As Paralimpíadas e a democratização das mídias

Em meio a mais uma ótima participação da delegação de atletas paralímpicos do Brasil nos Jogos de Paris 2024, uma questão não se faz difícil de se notar: a cobertura e possibilidade de acesso às transmissões dos jogos é baixíssima.

As Paralimpíadas e a democratização das mídias
Gabriel Araújo atleta da natação e medalhista brasileiro nos Jogos Paralímpicos em Paris-2024 / Reprodução: O Globo. Foto: Wander Roberto / CPB.

Por Redação

Em meio a mais uma ótima participação da delegação de atletas paralímpicos do Brasil nos Jogos de Paris 2024, uma questão não se faz difícil de se notar: a cobertura e possibilidade de acesso às transmissões dos jogos é baixíssima.

A cobertura dos Jogos Paralímpicos de Paris está sendo feita apenas pelo Grupo Globo e sendo reservada ao acesso apenas via canal pago SporTV 2 e ao streaming, também pago, GloboPlay. Devido a simultaneidades das competições, e apenas a transmissão por um único canal, alguns dos eventos não estão tendo transmissão ao vivo, sendo reservados a passarem depois como pequenas pílulas jornalísticas durante a programação até mesmo do canal fechado.

Porém nem sempre foi assim e a transmissão paralímpica nem sempre foi controlada apenas por um único grande conglomerado de comunicação. Nos jogos do Rio 2016 e Tokyo 2020 a TV Brasil, rede de televisão do conglomerado público de mídias EBC (Empresa Brasil de Comunicação), chegou a transmitir os jogos e produzir uma cobertura jornalística acompanhando o desempenho dos nossos atletas.

Contudo, a EBC e o debate de democratização das mídias, até mesmo nos governos petistas do começo do século, nunca foi levado a cabo de maneira a se ter divulgação e construção de uma sólida rede pública de comunicação informação e complexo cultural.

Tal falta de construção sólida de uma rede pública de televisão, e o apagamento sobre esse debate nos últimos anos, tendo em vista que já foi um tema que se faz presente nos círculos mais críticos da sociedade, fez com que a EBC sofresse diversos cortes em verba e em salário dos funcionários nos últimos anos e chegasse até ser adicionada Programa Nacional de Desestatização pelo governo Bolsonaro. Podemos afirmar que tais cortes e enfraquecimento colaboram para o atual cenário onde hoje a TV Brasil já não consegue mais cobrir e transmitir as paralimpíadas como antes e facilitam concentrar sua distribuição apenas na mão do Grupo Globo.

Até esse momento o Brasil já ganhou mais de 30 medalhas nos Jogos Paralímpicos de Paris, sendo elas mais de uma dezenas de medalhas de ouro, tendo a perspectiva de superar o 7º lugar no quadro geral de medalhas da edição passada. Com a falta da transmissão da TV Brasil e com a Rede Globo televisionando de maneira aberta apenas alguns poucos trechos ao vivo e se concentrando apenas na divulgação jornalística, sem a transmissão dos acontecimentos em seus canais ou portais abertos, poucos desses momentos puderam ser acompanhado pela população brasileira como foi durante os Jogos Olímpicos, tal falta ajuda a não mobilizar os esportes paralímpicos e de seus atletas.

A falta de acesso às transmissões das paralimpíadas, ou de outros eventos que acabam por passar por processos parecidos com as séries inferiores do campeonato brasileiro de futebol ou os campeonatos femininos de futebol e até mesmo de outras modalidades, abre uma importante brecha para a retomada do debate sobre a democratização das mídias.

Através da falta de transmissões como essas se pode abrir um importante diálogo sobre os repasses que o governo federal faz aos grandes conglomerados privados de comunicação via verba destinada para publicidade, como os mais de R$ 257 milhões de reais investido em redes privadas de televisão, e sobre as dívidas públicas que tais conglomerados têm com o Estado Brasileiro.

Tal agitação deve ser sempre acompanhada de um horizonte socialista de maneira que busque conectar as lutas imediatas e cotidianas à luta revolucionária, a fim de debilitar a dominação da burguesia e suas condições de resistência contra os trabalhadores. Para encarar de frente tal questão, em nossas resoluções congressuais adotamos o seguinte ponto programático pelo qual lutam os comunistas: 

“27. Confisco e socialização de todos os grandes meios de produção audiovisual, teledifusão e radiodifusão. Controle social sobre a imprensa e todos os meios de comunicação e informação e do complexo cultural. Reestruturação dessas empresas sob controle operário.” (pag.52).

Retomar o debate pela democratização das mídias no sentido da construção de um complexo público de comunicação e imprensa é tarefa para que todos possam assistir, saber e acompanhar qualquer evento esportivo que esteja ocorrendo e não sejamos dependentes dos grandes grupos privados de comunicação.