O Governo Milei e a luta proletária na Argentina: Entrevista com o Partido Comunista Argentino

“O governo vive uma crise, pouco mais de dois meses após a posse, e parte dela se deve à resposta da classe, à sua organização - embora ainda precária e insuficiente - e à resistência da nossa classe em diferentes frentes.”

O Governo Milei e a luta proletária na Argentina: Entrevista com o Partido Comunista Argentino
Tradução: "O único que pode romper com uma motosserra é um martelo e uma foice." | Reprodução: @PCArgentino no X/Twitter

O proletariado argentino vem se mobilizando em seu próprio país contra o governo de Javier Milei, que, já no início, após ter sentado na cadeira de presidente, articulou com a burguesia e seus representantes para atacar diretamente os trabalhadores com o chamado Decreto de Necessidade e Urgência (DNU), que tinha como objetivo uma reforma geral do Estado Argentino, com mais de 300 artigos. A chamada reforma tinha como objetivo, por exemplo, a privatização de empresas públicas essenciais e a dolarização da economia.

Algumas horas após o anúncio do DNU, dia 20, quebrando o protocolo anti-protesto decretado pelo Ministério da Segurança, o proletariado argentino ao lado dos setores sociais-liberais como os peronistas - linha dominante no movimento sindical - e os revolucionários comunistas, saíram às ruas imediatamente para impedir que o seu próprio país seja entregue ainda mais ao capital estrangeiro. Após a negação completa do DNU, Milei buscou outro pacote de reformas intitulado de Lei Omnibus, que com “quase 500 artigos, o pacote modifica ou revoga 366 leis, dando ao próprio Executivo poderes legislativos nas áreas econômica, fiscal, tarifária e até eleitoral”. Em resposta ao novo pacote, a Confederação Geral do Trabalho dos Argentinos (CGT) decretou uma greve geral de 12 horas no dia 24, sendo apoiada por vários setores do proletariado argentino, além de contar com solidariedade da classe trabalhadora de outros países latinoamericanos.

Com o aprofundamento da mobilização dos trabalhadores e dos setores da esquerda argentina, apresentamos a seguir a entrevista de Tomas Oroño, atual secretário-geral do Partido Comunista Argentino (PCA), dada ao Em Defesa do Comunismo. A entrevista aborda o processo da greve, os outros setores da esquerda dominantes na Argentina, como o peronismo e o trotskismo, as políticas do governo Milei e a reconstrução revolucionária do PCA.

1. Visão sobre a crise do peronismo e a eleição de Milei

Dado o atual cenário na política burguesa argentina, os desafios enfrentados pelo peronismo e seu enfraquecimento entre as camadas populares, espera-se que os comunistas ofereçam uma perspectiva aos trabalhadores sobre a crise.

Em meio à atual conjuntura política na Argentina, bem como à crescente influência de figuras como Javier Milei na política institucional internacionalmente, gostaríamos de ouvir a visão dos comunistas argentinos: como os camaradas interpretam esse cenário e a eleição de Milei? Quais são os principais pontos de análise em relação a esses eventos?

Tomas Oroño: Nossa análise se baseia, como vocês disseram, na crise do progressismo (peronismo) como modelo desgastado, que abriu caminho para a vitória da extrema direita. A péssima gestão progressista de Alberto Fernández, Cristina Kirchner e Sergio Massa levou a classe trabalhadora a condições miseráveis, agravando a crise que vinha da gestão de Mauricio Macri, que encerrou seu governo, com uma inflação mensal de 12% e uma inflação anual 138%: com mais de 20 milhões de argentinos em situação de pobreza, quase 60% de crianças pobres, o que significa que 6 em cada 10 crianças vivem na pobreza, e com 10% da nossa população em situação de indigência; e ao mesmo tempo sem resolver nenhuma destas questões, recuando em algumas medidas que poderiam ser consideradas populares, como a expropriação de Vicentín, e não cumprindo todas as promessas de campanha, como quando prometeram que iriam investigar a dívida que a administração anterior contraiu com o FMI e, indo na direção oposta, ajoelharam-se diante do Fundo, seguindo à risca todo o plano econômico que era necessário.

Diante desta crise econômica, somada à crise do bipartidarismo, já que a classe trabalhadora observou que nenhum partido tradicional em todos esses anos pode resolver os problemas mais essenciais como alimentação, vestuário, saúde e educação de qualidade, habitação, entre outras coisas, optou-se por um outsider, que não veio da esfera política e que expressa a raiva e a desilusão das massas.

