Justiça do Trabalho ataca os direitos de seus próprios servidores

Um servidor acima de 59 anos deixará de receber R$ 3.584,52 e passará a receber R$ 546,00 para custear seus gastos com saúde. Tudo isso no contexto em que os servidores enfrentam sobrecarga de trabalho por falta de pessoal.

Justiça do Trabalho ataca os direitos de seus próprios servidores
Servidores do TRT-15 reunidos para assembleia sindical em frente à sede do tribunal. Fotos: Jornal O Futuro.

Por Redação

No dia 17/02/2025, segunda-feira, o Tribunal Regional do Trabalho da 15ª Região (TRT-15) recebeu a visita do ministro e atual presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Luís Roberto Barroso. Sabendo da sua visita e em meio à ameaça de cortes no plano de saúde dos servidores, o Sindiquinze (sindicato dos servidores do TRT-15) organizou um “bandeiraço”, agitação com várias bandeiras na frente do tribunal, para receber o ministro e pressionar contra essa medida. A manifestação contou com caravanas de diversos lugares do estado de São Paulo, como São José dos Campos, Bauru, Ribeirão Preto, Araraquara, entre outros.

Hoje apenas os magistrados, ou seja, juízes e desembargadores, têm o auxílio-saúde como porcentagem do salário, no mínimo 8%. Enquanto isso, os servidores – Oficiais de Justiça, analistas judiciários, técnicos judiciários, etc. – não têm o auxílio atrelado ao salário, e sim uma tabela com dez faixas de idade. A primeira faixa de idade é até 18 anos, recebendo auxílio de até R$ 716,90, e a última faixa é acima de 59 anos, recebendo até R$ 3.584,52. O auxílio-saúde é pago para reembolso de gastos com plano de saúde.

No dia 31 de janeiro de 2025, porém, o Conselho Superior da Justiça do Trabalho (CSJT) publicou uma decisão determinando que os tribunais da Justiça do Trabalho de todo o país passem a estabelecer R$ 546,00 como o teto do auxílio-saúde do servidor, com acréscimo do mesmo valor para cada dependente, enquanto os magistrados terão o teto do auxílio-saúde como 8% de seus salários. Ou seja, praticamente nada muda para os juízes e desembargadores, mas tudo muda para os servidores, especialmente os mais velhos. Um servidor acima de 59 anos deixará de receber R$ 3.584,52 e passará a receber R$ 546,00 para custear seus gastos com saúde. Tudo isso no contexto em que os servidores enfrentam sobrecarga de trabalho por falta de pessoal.

Para deixar escancarada a desigualdade entre as duas classes, segundo dados do portal da transparência do TRT-15 os gastos com auxílios de juízes e desembargadores cresceram 261,2% em 2024. Nisso estão incluídos outros auxílios além do auxílio-saúde. Junto com a recente decisão do CSJT de reduzir drasticamente o auxílio-saúde dos servidores, a mensagem é clara: a vida dos trabalhadores da justiça do trabalho vale muito menos que a vida dos juízes que supostamente deveriam fazer valer os direitos dos trabalhadores brasileiros.

Além disso, em uma reunião dos representantes do Sindiquinze com a presidenta do TRT-15, a Desembargadora Ana Paula Pellegrina Lockmann, ela considerou o auxílio-saúde um privilégio e não um direito do servidor.

Sobre a ameaça de corte, o Sindiquinze protocolou um Mandado de Segurança (ação jurídica para resguardar um direito que está em risco), que já foi rejeitado. Além disso, a Federação Nacional dos Trabalhadores e das Trabalhadoras do Judiciário Federal e Ministério Público da União (FENAJUFE), federação à qual o Sindiquinze pertence, impetrou Procedimento de Controle Administrativo no CSJT contra a medida. Como os trabalhadores brasileiros bem sabem, essa burocracia burguesa serve para desgastar a luta e cansar os trabalhadores. Essa preocupação foi demonstrada pelo sindicato, que tem comunicado que, se for necessário, será iniciada greve por tempo indeterminado.