'Nosso nome deve ser Ação Comunista Libertadora: Um debate sobre as mais recentes polêmicas e o Partido' (Jacobino)
Um nome para o partido deve ser programático e expressar o conteúdo político daquela organização para os que adentram em suas fileiras. Portanto, o termo comunista ao meu ver é indispensável de estar presente em nosso nome.
Por Jacobino para a Tribuna de Debates Preparatória do XVII Congresso Extraordinário.
Um nome para o partido deve ser programático e expressar o conteúdo político daquela organização para os que adentram em suas fileiras. Portanto, o termo comunista ao meu ver é indispensável de estar presente em nosso nome, pois expressa tradição política, forma-organizativa e abordagem teórico-prática em um só termo. Contudo, em geral as pessoas se concentram muito no que deve vir após ‘comunista’, sem sequer questionar-se que podem mexer no termo anterior, sem prejuízos em modificar o sentido expresso em um nome para o Partido Comunista.
Entre leninistas é ponto pacífico que a forma-partido é a forma mais desenvolvida pela humanidade de construção de uma nova sociedade. Nos termos de Gramsci, o Partido, enquanto intelectual orgânico assume no capitalismo a persona do príncipe moderno prescrito por Maquiavel, agora enquanto sujeito coletivo e que somente por ele pode-se conduzir a transformações de grande densidade histórica, conforme foi a revolução russa que com seu advento determinou toda a história do século XX e produz ecos até hoje em suas discussões e debates no século XXI, nós por exemplo fazemos parte de seu legado, dessa tradição e deste eco de continuidade.
Entretanto em diversos momentos da história do movimento comunista internacional e das lutas anti-coloniais, nem sempre as organizações políticas que adotavam a (I) forma-partido enquanto forma organizativa, utilizam o (II) marxismo-leninismo como guia e o (III) centralismo democrático enquanto princípio organizativos, se utilizaram do termo “partido” em seus nome e nem por isso deixaram de desempenhar na história de seu país o papel de sujeito coletivo que conduziu a transformações de grande densidade histórica que abalaram as ruas de seu século. Os exemplos são inesgotáveis e inclusive muitos constituem não só exemplos para nossa organização, como inclusive constam em nossas formações políticas sobre forma organizativa, movimento de massas, marxismo-leninismo e anti-colonialismo como os escritos da Frente de Libertação Palestina (FLP) de Leila Khaled, A Frente de Libertação Nacional (FLN) que atuou Frantz Fanon, o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) de Agostinho Neto, Movimento de Libertação e Moçambique (FRELIMO) de Samora Machel, entre muitos outros.
Como sabemos que terminar os textos mais direitistas colocando “pelo poder popular” em seu final não os torna de fato de caráter popular. Portanto, não será magicamente colocando “dos trabalhadores”, “popular”, “proletário” como último termo de nosso mais novo partido que de fato o será, de mesma maneira que não será colocando “partido”, como primeiro termo do nome desta nova organização revolucionária, que estaremos construindo-o de fato um partido.
Este elemento, se evidencia, por exemplo, com desvios que não se encerram com o racha e não só são antagônicos, mas são também anti-teses de uma forma-partido leninista, como por exemplo, um dos mais gritantes desvios, que temos de erradicar de norte ao sul de nossas fileiras, é o espírito federalista que impede o partido ter um espírito de corpo comum, coeso em um único modo de funcionamento nacional, como também produz as condições propícias para o chauvinismo dirigista de minha região, o sudeste, sob outras regiões do país que foram vanguardas inclusive no processo de racha, dado a displicência e negligência que o antigo Comitê Central dava as estas regiões como o Norte e Nordeste. Há estados que sofrem mais e outros menos com isso, mas enquanto estes desvios não forem erradicados de nossa organização não teremos uma forma-partido leninista. Apesar de ter ‘‘partido’’ em seu nome, o velho terá morrido, mas o novo ainda não terá nascido.