Milei tomou posse com uma plataforma eleitoral que até certo ponto está cumprindo. Uma que expressava soluções “mágicas” como a dolarização da economia, ao mesmo tempo que alertava para um grande ajuste econômico e fiscal, para equilibrar as contas do país, mas sempre enfatizou que o ajuste iria recair sobre “os políticos” e sobre a política, uma promessa totalmente superficial que não corresponde à realidade, ao passo que elogia a regulação zero e a intervenção estatal. O quê a classe trabalhadora que votou em Milei, não entendeu muito bem, é que ela só estava procurando uma solução para a catástrofe. Assim que Milei assumiu o cargo gerou um retorno de mais de 100%, anunciado por seu ministro da Economia, Luis Caputo - o mesmo que também assumiu a dívida como ministro da Economia de Macri -, anunciando posteriormente um Decreto de Necessidade e Urgência (DNU), com mais de 300 artigos, todas medidas anti-operárias e anti-populares, e a inflação disparou a uma taxa de 25% ao mês, o que significa que o seu plano econômico recai sobre a classe trabalhadora, não sobre “os políticos” , nem sobre a “casta empresarial e política”, como disse durante a campanha. Uma grande fraude para o seu eleitorado. A anunciada DNU aplica a redução para metade dos ministérios e secretarias nacionais (que passarão de 18 e 106 para 9 e 54 respectivamente), a suspensão da agenda pública, a desregulamentação das importações e a desregulamentação dos contratos de arrendamento, os primeiros passos do “plano das motosserras” incluem a redução dos subsídios à energia e aos transportes, o despedimento de funcionários públicos com menos de um ano de antiguidade, a cessação dos concursos de obras públicas e o cancelamento nos casos em que as actividades não tenham sido iniciadas, a redução “ao mínimo possível" das transferências discricionárias - fora da co-participação - que o Executivo Nacional faz às províncias, e ao mesmo tempo que declara constantemente que "não há dinheiro", o governo já lançou a emissão de obrigações que implicam a contratação de uma dívida de mais de 30 mil milhões de dólares como resgate aos importadores, nacionalizando a dívida privada, enquanto a redução fiscal de 5,1% do PIB do Programa de Caputo apenas meio ponto percentual corresponde ao aparelho de Estado. Contrariando as promessas de Milei, seremos nós, trabalhadores, que enfrentaremos os custos dos cortes anunciados, além do aumento do custo dos serviços essenciais, da cesta básica, do aluguel e do transporte, e da deterioração da infraestrutura e dos serviços públicos. Estamos diante de um cenário de agravamento da inflação que o próprio governo prevê, é a única coisa que nos é oferecida é um parco aumento da assistência social, que certamente não compensará a deterioração dos salários e a perda do poder de compra, além disso , sabemos que a assistência social, tanto neste governo de administração liberal como nos governos de administração “progressista”, apenas serviu para manter a paz social e evitar qualquer tipo de revolta ou reivindicação por parte da classe trabalhadora ocupada e desocupada.

2. Contradições entre o programa eleitoral e o político-econômico em curso:

Existia uma série de expectativas das camadas médias do eleitorado de Milei em relação ao programa eleitoral apresentado. Entretanto, é notável que já existem contradições entre o que foi defendido em campanha e o que está sendo colocado em prática no governo - o que tem gerado insatisfação por parte não apenas da base de Milei entre a população, mas também dentro da coalizão política que encabeçou sua vitória eleitoral. 

Como vocês avaliam essas contradições entre o programa eleitoral apresentado na campanha de Milei e o atual plano econômico?  Como essas contradições impactam o governo burguês argentino e, consequentemente, influenciam nas lutas populares?

Tomas Oroño: Como já dito na pergunta anterior, há claramente uma grande contradição, sobretudo, para onde foi direcionado o ajuste que Javier Milei prometeu, e como consequência, a imagem do Presidente tem caído, e ao mesmo tempo cada vez mais trabalhadores estão assumindo uma posição à margem do governo nacional, e que influencia as massas populares de uma forma positiva do ponto de vista marxista, uma vez que face a estas medidas anti-operárias e anti-populares, as massas começaram espontaneamente a mobilizar-se , pôde-se constatar no dia 20 de dezembro, após grande mobilização da esquerda, horas depois do anúncio do Decreto de Necessidade e Urgência, as ruas da Capital e de vários pontos do país encheram-se espontaneamente, quebrando o protocolo antiprotesto da Ministra da Segurança, Patricia Bullrich, e denunciando o ajuste do governo, viu-se ao mesmo tempo nas assembleias de bairro, onde vizinhos autoconvocados se organizam em suas localidades para enfrentar o “Plano Motosserra”, também o setor cultural, que está sendo totalmente desfinanciado, organizando assembleias e espaços de luta em todo o país, posteriormente com o anúncio pela Confederação Geral do Trabalho dos Argentinos (CGT) – a central sindical mais importante do país – de uma Greve Geral e uma mobilização para o Movimento Nacional. O Congresso também despertou para um setor do peronismo que saiu para lutar – embora só naquele dia, nos outros dias de luta, não se mobilizaram. E com o envio da Lei Omnibus, com mais de 600 artigos, onde beneficiavam os monopólios, e foi um golpe devastador para a soberania argentina e para as condições e direitos dos trabalhadores, conseguiu-se derrubá-la graças à mobilização diária por uma semana, resistindo à repressão policial, gerando uma grande crise no governo, diante do fracasso parlamentar. O crédito vai para a esquerda argentina, que nunca se desmobilizou, ao contrário do progressismo que esteve ausente das lutas.

