Crise no setor automotivo impacta indústrias dos EUA e Alemanha
O setor automotivo alemão está entrando em decadência, enquanto o futuro dos veículos elétricos pressiona o mercado dos EUA – conjuntura em que a China ganha mercados e os trabalhadores perdem direitos.
Por Redação
A última análise feita pela consultoria PricewaterhouseCoopers (PwC) apresenta que a dinâmica do mercado de veículos tem mudado claramente em favor dos veículos elétricos (VEs). A PwC prevê que o número de VEs nas ruas aumentará nos próximos anos. De uma perspectiva alemã, os resultados são preocupantes: O Modelo Y da Tesla é, de longe, o veículo elétrico mais vendido nos principais mercados internacionais – Europa, China e EUA – enquanto os modelos da Volkswagen ficam muito atrás. Frank Schwope, especialista no setor automobilístico da Universidade de Ciências Aplicadas para Pequenas e Médias Empresas em Hanover, acredita que as dificuldades de inserção da Volkswagen nos mercados é uma das principais razões para a crise enfrentada. Também afirma em entrevista à DW que a queda das vendas da empresa se deve à “perturbação causada pela eletromobilidade e pelas novas concorrentes chinesas”.
Ao mesmo tempo, a empresa também culpa as oscilações do mercado pela queda nos lucros da empresa, que viu seu lucro líquido cair 64% no último trimestre de 2024 em comparação com o ano anterior. Para lidar com a perda do lucro da burguesia, a Volkswagen almeja economizar principalmente nos custos salariais, como apontam relatos no jornal de negócios alemão Handelblatt. Um corte de 10% nos salários visava o montante de 800 milhões de euros à meta de economia da empresa, cujo objetivo final é chegar a 4 bilhões de euros. De acordo com o conselho de trabalhadores da VW, a montadora está planejando fechar fábricas, condenando dezenas de milhares de trabalhadores ao desemprego.
Contudo os cortes de salário não pararam na estimativa dos 10%. A empresa anunciou que os salários serão cortados em 18% e três fábricas serão fechadas. Tal conjuntura movimentou a reação dos sindicatos, e os funcionários da Volkswagen anunciaram, em resposta, a sua resistência, que incluiu a ocupação das fábricas.
Nesta conjuntura, a extrema-direita alemã se aproveita para disputar a narrativa, culpando as pautas ambientais e de transição energética – e não as dinâmicas estruturais e cíclicas do capitalismo – pela crise do setor. Além disso, há perspectiva de uma crise comercial iminente na União Europeia, decorrente da crise no setor automotivo alemão. A UE decidiu impor tarifas extras sobre as importações de carros elétricos fabricados na China, que respondeu levando o caso à OMC.
Ademais, nos EUA o setor automotivo se reflete em duas diferentes visões concorrentes que entram em conflito a partir das eleições presidenciais. Harris promete que “a próxima geração de avanços” será construída nos EUA, fazendo alusão aos veículos elétricos, já Trump promete veículos a gasolina “por muito, muito tempo”. Ressalta-se que a BYD, chinesa, ultrapassou a Tesla, estadunidense, como a maior produtora de veículos elétricos do mundo em vendas, vendendo 641.000 novos veículos elétricos nos primeiros seis meses do ano.
A Tesla, por sua vez, perdeu de 50.000 a 70.000 unidades em produção devido ao lockdown de dois meses em Xangai, de acordo com estimativas de especialistas do setor. Enquanto a China se posiciona para investir no em veículos elétricos, tendência que vem se intensificando a partir da crise climática, os EUA, representados pela Tesla, assim como a Alemanha, representada pela Volkswagen, titubeiam, apostando em tarifas, como foi o caso da UE e das propostas de Trump.
Neste contexto, o imperialismo se movimenta em busca de maiores lucros para seu capital privado nacional, e os trabalhadores da Volkswagen se organizam na Alemanha em protesto contra as demissões em massa. Enquanto o Ocidente culpa a China pelas mazelas do capitalismo, sindicatos alemães dos metalúrgicos sinalizam risco de greve. O Estado burguês joga o seu jogo e o trabalhador corre risco de fome.