'Símbolos' (Vesúvio)
Eu mantenho a tese que estamos sim em uma reconstrução revolucionária, longe de estar superada. Mas qual a primeira impressão queremos que uma pessoa com zero contexto sobre nosso partido tenha? A de que estamos reconstruindo algo? Ou a de que construímos algo novo?
Por Vesúvio para a Tribuna de Debates Preparatória do XVII Congresso Extraordinário.
Fico feliz que o meu texto “Rever e Discutir o Artigo 2” tenha incentivado discussões… hã… acaloradas, quanto aos nossos símbolos, identidade visual e mesmo sobre o nome de nosso partido.
Ótimo! Para algo escrito literalmente em dez minutos, durante o almoço no trampo, enquanto deglutia um salgado ruim regado com refrigerante, considero que cumpriu seu objetivo. Nem toda tribuna precisa ser um longo ensaio acadêmico.
Às vezes, é só um grito.
Minha intenção foi justamente que pessoas com mais bagagem e tempo disponível se manifestassem sobre este tema importante, que envolve nossa “estética”, com o qual primeiro tomei contato nos textos de Heribaldo Maia, os vídeos de Jones Manoel, e as provocações das entrevistas do Galo de Luta.
Reparem, que em meu primeiro texto, não defendo a adoção deste símbolo ou aquele outro. Nem ao menos sugeri que, necessariamente, precisamos abandonar por completo a foice e o martelo. Pessoalmente, estou muito mais inclinado à lógica da re-leitura, atualização e localização.
O que NÃO podemos é ficar na zona de conforto e tomar a herança simbólica e visual no momento pós-cisão como algo dado, já pronto para tirar da embalagem e sair militando.
Esta questão precisa ser debatida a fundo.
Aqui algumas réplicas ou rápidos comentários à algumas tribunas direta ou indiretamente ligadas à minha, que saíram esses dias.
'Devemos abandonar a Foice e Martelo? A estética brasileira' — Silas Adriano
Concordo de maneira geral com tudo que Silas expõe. Não se trata de escolher entre uma estética comunista ou nacional.
Queremos uma identidade marxista-leninista E brasileira.
Inclusive, agradeço por ele ter chamado atenção para o fato que um dos símbolos que citei utiliza, na verdade, justamente um martelo e não uma enxada, como eu havia escrito. Eu nem ao menos sabia que tal símbolo foi popularizado pelo cantor Don L, simplesmente o via pipocar na internet aqui e acolá.
Na minha cabeça, estes os instrumentos que imaginei (enxada, facão, flecha) faziam sentido por serem símbolos históricos de movimentos que lutam pela terra em nosso país, não por serem símbolos universais usados no dia a dia de toda nossa classe trabalhadora. E eu apenas os citava, junto a outros, como um exemplo de brasão de ferramentas.
Contudo, vale notar que a (relativa) popularidade deste brasão demonstra que existe sim alguma simpatia já difundida pela ideia de um símbolo comunista mais próximo da realidade do Brasil.
'Breves notas sobre tática, estratégia e o valor de um século' — Vicente Ferrer
Uma tribuna bem argumentada e muito competente. Se por um lado, Ferrer toma meus argumentos como insuficientes, eu mesmo não tenho posição cravada em pedra quanto a estes, que fiz de maneira muito tosca e improvisada, apenas o ínicio de uma conversa.
Então, não há muito para contra-argumentar. Apenas discordo, parcialmente, quando ele diz que, no frigir dos ovos, mais importante que a estética é nossa linha política — sim, de fato é.
Mas nunca devemos subestimar o poder dos símbolos.
Da Unidade Popular com sua vibe de "antifascismo descolado xovem", ao Partido dos Trabalhadores e sua velha estrela, aos próprios bolsonaristas com seu pseudodiscursos "anti-sistema" é incrível hoje como a movimentos políticos inteiros se mantém apelando apenas a uma estética de radicalidade.
Estaria longe do ideal ter a melhor linha política, se não chegamos o mais eficientemente possível à massa porque ela nos enxerga ainda de maneira pré-condicionada. Não devemos escolher uma coisa ou outra. Nós necessitamos de ambas.
Em seu texto de Ferrer aponta muito bem que nem a foice nem o martelo são símbolos ahistóricos ou universais e, a importância do símbolo para a Revolução Russa em 1917, e para o mundo todo — depois do fim da Segunda Guerra Mundial e o triunfo da União Soviética sobre o nazismo — são argumentos a ser considerados, mas nem por isso automaticamente suficientes.
'Somos um novo Partido' (Thali e Bérnie)
Existe um camarada em minha atual célula, um homem que já foi sapateiro e pintor, e hoje um incansável advogado, que defende com argumentos possantes que não somos um novo partido e sim uma ala do PCB.