3. Condições da esquerda revolucionária e possibilidade de unidade de ação:

Considerando o panorama político atual na Argentina, gostaríamos de explorar as análises dos comunistas sobre as condições da esquerda revolucionária e a viabilidade da unidade de ação. Sabemos que, historicamente, o país conta com grupos políticos diversos. Mas como os camaradas avaliam a atual correlação de forças desse campo? Qual é a expressão real da esquerda revolucionária entre a classe trabalhadora na Argentina? Existe a possibilidade de uma unidade de ação entre os comunistas e outros setores para fortalecer o enfrentamento ao governo?

Tomas Oroño: A esquerda na Argentina é um tema muito interessante para debater e analisar, e devemos partir de uma análise histórica, pois em nosso país existe um caso único no mundo, onde a esquerda hegemônica é o trotskismo e isso se deve à ausência do Partido Comunista como força com independência de classe e protagonista das lutas populares. Com a chegada do progressismo ao poder da Argentina em 2003, alguns anos depois o Partido Comunista decidiu integrar a frente política juntamente com os setores progressistas peronistas-kirchneristas e começa a perder seu rumo, seus objetivos e tudo o que isso implica, e a esquerda trotskista começa a ganhar terreno, e com o processo de liquidação do Partido Comunista, a influência trotskista sobre um setor é agora total, principalmente no setor das camadas intermediárias. Ao mesmo tempo, existem outros setores da esquerda não trotskista, mas que não têm qualquer tipo de influência ou desenvolvimento: partidos guevaristas, maoistas, ou mesmo “comunistas”. Nossa análise da esquerda argentina, além do histórico, é que ela se voltou para o eleitoralismo, embora não possamos negar que são lutadores, seu objetivo é ampliar a bancada dos deputados, você nunca ouvirá ou lerá um discurso trotskista sobre a tomada do poder, a ditadura do proletariado, a derrubada da burguesia, adaptaram-se ao regime, alguns muito mais do que outros, mas todos caminhando na mesma direção. Mas ao destacarmos a sua vontade de lutar, pelo menos pelas reivindicações imediatas, encontramo-nos nas frentes de massas com o trotskismo, mesmo nas mobilizações contra o governo, tanto de Javier Milei como do anterior, e muitas vezes há unidade de ação nesse sentido, mas os objetivos estratégicos nos diferenciam. O Partido Comunista Argentino apela à unidade de ação com todos aqueles que têm vontade de lutar contra o governo Milei, mas deixando bem claro que a nossa tarefa atual é fortalecer a ferramenta do proletariado que esmagará a burguesia, e que é o Partido Comunista Argentino, já que nenhuma organização de qualquer outra corrente guiará e será a vanguarda do proletariado argentino, por isso temos uma grande tarefa pela frente, fortalecer o Partido para enfrentar Milei e enterrar o capitalismo.

4. Organização das mobilizações contra o governo e o papel do PCA:

No último dia 24, o Brasil contou com manifestações em apoio à Greve Geral organizada na Argentina. Compreendemos que existe uma série de convergências na agenda burguesa para ambos os países, principalmente em torno das privatizações. Nesse sentido, a experiência da Greve Geral e dos protestos massivos se torna um referencial de luta para nós no Brasil. Como o PCA está envolvido nas mobilizações e qual é o impacto percebido dessas ações sobre o governo e Estado burguês argentino? Qual o efeito delas sobre as diversas categorias de trabalhadores?