Um outro motivo, camaradas, para esta defesa, se dá em razão de um elemento que tem assombrado minhas reflexões há no mínimo 4 anos de militância e que ,certamente todo mundo que já militou, teve um contato com essa expressão do conservadorismo brasileiro que é o anti-partidarismo. Em nosso país com a degeneração dos partidos que supostamente deveriam representar os trabalhadores e se tornaram, em seu desenrolar de fato verdadeiros partidos da ordem, como PT (PSOL tem se esforçado, mas ainda não alcançou esse objetivo), o termo “partido” foi desmoralizado entre os trabalhadores que, por essa justa frustração, não veem mais na forma-partido o condutor político das grandes mudanças de suas vidas.
Em cima disso, os partidos burgueses de direita souberam fazer uma grande e efetiva propaganda ideológica de massas contra a forma-partido, a fim de desarmar os trabalhadores da principal ferramenta de luta que pode produzir as transformações de grande densidade histórica em nosso país: a forma partido-leninista na construção do partido de novo tipo. Dentre essas peças publicitárias os chavões nós já conhecemos bem, como “meu partido é o Brasil”, “meu partido é meu país”, “escolas sem partido” e que inclusive foram tão exitosas que conseguiram se infiltrar em certos ideários ditos de “esquerda”, nas noções pequeno-burguesas de que as lutas sociais não devem ter partido, ou nos gritos autonomistas de “sem partido”, “sem bandeira” e outras bravatas pequeno-burguesas.
O problema, camaradas, é que a ideologia não é mera mentira ou falseamento da realidade, ela cola, pois existe prática social que lhe dá sentido. Em um contexto de média duração, em que após mais de 20 anos de ditadura, surge um partido do seio da classe operária, protagonizando importantes lutas, como o ciclo de greves que derrubou o regime, mas que quando chega ao principal posto do executivo, essa principal representação trafica com os interesses daqueles que deveriam representar, como os trabalhadores não irão se sentir traídos por aqueles que deveria levar, até a última consequência seus interesses? Os trabalhadores não são estúpidos e não são convencidos por chavões, mas pela prática cotidiana de nosso trabalho de base, que é a única esperança que pode mudar o quadro geral da esquerda brasileira.
Após esse congresso camaradas, entraremos na etapa de preparação ideológica das massas, de educação política permanente e essa formação não se dá por aulas em auditórios, seminários acadêmicos e slides em prédios velhos dentro de universidades, cada vez mais vazias, sobre “a importância da forma partido em uma sociedade democrática”, mas sim na prática cotidiana do trabalho de base junto às grandes massas trabalhadoras de nosso país. Essa é a única esperança que pode tirar a esquerda do abismo.
Na epopeia da degeneração do PT em mais um partido burguês, os trabalhadores cada vez mais terão dificuldade em reconhecer a diferença de programa deste partido para outros partidos da ordem. Nesse sentido, um episódio ganha destaque neste trajeto de 30 anos, foi o histórico discurso de Mano Brown na Lapa, às vésperas da derrota eleitoral do ano de 2016. É evidente que Mano Brown tem toda razão em suas palavras sobre a necessidade de voltar para as bases da esquerda, mas o que a esquerda pequeno-burguesa que se regozija ao ouvir suas palavras do músico não percebe é que ele não está falando só sobre o PT, mas também sobre nós.
Naquele discurso Mano Brown diz que: “Tem uma multidão que não está aqui que precisa ser conquistada ou a gente vai cair do precipício. Não gosto do clima de festa, o que mata a gente é a cegueira e o fanatismo (...) Se somos o partido dos trabalhadores, o partido do povo tem que entender o que o povo quer, se não sabe volta pra base e vai procurar saber”. O que Brown aponta, e que muitos não entenderam ainda, é sobre a necessidade urgente da conexão que foi perdida entre esquerda e o conjunto dos trabalhadores brasileiros, caso contrário esse barco vai naufragar antes de partir.
