'Pela construção de um Órgão Central à altura do nosso povo: resposta a Bruno Franzoni' (Deutério)
Precisamos ter claro que a prioridade para o partido precisa ser a construção de um jornal impresso como OC do partido. Assim, a maior parte das forças precisa estar alocada nessa tarefa.
Por Camarada Deutério para Tribuna de Debates Preparatória do XVII Congresso Extraordinário.
Para um partido leninista, um jornal não deve apenas uma forma de transmitir informação, como também deve ser o Órgão Central (OC) do partido. Um OC tem como tarefa central unificar ideologicamente o partido, através da sua direção ideológica. Simultaneamente, o OC também é o fio organizativo do partido, conectando orgânica e fisicamente todos os organismos do partido, o que prepara o partido para momento de crise do capital, bem como gera a estrutura necessária para nacionalização, possibilitando girar o trabalho de um local com mais militantes para outro que tem mais necessidade.
O trabalho de unificação ideológica do OC ocorre principalmente de três formas: através do compartilhamento de experiências diversas que o proletariado e outras classes tiveram na luta contra a burguesia, através do trabalho de formação e através da polêmica organizada. Tal unificação, no entanto, precisa ser construída de forma profundamente conectada com a classe proletária, entendo o papel do partido de não só unificar ideologicamente a si mesmo, como também unificar a classe proletária e dirigir as classes aliadas para realizarem a revolução. Assim, não basta nem que a unificação ideológica seja pública, como é necessário um trabalho ativo da militância para levar o OC para a classe e as massas.
O trabalho de ser o fio organizativo do OC também precisa levar em conta as necessidades práticas de uma revolução. É necessário construir não só a capacidade de transporte rápido e clandestino de ideias, como também de materiais e de pessoas.
A partir desses dois pontos centrais, concluímos que o jornal impresso continua sendo o meio mais efetivo para ser o OC do partido revolucionário, ao contrário do que é defendido pelo Bruno Franzoni na tribuna “Comunistas de iPhone: aplicativos como forma organizativa e dinamizador partidário”. Vejamos.
O militante coloca:
A triste realidade é que a forma organizativa que mais conhecemos hoje é o jornal. Esta afirmação por si só deveria causar desgosto e depressão para os dirigentes partidários, tendo em vista que em mais de 100 anos, desde que Lenin avançou neste quesito; tendo em vista que o jornal era algo avançadíssimo em sua época, a única conclusão possível é que estamos até hoje neste patamar quase neolítico de comunicação, sem nunca ter avançado com a tecnologia amplamente massificada de comunicação. [...] Não sou da opinião que devemos extinguir o jornal como ferramenta organizativa e de massas, ele ainda cumpre seu papel, no entanto, acreditarmos que está será a ferramenta tecnológica da revolução brasileira em pleno século XXI nos coloca sob sérios questionamentos de se estamos de olhos abertos vendo miragens psicodélicas macabras ou se estamos de olhos fechados perante a realidade.
O que primeiro deve abrir um questionamento: Onde Lenin defendeu o jornal com o argumento dele ser tecnológico? Não estou afirmando que o contexto histórico não é relevante, mas a tecnologia cumpre objetivos específicos, e é nessa perspectiva que ela precisa ser integrada, ao invés de termos uma valorização abstrata de tecnologia. Vejamos agora a alternativa proposta:
A questão da atualização de nossa forma organizativa para sair do atraso centenário que permanece no jornal é em primeiro lugar criar um ambiente interno que os militantes possam acessar os debates que ocorrem a nível nacional e a criação de um fórum interno nacional de debates permanentes intra-militância de forma mais direta que apenas tribunas internas do núcleo.
A proposta então é criar um canal de comunicação interno ao partido. Essa, entretanto, apenas permite maior compartilhamento de informação, mas falha em todos os pontos centrais que o OC precisa cumprir. O fórum não constrói o fio organizativo necessário para uma revolução socialista, pois não constrói a estrutura para transporte rápido de materiais e pessoas. O fórum também não funciona para uma unificação ideológica junto da classe, porque tanto não é possível o trabalho constante dos militantes de levar o fórum para as massas, quanto porque o meio é um meio bastante estranho à classe trabalhadora.
O jornal impresso permanece sendo o meio mais eficiente para um partido construir o seu OC, mais inclusive que rádio, podcast, canal do YouTube e canal de televisão, pois esses meios, mesmo sendo mais populares e não dependendo da alfabetização, não nos preparam para rapidamente transportar materiais e pessoas. Isso significa que os avanços tecnológicos não são uma questão? Isso significa que esses outros meios pouco eficientes para serem OC devem ser ignorados pelo partido? A resposta para ambas as perguntas é não.
O avanço tecnológico é determinante para a estruturação do OC, mesmo que não seja para sua essência. As tecnologias de dados deixam mais eficiente e rápido o registro de quantos jornais foram para cada local e quanto foram vendidos e a análise dessas informações, permitindo assim uma alocação mais eficiente de recursos com rápida capacidade de mudança. Da mesma forma, as tecnologias de escrita de texto e diagramação permitem escrever matérias e publicá-las cada vez mais rápido, agilizando imensamente a comunicação e até permitindo menos militantes nesse trabalho, para que possam se ocupar de trabalhos de organização da classe. Além disso, a realidade do Brasil é que temos uma grande porcentagem da população analfabeta, que não tem acesso a um jornal escrito, e as novas tecnologias de processamento de linguagem natural agora deixam mais eficientes e rápida a transformação de textos em áudio, permitindo que o áudio das matérias seja divulgada junto do jornal impresso como alternativa para essa parte da população.
Sobre os outros meios menos prioritários. Precisamos ter claro que a prioridade para o partido precisa ser a construção de um jornal impresso como OC do partido. Assim, a maior parte das forças precisa estar alocada nessa tarefa. Isso, no entanto, não exclui a utilização dos diversos meios também, desde que eles tenham um bom resultado grande com o trabalho de poucos militantes. Nosso objetivo final é a necessária a criação de um amplo complexo de agitação e propaganda, que tenha o jornal impresso como esqueleto da direção ideológica, jornal esse que precisa ser diário, e menos do que isso deve ser inaceitável. Apenas assim teremos a capacidade necessária para alcançar as amplas massas e dirigir uma revolução.
Para além dos argumentos colocados, é importante adicionar também que precisamos construir um partido que funcione para a classe trabalhadora brasileira. Grande parte da classe trabalhadora tem um celular muito ruim ou nem tem celular, ainda uma porcentagem relevante nem tem acesso à internet. Como pretendemos criar um partido da e para a classe proletária sem levar isso em conta? Hoje a estrutura do complexo do PCB já é bastante elitista, demandando diversos aplicativos diferentes para a comunicação interna. Nossa meta precisa ser solucionar isso e não podemos aceitar propostas que piorem a questão ainda mais, como é a proposta deste aplicativo de organização interna. Da mesma forma com nossa segurança, não adianta apenas reconhecer que hoje é ruim e propor algo que piore nossa segurança.
Se quisermos criar um verdadeiro partido revolucionário, urge que toda discussão, seja de reuniões de célula, seja em congresso, paute de forma concreta como fazer uma revolução ser possível e vitoriosa. Precisamos de um Órgão Central realmente capaz de dirigir ideologicamente o partido, a classe e as massas, que seja tão circulado que a polícia tenha a impressão que cada trabalhador tem sua gráfica. O trabalho é enorme, porque o objetivo também é.