Tomas Oroño: Sem dúvida, como dissemos anteriormente, a mobilização popular fez o governo recuar em uma lei fundamental para eles, e por tal fracasso já anunciou publicamente a vingança contra a classe trabalhadora, por exemplo, aumentando o transporte em 700%, e cortar recursos para diferentes províncias que afetarão claramente as economias regionais. O governo vive uma crise, pouco mais de dois meses após a posse, e parte dela se deve à resposta da classe, à sua organização - embora ainda precária e insuficiente - e à resistência da nossa classe em diferentes frentes. Nosso Partido tem participado de todas as ações, tanto em Buenos Aires como em Entre Ríos, Córdoba e Corrientes, organizando trabalhadores e estudantes nas frentes onde funcionam nossas células e círculos, hoje a tarefa do Partido é organizar a classe, o aumento da subjetividade e consciência, e explodir os conflitos onde estamos, radicalizando-os e tomando-os num sentido revolucionário, é assim que o nosso Partido actua. Nas assembleias culturais, nas assembleias de bairro, na Greve Geral, nas mobilizações de ajuda social aos nossos vizinhos, e outras ações, vocês encontrarão o Partido Comunista Argentino, impulsionando as lutas, lutando contra as correntes colaboracionistas do governo que tentar parar a luta das massas e tentar levar a cabo todo este processo num sentido estratégico.

5. Organização das centrais sindicais e nível de mobilização dos trabalhadores do setor estratégico:

No Brasil, vivemos uma fortíssima dispersão do movimento sindical e sua cooptação por setores oportunistas, além da sindicalização não ser comum entre os mais jovens, por conta das próprias características do mundo do trabalho: suas taxas de desemprego e empregos informais, ou com alta rotatividade. 

Como vocês percebem o papel das centrais sindicais e dos sindicatos hoje na Argentina?

Tomas Oroño: Os sindicatos hoje estão 99,9% nas mãos do peronismo, alguns sindicatos mais ligados ao progressismo, como os professores da Província de Buenos Aires, e alguns sindicatos mais ligados ao peronismo reacionário, como o Sindicato dos Metalúrgicos ou o Sindicato da Saúde, para a qual todos seguem a mesma linha, da não organização da classe, da não convocação de assembleias nos sectores de trabalho, da não participação da classe nos conflitos, muitos e eu diria maioritariamente com uma prática de entrega dos seus trabalhadores e pactos com os empregadores, e o quietismo das bases sindicais. Lembremos que muitos dos dirigentes sindicais, são os mesmos que concordaram com a última ditadura militar, que pactuaram com Mauricio Macri, e obviamente com Alberto e Cristina, e um setor da CGT já se propôs a chegar a um acordo com Macri. O papel é reacionário e desastroso, são burocratas que enchem os bolsos à custa das contribuições dos trabalhadores e das negociações duvidosas com os empregadores e os governos no poder. Aconteceu algo curioso que foi a convocação da Greve Geral no dia 24 de janeiro, mas ocorreu em dois sentidos, primeiro a base sindical, os trabalhadores, clamavam por uma Greve Geral, somado ao fato de que as mobilizações do mês de Dezembro, das massas espontâneas, a palavra de ordem era “vamos à Greve Geral”, exigindo uma definição da Confederação dos Trabalhadores (CGT), e quando foi esmagada pela sua própria base, a burocracia convocou uma Greve, embora apenas por 12 horas, e com vários pontos questionáveis. Por outro lado, a burocracia sindical peronista está movimentando mais do que todos esperávamos, pois Milei pretende se envolver com as obras sociais dos sindicatos, que são grandes quantias de dinheiro que a burocracia usa para se beneficiar, portanto, diante do perigo de perder o próprio negócio, preferem um confronto mínimo com o governo, embora não nos surpreenderiam se a qualquer momento chegassem a um acordo e tentassem esmagar qualquer tipo de mobilização. O peronismo e, portanto, as direções sindicais, sempre tiveram um papel desmobilizador, reacionário e anti-operário. Por isso a importância de um Partido Comunista como o nosso, que tenha intercessão no movimento operário argentino, para poder libertar-se do fardo político-ideológico que é o peronismo, e para que a classe trabalhadora se concentre no cumprimento da sua tarefa imediata: a revolução socialista.

6. Perspectivas do PCA

Por fim, como tem sido o processo de reconstrução do PCA dentro desse contexto e quais são as perspectivas do Partido para o próximo período?

