Guerra”, a 16ª edição da Marcha da Maconha em São Paulo denunciou, através do Manifesto da Marcha, o caráter racista e antipopular da chamada "Guerra às drogas". A marcha aconteceu no último domingo (16/06), reunindo dezenas de milhares de pessoas nas ruas.

Parte do Manifesto aponta: "Sabemos que a proibição das drogas é o combustível da guerra do Estado contra pessoas negras, pobres e moradoras de quebradas. [...] A grande mentira da proibição é repetida para sustentar a indústria das armas, prisões e chacinas. Uma ideologia racista que transforma a corrupção em rotina, alimentando mercados armados, violentos e lucrativos que crescem dia após dia."

Reprodução: Redes Sociais / Créditos: Lucas Martins

O protesto, que agitava palavras de ordem contra o fascismo e contra a bancada fundamentalista, ocorreu dias após mais um ataque por parte da Câmara dos Deputados. Na quarta-feira (12/06), a Comissão de Constituição e Justiça aprovou a PEC 45 de 2023, que criminaliza o porte e a posse de todas as drogas em qualquer quantidade. Não por coincidência, a aprovação veio no mesmo dia em que o plenário da Câmara aprovou a urgência do PL 1904 de 2024, que equipara o aborto acima de 22 semanas de gestação ao crime de homicídio, mesmo em casos de estupro. Trata-se de uma ofensiva combinada dos setores mais reacionários do Parlamento brasileiro, com o apoio do direitista Arthur Lira, presidente da Câmara.

Se aprovada, a PEC 45 ampliará ainda mais os poderes do Estado brasileiro para avançar no encarceramento em massa do povo pobre, em especial suas camadas negras e jovens. Numa época em que o próprio governo federal promove a privatização dos presídios e financia os verdadeiros manicômios ligados a diversos grupos religiosos (as chamadas “Comunidades Terapêuticas”), a criminalização das drogas e o encarceramento em massa se revelam um negócio cada vez mais lucrativo para a burguesia brasileira. Quem paga a conta é a classe trabalhadora brasileira - e paga com sua liberdade, com seu sangue e com sua vida.

Na manifestação deste domingo, também foram entoadas palavras de ordem contra o PL 1904 e em defesa da autonomia das mulheres e das pessoas que gestam sobre seus próprios corpos. Embora ambas bandeiras (o fim da criminalização do aborto e das drogas) digam respeito à efetivação de liberdades individuais, à não intervenção do Estado na liberdade sobre o próprio corpo; elas certamente não se esgotam nesse aspecto. A dimensão coletiva do problema, em especial a máquina de guerra montada para a reprimir e privar as massas pobres do acesso às mais elementares liberdades, não pode ser colocada em segundo plano.

Reprodução: Redes Sociais / Créditos: Lucas Martins

Ambas pautas nos lembram constantemente que as classes dominantes brasileiras, apesar da sua fraseologia liberal, nunca tiveram qualquer compromisso com a liberdade para as massas não proprietárias. Para essas, sempre reservaram apenas a mais brutal face do Estado - a violência policial e o cárcere. Por isso mesmo, ainda mais em nosso país de capitalismo dependente, são tão fundamentais para as forças anticapitalistas essas lutas contra o encarceramento em massas, a guerra às drogas, pelos direitos sexuais e reprodutivos, entre outras.

A 16ª edição da Marcha da Maconha se coloca como mais um passo em direção a uma luta vigorosa e sem conciliação contra o fascismo, o reacionarismo e o obscurantismo que se fortalecem a cada dia na política nacional.