'Barreiras para um movimento estudantil secundarista consolidado e independente' (Caeta Vilarim)

Militar enquanto comunista e secundarista é uma experiência de altos e baixos. É muito bonito ver a disposição des camaradas que lutam pela escola popular e acreditam nisso. Ao mesmo passo, é muito comum e frustrante ver essa disposição se perder na artesanalidade em que fazemos nossos trabalhos.

'Barreiras para um movimento estudantil secundarista consolidado e independente' (Caeta Vilarim)
“O etarismo pode dizer o contrário, mas, como ouvi de alguns camaradas, se a UJC é a vanguarda do Partido, es secundas são a vanguarda da UJC. Que ousemos lutar, e, mais ainda, ousemos vencer!”

Por Caeta Vilarim para a Tribuna de Debates Preparatória do XVII Congresso Extraordinário.

Camaradas, escrevo essa tribuna com um pouco de dúvida se deveria realmente trazer a pauta do MEP nas tribunas preparatórias do XVII Congresso, mas concluí, por conta de algumas tribunas já postadas que tratam do ME (inclusive uma discutindo o MUP), que essa discussão deve estar presente nas tribunas, até pelo notável alcance que estas têm.

Primeiro, gostaria de deixar claro que, caso na leitura desta tribuna, algume camarada do MEP sinta que o MEP de seu estado se organiza diferente do que aqui relato, ou que tem uma linha diferente, esse é justamente o objetivo desta tribuna: evidenciar como nosso trabalho não é nacionalizado, e como isso desemboca numa artesanalidade extremamente prejudicial em nossa atuação.

Mas vamos por partes. O Movimento Estudantil Secundarista é bem complicado e desgastante: temos de lidar com diversas demandas no colégio, fazemos vestibular, muites trabalham, e conciliar isso com a militância é um desafio considerável, ainda mais quando a família também entra nessa conta, onde muitas vezes estas não querem que exerçamos nossa militância. Todos esses impasses, somados à desmobilização do Mov Secundarista atual, e as concepções políticas duvidosas sobre o MEP dentro da própria UJC e do Partido, criam um terreno muito tortuoso para trilharmos nas escolas de ensino médio, enquanto comunistas. (Listei as tribunas que abordam os temas grifados no fim desta, recomendo a leitura.)

Esse terreno exige um preparo redobrado do Movimento que construímos, evitando ao máximo voluntarismo e artesanalidade, para não sobrecarregarmos nossos camaradas, já tão pilhados mental e fisicamente. Aqui trago justamente apontamentos evidenciados nessa crise que também aparecem no MEP (Movimento por uma Escola Popular), ao menos em Pernambuco, de onde falo (ou escrevo).

Primeiro, um breve contexto sobre o MEP:

O Movimento por uma Escola Popular é um movimento de massas, construído pela UJC e independentes, que tem entre suas pautas a defesa por uma escola popular (entendendo que a escola hoje serve à classe dominante, e reproduz a dominação desta sobre ês filhes da classe trabalhadora). Essa pauta se desdobra em: o fim do capitalismo; a luta por uma escola de qualidade, que garanta a permanência estudantil; Grêmios estudantis combativos e revolucionários; Fim do Vestibular; Desmilitarização das escolas; etc.

O movimento atual dispõe de uma cartilha, com cerca de 30 páginas, presente no Instagram (@mep.nacional), onde são trazidos: o porquê da luta pelo socialismo; como nossas escolas hoje defendem, indiretamente ou não, os interesses da burguesia; como deixamos de nos desenvolver enquanto ser humano para somente servirmos ao sistema capitalista, que cada vez mais nos precariza (a exemplo do Novo Ensino Médio).

Vale ressaltar, também, as divergências de como a UJC enxerga o MEP, e como atua nele. No caso de Pernambuco, temos um núcleo que engloba todes secundaristas da UJC do estado, e isso em muito facilita nossa atuação, por podermos discutir questões nossas com mais efetividade, mas é notável que em outros estados essa divisão se dá de modo diferente, como evidencia a tribuna da camarada Pietra*.

Outro detalhe é que o MEP.PE também se organiza em todo estado, tendo camaradas do sertão, do interior, e da capital, por entendermos que fazer uma atuação estadualizada é mais efetivo, sem deixarmos de dar atenção às particularidades de cada instituição, cada cidade, e cada contexto micro.

Recentemente, numa plenária online sobre o Novo Ensino Médio promovida pelo MEP.PE, houve a presença de diverses camaradas que não são de Pernambuco, mas constroem o MEP em outros estados. O espaço foi muito interessante, também pela presença dessus camaradas, que trouxeram outras realidades para a conversa. Mas também foi um momento que eu e outres camaradas percebemos diferenças bem básicas entre a organização do MEP.PE e de outros estados. Isso foi como uma luz vermelha que nos acendeu, fazendo com que outras questões surgissem quando olhamos para o MEP nacionalmente.