Tomas Oroño: O nosso Partido tem crescido qualitativa e quantitativamente desde a Conferência de Organização Nacional de Agosto de 2023, quando acabávamos de nos estabelecer como Partido, com um Comitê Central e o seu Secretariado, com células em vários pontos do país, com a definição do Programa, com objetivos claros em relação à construção do movimento operário, movimento estudantil, com objetivo de construção da imprensa, e assim por diante, foi cumprido, e estamos avançando em um processo de fortalecimento, isso se vê no crescimento em todas as regionais , na inserção das massas, na difusão da Orientação – nosso Órgão Central -, na nossa intervenção nas lutas, no lançamento de novas regionais, como o Regional de Córdoba –com importância estratégica para o capitalismo na Argentina-. O processo de reconstrução revolucionária está sendo um sucesso, tanto organicamente como com os sucessos políticos das nossas posições e da nossa linha. Cada dia mais jovens se aproximam das fileiras do Partido à procura de uma posição na luta. Razão pela qual vemos  favoravelmente os diferentes processos que estão acontecendo na América Latina no Movimento Comunista, e o desenvolvimento de um destacamento de vanguarda como o PCB-RR em um país tão importante na pirâmide imperialista, sendo de grande importância para as classes trabalhadoras brasileira e latino americanas, desde o nosso Partido vemos com admiração e observamos com atenção os acontecimentos da reconstrução revolucionária no seu país. As perspectivas para o próximo período concentram-se na construção do Partido, muitos debates surgem sobre isso, pois sempre que nasce uma força revolucionária, outros partidos de esquerda se aproximam para formar frentes políticas ou eleitorais, ou participar de qual ou tal projeto, mas hoje o objetivo concentra-se em ter um Partido forte, inserido no movimento de massas, organicamente poderoso e cada vez mais ideologicamente firme. Sem hesitar, afirmo: vamos conseguir.


En castellano

 1. Visión sobre la crisis del peronismo y la elección de Milei

Dado el actual escenario de la política burguesa argentina, los desafíos enfrentados por el peronismo y su debilitamiento entre las capas populares, se espera que los comunistas ofrezcan a los trabajadores una perspectiva sobre la crisis. En medio de la actual coyuntura política en Argentina, así como de la creciente influencia de figuras como Javier Milei en la política institucional a nivel internacional, conocer la visión de los comunistas argentinos:

¿Cómo interpretan los camaradas este escenario y la elección de Milei? ¿Cuáles son los principales puntos de análisis en relación con estos eventos?

Tomas Oroño: Nuestro análisis parte, como ustedes dicen, de la crisis del progresismo (peronismo) como modelo agotado, que le abrió paso a la victoria de la ultraderecha.
La pésima gestión progresista de Alberto Fernández, Cristina Kirchner y Sergio Massa, que llevó a la clase obrera a condiciones paupérrimas, agudizando la crisis que venía de la gestión de Mauricio Macri, terminando su gobierno, con una inflación mensual del 12% y una anual del 138%; con más de 20 millones de argentinos en la pobreza, casi el 60% de niños pobres, lo cual significa que 6 de cada 10 niños viven en la pobreza, y con un 10% de nuestra población en situación de indigencia; y a la vez sin resolver ninguna de estas cuestiones, reculando en algunas medidas que se podrían considerar populares, como la expropiación de Vicentín, e incumpliendo toda promesa de campaña, como cuando prometieron que investigarían la deuda que contrajo la gestión anterior con el FMI, y yendo en el sentido contrario, se arrodillaron ante el Fondo, siguiendo al pie de la letra todo el plan económico que se exigía.
Ante esta crisis económica, sumada a la crisis del bipartidismo, ya que la clase obrera observaba que ningún partido tradicional en todos estos años pudo resolver los problemas más esenciales como el alimento, la vestimenta, la salud y educación de calidad, la vivienda, entre otras cosas, optó por un outsider, que no venía del ámbito político, y que expresa la bronca y la desilusión de las masas.
Milei asumió con una plataforma electoral que en cierto punto está cumpliendo, que expresaba soluciones “mágicas” como la dolarización de la economía, pero a la vez advirtiendo un gran ajusta económico y fiscal, para equilibrar las cuentas del país, pero siempre hizo énfasis que el ajuste iba a recaer en “los políticos” y en la política, una promesa totalmente superficial que no se condice con la realidad, a la vez, enalteciendo la cero regulación y la intervención estatal, lo que la clase obrera que voto por Milei, no termino de entender, solo buscaba una solución a la catástrofe. Apenas asumió Milei, generó una devolución del más del 100%, anunciadas por su Ministro de Economía, Luis Caputo –el mismo que tomo la deuda también siendo Ministro de Economía de Macri-, después anunciando un Decreto de Necesidad y Urgencia (DNU), con más de 300 artículos, todas medidas antiobreras y antipopulares, y la inflación se disparó a un ritmo de 25% mensual, lo que significa que su plan económico recae sobre la clase obrera, no sobre “los políticos”, ni la “casta empresaria y política” como decía en campaña. Un gran fraude para su electorado. El DNU anunciado aplica la reducción a la mitad de los ministerios y secretarías de carácter nacional (que pasarán de ser 18 y 106 a ser 9 y 54 respectivamente), la suspensión de la pauta pública, la desregulación de las importaciones y la desregulación de los contratos de alquiler, los primeros pasos del "plan motosierra" incluyen el recorte a los subsidios a la energía y el transporte, el despido de los empleados públicos que cuenten con menos de un año de antigüedad, el cese a las licitaciones de obra pública y la anulación en los casos en que no se hayan iniciado las actividades, la reducción "al mínimo posible" de las transferencias discrecionales -por fuera de la coparticipación- que realiza el Ejecutivo Nacional a las provincias, y mientras declara constantemente que “no hay plata”, el gobierno ya puso en marcha la emisión de bonos que suponen contraer una deuda superior a 30 mil millones de dólares a modo de rescate a importadores, estatizando deuda privada, mientras que del recorte fiscal de 5,1% del PBI del Programa de Caputo sólo medio punto porcentual corresponde al aparato estatal. Contrario a las promesas de Milei, seremos los trabajadores quienes afrontemos los costos de los recortes anunciados, además del encarecimiento de los servicios esenciales, la canasta básica, el alquiler y el transporte, el deterioro de las infraestructuras y servicios públicos. Estamos frente a un panorama de recrudecimiento de la inflación que el propio gobierno vaticina, y lo único que se nos ofrece es un escaso aumento en la asistencia social, que con certeza, no compensarán el deterioro de los salarios y la pérdida del poder adquisitivo, además de que sabemos que la asistencia social, tanto en este gobierno de administración liberal, como en los gobiernos de administración “progresista”, sólo han servido para mantener la paz social y evitar cualquier tipo de levantamiento o reclamo por parte de la clase obrera ocupada y desocupada.

