Repercussão da retaliação iraniana balança os rumos do conflito no Oriente Médio
Em seu discurso, o líder iraniano enfatizou que a resistência na região continuará, mesmo com a morte de figuras proeminentes, e clamou aos países muçulmanos a se unirem contra o “inimigo comum”.
Por Redação
O alto comando militar iraniano autorizou no sábado (29) a Guarda Revolucionária Islâmica (IRGC) a realizar ataques aéreos sem aviso prévio contra diversas instalações militares em Israel, incluindo a capital Tel Aviv. Os bombardeios utilizaram mísseis hipersônicos lançados de Teerã e outras cidades do Irã, em um gesto de apoio à Palestina e ao Líbano, além de uma retaliação pelo assassinato de líderes militares como Sayed Hassan Nasrallah e Ismail Haniyeh, executados pelas forças sionistas na região durante o último ano de conflitos.
A maioria dos mísseis disparados pelo Irã no ataque desta semana, durante a operação ‘Promessa Verdadeira 2’ foram mísseis de classes Emad, Qadr F, Kheybar Shekan e Fattah. O Irã ainda não usou no ataque nenhuma de suas armas recém desenvolvidas.
O líder iraniano, Ali Khamenei, declarou que o Irã e seus aliados regionais não recuarão nos ataques contra Israel, chamando as recentes ofensivas de legítimas e em resposta aos crimes cometidos pela ocupação. Khamenei fez essa declaração durante um raro sermão de sexta-feira em Teerã, sua primeira aparição pública após o Irã lançar uma série de cerca de 200 mísseis balísticos contra Israel, em retaliação aos assassinatos de líderes do Hezbollah e do Hamas, bem como de quadros importantes da IRGC.
Em seu discurso, o líder iraniano enfatizou que a resistência na região continuará, mesmo com a morte de figuras proeminentes, e clamou aos países muçulmanos a se unirem contra o “inimigo comum”. Ele também destacou que o Irã agirá de maneira “considerada” e “racional”, seguindo as decisões de suas lideranças políticas e militares.
O ataque, o 2º maior da história contra Israel em número de mísseis disparados e o maior em destruição, teve como objetivo assentar uma clara e direta advertência. São quase 200 projéteis balísticos a uma distância de 1.585 km, que ocasionaram mais danos que os mais de 300 misseis iranianos disparados em 13 de abril. Relatos indicam que cerca de 80% dos alvos foram atingidos, e o sistema de defesa antimísseis de Israel não foi eficaz na interceptação dos mísseis iranianos. A informação é de difícil apuração, e embora a mídia ocidental relate extensamente posição contrária, de que o Iron Dome e os sistemas de defesa complementares teriam tornado o ataque inofensivo, foi comprovado que o Estado colonialista israelense empregou esforços para censurar a apuração e divulgação do real dano infligido pelos ataques.
O Conselho de Segurança (CSNU) se reuniu nesta quarta-feira (2) para debater especificamente a escalada das tensões no Oriente Médio após o Irã retaliar os ataques de Israel ao Líbano na terça-feira (1). Pouco mais cedo, Israel declarou o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres ‘persona non grata’, o que gerou uma declaração de apoio ao secretário pelo CSNU. A reunião, da qual participaram Israel e Irã como convidados, foi marcada pelo clima de tensão e ameaças. O representante iraniano, Amir Saied Iravani, declarou que o bombardeio ensejava “restaurar o equilíbrio” na região. O país enviou uma carta ao CSNU fundamentando o ataque como autodefesa.
O governo dos Estados Unidos, por sua vez, manteve um tom firme de apoio ao Estado colonialista de Israel, com o presidente Joe Biden afirmando que a resposta israelense pode incluir ataques contra infraestrutura estratégica iraniana, como instalações petrolíferas. As ameaças entre as duas nações alimentam temores ao governo americano de uma escalada que poderia envolver diretamente os interesses imperialistas dos EUA no Golfo Pérsico.
Washington tem buscado enviar ameaças claras a Teerã de que uma resposta iraniana a ataques mais severos de Israel poderá enfrentar retaliações ainda mais duras, potencialmente envolvendo ações “não convencionais”. O risco de um conflito direto entre Irã e Israel, com a intervenção dos EUA, cresce à medida que as operações militares na região se intensificam, ampliando a possibilidade de um conflito regional de maiores proporções.
Durante a semana, as forças colonialistas israelenses continuaram a realizar ataques em regiões como Líbano, Síria e Iêmen. As autoridades libanesas relatam que cerca de 1.700 pessoas, incluindo 38 profissionais de saúde, foram mortas e mais de 9.000 pessoas ficaram feridas. O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu está determinado a prolongar os conflitos no Oriente Médio o quanto puder, impulsionado por diversos fatores, como o insucesso em conquistar quaisquer de seus objetivos políticos e militares na Faixa de Gaza, a extensão da ofensiva aos fronts libanês e da Cisjordânia, e os processos que enfrenta tanto no judiciário israelense, quanto em ordem internacional – representados pela queixa da África do Sul na Corte Internacional de Justiça (CIJ) e pela recente ordem de prisão decretada pelo Tribunal Penal Internacional (TPI).
Levando em conta fatores como a mobilização dos os houthis no Iêmen e dos grupos armados iraquianos, que têm atacado alvos israelenses, apesar das defesas aéreas de Israel, apoiadas por sistemas norte-americanos e aliados regionais, o conflito tende a assumir uma dimensão territorial mais ampla, com ameaças de retaliação a instalações de petróleo na região, ainda estratégicos para o mercado global. O fechamento dos houthis do Estreito de Bab al-Mandeb continua sendo “o impacto mais direto” que eles fizeram até agora, já que seus mísseis visando Israel foram interceptados. O Hezbollah, por outro lado, tem uma rede mais enraizada pela região, que opera com bases subsidiárias, tornando-os perigosos a Israel na medida em que podem atacar alvos israelenses no exterior.