Vermelho sangue, vermelho Palestina: um ano da guerra de extermínio
O 7 de outubro rememora que a revolução palestina não é um momento estático na história, mas uma jornada contínua em sua sétima década, que só será alcançada por meio da unidade, do sacrifício e da solidariedade.
Por Redação
O Ministério da Saúde em Gaza publicou no início de outubro um documento, trazendo um levantamento oficial sobre os números acerca do conflito que completou um ano na segunda-feira, dia 7 de outubro. Dessa forma, com mais de 366 dias de conflito, sabemos que ocorreram 3.654 massacres organizados pelo regime sionista. Dos civis martirizados, 171 eram bebês recém-nascidos, 710 eram bebês com menos de um ano e 16.927 eram crianças.
Os números denunciam a extensão da barbárie colonizadora sionista. Há um total de 902 famílias que foram assassinadas pela ocupação israelense, tendo todos os seus membros completamente liquidados do registro civil. Quanto ao número de feridos, o número beira a marca dos 100 mil. Vale ressaltar que os profissionais da saúde também foram alvos da IDF (Forças de Defesa de Israel), visto que 986 pessoas que faziam parte de equipes médicas especializadas foram martirizados e 310 foram presos. No que tange aos ataques diretos à classe trabalhadora, o caso dos jornalistas se tornou emblemático: a ocupação está deliberadamente assassinando jornalistas em Gaza. Atualmente, 175 profissionais foram martirizados, 396 feridos e 36 presos.
Os profissionais da educação não escapam dessa lógica assassina. Foram 337 escolas e universidades atacadas e parcialmente destruídas, enquanto 125 escolas e universidades foram completamente destruídas pelos colonizadores. Em relação aos estudantes, 785.000 alunos foram impedidos de estudar enquanto 12.700 se tornaram mártires. O número de professores e profissionais da educação mortos por Israel soma 85.750, para além dos 130 cientistas, professores universitários e pesquisadores executados pela ocupação.
Sequer a liberdade religiosa foi respeitada. Mesquitas que sobreviveram séculos de história, como é o caso da Jāma’ Ghazza al-Kabīr, ou Grande Mesquita Omari, datada do ano de 406, construída pelos filisteus, foi destruída pela incursão israelense. Não só o Islã é atacado pela ocupação: se 814 mesquitas sucumbiram ao sionismo, completamente destruídas, foram também 80 as igrejas que tiveram o mesmo destino. Patrimônios históricos e sítios arqueológicos, assim como templos religiosos, não foram poupados, mesmo quando tombados pela UNESCO: 206 foram destruídos pela ocupação.
A bestialidade da colonização sionista não se freia perante ao falecimento. As forças israelenses construíram mais de sete valas comuns em hospitais que foram alvos de suas operações, desrespeitando os direitos básicos dos falecidos e de suas respectivas famílias – ocultando os números reais do genocídio. Para além disso, 2.300 corpos foram roubados dos cemitérios de Gaza. Ainda sobre os cemitérios, 19 dos 60 desses foram destruídos pela ocupação, possivelmente objetivando o apagamento histórico dos palestinos.
Foram 187 abrigos humanitários feitos de alvo das incursões sionistas. Esses abrigos eram a única opção de segurança para os civis em diversas ocasiões, visto que as fronteiras de Gaza foram fechadas pelas forças israelenses e o refúgio exterior impossibilitado por 152 dias no último ano.
Devido à precariedade do território, cuja superfície foi bombardeada em 86%, a calamidade de Gaza provocada pelo colonialismo de Israel se expande para a saúde. Atualmente, são 1.737.524 pessoas infectadas com doenças contagiosas devido ao deslocamento forçado, 71.338 casos de hepatite, 60.000 mulheres grávidas correndo risco de vida e de perderem a gravidez, 350.000 pacientes de doenças crônicas em estado de risco devido à proibição de entrada de remédios por Israel. Ressalta-se que 34 hospitais de Gaza foram retirados de serviço pela colonização israelense enquanto 162 instituições de saúde se tornaram alvo de incursões da IDF.
Um ano após o 7 de outubro de 2023, são 2.000.000 de deslocados na Faixa de Gaza. O conflito deixou 83% da população em situação de deslocamento interno forçado em menos de três meses. Um dos objetivos da ocupação é intensificar a permanente política de deslocamento do povo palestino, que deu a tônica da colonização sionista durante as últimas sete décadas, como parte dos planos de judaização e limpeza étnica da região.