2. Contradicciones entre el programa electoral y el programa político-económico en curso (Macri):

Existían una serie de expectativas por parte de las capas medias del electorado de Milei en relación con el programa electoral presentado. Sin embargo, es notable que ya existen contradicciones entre lo defendido en campaña y lo que se está implementando en el gobierno, lo que ha generado descontento no solo de la base de Milei en la población, sino también dentro de la coalición política que encabezó su victoria electoral.

¿Cómo evalúan ustedes estas contradicciones entre el programa electoral presentado en la campaña de Milei y el plan económico actual? ¿Cuál es el impacto de estas contradicciones en el gobierno burgués argentino y, en consecuencia, cómo influyen en las luchas populares?

Tomas Oroño: Como mencionábamos en la pregunta anterior, claramente hay una gran contradicción, sobre todo, en donde iba dirigido el ajuste que prometió Javier Milei, y como consecuencia, la imagen del Presidente viene cayendo, y a la vez cada vez más trabajadores se posicionan de la vereda de enfrente al gobierno nacional, y eso influye en las masas populares de una manera positiva desde el punto de vista marxista, ya que frente a estas medidas anti obreras y anti populares, ya espontáneamente las masas empezaron a movilizarse, se pudo ver el 20 de Diciembre, después de una gran movilización de la izquierda, como horas posteriores a consecuencia del anuncio del Decreto de Necesidad y Urgencia, espontáneamente se coparon las calles en la Capital y varios puntos del país, rompiendo el protocolo anti protesta de la Ministra de Seguridad, Patricia Bullrich, y denunciando el ajuste del gobierno, se pudo ver a la vez en las asambleas barriales, donde vecinos autoconvocados se organizan en sus localidades para enfrentar el “Plan Motosierra”, también el sector de la cultura, que está siendo totalmente desfinanciado, organizando asambleas y espacios de lucha en todo el país, más tarde con el anuncio de la Confederación General del Trabajo de los Argentinos (CGT) – la central obrera más importante del país- de una Huelga General y una movilización al Congreso Nacional, también despertó a un sector del peronismo que salió a la pelea –aunque solo ese día, los demás días de lucha, no movilizaron. Y con el envió de la Ley Omnibus, con más de 600 artículos, donde se beneficiaban a los monopolios, y era un golpe demoledor para la soberanía argentina y para las condiciones y los derechos de los trabajadores, se logró tirar abajo gracias a la movilización diaria durante una semana, resistiendo la represión policial, generando una gran crisis en el gobierno, ante el fracaso parlamentario. El mérito se lo lleva la izquierda argentina, que nunca se desmovilizó, no como el progresismo que se ausentó de las luchas.

 3. Condiciones de la izquierda revolucionaria y la posibilidad de unidad de acción:

Considerando el panorama político actual en Argentina, nos gustaría explorar los análisis de los comunistas sobre las condiciones de la izquierda revolucionaria y la viabilidad de la unidad de acción. Sabemos que, históricamente, el país tiene diversos grupos políticos.

Pero ¿cómo evalúan los camaradas la actual correlación de fuerzas en este campo? ¿Cuál es la expresión real de la izquierda revolucionaria entre la clase trabajadora en Argentina? ¿Existe la posibilidad de una unidad de acción entre comunistas y otros sectores para fortalecer el enfrentamiento contra el gobierno?

