Greve dos trabalhadores portuários nos EUA é suspensa após acordo com empregadores
Cerca de 50 mil trabalhadores portuários da Costa Leste e do Golfo deixaram os principais portos dos EUA após o término de seu contrato de trabalho, causando um prejuízo diário de US$ 540 milhões.
Por Redação
Quase 50 mil trabalhadores portuários da Costa Leste e do Golfo (de Maine, Texas) saíram na terça-feira (1) dos principais portos dos EUA depois que seu contrato de trabalho expirou à meia-noite, dando início a uma greve reivindicando melhores salários e contra a automação dos portos.
A greve acontece em um momento crítico nos EUA, dado que o prazo para se chegar a um acordo caiu apenas algumas semanas antes das eleições presidenciais e os varejistas se esforçam para cumprir metas de importação do estoque que garante o abastecimento de suas atividades antes da temporada de compras de fim de ano.
Há meses as negociações para um novo contrato estavam em um impasse. A Aliança Marítima dos Estados Unidos (USMX), entidade patronal representante dos empregadores, disse que elevaria os salários em quase 50%, triplicaria as contribuições para o plano de pensão e fortaleceria as opções de assistência médica. Contudo, de acordo com membros da Associação Internacional de Estivadores (“ILA” – sindicato da categoria), a proposta é inferior à pedida pelo sindicato.
A ILA reivindica um aumento salarial de US$5 dólares por hora anualmente durante a vigência do acordo de seis anos. Além do aumento salarial, a entidade busca a revisão das cláusulas sobre automação, cláusulas estas que custariam o emprego de centenas de trabalhadores e trabalhadoras.
Uma hora após o início da greve, o presidente da ILA, Harold Daggett, fez uma declaração onde dizia:
“A USMX iniciou essa greve quando decidiu manter-se firme com as transportadoras marítimas de propriedade estrangeira que lucram bilhões de dólares nos portos dos Estados Unidos, mas não compensar os estivadores americanos da ILA que realizam o trabalho que lhes traz riqueza”.
Harold Daggett ameaçou por meses iniciar uma greve no dia 1° de outubro caso nenhum acordo fosse alcançado antes do prazo.
Apesar de não existir uma precisão nas estimativas feitas, todas as análises convergem no que diz respeito ao impacto massivo que a greve tem para a economia estadunidense. De acordo com o think thank The Conference Board, o prejuízo diário foi de US$ 540 milhões de dólares e, caso a greve se estendesse por uma semana, a perda projetada era de US$ 3,78 bilhões. Já o banco JPMorgan Chase & Co. estimava um baque econômico de US$ 3,8 bilhões e US$ 4,5 bilhões por dia.
Os 36 portos que estavam parados movimentam 57% do volume de contêineres dos EUA. Juntos, são responsáveis por um quarto do comércio internacional anual do país, de cerca de US$ 3 trilhões. Trata-se de um ponto nevrálgico da maior economia do mundo.
Compreendendo a relevância dessa movimentação para o seus lucros, mais de 200 grupos empresariais enviaram uma carta à Casa Branca na semana passada pedindo que o governo Biden interviesse para evitar a greve. Biden disse aos repórteres no domingo (29) que não tem intenção de usar seus poderes, porque entende que se trata de uma negociação coletiva e “não acredita na Lei Taft-Hartley”. A referência é ao Taft-Hartley Act, lei de 1947 que dispõe sobre a permanência dos trabalhadores no trabalho em caso de “ameaça à segurança nacional”.
Mesmo sem a necessidade de intervenção por parte do presidente, e após um acordo entre a USMX e a ILA, a greve foi suspensa na noite de quinta-feira (3) até o dia 15 de janeiro. Este acordo dará tempo para que o sindicato e o grupo patronal negociem um novo contrato de seis anos. Os detalhes da negociação não foram divulgados ao público.
Apesar de sua curta duração, fica evidente o severo impacto na circulação de mercadorias que a greve impôs à economia estadunidense. A classe dos capitalistas foi forçada a ouvir as reivindicações e a dialogar com os interesses dos trabalhadores.