Israel conta com a 'cumplicidade' da comunidade internacional para cometer genocídio, diz comitê palestino

Coalizão da sociedade civil palestina, que lidera movimento global por Boicote, Desinvestimento e Sanções (BDS) contra Israel, destaca importância em romper acordos de cooperação com o país sionista.

Israel conta com a 'cumplicidade' da comunidade internacional para cometer genocídio, diz comitê palestino
“Tudo o que o povo palestino quer nesse momento é poder comer um pão e enterrar seus mortos”.

Por Marcelo Hayashi

O Comitê Nacional Palestino do movimento global de Boicote, Desinvestimento e Sanções (BDS) pede o cessar-fogo imediato e a imposição de sanções contra Israel. “A razão pela qual continuamos vendo o genocídio ser realizado contra o povo palestino é a cumplicidade de tantos países e organizações em torno do mundo com Israel”, destacou Saleh Al Ame, representante da coalizão, em coletiva de imprensa, nesta sexta-feira (27/10). Organizado desde 2005 pela sociedade civil, o BDS é uma frente de luta pela libertação da Palestina.

Países como os Estados Unidos, a Inglaterra e a França, segundo ele, estão “tomando parte nessa calamidade” ao enviar armamentos e demonstrar apoio ao país sionista, sobretudo neste contexto de escalada de tensão. Noruega e Nova Zelândia, por sua vez, são países que mantêm fundos de companhias israelenses.

Uma nova tentativa para firmar um cessar-fogo na região será votada ainda nesta sexta pelo Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU). A proposta brasileira pelo cessar-fogo temporário apresentada no dia 18 de outubro recebeu 12 votos favoráveis, mas acabou rejeitada devido ao veto dos Estados Unidos.

O Conselho de Segurança da ONU é formado por 15 membros, dos quais apenas cinco têm assento permanente, o que confere poder de veto: Estados Unidos, Rússia, China, França e Reino Unido. Lula chegou a chamar de “contradição” que tais países são aqueles que “fabricam armas, que vendem armas e que fazem guerra”, pedindo uma “democratização” do Conselho.

Para a historiadora Arlene Clemesha, diretora do Centro de Estudos Árabes da USP, o Brasil tem poder de influência sobre a comunidade internacional e sobre a geopolítica atual. De tal forma, deve rever contratos firmados com Israel que “em seu conjunto, sinalizam uma contradição com o que o Brasil pensa sobre o que está acontecendo”, destacou na coletiva, em referência à declaração de Lula na última quarta-feira: “não é uma guerra, é um genocídio que já matou quase 2 mil crianças”, disse o presidente.

“Romper esses contratos, portanto, seria um primeiro passo muito importante”, destacou a historiadora, já que, “a sanção é a única resposta pacífica, onde o Brasil pode ser uma liderança”. “São incentivos adequados para que Israel pare de agir à revelia da lei internacional”, acrescentou.

No último dia 18 de outubro, quando o mundo assistia há 11 dias o massacre perpetrado por Israel, sobretudo na Faixa de Gaza, após a contraofensiva do Hamas do dia 7 de outubro, a Câmara dos Deputados aprovou o Projeto de Decreto Legislativo (PDL) 554/21, que fala sobre o acordo entre Brasil e Israel por “cooperação em segurança pública, prevenção e combate ao crime organizado”. A proposta, que será enviada ao Senado, teve voto contrário apenas do PSOL.

“É uma sinalização gravíssima, no contexto do massacre que nós temos visto, a aprovação do PDL 554”, afirmou a deputada federal Fernanda Melchionna (PSOL/RS), que é requerente da Frente Mista pelos Direitos do Povo Palestino.

Melchionna, na coletiva, lembrou ainda das violações cometidas por Israel contra o povo palestivo: o uso de fósforo branco que é considerado um crime de guerra e proibido pela ONU, corte de energia, eletricidade, água e interrupção da entrada de alimentos, desde o dia 7 de outubro. A deputada também lembrou da propaganda feita por Israel para deslocar o povo de Gaza para o sul do território, sendo que “o sul também continuou a ser bombardeado”.

Saleh Al Ame ainda fez um apelo para que organizações, partidos políticos e demais pessoas, que constróem a luta em solidariedade ao povo palestino, hasteem a bandeira das sanções contra Israel, para acabar com o “sinal verde” que o estado sionista têm para prosseguir com o massacre.

“Tudo o que o povo palestino quer nesse momento é poder comer um pão e enterrar seus mortos”, finalizou.

Os próximos dias serão de mobilizações em algumas cidades do Brasil em solidariedade à Palestina. No domingo (29/10), haverá atos em Curitiba (10h na Praça Tiradentes) e em São Paulo (11h na Praça Oswaldo Cruz). Na segunda-feira (30/10), haverá ato em João Pessoa (18h30 na Praça do CE).