'Ultimamente, jornal em papel só serve de banheiro para pet' (Rafael Gelli)

No momento histórico e técnico em que vivemos a produção e a circulação de informação, que possa organizar o nosso Partido, deixa de ter apenas uma única plataforma, como o papel, e passa a ganhar acessos em diversos formatos.

'Ultimamente, jornal em papel só serve de banheiro para pet' (Rafael Gelli)
"Mesmo esses conglomerados de empresas de comunicação tendo o apoio político e financeiro da burguesia, a circulação dos jornais impressos desse grupo a cada ano reduz, contudo sua influência política no meio da classe trabalhadora segue inquestionável."

Por Rafael Gelli para a Tribuna de Debates Preparatória do XVII Congresso Extraordinário.

Escrevo a seguinte tribuna buscando diálogo com as tribunas que versam sobre o jornal como Órgão Central do partido e que debatem o uso das tecnologias para a organização partidária. Agradeço aos camaradas por iniciar o debate organizativo em torno de uma ferramenta centralizada, porém para já me adiantar tenho que dizer aos que tem fetiche em papel que, infelizmente, na maioria dos casos jornal impresso virou só banheiro de pet ou proteção de piso em dia de pintura.

Em primeiro, gostaria de apontar o meu acordo com a forma Jornal como a que tem a capacidade de cumprir o papel de um Órgão Central de uma organização revolucionária, contudo, gostaria de apresentar que essa forma não se restringe a sua produção impressa, tendo essa como uma das suas plataformas de apresentação, mas nem como a única e nem como a principal.

Ao pensar a forma Jornal, como um OC de uma organização revolucionária, acredito que devemos buscar estabelecer essa forma como um aparelho capaz de produção e veiculação de informação, capacidade de pautar debates, formação de opinião pública e organizador da polêmica e literatura comum, além da capacidade de organização da vida interna do Partido. A minha grande e essencial ressalva com a questão do Jornal como OC do Partido não se dá a sua forma, mas se dá ao dizer que esse aparelho deva estar concentrado em uma publicação impressa, como já apresentado nas tribunas preparatórias para o nosso XVII Congresso.

Nesta tribuna busco apresentar que a forma Jornal, devido ao momento histórico e aos avanços técnicos-científicos-informacionais, consegue se apresentar em outras plataformas que não só a imprensa, sem perder suas características gerais e sem perder aquilo que o pode definir como um OC de um Partido Revolucionário.

Se pensarmos na distribuição dos jornais impressos da mídia burguesa, que no caso tem o facilitamento econômico e político da burguesia para circulação, podemos ver que o número da tiragem impressa cai ano após ano. Somando os jornais mais vendidos do país, suas tiragens impressas não chegam a mais de 400 mil jornais vendidos, ou seja, são acessados por no máximo 0,2% da população brasileira[1]. O principal e ainda mais vendido jornal do Brasil é O Globo, seguido pelo Estadão, Super Notícia e Folha. Há de se apontar que todos eles fazem parte de conglomerados de empresas de mídias, contudo para se atentar em apenas em irei trazer o apontamento de que o grupo que organiza e produz o jornal O Globo, que é o maior conglomerado de mídia da América Latina, contando com produção audiovisual, radiofônica, editoração, cinematográfica etc[2]. O Grupo Folha também é um conglomerado de produção e circulação de informação que circulam tanto no meio físico, pelo jornal impresso, quanto no meio digital, seja com a própria mídia Folha, seja com o UOL, que também faz parte desse grupo midiático, além de empresas como o DataFolha fazem parte desse mesmo conglomerado, empresa essa que produz pesquisas que pautam os conteúdos das publicações de outras empresas desse mesmo grupo e até mesmo de empresas de outros grupos midiáticos.

Mesmo esses conglomerados de empresas de comunicação tendo o apoio político e financeiro da burguesia, a circulação dos jornais impressos desse grupo a cada ano reduz, contudo sua influência política no meio da classe trabalhadora segue inquestionável. Podemos notar tal questão na informação que 8 em cada 10 brasileiros com acesso à rede consumiram conteúdo nas plataformas do Grupo Globo, chegando assim em mais de 100 milhões de pessoas [3].

Ao observar o acesso às mídias de audiovisuais, como televisão e programação via plataforma streaming, todos esses conglomerados de mídias marcam seus territórios nesses espaços buscando efetivar sua linha política ao apresentar a informação de forma que pautam o debate público. Assim, esses conglomerados diversificam os seus canais de acesso ao público visando garantir o que é o seu principal papel: o de agente de coesão ideológica da burguesia.

A pontuação que trago busca mostrar que no momento histórico e técnico em que vivemos a produção e a circulação de informação, que possa organizar o nosso Partido, deixa de ter apenas uma única plataforma, como o papel, e passa a ganhar acessos em diversos formatos. Mesmo que Lênin não tenha debatido a questão do uso do jornal como OC, exclusivamente, devido a sua capacidade técnica como apontado por um camarada em tribuna, a sua distribuição se dar em papel era o limite técnico de formar um aparelho organizador político-ideológico em seu tempo. Essa questão já foi identificada e entendida pela burguesia do setor, que usa das diversas plataformas possíveis a fim de garantir a hegemonia da política burguesa que representam, a dúvida que fica é se seremos ou não capazes de usar também dessas diversas plataformas para a produção de um Órgão Central, ou se serão subestimadas e colocadas como apenas como adendos de um jornal impresso.

