Trabalhadores brasileiros se solidarizam com greve geral convocada por sindicatos na Argentina

Partidos políticos, movimentos sociais e sindicatos realizaram forte mobilização, nesta quarta-feira, contra as medidas econômicas implementadas pelo governo Milei. Manifestações de solidariedade ocorreram em várias capitais do Brasil.

Trabalhadores brasileiros se solidarizam com greve geral convocada por sindicatos na Argentina

A quarta-feira (24) foi marcada por uma série de protestos e paralisações de diversas categorias trabalhistas na Argentina. Trabalhadores dos setores estratégicos do país se unificaram em uma paralisação de 12 horas contra o pacote de medidas adotadas pelo governo de extrema-direita de Javier Milei. No Brasil, manifestações ocorreram em frente à embaixada e ao consulado em São Paulo e Porto Alegre, respectivamente, bem como no Rio de Janeiro e Brasília.

Cartazes colados na porta do Banco de La Nácion Argentina, na Avenida Paulista, em São Paulo

No primeiro mês de governo, os maiores sindicatos argentinos se unificaram contra os pilares da política neoliberal do atual governo: as privatizações e os cortes de gastos. O Decreto Nacional de Emergência (DNU), é o pacote de medidas de Javier Milei que reduz o controle do Estado a partir da privatização dos setores mais importantes da economia da Argentina, facilitando a entrada e o avanço do capital estrangeiro sobre a vida da classe trabalhadora no país.

O pacote de reformas chamado de “Lei Omnibus” busca dar o golpe de misericórdia após os impactos extremamente negativos do DNU. Com quase 500 artigos, o pacote modifica ou revoga 366 leis, dando ao próprio Executivo poderes legislativos nas áreas econômica, fiscal, tarifária e até eleitoral. Isso dá superpoderes a Milei até 2025, enxugando as responsabilidades do Estado.

No Brasil, diversos partidos políticos, movimentos sociais e sindicatos realizaram manifestações de solidariedade. Sob o lema “A pátria não se vende” (popularizado nas mobilizações argentinas), manifestantes destacaram as similaridades entre o processo de privatização da  gigante nacional brasileira EMBRAER e da Aerolíneas, empresa logística argentina, além da privatização sobre os serviços de saneamento e distribuição de energia em ambos os países.

Manifestantes pautam o "Fora Milei"

“A burguesia avança a galope com a política de privatizações na América Latina. A palavra de ordem da greve argentina é “la Patria no se vende”, essa poderia ser nossa palavra de ordem também. Em São Paulo, o governo de Tarcísio Freitas já está a poucos passos de concluir o processo de privatização da Sabesp e, em breve, caminhará pela privatização total do Metrô e da CPTM. Já no âmbito federal, o governo de Lula não só não reverteu as privatizações realizadas pelos governos anteriores, como iniciou uma política de financiamento para a privatização de presídios através do BNDES, sem contar o projeto de privatização da administração de nossas florestas.” disse o professor de matemática Yuri Miyamoto, um dos presentes na manifestação na capital paulista.

Segundo Yuri o exemplo dado pelos trabalhadores argentinos de enfrentamento ao governo deve ser seguido pelos brasileiros: “Não será com um acordo de gabinetes ou troca de governos que impediremos ou reverteremos a política privatista em curso no Brasil, mas sim com o povo organizado e uma greve geral que paralise toda produção do país. A vitória da classe trabalhadora da Argentina contra o governo de Milei é uma vitória para todo povo trabalhador da América Latina, por isso devemos demonstrar toda solidariedade aos nossos hermanos.”

As trabalhadoras presentes nas manifestações deram atenção especial ao fechamento do Ministério das Mulheres na Argentina e aos efeitos retrógrados da “Lei Omnibus” sobre a Lei Micaela (2019), que tornou obrigatória a formação de funcionários dos três poderes sobre questões de gênero e violência. Em 2023, o país testemunhou um aumento alarmante nos casos de feminicídios, registrando quase uma ocorrência por dia, segundo estatísticas da Defensoria do Povo da Nação. O atual governo defende que “violência não tem gênero”, promovendo uma cruzada política e ideológica contra às políticas públicas de combate aos feminicídios e amparo às vítimas – fruto das vitórias do movimento feminista argentino nas últimas décadas.