'Camaradagem e União na (Re)Construção do Partido Comunista' (Dawn)
A unidade deve vir não na forma de concordância absoluta, mas de respeito e camaradagem. Sem afeto com os mesmos não podemos ser 'camaradas', e sem sermos 'camaradas' não seremos revolucionários.
Por Dawn para a Tribuna de Debates Preparatória do XVII Congresso Extraordinário.
A seguinte tribuna tem um caráter político importante, assim como busca apelar para a razão e a emoção de nossa militância, em especial lideranças públicas! É necessário termos em mente o emocional da militância para que o nosso Partido sobreviva essas aparentes infinitas crises e críticas que sofre, interna e externamente.
A camaradagem e a necessidade de união dentro do partido comunista são temas centrais para o nosso movimento atual. Marx, em suas obras, argumenta que a solidariedade de classe é essencial para a luta contra a exploração capitalista, em O capital há um capítulo inteiro intitulado “Cooperação”. Ele descreve como o sistema capitalista divide e enfraquece os trabalhadores, tornando a união uma necessidade vital para a emancipação. É importante nos lembrarmos do Manifesto Comunista: “Os proletários nada têm a perder a não ser as suas correntes. Têm um mundo a ganhar. Proletários de todos os países, uni-vos!”[1]. Esta citação ilustra a urgência de uma solidariedade global entre os trabalhadores como meio de superar a dominação capitalista, mas não só: está implícita a necessidade de solidariedade local!
Citando um revolucionário exemplar que inaugurou a revolução socialista mais duradoura até hoje, Mao Zedong reforça a importância da camaradagem e da união dentro do partido comunista, enfatizando a necessidade de disciplina e unidade para alcançar a revolução. Ele afirma: “A política é uma guerra sem derramamento de sangue; a guerra é uma política com derramamento de sangue.”[2]. Na nossa Reconstrução Revolucionária, no nosso partido não podemos fazer nem guerra, nem política, devemos buscar isso contra nossos inimigos, Para Mao, a coesão interna do partido é crucial, pois a disciplina e a solidariedade entre os camaradas são as forças motrizes que permitem ao partido liderar a classe trabalhadora na revolução contra as classes dominantes.
A discussão sobre Ferdinand Lassalle e a fundação do Partido Social Democrata Alemão (SPD) também é relevante. Lassalle, um contemporâneo de Marx, desempenhou um papel significativo na formação do movimento socialista na Alemanha. Ele acreditava na necessidade de uma organização política dos trabalhadores para a conquista de direitos sociais e econômicos. Em 1863, Lassalle fundou a Associação Geral dos Trabalhadores Alemães (ADAV), que mais tarde se fundiu com outras organizações para formar o SPD. Marx criticou Lassalle por suas táticas, que ele considerava conciliatórias demais com o Estado prussiano, mas reconhecia a importância de organizar os trabalhadores em um partido político. A fundação do SPD marcou um passo crucial na organização do proletariado alemão e na luta pela implementação de reformas socialistas através de meios parlamentares. Mesmo a crítica de Marx a Lassalle não incorporou animosidades, como Engels viria a dizer no discurso diante do túmulo de seu camarada: “adversários ainda poderia ter, mas não tinha um só inimigo pessoal!”[3]
Assim, a camaradagem e a união dentro do partido comunista são vistas como essenciais para a eficácia da luta revolucionária. Os líderes revolucionários (de Marx a Sankara), cada um a seu modo, enfatizam que sem solidariedade e coesão interna, o partido não pode liderar com sucesso a classe trabalhadora rumo à emancipação. A trajetória de Lassalle e a fundação do SPD exemplificam os desafios e as complexidades da organização política dos trabalhadores, mostrando que a união dentro do partido é não apenas uma questão de estratégia, mas também de sobrevivência política e eficácia revolucionária.
O debate interno é sempre bem-vindo e deve ser celebrado, esse espaço de tribunas é uma das melhores inovações da Reconstrução Revolucionária que almejamos. Porém, tanto nas células, quanto na internet, vemos os comunistas se atacando para provar quem “é mais comunista” que o outro. Esquecemos das palavras de ordem de nascença nosso movimento “Trabalhadores de todo o mundo, uni-vos!”, ora o “todo o mundo” também inclui a união interna. Que não deve vir na forma de concordância absoluta, mas de respeito e camaradagem. Sem afeto com os mesmos não podemos ser “camaradas”, e sem sermos “camaradas” não seremos revolucionários.
Sendo assim, é imprescindível que nossa Reconstrução Revolucionária se atente aos muitos casos de doenças mentais no nosso meio. O estresse de carregar consigo uma ideologia revolucionária está tolhendo a militância, ainda mais nesse momento tão crucial. As lideranças devem se ater às bases e operar sempre tendo em vista seu bem-estar. A existência do nosso partido depende da permanência de nossos militantes nele, mas certas esferas do partido não parecem interessadas em manter e expandir a base militante, apenas em “ter a razão” e atacar todos os outros – o que nos legará o esquecimento e nos transformará em Ruína Reacionária!
Por fim, gostaria de encerrar essa tribuna trazendo atenção especial para a excelente tribuna da Célula da Zona Sul – SP publicada dia 7 de maio "Misoginia e machismo no seio da nossa organização"[4], assim como o Editorial "Literatura partidária, liberdade de crítica e unidade de ação"[5] - ambas os textos foram essenciais para a reflexão acima.
Referências:
[1] Manifesto do Partido Comunista (https://www.marxists.org/portugues/marx/1848/ManifestoDoPartidoComunista/cap4.htm)
[2] Citações do Presidente Mao Zedong (https://www.marxists.org/portugues/mao/1966/citas/cap05.htm)
[3] Discurso diante do Túmulo de Karl Marx (https://www.marxists.org/portugues/marx/1883/03/22.htm)
[4] Misoginia e machismo no seio da nossa organização (https://emdefesadocomunismo.com.br/misoginia-e-machismo-no-seio-da-nossa-organizacao/)
[5] Editorial: Literatura partidária, liberdade de crítica e unidade de ação (https://emdefesadocomunismo.com.br/editorial-literatura-partidaria-liberdade-de-critica-e-unidade-de-acao/)