Muitos estudos foram feitos sobre os efeitos do anti-partidarismo enquanto forma ideológica conservadora, mas que, com o advento bolsonarismo, conseguiu se articular com formas ideológicas reacionárias pseudo anti-sistemas, no qual o discurso anti-sistema que deveria estar na esquerda foi capturado pela extrema-direita. Neste campo, ganha destaque os debates feitos pela pesquisadora Clarice Gurgel que afirma que a esquerda precisa recuperar para si a titularidade das ações coletivas de rebeldia. Nossa tarefa máxima é a tarefa de tomada violenta do poder do Estado, caso percamos a noção que o verdadeiro anti-sistema somos nós, para a autora toda nossa ação estará fadada a performance.
O principal déficit da esquerda continua sendo, não de natureza teórica, mas sim organizacional. Tem uma massa de trabalhadores desorganizada (e crescentemente cada vez mais desorganizada) que sequer sabe que desgraça é esquerda, partido, comunismo, e nosso principal dever é organizá-la. Nos últimos anos avançamos singelamente em algumas questões, mas ainda muito aquém das verdadeiras necessidades do nosso povo, e o novo ciclo abre possibilidade de mudar esse quadro. Contudo, caso não re-analisemos nossas prioridades permanecerá assim enquanto mera possibilidade.
É evidente que a unidade de ação duradoura se faz através da franca e honesta disputa ideológico-política que faça parir esta verdadeira unidade, mas ela não se faz por cima, se faz principalmente por baixo e pela base. Hoje, nós perdemos mais tempo com disputismos inférteis em instâncias e direção, do que fato em conduzir a luta de classes em conexão com as necessidades e demandas imediatas dos trabalhadores brasileiros. Caso não fizermos estaremos tendo uma prática performática e não leninista, nos termos que traz Clarice Gurgel, pois como disse Mano Brown, “a cegueira que atinge lá, atinge nós também.”
A tarefa suprema do partido comunista, para o próximo ciclo que se abre, é o trabalho de base em estreita conexão com os interesses e necessidades da classe trabalhadora, em incansavelmente explicar, explicar e explicar. O Brasil em cada um de seus pactos pelo alto, é um país construído de cima pra baixo, é hora de mudarmos essa lógica. No segundo II Congresso Nacional de Delegados Pperários e Camponeses, realizado em Juaquin, Mao Tse Tung trouxe questões que apontam exatamente sobre o problema do trabalho de massas que o partido estava passando, e afirma que:
“Proponho seriamente ao Congresso que prestemos uma profunda atenção aos problemas da vida das massas, desde os problemas da terra e do trabalho aos problemas dos combustíveis, do arroz, dos óleos de cozinha e do sal. As mulheres querem aprender a lavrar e a gradar a terra; a quem pedir para ensiná-las? As crianças querem estudar; já estão criadas as escolas primárias? A ponte de madeira ali da frente é tão estreita que em cada momento se corre o risco de cair-se dela para a água; não será já tempo de reconstruí-la? Muitas pessoas sofrem de várias doenças e têm feridas; como curá-las? Todos esses problemas respeitantes à vida das massas devem ser postos na nossa ordem do dia.” (TSE TUNG, Mao, 1934, p.6)
Portanto camaradas, a proposta do nome “Ação Comunista Libertadora”, dialoga justamente com esse nível de disputa ideológica, na tarefa central que precisamos nos destacar dos demais partidos existentes, de modo que a melhor disputa e recuperação se dá na demonstração dia-a-dia, do que de fato é um partido proletário de novo tipo! Se dá, não com nomenclaturas, mas através da prática e do exemplo. Qualquer um que tenha tocado tarefas de base nos últimos 20 anos sabe que a principal dificuldade que nós tínhamos (e temos) enquanto partido é demonstrar para o trabalhador médio o que nos diferencia dos demais partidos da esquerda. E quando conseguimos, não é pelo que escrevemos em nossos programas, ou por que nossa identidade visual é a mais bonita, mas sim, por que demonstramos na prática cotidiana da vida das pessoas, qual a diferença do nosso partido para os demais.