Sobre as tais questões:

Aprofundando um pouco mais as questões do Movimento, temos diversas coisas a abordar. Primeiro, como mencionado acima, hoje existem diversos MEPs pelo Brasil. Isso faz com que nós, pela falta de nacionalização do movimento, pela falta de um programa bem definido, não tenhamos acúmulos/balanços/repasses coletivos sobre nosso trabalho e sobre a própria história do Movimento Secundarista no Brasil.

As consequências de pensarmos nossa atuação no escuro são (ou deviam ser) claras: é daí que vem todo tipo de artesanalidade e desgaste, acometendo nossos trabalhos enquanto secundaristas. De certa forma, nossa vontade e determinação se esvai e dá lugar à frustração, que poderia ser evitada caso tivéssemos, por exemplo:

  1. formas de compartilhar acúmulo sobre o MES de todo Brasil;
  2. cursos de formação sobre o MEP para nosses camaradas, e principalmente;
  3. um estatuto do movimento, em que poderíamos ter nossa forma organizativa e nossa linha política bem acertada.

Olhando para o ponto 1, é crucial que o MEP tenha uma forma de conectar os acúmulos, as experiências, as formulações de camaradas de todo o Brasil, e até nossa organização em congresso (como o CONUBES), seja através de um boletim ou de outro método. Trago também que essa forma de trocarmos informações deve ser para além de algo ligado à UJC; considerando que temos camaradas independentes no movimento, essas trocas devem chegar nestes também, então deixar o debate sobre o MEP centrado na UJC sobrecarrega os (poucos) secundaristas da Juventude, e tira a autonomia do Movimento, que se propõe ser de massas.

Dialogando com o ponto 1, o ponto 2 traz que precisamos efetivamente formar nosses militantes do MEP sobre a Escola Popular, sobre a construção do socialismo, sobre nossa atual conjuntura, nossos desafios, nossa história enquanto secundaristas, mas também sobre coisas mais práticas, como design gráfico, edição de vídeo, fotografia, edição de foto (para evitar artesanalidade na nossa agitprop, e ter uma ID visual marcante). Todes do MEP devem saber formular sobre nossas bandeiras, discuti-las, tudo isso para termos um movimento de massas pensante e autônomo, que dispute efetivamente as entidades como UBES e UEEs, que construa grêmios combativos, etc.

Por fim, no terceiro ponto, o mais importante dos que aqui levantei, enxergo a necessidade de organizar coletiva e nacionalmente um estatuto/regimento, que discorra sobre nosso movimento, seja na nossa linha política (qual linha pedagógica seguimos? Paulo Freire? Krupskaia? qual literatura devemos recorrer? A educação para além do Capital? A escola não é uma empresa?) seja nossa forma organizativa (Comissões? Grupos de Trabalho?). E reforço que, toda essa discussão, seja por meio de algum tipo de congresso do MEP ou de outra forma, deve contemplar es independentes do movimento.

Gostaria de levantar que esses pontos são coisas que poderiam caminhar para uma solução das questões que trouxe, mas que o crucial aqui é justamente pautarmos esses problemas, discutirmos, e caminharmos para um MEP consolidado e nacionalizado.

Conclusões:

Enxergo que o MEP não pode ser somente a frente de atuação da UJC no campo secundarista; tem de ser um movimento de massas, que construímos mas que se autogestione, e que tenha uma alta capacidade formulativa. Tudo isso para que, de forma qualificada, transformemos a vontade de mudança des estudantes secundaristas de todo Brasil em, efetivamente, mudanças, seja em suas escolas, no seu estado, ou no país inteiro, sempre com o horizonte revolucionário em mente.

Olhar para o MEP como uma frente de atuação secundarista (e até olhar para o MUP como somente uma frente de atuação universitária) da UJC é ir contra a ideia de um movimento capilarizado nas massas estudantis, é dificultar os seus trabalhos. Também se engana aquele que pensa que o MEP se autogestionar, ser autônomo, significa ter uma linha distante da nossa; é nosso papel enquanto comunistas sempre pautar nossa linha, através do convencimento político, aes nosses camaradas (principalmente aquelus independentes).

Por fim, camaradas secundaristas, olhem para essas tribunas como uma forma de falarmos sobre nós! A felicidade de ver camaradas que dividem trincheiras tocando entidades de base é tamanha, ver que existe uma determinação imensa nesse trabalho é, de verdade, o que me motiva a continuar. E saber que não estamos sozinhos, que existem MEPs no Brasil todo, todos com trabalhos lindos, é algo que traz muita esperança!

Por isso, não tenham medo de escrever sobre nossa situação, nossos desafios, nossas pautas. É nosso dever trazer esse tema tão crucial à tona, por mais que sejamos precarizades e isso dificulte em pararmos para escrever algo. O etarismo pode dizer o contrário, mas, como já ouvi de alguns camaradas, se a UJC é a vanguarda do Partido, es secundas são a vanguarda da UJC. Que ousemos lutar, e, mais ainda, ousemos vencer!

TRIBUNAS sobre o ME Secundarista que recomendo:

-'Qual a importância da construção do ME secundarista para a Revolução Brasileira?' (Pietra Marcicano)*
-'Por uma crítica do movimento estudantil secundarista' (Lilo Jardim)

Saudações pernambucanas e secundaristas,

Caeta Vilarim