Em termos de infraestrutura, 3.130 quilômetros de rede elétrica foram inutilizados, ao mesmo tempo que 330.000 metros lineares dos sistemas de água foram destruídos. Quanto aos poços de água, receberam igual tratamento: 700 desses foram destruídos e inutilizados pela ocupação israelense. Quanto ao saneamento básico, o destino foi semelhante: 655.000 metros lineares completamente esfacelados. Todas essas questões de infraestrutura, é importante evidenciar, contribuem não só para o estado de calamidade geral, como para tragédia de saúde que se instaura em Gaza. Cada metro destruído contribui para mais um civil martirizado pelo genocídio.
Grandes líderes desta luta foram martirizados. Entre eles o líder, Sayyed Hassan Nasrallah, do Hezbollah, Ismail Haniyeh, do Bureau Político do Hamas, Saleh Al-Arouri, comandante fundador das Brigadas Izz Ad-Din Al-Qassam, e uma longa lista de quadros da FPLP, liderados pelo camarada Nidal Abdul Aal.
No campo político e internacional, a ocupação sionista se viu em um isolamento sem precedentes, com protestos em todo o mundo contra seus crimes brutais. A Corte Internacional de Justiça (CIJ) emitiu decisões condenando os crimes da ocupação. A pressão internacional sobre a entidade aumentou nos fóruns globais, e a voz palestina se elevou contra as mentiras sionistas, levando a protestos sem precedentes, particularmente em universidades ao redor do mundo. A ofensiva estendeu-se, para além de Gaza, à Cisjordânia, Iêmen, Líbano, e, pontualmente, Iraque e Síria.
Apesar disso, ao completar um ano desde 7 de outubro de 2023, o presidente estadunidense Joe Biden prestou homenagem às vítimas “israelenses” acendendo uma vela yahrzeit em uma cerimônia junto ao rabino Aaron Alexander.
Joe Biden refirma seu compromisso com o cessar-fogo, apesar dos EUA serem responsáveis por 69% das armas importadas por Israel e usadas no genocídio. Na ocasião da reunião de emergência convocada no Conselho de Segurança da ONU, os representantes americanos subiram o tom com a diplomacia iraniana, em defesa irrestrita à entidade sionista, que é a maior beneficiária cumulativa da ajuda externa dos EUA desde sua fundação, recebendo cerca de US$ 310 bilhões (ajustados pela inflação) em assistência econômica e militar no total.
Em nosso país, enquanto o presidente Lula vocifera nos fóruns internacionais palavras mais duras contra o regime israelense, no Congresso, deputados de oposição anunciam um pedido de impeachment do presidente por suas declarações. O presidente, que coleciona bravatas e gestos simbólicos, não tomou quaisquer medidas concretas em represália à ofensiva israelense. Mantém até hoje os acordos militares bolsonaristas de cooperação com Israel, e sequer assinou a denúncia sul-africana na CIJ, que afirmou apoiar. Na ocasião do 7 de outubro, o Itamaraty publicou nota escandalosamente sionista e desonesta, na qual repudiou “um ano dos ataques terroristas do Hamas”, solidarizou-se com “a família de todas as vítimas e com o povo israelense” e reduziu a resistência palestina à “invasão do território israelense (sic) por terroristas”.
Embora Israel represente apenas 0,37% da corrente de comércio com Brasil, configurando-se como uma balança comercial quantitativamente irrisória, as exportações do Brasil para o regime sionistas fecharam em US$662 milhões em 2023, tendo como principais grupos exportados petróleo, carne bovina e soja. Ademais, o Exército brasileiro comprou blindados de fabricante de armas e sistemas militares de Israel, em licitação que chegará ao valor de $ 1 bilhão, em contrato suspenso que gera tensionamentos públicos dos setores mais direitistas do governo federal. Cessar o financiamento da ofensiva imperialista e colonial sionista não está na agenda do Governo Federal.
O 7 de outubro rememora que a libertação nacional palestina não é um momento estático na história, mas uma jornada contínua em sua sétima década, que mobiliza cada setor da nação em um esforço constante por libertação da ocupação, da opressão e do colonialismo, que só será alcançada por meio da unidade, do sacrifício e da solidariedade.