Que teríamos todos os meios de disputá-lo juridicamente. Não discordo dele.
Mas nós queremos?
Tenho simpatia a ideia de Thali e Bérni que, na verdade, somos algo novo. Mais do que isso, o que ganhamos nessa disputa por uma história de heroísmo — sem dúvidas — mas também de erros repetidos de novo, de novo, de novo?! O que PCB significa para o povo brasileiro do século XXI? E mais do que isso, como pedir que alguém diferencie entre PCB, PC do B, PCB-RR e tantas outras siglas semelhantes?
Sim, em princípio, também quero um nome novo.
Não gosto da ideia de PCTB, porque além dessa sigla ser muito semelhante às outras, não sei se curto a ideia de se espelhar no partido espanhol, trocando um eurocentrismo pelo outro. Sou mais favorável a criarmos algo "nosso".
— Falou o cara que usa pseudônimo de vulcão italiano — pensa alguém.
Ninguém, absolutamente ninguém, perguntou, mas justifico aqui este meu próprio contraditório eurocentrismo identitário declarando o fato que vim importado, sou de família emigrada, resido no Brasil desde moleque, país para o qual não escolhi vir, do qual nem tenho possibilidade de sair.
Quando falo de uma revolução “nossa”, na verdade, é advogando o fato que precisamos primeiramente e taticamente ser nacionalistas.
Estrategicamente somos internacionalistas. E eu sou internacional de maneira literal. Se São Lenin ouvir minhas preces um dia, depois de acertarmos as contas com a burguesia daqui, vou lá fazer a revolução na terra em que nasci.
'Reconstrução revolucionária do que?' (Otávio Ilibio)
Como lembra Ilibio, existiram diversos partidos marxista-leninistas que não tinham tinham “comunista” no nome — os próprios Panteras Negras!
De maneira geral acho que seu apelo ao espírito de 1992 enquanto uma espécie de nosso mito fundador faz sentido, mas também ressalto que me questiono se isso não faz sentido só para nós.
Não sou muito fã da palavra “reconstrução”. Ela transmite para a massa que algo está despedaçado. Também a necessidade de retornar a algo como era antes, quando era inteiro.
Mas a voltar ao que exatamente? O velho PCB partido de massa e eleitoreiro, antes que fosse destronado pelo PT? A classe trabalhadora atual sequer tem memória disso, aliás.
Eu mantenho a tese que estamos sim em uma reconstrução revolucionária, longe de estar superada. Mas qual a primeira impressão queremos que uma pessoa com zero contexto sobre nosso partido tenha? A de que estamos reconstruindo algo?
Ou a de que construímos algo novo?
'Por uma criação coletiva de um novo nome e identidade visual para o partido' (Bi)
Esta foi uma das colunas que mais gostei.
Traz uma perspectiva profissional. Uma lista de técnicas empregadas na publicidade e propaganda do “mercado” capitalista para “reposicionamento de marca”, que podemos canibalizar e usar como ferramentas em nosso favor.
Infelizmente, devido a desorganização e inorganicidade que ainda assolam setores da nossa militância, na fase pós-cisão, eu me questiono se seria possível implementar isto a nível nacional, de maneira qualificada e crítica.
Me chama mais atenção quando Bi cita a possibilidade de “criação coletiva”
“Do mesmo modo, acredito que cada pessoa pode criar versões de identidades visuais como preferir. Tem pessoas que preferem fazer isso no papel, outras preferem já ir para alguma ferramenta, como Illustrator. Aqui vejo os mesmos pontos coletivos anteriores: trazer a proposta visual, apresentá-la, dar espaço para as pessoas refletirem, discutirem sobre e votarem na que preferem.”
Isso vai de encontro a algo que eu pretendia apresentar em nova tribuna.
Oras, camaradas, me parece que uma nova identidade não pode ser pinçada de contribuições esporádicas nas tribunas, ou escolhida por um punhado de dirigentes. Deveria ser uma tarefa coletiva.
Engajando TODA a militância.
Proponho deixar nossos quadros, profissionais ou amadores, enviarem em uma subdivisão de tribunas específicas suas propostas de siglas, bandeiras, símbolos, lemas, hinos etc. Sejam elementos novos, releituras — ou mesmo defesas apaixonadas que tudo deva permanecer como está e não mexam um centímetro! — para mim pouco importa.
O que vale mesmo é forjararmos este consenso no fogo. Através de uma longa polêmica pública, em que no fim decidiremos pelo voto, e o resultado seja acolhido, sem temer de ter nossas posições “derrotadas”. Nossa lógica interna deve ser colaborativa, e fomentar o trabalho em equipe, não essa maldita praga que é o ultraindividualismo do mundo neoliberal.
Acredito que só um processo amplamente propositivo e democrático vai trazer legitimidade à um reposicionamento de identidade do partido.