'Veganos comunistas do Brasil, uni-vos!!' (Marião)

Se ser vegano e não ser anticapitalista é uma contradição, penso que ser comunista no século XXI e não considerar o veganismo é também uma contradição.

'Veganos comunistas do Brasil, uni-vos!!' (Marião)
"Após a construção desse estereótipo, mesmo militantes experientes caem nessa generalização. A infeliz ligação do veganismo com a ideia de ser apenas uma dieta era o "encaixe" que faltava para despolitizar o movimento."

Por Marião para a Tribuna de Debates Preparatória do XVII Congresso Extraordinário.

Escrevo esse texto no calor da  leitura da contribuição do camarada Felipe Resende na tribuna de debates (Pela construção de um veganismo marxista) para expôr meu pensamento e de antemão mostrar ao camarada Felipe que não está sozinho nessa luta . Com 10 anos de adesão ao veganismo  anos e com histórico familiar de veganismo e vegetarianismo há mais de 20 anos, vi esse "movimento" passar do total desprezo ao nicho de mercado de forma acelerada. Assim como outros movimentos de contestação e contra-cultura, o capitalismo não tardou para abocanhar a narrativa e a construção de um ideal quase "incontestável" de que o veganismo é elitista, mercadológico, "coisa de branco", racista e por aí vai. Felizmente temos resistência. Mas a questão que coloco agora é: por qual motivo essa resistência não atua majoritariamente no movimento comunista?

Pois bem, espero jogar um pouco de luz a essa pergunta e aumentar o debate partindo de uma premissa básica, o movimento comunista também é ele (os militantes admitindo ou não) vítima da propaganda liberal e da construção do "perfil do vegano" como alguém branco, de classe média, muitas vezes misantropo e apartado do debate político. Após a construção desse estereótipo, mesmo militantes experientes caem nessa generalização. A infeliz ligação do veganismo com a ideia de ser apenas uma dieta era o "encaixe" que faltava para despolitizar o movimento. Exemplo disso é o "choque" que percebo em colegas militantes quando ficam sabendo que sou vegano. Vejam, sou um cara grande, peso 120kg e pratico esporte de força e contato. Além disso, o corpo coberto de tatuagens, a cabeça raspada e a barba longa criam a interpretação do "tiozão do churrasco e do rock". É impressionante como entre vários militantes comunistas a palavra "vegano" assusta e afasta. Invariavelmente quando me posiciono sobre o tema, é evidente o incômodo que isso causa aos colegas, quase como se fosse um tema proibido. Nesses longos anos de militância já ouvi de tudo, tenho certeza que muitos já ouviram o mesmo e vários outros já falaram essas coisas: "é coisa de rico", "trabalhador não aceita porque ama carne", "tema secundário", "não muda nada", "utópico", "decisão pessoal", "radical demais ", entre outros comentários menos "educados".

Escrevo portanto essa tribuna para de alguma maneira fomentar o debate, pois o que não se discute não se avança. Peço aos militantes que reflitam seriamente sobre o assunto e conclamo os veganos comunistas para um debate organizado e quem sabe a construção de um coletivo vegano comunista nas fileiras do partido, o que acredito ser essencial para ampliar e organizar o debate. Não podemos deixar o veganismo ser cooptado pelo liberalismo e se transformar por completo em nicho de mercado. Sei que não estou sozinho nessa luta e já ouvi de muitos amigos veganos que não se organizam em partido ou coletivo muitas vezes em razão do desdém ou ataques pessoais daqueles que não compreendem que o veganismo é antes de tudo, um ato político e que o espaço político deve ser sempre disputado.

Por fim deixo uma provocação. Se ser vegano e não ser anticapitalista é uma contradição, penso que ser comunista no século XXI e não considerar o veganismo é também uma contradição.

Camaradas, veganos comunistas, uni-vos!!