'Que tipo de formação nós queremos? Precisamos de dirigentes, agitadores e propagandistas!' (J.V.O)

Precisamos iniciar a nossa organização com uma seleção rigorosa de material teórico e de temas que precisam ser estudados e aprofundados, assim como de um aparelho de agitação e propaganda competente para que possamos organizar o povo trabalhador nos espaços de trabalho.

'Que tipo de formação nós queremos? Precisamos de dirigentes, agitadores e propagandistas!' (J.V.O)
"A formulação de Gramsci de que um exército sem generais e capitães embora numeroso se dispersa e torna-se fraco. Já capitães e generais formam um exército sólido com celeridade. Não temos militantes com experiência em formas de luta revolucionária."

Por J.V.O para a Tribuna de Debates Preparatória do XVII Congresso Extraordinário.

Camaradas, essa minha tribuna busca ser sucinta e com o objetivo de buscar convencer os camaradas de uma visão minha sobre formação política que acredito ser fundamental e que nos preparará melhor para o nosso desafio.

Somos uma organização pequena e muito jovem. O que sairá do nosso próximo congresso será uma vanguarda política muito mais do que algo que possamos chamar de imediato de partido político. É algo que precisamos ter atenção para precisar melhor nossa futura organização, ser rigoroso com os conceitos para não cairmos em ilusões. E a meu ver, como já comentei em tribunas antigas, nós somos uma organização pequena, muito jovem, e com carência de formação sólida do marxismo e história do movimento operário, mundial e brasileira com amplo rigor nas questões mais fundamentais, e também nos falta muita experiência em lutas mais complexas e participando à frente na organização e mobilização delas.

É de conhecimento de alguns militantes nossos, mas algo que deve ser de conhecimento geral, a formulação de Gramsci de que um exército político orgânico e preparado precisa de “capitães”, ou seja, precisa de dirigentes preparados, precisa prepararem os dirigentes, formá-los teórica, prática e espiritualmente para tornarem o partido em um partido político orgânico e revolucionário. A meu ver estamos muito distantes de atingir tal partido, nos falta quadros suficientes para garantir em todo território nacional os quadros para dirigir organicamente tais tarefas.

Fala-se de capitães sem exércitos, mas na verdade é mais fácil formar um exército do que capitães. Tanto isso é verdade que um exército já existente é destruído se faltam capitães, ao passo que um grupo de capitães, harmonizados, de acordo entre si, com objetivos comuns, não demora a formar um exército até mesmo onde ele não existe [1].

Precisamos focar na formação desses capitães, elaborar qual o currículo básico e ao menos termos o consenso e o espírito compartilhado por toda a militância, de acordo entre nós, de que precisamos formar esses capitães. É óbvio que é impossível isso sem prática. Assim como não existem bons oficiais de infantaria sem eles mesmos terem lutado e treinado nas atividades da infantaria, não teremos capitães sem práxis política rica na arte política que almejamos, e justamente para formarmos esses capitães antes precisamos ir atrás dos elementos que executarão esse trabalho, para isso precisamos de agitadores e propagandistas competentes para podermos conseguir aderentes do proletariado mais estratégico, unir a teoria marxista, o leninismo e a experiência prática da arte política para termos os capitães. Sem isso, tardaremos imensamente em cumprir nossa função e rebaixaremos a moral de nossa militância.

Temos um partido muito pouco proletarizado, baixa inserção na luta do trabalho, vários militantes sem atuação orgânica, quebras constantes de quadros, trabalhos efêmeros e com pouco impacto na luta de classes. Portanto precisamos iniciar a nossa organização com uma seleção rigorosa de material teórico e de temas que precisam ser estudados e aprofundados, assim como de um aparelho de agitação e propaganda competente para que possamos organizar o povo trabalhador nos espaços de trabalho.