Na importante tarefa que temos tocado em todo país, pelo fim da jornada 6X1 junto com os companheiro do movimento VAT, é notável a abertura que a classe trabalhadora tem quando tratamos sobre a possibilidade real da jornada semanal de 30 horas, mas também é notável como se fecha quando adentramos mais na política, pois os trabalhadores estão cansado da política, pois estão cansado de serem enganados, pois acham coisa de oportunista. Apesar de nosso discurso, das foices e martelos, das nossas vestimentas e críticas justíssimas, na média as pessoas acham que somos do PT camaradas. Portanto, nosso principal desafio é nos destacar e o nome de um partido é seu cartão de apresentação para a classe, de modo que um nome como Ação Comunista Libertadora cumpre este de requisito de destaque para a classe, mas mantendo seu conteúdo programático de uma organização comunista, que, como comunistas, se organizam em forma partido.
Essa diferenciação se dará no cotidiano em cada conversa, em cada panfletagem, em cada trabalho de base em que explicarmos o que é o nosso partido e por que ele se distingue dos partidos de velho tipo, partidos burgueses do topa tudo por voto. Não iremos as pessoas porque queremos seus votos, iremos as pessoas porque queremos uma revolução e isso se faz com a organização de cada trabalhador. Em cada um desses locais de atuação que nossos organismos de base atuem, devemos explicar o que é o partido comunista de novo tipo, como se organiza, sua tarefa do trabalho de base para construir uma revolução dos oprimidos e como se organizar no mesmo, assim como em “O Manejo correto de uma Revolução, Huey P Newton diz que:
“O principal propósito da vanguarda deve ser elevar a consciência das massas graças a programas educacionais e outras atividades. (...) Portanto, as massas devem saber que o Partido existe. O Partido deve usar todos os meios disponíveis para fazer com que estas informações se disseminam para as massas. Se as massas não tem conhecimento do Partido, então será impossível que sigam seu programa” (MANOEL; LANDI, 2020, p.95-96)
Nesta proposta, o último termo, ‘Libertadora’, dialoga com um princípio político da Liberdade, mas não em um sentido universalista europeu, conforme pregavam os teóricos burgueses contratualistas e iluministas de maneira geral. Mas sim, com um conceito concreto de liberdade construído de baixo para cima (e não ao contrário), que o Partido Comunista tem como tarefa histórica construir a verdadeira libertação junto com a classe, uma liberdade concreta que só pode ser alcançado quando todos tiverem onde morar, o que comer e como viver dignamente e somente nesse dia em que todos forem livres, finalmente o povo trabalhador brasileira terá sua liberdade.
Em um modo de produção capitalista, que emergiu de um modo de produção escravista, esse sentido concreto de liberdade é muito poderoso, pois nunca fomos livres, camaradas. A escravidão colonial foi substituída pela escravidão assalariada moderna, nós que trabalhamos 12 horas por dia, com o desejo de dar uma via mínimamente digna para nossas famílias, não somos verdadeiramente livres, e essa libertação só se faz por meio de uma revolução, em que os trabalhadores coletivamente irão alcaçar a nossa seguna abolidação.
Nos meus estudos, muito me é interessante, por exemplo como no caso do Partido dos Panteras Negras, este conceito de liberdade aparece frequentemente em suas formulações, enquanto um conceito do que é ser livre pelanamente No texto “Libertação significa Liberdade” publicado no Jornal The Black Panther, v.3, n° tratam sobre o êxito das chamadas “Escolas de Libertação” estavam tendo no trabalho de base com as comunidades negras dos Estados Unidos, no qual é dito que: “Revolução significa Mudança; Revolucionários são Transformadores; Libertação significa Liberdade; (...) A beleza do socialismo é vista através de sua prática diária” (SAMYN, 2018, p. 283). Acredito que com esse sentido concreto do que é liberdade que o nome programático de nosso partido deve dialogar.