Tomas Oroño: La izquierda en Argentina es un tema muy interesante para debatir y analizar, y debemos partir de un análisis histórico, ya que en nuestro país hay un caso único en el mundo, donde la izquierda hegemónica es el trotskismo, y esto se debe a la ausencia del Partido Comunista como fuerza con independencia de clase y protagonista de las luchas populares, con la llegada del progresismo al poder en Argentina en el 2003, a los pocos años el Partido Comunista decide integrar el frente político junto a los sectores peronistas-kirchneristas-progresistas y empieza a perder el rumbo, los objetivos y todo lo que ello conlleva, y la izquierda trotskista empieza a tomar terreno, y ya con el proceso de liquidación del Partido Comunista, ya es total la influencia trotskista sobre un sector, principalmente un sector de las capas medias. A la vez hay otros sectores de izquierda no trotskista, pero no tienen ningún tipo de influencia ni desarrollo, partidos guevaristas, maoístas, o mismo “comunistas”. Nuestro análisis de la izquierda argentina, más allá de lo histórico, es que se ha volcado al electoralismo, aunque no podemos negar que son luchadores, su objetivo es expandir la bancada de diputados, jamás vas a escuchar ni leer a un trotskista hablar de la toma del poder, de la dictadura del proletariado, del derrocamiento de la burguesía, se han adaptado al régimen, algunos mucho más que otros, pero todos encaminados en el mismo sentido. Pero como destacamos su voluntad de luchar, por lo menos por las reivindicaciones inmediatas, son encontramos en los frentes de masas con el trotskismo, mismo en las movilizaciones contra el gobierno, tanto de Javier Milei, como el anterior, y muchas veces hay unidad de acción en ese sentido, pero los objetivos estratégicos nos diferencian. Desde el Partido Comunista Argentino llamamos a la unidad de acción con todos los que tienen voluntad de luchar contra el gobierno de Milei, pero manteniendo bien en claro que nuestra tarea actual es fortalecer la herramienta del proletariado que aplastara a la burguesía, y ese es el Partido Comunista Argentino, ya que ninguna organización de otra corriente guiará y será vanguardia del proletariado argentino, por eso tenemos una gran tarea enfrente, fortalecer el Partido para enfrentar a Milei y enterrar al capitalismo.

4.  Organización de las movilizaciones contra el gobierno y el papel del PCA:

El día 24 pasado, en Brasil hubo manifestaciones de apoyo a la Huelga General organizada en Argentina. Entendemos que hay una serie de convergencias en la agenda burguesa de ambos países, principalmente en torno a las privatizaciones. En este sentido, la experiencia de la Huelga General y las protestas masivas se convierten en un referente de lucha para nosotros en Brasil.

¿Cómo participa el PCA en las movilizaciones y cuál es el impacto percibido de estas acciones en el gobierno y el Estado burgués argentino? ¿Cuál es su efecto sobre las diversas categorías de trabajadores?

Tomas Oroño: Sin duda, como decimos más atrás, la movilización popular hizo recular al gobierno en una ley fundamental para ellos, y por tal fracaso, ya anunció públicamente una venganza contra la clase obrera, por ejemplo, aumentando el transporte, un 700%, y cortando recursos a distintas provincias que claramente afectaran a las economías regionales. El gobierno está viviendo una crisis, apenas un poco más de dos meses de asumir, y una parte se debe a la respuesta de la clase, con su organización –aunque todavía precaria e insuficiente- y con la resistencia de nuestra clase en los distintos frentes. Nuestro Partido ha venido participando en todas las acciones, tanto en Buenos Aires, como en Entre Ríos, Córdoba y Corrientes, organizando a los trabajadores y estudiantes en los frentes donde nuestras células y círculos actúan, hoy la tarea del Partido es organizar a la clase, el aumento de la subjetividad y la conciencia, y hacer estallar los conflictos donde estemos, radicalizarlos y llevarlos en sentido revolucionario, de esa manera actúa nuestro Partido. En las asambleas de la cultura, en las asambleas barriales, en la Huelga General, en las movilizaciones por ayuda social para nuestros vecinos, y demás acciones, encontraran al Partido Comunista Argentino, motorizando las luchas, peleando contra las corrientes colaboracionistas del gobierno que intentan frenar la lucha de las masas, e intentar llevar todo este proceso en un sentido estratégico.

5. Organización de las centrales sindicales y el nivel de movilización de los trabajadores del sector estratégico

En Brasil, vivimos una dispersión muy fuerte del movimiento sindical y su cooptación por sectores oportunistas, además de que la sindicalización no es común entre los más jóvenes, debido a las características del mundo laboral: altas tasas de desempleo y empleos informales o con alta rotación.