Sem isso, camaradas, seremos sempre uma organização muito focada em movimento estudantil, com células urbanas enfraquecidas, dispersas, fragmentadas em micro atuações localizadas com pouco potencial contundente na luta de classes com exceção de no máximo ter alguma percepção pela população local. Mas isso é absolutamente insuficiente! O estratégico em nossa resolução e no marxismo é a organização do proletariado, então precisamos adaptar a nossa práxis à nossa estratégia.

Precisamos de um partido que tenha células em locais de trabalho como defendi em tribuna recente[2], focado no proletariado como apontado recentemente pelo camarada Landi em sua tribuna[3], e para isso precisamos antes preparar agitadores e propagandistas competentes para ir aos locais de trabalho realizar um trabalho de organização. Isso é impossível de ser feito sem antes formar esses camaradas, dar aos mesmos os instrumentos de trabalho, elaborar uma análise científica do proletariado brasileiro em cada região do país, para definir nossas prioridades, orientar os recém integrantes, etc.

Como iremos camaradas, se recrutarmos trabalhadores em locais de trabalho nos sindicatos, dirigir o trabalho dos mesmos de formar competente, garantindo uma atuação leninista em cada local? Só com uma ampla formação política voltada para, e só conseguiremos fazer isso se com o nosso contingente militante que temos hoje em dia no partido, guiar e direcionar esses novos aderentes no caminho do Leninismo. Isso só é possível se nos atentarmos às tarefas prioritárias de nossa formação.

  1. Precisamos de militantes competentes conhecedores das principais categorias do marxismo, da economia política, das análises políticas e da filosofia.
  2. Precisamos de militantes que conheçam bem a obra de Lênin, os principais debates e categorias políticas formuladas pelo mesmo que nos são muito cara e impossível de ser deixado de lado.
  3. Precisamos de militantes com boa análise histórica das principais polêmicas da história do movimento comunista e da história mundial contemporânea nacional e internacional.
  4. Analisar com rigor científico as características do proletariado brasileiro no país e em cada região para direcionar o trabalho de cada comitê regional.
  5. Ter agitadores e propagandistas formados o suficiente para ir aos locais de trabalho, organizar o proletariado, instruí-los no marxismo e garantir ação política Leninista. Transformar esses camaradas em capitães em nosso exército.
  6. Multiplicar células por locais de trabalho nas empresas e nas fábricas do país e orientar o partido para a luta do proletariado.

Só assim poderemos delinear os trabalhos iniciais do partido e de forma mais célere possível dar o rumo da construção de um partido político revolucionário de fato. Sem generais e capitães não é possível, é trocar as mãos pelas pernas, começar pelo fim sem o começo, e com isso as consequências são conhecidos: trabalhos efêmeros, sem continuidade, dispersos, e partido sem composição no proletariado brasileiro.

A formulação de Gramsci de que um exército sem generais e capitães embora numeroso se dispersa e torna-se fraco. Já capitães e generais formam um exército sólido com celeridade. Não temos militantes com experiência em formas de luta revolucionária. Temos muito pouca formação em ação direta, em organização sindical e luta nas questões de trabalho junto ao proletariado, muito do que temos em sindicatos são funcionários públicos e outros setores da classe trabalhadora brasileira, não teremos um partido revolucionário capaz de agir com força na luta de classes sem antes termos esses militantes. Então como uma das prioridades de nossa organização é formar esses militantes e para isso precisamos de formação intensa, rigorosa e exigente, não cabe mais sermos lenientes com a formação de nossa militância, é hora de cobrar resultados para o quanto antes podermos dar vazão a uma estratégia revolucionária no país.

Saudações comunistas!


[1] Caderno do Cárcere 3, 8° edição, Civilização Brasileira, p. 321

[2] https://emdefesadocomunismo.com.br/um-artigo-um-congresso-como-forjar-um-partido-de-tipo-bolchevique-j-v-o/

[3] https://emdefesadocomunismo.com.br/polemicas-sobre-o-perfil-do-proletariado-brasileiro/