Além disso, o termo libertação dialoga com outros dois debates que eu acho que devemos disputar em seu sentido: o (1) ideológico e (2) histórico, vamos primeiramente ao religioso. Nas últimas semanas, muito tem se falado sobre a polêmica da religião e a primeira constatação é que, infelizmente, os comunistas não entendem de Bíblia, dos dois lados da polêmica. Não devemos nos furtar desse debate, como nunca nos furtamos, mas precisamos de uma interpretação a partir do materialismo histórico sobre a religião e nunca o contrário, isto é uma explicação pela religião sobre o materialismo histórico.
Antes de mais nada, vale ressaltar que, independente de divergência sobre dada opinião, isso nunca é desculpa para tratar com desrespeito e deboche um camarada do qual divergimos. Na verdade, trata-se de uma atitude infantil que desestimula a participação de camaradas nesse debate, nem preciso dizer qual será os setores oprimidos mais atingidos e afastados por esse tipo de postura infantil do debate certo? Então se realmente queremos construir um ambiente saudável de democracia interna no nosso partido, precisamos primeiro olhar pela forma que tratamos o outro e prezar pelo respeito e não por alijar camaradas por meio de deboches.
Eu, honestamente, discordo dos pontos trazidos pelo camarada Felipe Bezerra em sua tribuna, 'A revolução brasileira será evangélica, ou não será', mas o camarada traz pontos pro debate que são relevantes, como a questão da demografia da classe trabalhadora, que enriqueceram a discussão. Por outro lado, não consigo concordar plenamente com o camarada C. Fernandes, em sua tribuna 'A revolução será trabalhadora, nada mais, nada menos: resposta ao camarada Filipe Bezerra', pela forma desrespeitosa que rebaixa o debate quando tenta tragar a discussão para o deboche e o moralismo, quando a esquerda tem que se arrastar para o pantano da moral e argumento e autoridade, pode ter certeza, a esquerda já está morta. Nesse sentido, eu concordo com Fernandes que: “Nosso campo de disputa não é o reino celeste, nossos modos de fazer política devem corresponder aos nossos propósitos.” Dito isso, eu gostaria de perguntar: se seus meios correspondem aos seus fins? seu modo de fazer política é desrespeitando seus pares? é dessa maneira que o camarada pretende fazer política e trabalho de base? pois aí teríamos um problema.
Em relação ao conceito de libertação, nenhum dos camaradas, que se engajaram tanto no debate sobre religião, sequer citaram quais são os aportes que tornam os evangélicos mais reacionários. Atualmente no Brasil existem 2 teologias dominantes, isto é, hipóteses de interpretação da Bíblia, que são hegemônicas entre as principais denominações do espectro evangélico (Protestante, Assembléia e Igreja Universal do Reino de Deus - IURD), são as Teologias do Domínio e a Teologia da Prosperidade.
Há certas distinções entre estas teologias, mas ambas fazem uma operação ideológica que é recuperar pela extrema-direita um conceito caro para o evangelismo, que é o conceito de libertação. Indo a bairros pobres e comunidades, podem perceber o crescimento de Igrejas do espectro evangélico (há tendências que apontam que em 2032 os evangélicos irão inverter o espectro demográfico, sendo maioria sob os católicos no Brasil), independente se eles são Protestante, IURD ou Assembleistas, podem perceber que, sempre há 1 dia da semana dedicado ao “culto de libertação”.
Neste dia da libertação, o trabalho ideológico todo é feito pelo conceito de liberdade, de “libertar as pessoas do mal”, de “desvios morais”, e que a principal disputa no conceito de liberdade se dá pela salvação individual e não coletiva. Isso é um ponto muito importante do ponto de vista de disputa de consciência, pois rivaliza com uma questão que os evangélicos sempre tiveram dificuldade de alinhar acerca de um ponto fulcral da Teologia da Libertação, em que a salvação é feita coletivamente, os homens não se salvam individualmente, somente em comunhão entre si.
