Agentes do sionismo buscam calar político argentino que denuncia genocídio em Gaza
Devido a uma série de postagens denunciando o Estado racista e genocida de Israel, Alejandro Bodart, líder do Movimiento Socialista de los Trabajadores, é condenado pela Justiça Penal de Buenos Aires a seis meses de prisão, mesmo depois de ter sido absolvido em 1ª instância do judiciário argentino.
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Por Redação
O processo foi iniciado pela Delegação das Associações Israelenses Argentinas (DAIA), acusando o político de descriminação e antissemitismo devido a postagens de 2022 na rede social X. Em maio de 2022, Bodart postou em sua conta pessoal da rede social “Sionistas = nazistas” e “74 anos da catástrofe vivida pelo povo palestino, nas mãos do estado racista e genocida de Israel. A chave, símbolo de suas casas e terras roubadas, está presente em todas as lutas. Por uma Palestina secular e democrática, do rio ao mar”.
A associação sionista, então enviou-lhe uma intimação para que ocorresse uma retratação por parte de Alejandro Bodart, que por sua vez respondeu afirmando que “Essa atitude antidemocrática permanente de tentar silenciar todas as vozes críticas reafirma nossa convicção política de que o autoritarismo é um componente intrínseco do sionismo”. A partir dessa situação, a entidade DAIA acionou o judiciário argentino a partir da lei antidiscriminatória 23.592, recorrendo à definição de antissemitismo da organização Internacional Holocaust Remembrance Alliance (IHRA), a qual é adotada no direito argentino.
Bodart foi absolvido na primeira instância do judiciário argentino, em maio e em seguida em agosto de 2023, tendo passado por dois juízes diferentes. Contudo, a decisão de Natalia Molina, chefe do Tribunal Penal, Contravencional e de Contravenções de Primeira Instância nº 8, foi objeto de recurso e essa decisão foi revisada pela Câmara III do judiciário argentino, que, por maioria, anulou a absolvição.
A decisão da anulação, contudo, não foi consensual. A juíza Patrícia Ana Larroca argumenta que os tweets de Bodart não têm a tipicidade objetiva ou subjetiva para serem classificados como um crime de discriminação e que “as expressões que foram objeto de controvérsia aqui, na minha opinião, são protegidas pelo direito à liberdade de expressão”. Mas os juízes Ignacio Mahiques e Jorge Atilio Franza consideraram que o caso era um crime.
O caso de Alejandro Bodart não é isolado. A solidariedade palestina é violentamente reprimida, não só na Argentina. Nos EUA, estudantes que expressam sua solidariedade têm dados vazados e sofrem por assédio sistematicamente, numa prática conhecida como doxxing. Já na Alemanha, a polícia reprimiu violentamente manifestantes, sendo essa apenas uma de muitas políticas pró-Israel adotadas pelo país.
O Brasil, infelizmente, não é uma exceção. Alunos da USP são ameaçados de expulsão a partir de um processo administrativo disciplinar, no qual os estudantes são acusados de “apologia ao ódio”, após a promoção de um debate sobre a guerra em Gaza com a participação do Núcleo de Estudantes em Solidariedade ao Povo Palestino. A USP atualmente conta com diversos vínculos com o Estado genocida de Israel.
Não é novidade a existência de um lobby sionista. Embora este esteja particularmente presente nos EUA e na Grã Bretanha, como é descrito pelo autor John Mearsheimer em sua obra “O Lobby de Israel e a Política Externa dos EUA”, pode-se perceber a presença do lobby sionista por outros países, seja pelo soft-power como no caso dos acordos da USP com Israel, ou pela presença de organizações como a DAIA, na Argentina, no caso de Alejandro Bodart. Por isso é importante entender a repressão à solidariedade palestina como parte de um projeto sionista, não como casos isolados. Assim, notícias como a ida de seis profissionais do jornalismo brasileiro, em paralelo à excursão da delegação de acadêmicos brasileiros a Israel precisam ser entendidas pelo o que de fato são: a atuação concreta do lobby sionista subsidiado por Israel.
A atuação do lobby sionista intensifica-se junto ao aumento da solidariedade à Palestina frente ao genocídio em Gaza. Faz-se mais do que nunca necessário o uso do soft-power, assim como da diplomacia para controlar a opinião pública internacional e dar continuidade ao projeto de limpeza étnica de Israel. Dessa forma, intensifica-se a repressão, seja contra os manifestantes na Alemanha, ou contra os dirigentes políticos na Argentina. Enquanto a ideologia sionista estiver entranhada na sociedade e nas instituições, haverá coibição da empatia.
Por isso, clamamos por liberdade. Não só liberdade a Alejandro Bodart, mas liberdade ao povo palestino!