¿Cómo perciben el papel de las centrales sindicales y sindicatos hoy en Argentina?

Tomas Oroño: Los sindicatos hoy se encuentran en un 99,9% en manos del peronismo, algunos sindicatos más ligados al progresismo, como los docentes de la Provincia de Buenos Aires, y algunos sindicatos más ligado al peronismo reaccionario como la Unión Obrera Metalúrgica o el gremio de Sanidad, a lo que todos llevan una misma línea, de no organización de la clase, el no llamado a asambleas en los sectores de trabajo, la no participación de la clase en los conflictos, muchos y diría que mayoritariamente con una práctica de entrega de sus trabajadores y pactos con la patronal, y de quietismo de las bases sindicales. Recordemos que muchos de los dirigentes sindicales, son los mismos que pactaron con la última dictadura militar, vienen de pactar con Mauricio Macri, y obviamente con Alberto y Cristina, y ya un sector de la CGT plantea llegar a un acuerdo con Macri. El rol es reaccionario y nefasto, son burócratas que se llenan los bolsillos a costa del aporte de los trabajadores y de negociados turbios con las patronales y los gobiernos de turno. Sucedió algo curioso, que fue el llamado a Huelga General el 24 de Enero, pero se da en dos sentidos, en primer lugar la base sindical, los obreros, pedían a gritos un Paro General, sumado a que las movilizaciones del mes de Diciembre, de las masas espontáneas, la consigna era “vamos por un Paro General”, exigiendo a una definición de la central obrera (CGT), y al verse sobrepasado por su propia base, la burocracia hizo un llamado a Paro, aunque solo por 12 horas, y con varios puntos cuestionables, por otro lado, la burocracia sindical peronista se está moviendo más de lo que todos esperábamos, porque Milei pretende meterse con las obras sociales de los sindicatos, que son grandes cantidades de dinero que la burocracia usa para beneficiarse, entonces ante el peligro de perder un negocio propio, prefieren una mínima confrontación con el gobierno, aunque no nos sorprendería que en cualquier momento lleguen a un acuerdo e intenten aplastar todo tipo de movilización. El peronismo y, por ende, las direcciones sindicales, siempre tuvieron un rol desmovilizador, reaccionario y anti obrero. Por eso la importancia de un Partido Comunista como el nuestro, que tenga intercesión en el movimiento obrero argentino, para poder liberar del fardo político-ideológico que es el peronismo, y que la clase obrera se concentre en cumplir su tarea inmediata: la revolución socialista.

6.  Perspectiva del PCA

Finalmente, ¿cómo está el proceso de reconstrucción del PCA en este contexto y cuáles son las perspectivas del Partido para el próximo período?

Tomas Oroño: Nuestro Partido viene creciendo, cualitativamente y cuantitativamente, desde la Conferencia Nacional de Organización de agosto de 2023, que nos terminamos de constituir como Partido, con un Comité Central y su Secretariado, con células en varias partes del país, con la definición del Programa, con los objetivos claros sobre la construcción en el movimiento obrero, movimiento estudiantil, con el objetivo de la construcción de la prensa, y demás, se ha estado cumpliendo, y vamos avanzando en un proceso de fortalecimiento, se ve en el crecimiento en todos los regionales, en la inserción de masas, en la difusión de Orientación –nuestro Órgano Central- , nuestra intervención en las luchas, en el lanzamiento de nuevos regionales, como hace poco fue el Regional Córdoba –con importancia estratégica para el capitalismo en Argentina-. El proceso de reconstrucción revolucionaria está siendo un éxito, tanto orgánicamente, como los aciertos políticos de nuestras posiciones y nuestra línea, cada día más jóvenes se acercan a las filas del Partido buscando un puesto de lucha, por eso vemos con buenos ojos los distintos procesos que están pasando en América Latina en el Movimiento Comunista, y el desarrollo de un destacamento de vanguardia como lo es el PCB-RR en un país tan importante en la pirámide imperialista, es de gran importancia para la clase obrera brasileña y la clase obrera latinoamericana, desde nuestro Partido vemos con admiración y observamos con atención los acontecimientos de la reconstrucción revolucionaria en su país. Las perspectivas para el próximo periodo se centran en la construcción del Partido, muchos debates surgen sobre esto, ya que siempre que nace una fuerza revolucionaria, otros partidos de izquierda se acercan para formar frentes, políticos o electorales, o participar de cual o tal proyecto, pero hoy el objetivo se centra en tener un Partido fuerte, inserto en el movimiento de masas, orgánicamente poderoso, e ideológicamente cada vez más firme. Sin vacilación, aquí afirmo: lo lograremos.