Deste modo, eles atacam diretamente a base do que é o conceito de libertação nessa disputa e recupera (até agora com êxito) um termo que historicamente foi à esquerda, que é o conceito de libertação e liberdade. Nesse sentido, a extrema-direita está cooptando termos que são caros à história dos trabalhadores, como liberdade, libertação e nós simplesmente ficamos olhando com cara de ababacados sem fazer nada? Esses conceitos são nossos e essa contradição da disputa de um conceito tão caro para uma população trabalhadora que viveu sob 500 anos de um regime escravista e quer ser livre do capitalismo, é uma disputa que eu vou fazer.
A razão histórica reside exatamente aí, historicamente diversas organizações importantíssimas na história da esquerda do Brasil, formularam e teorizaram sobre o conceito de libertação. Para me limitar a três, temos a Aliança Nacional Libertadora, que teve papel fundamental no combate ao fascismo-integralista, enquanto uma organização comunista e antifacsita na década de 30. Entretanto, tendo também a gloriosa Ação Libertadora Nacional, do camarada Marighella, que levava no nome a proposta de fazer a Libertação Nacional, que junto aos camaradas do MR-8 conseguiram uma das conquistas históricas dos movimentos guerrilheiros na América Latina, que foi o sequestro do embaixador americano e sua troca por presos políticos. Em último lugar, temos a própria Ação Popular - Marxista-Leninista, que tinha toda uma formulação sobre o papel do trabalho de base, na construção da libertação nacional pela via revolucionária.
Apesar dos desvios etapistas presentes nas concepções destas organizações, o conceito de libertação em um país que nasce das entranhas da brutal escravidão colonial, dialoga diretamente com a classe trabalhadora. Sim camaradas, nós queremos que os trabalhadores brasileiros sejam livres e na correção destes desvios etapistas devemos afirmar que essa libertação não se faz em alianças nacionais, todas essas estratégias foram tentadas e fracassaram. A verdadeira libertação da classe trabalhadora brasileira, não se faz pela igreja, nem com promessas demagógicas de ascensão individual, muito menos em alianças espúrias com a burguesia, e sim a verdadeira libertação do povo brasileiro, se faz com a revolução socialista e esse é um conceito que devemos disputar.
Para finalizar, camaradas, peço que reflitam sobre os desafios que teremos após esse congresso. Nos recentes debates sobre a religião, alguns pontos foram trazidos, mas peço que nos debrucemos sobre o papel ideológico que a religião tem sobre a classe trabalhadora hoje. Por exemplo, camaradas, digamos que em determinado organismo de base tenhamos um trabalho muito exitoso de disputa de consciência da classe trabalhadora, em que todo domingo fazemos, em determinada célula, panfletagem de duração de 3 horas com a nossa linha, em que somos bem recebidos e a classe trabalhadora abraça o trabalho que o partido vem fazendo naquele local.
Neste caso, temos por semana um trabalho ideológico comunista muito bom de 3 horas/semana, pensem camarada, que em cada favela há todo dia nascendo uma igreja com cultos diários de duração de 3 horas, difundindo cotidianamente os maiores reacionarismo que podem imaginar, sempre cheios com trabalhadores negros, mulheres e crianças que procuram nesse local o coração de um mundo sem coração, o analgesico para a criatura oprimida e acham. Um local onde sejam ouvidos, acolhidos, eles oferecem perdão e nós na maioria julgamentos. Nestas circunstâncias são 3 horas nossas por semana contra 21 horas de trabalho ideológico constante sendo feito, o caminho será muito grande e temos muito a fazer.
Os comunistas precisam tratar sobre a religião, mas não com as táticas do lado de lá, defendo as religiões historicamente perseguidas e não nos furtando de um debate que sempre fizemos na história.
