'Design como projeto: para além da estética e do símbolo' (Contribuição anônima)

Pensar no design em todos os âmbitos é de extrema importância para a execução de uma boa identidade visual.

'Design como projeto: para além da estética e do símbolo' (Contribuição anônima)

Contribuição anônima para a Tribuna de Debates Preparatória do XVII Congresso Extraordinário.

Escrevo essa tribuna motivado pelo ótimo texto da tribuna “O nosso símbolo será um espelho da classe trabalhadora brasileira”, e também para contribuir na elaboração do design do partido visando facilitar o trabalho num futuro próximo.

Primeiramente é bom levantar que se faz necessária a leitura da tribuna citada acima exatamente por nos trazer com mais complexidade alguns temas históricos com relação ao histórico do movimento comunista internacional que não fazem sentido serem replicados novamente aqui. Outro detalhe é que esse texto não traz nenhuma proposta de design e identidade visual diretamente, acredito que esse debate tenha que ser fomentado agora para ser um trabalho de várias mãos quando chegar a hora, principalmente por sentir que a contribuição de um grupo diverso pode trazer uma qualidade gigantesca na elaboração de um projeto desse gênero.

Gostaria de escrever sobre alguns pontos que estão profundamente enraizados na ideia do que é design segundo a lógica neoliberal e que geram grande confusão: ao contrário do senso comum, design não é apenas uma execução mecânica ou habilidade com algum programa de edição de imagens e desenho. De forma bem simples, o design tem sua parte menos visual e mais teórica e que me arrisco dizer ser a mais importante peça de todas para ser bem sucedido: a parte projetual. O projeto envolve concepção, planejamento, processos, recursos e só então criação e aplicação. Em resumo: fazer design é saber projetar, e projetar é ter um plano para atingir um objetivo. Inclusive o significado da palavra design em inglês é projeto e começou a ser empregada nesse sentido no século XVII, na Inglaterra. [1]

A grande problemática já citada no texto da camarada Gata Soviética em relação ao símbolo da foice e martelo também se expande em relação a outros elementos visuais: cores, tipografia, diagramação e outros detalhes que compõem uma identidade visual.

Para nós, é necessário saber se encontrar dentro do design e entender que a transposição e réplica do que era feito na União Soviética, -o que considero um grande vício dentro dos meus 6 anos de experiências com design dentro de um partido comunista-, não acrescentam em nada para a comunicação com as massas dentro do Brasil. Esse debate era um assunto extremamente negligenciado dentro do PCB, assim como muitos outros, sendo algo que não podemos deixar passar a partir de agora. Olhando para o material impresso dos anos de militância e para a atuação nas redes do PCB fica fácil observar como o design era em grande parte cheio de amadorismo e descompromisso, apesar das inúmeras tentativas totalmente sufocadas de se melhorar.

É necessário fazer um trabalho teórico e projetual pesado em cima de todas as partes que compõem uma Identidade visual: estudar e separar quais as cores serão mais assertivas para uma agitação nas redes sociais e a aplicação em impressos, gerar alternativas tipográficas que permitam composições voltadas para diferentes meios e buscar no nosso dia-a-dia as referências guias da nossa comunicação visual. Lembrem-se que essas escolhas, se forem assertivas, vão sempre maximizar o nosso leque de possibilidades dentro do design, fugindo da lógica de que a aplicação da identidade visual é uma regra rígida e impositiva dentro de um arquivo pronto onde se deve trocar o texto e a foto de fundo.

Precisamos buscar quem possa contribuir nessa parte teórica e projetual do design, necessitamos de um mapeamento de habilidades/formação e então selecionar camaradas que atuam na área para ajudar nessa tarefa, -isso se expande também para outras tarefas específicas dentro da militância mas vamos manter essa discussão restrita ao design por ora-.

O Brasil é um dos países mais ricos em design produzido por não-designer, o chamado design vernacular [2], creio que não seja muito difícil reparar que estamos cercados pela produção artística popular. Também é necessário observar a modernização do design e se rodear de boas referências para um bom projeto. Um grande exemplo disso é como o brutalismo era muito bem utilizado na agitação e propaganda dentro da União Soviética, formando boa parte da estética que hoje é mecanicamente transposta. Muitas vezes é necessário deixar de lado o design chato e institucional da foto de fundo e o degradê azul-vermelho e apostar numa composição visual tipográfica interessante e que converse com o tema do assunto. Precisamos da parte projetual do design para saber saber quando economizar tempo e onde colocar mais esforço.

Seguindo algumas diretrizes de criação ao elaborar nossa nova identidade visual podemos criar materiais de qualidade e acessibilidade acertadas, desde o mais simples lambe-lambe colado num poste até a publicação de um carrossel complexo de 8 imagens nas redes sociais. O design também deve se preocupar em andar junto às nossas Campanhas Financeiras, ele deve ser utilizável em materiais que possam resultar ao mesmo tempo em agitação e propaganda e em uma boa CF.

Pensar no design em todos os âmbitos é de extrema importância para a execução de uma boa identidade visual e demonstra que entender que design é projeto é mais importante ainda se tratando de um partido revolucionário que visa ter presença em todos os espaços possíveis.


[1] Discussão Acerca do Significado do Termo “Design” Utilizado em Produtos e Serviços http://pdf.blucher.com.br.s3-sa-east-1.amazonaws.com/designproceedings/ped2018/1.2_ACO_06.pdf

[2] O DESIGN E A VALORIZAÇÃO DO VERNACULAR OU DE PRÁTICAS REALIZADAS POR NÃO - DESIGNERS https://www.proceedings.blucher.com.br/article-details/o-design-e-a-valorizao-do-vernacular-ou-de-prticas-realizadas-por-no-designers-12853