Concordo com os camaradas Machado e Deutério [4, 5] quando eles apresentam a possibilidade do jornal como o Órgão Central do Partido, também pela sua capacidade de organizar a vida interna da organização, concordo com os exemplos de que com a ciência do número de jornais vendidos por um núcleo podemos ter conhecimento de núcleos que têm a capacidade organizativa de operar uma tarefa de brigada de jornais e os que estão inorgânicos a ponto de não conseguir operar tão questão, da sua capacidade de repasse financeiro contínuo, etc. Concordo tanto na questão do aparelho Jornal como organizador coletivo e como o OC de nosso Partido que acredito que é um erro limitarmos o OC ao um jornal impresso e não entendermos a estrutura da forma Jornal, em nosso tempo histórico, como um conglomerado de plataformas que possam ser capaz de, juntamente articuladas pela estrutura central do Jornal (Conselho Editorial), dar conta da produção e veiculação de informação, da capacidade de pautar debates, da formação de opinião pública e da organização da polêmica e literatura comum. Justamente por isso acredito que a plataforma impressa não deva ser descartada, contudo, deva ser apenas mais uma de diversas plataformas.

Se pensarmos o jornal impresso, limitando aquilo que o capacita como OC apenas pela sua capacidade logística de distribuição de pessoas e materiais pelo brasil, devemos então pensar que OC de um Partido revolucionário pode ser apenas uma empresa de logística de entregas, mais assemelhada com os Correios do que com um grupo de comunicação. Fora que mesmo os setores não impressos de um jornal revolucionário também dependerá da nossa capacidade de organização logística e de distribuição de material e pessoas. Garantir que em todos os principais acontecimentos políticos tenhamos uma equipe de cobertura audiovisual é uma tarefa logística imensa e que em tempos de mobilização é o mesmo que destacar um grupo de ação rápida e equipado. Um jornal com plataforma digital garante publicação de todas as matérias que possam ser escritas, fazendo assim com que todas as contribuições que versem sobre um determinado local possam ser nacionalmente acessadas, o que em plataforma impressa estará sempre limitado a apenas estar presente em folhas volantes, tanto pela necessidade de caráter nacional de nosso jornal, mas também pela questão da limitação técnica e a impossibilidade da publicação de um número muito alto de informação em um mesmo jornal impresso, questão essa que as plataformas digitais conseguem superar e possibilitam um número de publicação quase infinita e com uma velocidade de ação muito mais rápida.

Entendo que a necessidade da construção de um Órgão Central em nosso partido se dá claramente pela forma Jornal, contudo ainda acredito que não apenas em plataforma impressa, mas no entendimento dessa forma Jornal como um conglomerado de comunicação que alternam as suas vias de difusão. Esse conglomerado de comunicação deve então contar com o jornal impresso, jornal em vídeo, produção de pesquisa, produtora audiovisual, revista teórica, rádio, editora, etc. Todas em um mesmo guarda-chuva e centralizadas por esse Órgão Central e seu Conselho Editorial.

Entendo que o que o camarada Franzoni nos trouxe em sua tribuna[6] não garante a estrutura organizativa de um OC que os camaradas Deutério e Machado nós trazem, e que também acredito que só poderá ser superada e resolvida com a sua caracterização pela forma Jornal, contudo por mais que isso seja resolvido por um conglomerado de comunicação pública, como será resolvido uma das questões, que acredito que o camarada coloca, que é a possibilidade de uma plataforma de socialização e conhecimento de trabalho e acúmulos políticos?

Como teremos fácil acesso a sistematização de acúmulos dos trabalhos políticos de um determinado núcleo? No site do nosso jornal haverá uma guia nomeada “tribunas de acúmulos”? ou haveremos de colecionar links ou encartes de jornais impressos para poder ter acesso a boas práticas políticas e organizativas de outros núcleos? Haverá uma guia no site do Jornal nomeada como “Organograma da Organização” para que eu possa saber quem é a pessoa responsável por cada pasta no nível superior e nos níveis intermediários de nosso Partido? Sendo esse o mínimo de conhecimento que os militantes da base devem ter acesso.

Acredito que nem tudo em nossa organização deva ser extremamente público pelas vias do Jornal e que ainda haverá de existir informações e debates internos. Então eu reforço a questão do camarada Franzoni, continuaremos usando o Google Groups, o Signal, o Meet, etc? Não há de se questionar também a organização de um portal INTERNO de comunicação, centralização e sistematização de informações para o Partido?

Entendo que esse debate não garante a organização do Órgão Central de nosso Partido e está mais associado a um debate de segurança e sistematização de informação, mas a operacionalização de uma plataforma interna de comunicação é sim também a operacionalização de uma das ferramentas de organização interna.

Por fim camaradas, espero que possamos sair de nosso XVII Congresso com a capacidade de organização de um Órgão Central em um verdadeiro Jornal que se apresente de diversas formas e que tenha a capacidade nacional de nos auxiliar a avançar, sem freios, rumo a Revolução Brasileira.

Referências

[1] https://www.poder360.com.br/economia/jornais-impressos-circulacao-despenca-161-em-2022/

[2] https://brazil.mom-gmr.org/br/proprietarios/empresas/detail/company/company/show/grup o-globo/

[3] https://g1.globo.com/economia/midia-e-marketing/noticia/2018/11/26/grupo-globo-bate-rec orde-de-acessos-no-digital-e-passa-de-100-milhoes-de-usuarios-unicos.ghtml

[4] https://emdefesadocomunismo.com.br/jornal-nao-foi-ultrapassado/

[5] https://emdefesadocomunismo.com.br/pela-construcao-de-um-oc/

[6] https://emdefesadocomunismo.com.br/comunistas-de-iphone-aplicativos-como-forma-organizativa-e-dinamizador-partidario/