Em 2017 tínhamos 1 Bolsonaro, isto é, um candidato fascista com chances e que foi eleito como representante da burguesia, hoje existem diversos bolsonaros inoculados prontos para emergir na primeira crise, em que a Burguesia poderá escolher a dedo qual o perfil mais adequado para representar seus interesses neste momento de exceção. Nos últimos anos, diversos estudos têm sido publicados ressaltando que, governos de austeridade fiscal, antecedem ascensões de alternativas de extrema-direita, cito somente o mais famoso e recentemente lançado no Brasil “A Ordem do Capital” de Clara Mattei que tem apontado exatamente para isso, que a austeridade que vivemos hoje pode ser a antessala do fascimso que está por vir.
Hoje é como se estivéssemos em 2014, com tempo para fazer o trabalho de base, a preparação ideológica e disputa de consciência que a esquerda não fez e caso não façamos será novamente tarde demais, enquanto a gente estará querendo recuperar o trabalho de base que devíamos ter feito nos anos anteriores. Sintam a responsa que está sob nós, independente dos resultados do congresso tenhamos senso de urgência da tarefa que repousa sob nossos ombros.
Referências:
● BEZERRA, Felipe. 'A revolução brasileira será evangélica, ou não será. Disponível em: https://emdefesadocomunismo.com.br/a-revolucao-brasileira-sera-evangelica-ou-nao-sera/
● FERNANDES, C. 'A revolução será trabalhadora, nada mais, nada menos: resposta ao camarada Filipe Bezerra'. Disponível em: https://emdefesadocomunismo.com.br/a-revolucao-sera-trabalhadora-nada-mais-nada-menos-resposta-ao-camarada-filipe-bezerra/
● GRAMSCI. Antonio. Por uma preparação ideológica das massas. Disponível em:https://traduagindo.com/2022/06/20/antonio-gramsci-por-uma-preparacao-ideologica-das-massas/
● GRAMSCI, Antonio. Cadernos do cárcere. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1999-2002, 6v. Vol 3. Disponível em: https://drive.google.com/file/d/1F2BnGlmeFNsSESDK1U1LLwuJ3oFLYOdw/view?usp=sharing
● GURGEL, Clarice. Ação performática: sintoma de uma crise na esquerda. 2017. Disponível em: niepmarx.com.br/index.php/MM/article/view/160
● GURGEL, Clarice. Não é performance: Sobre o 8 de Janeiro. 13 de Janeiro de 2023. Disponveíl em: https://www.ihu.unisinos.br/categorias/625523-nao-e-performance-artigo-de-clarisse-gurgel
● GURGEL, Clarice. Ação performática: a política revolucionária entre a depressão e o êxtase. Março de 2016. Disponível em: https://lavrapalavra.com/2016/03/02/acao-performatica-a-politica-revolucionaria-entre-a-depressao-e-o-extase/
● MANOEL, Jones; LANDI, Gabriel (Org.) . Raça Classe e Revolução: A Luta pelo Poder Popular nos Estados Unidos - Volume 2: Coleção Quebrando as Correntes. São Paulo. Editora Autonomia Literária. 2020.
● MATTEI, Clara. A Ordem do Capital. São Paulo. Boitempo 2024.
● NETTO, José Paulo. O déficit da esquerda é organizacional. Disponível em: https://traduagindo.com/2020/10/21/jose-paulo-netto-o-deficit-da-esquerda-e-organizacional/
● SAMYN, Henrique Marques. Por uma revolução antirracista uma antologia de textos dos Panteras Negras (1968-1971). Editora Nova Cultura. Rio de Janeiro. 2018. Disponível em: https://drive.google.com/file/d/182Sp7njhXGK8g51hQKQxcT6RFVGxodIq/view?usp=drive_link
● TSE TUNG, Mao. Maior Preocupação com a Vida das Massas e Maior Atenção aos Métodos de Trabalho. Janeiro de 1934. Disponível em: https://traduagindo.com/2021/01/27/mao-zedong-maior-preocupacao-com-a-vida-das-massas/