USP usa problemas de segurança como justificativa para acabar com autonomia dos estudantes no CRUSP

Sem diálogo com residentes da moradia estudantil, a universidade implementa grades nos blocos e bases policiais no campus enquanto negligencia as verdadeiras demandas por segurança, lazer e habitação reivindicadas pelos estudantes.

USP usa problemas de segurança como justificativa para acabar com autonomia dos estudantes no CRUSP
Reprodução: Jornal da USP. Foto: Marcos Santos/USP Imagens

Por Redação

Na manhã desta quarta-feira (14/8), a Pró-Reitoria de Inclusão e Pertencimento (PRIP) da Universidade de São Paulo (USP) iniciou o processo de instalação de grades na moradia estudantil (CRUSP), do campus Cidade Universitária, sem consultar os estudantes que ali residem. O anúncio dessa medida foi feito por volta das 7 horas da manhã do mesmo dia, enquanto os estudantes mobilizados participavam de um ato em uma região da cidade longe da universidade.

Ao presenciar as grades sendo trazidas pelos funcionários que fariam a instalação, moradores e representantes estudantis presentes no momento se mobilizaram para impedir que elas fossem colocadas e conseguiram a suspensão temporária da instalação. Frente à resistência por parte dos estudantes, a guarda universitária foi acionada e orientada pela universidade a bloquear a passagem de todos que tentassem entrar no prédio, inclusive dos moradores regulares daquele bloco. Alguns estudantes romperam o bloqueio e entraram no saguão em protesto, enquanto moradores alinhados às visões políticas da reitoria ajudaram a guarda universitária a bloquear a entrada dos protestantes e divulgaram dados falsos que confirmariam que os moradores eram favoráveis às grades. 

Pouco tempo depois, a PRIP soltou uma nota dizendo que a instalação é uma “demanda histórica dos moradores” e “um compromisso da USP”, alegação que se contradiz com as demandas de estrutura e segurança apresentadas pelos estudantes mobilizados.

Mobilizados em assembleia na noite da quarta-feira, os estudantes deliberaram pela ocupação da moradia estudantil em resposta à política de controle da universidade. A medida busca a massificação da luta entre os estudantes da USP, a fim de que as questões da segurança sejam amplamente debatidas com a comunidade universitária, para que as falsas soluções apresentadas pela PRIP não sejam propagadas e instauradas como viáveis.

A justificativa para instalação das grades no térreo dos blocos da moradia estudantil é a segurança. Mas, no ponto de vista dos estudantes, as questões de segurança são mais complexas, e envolvem problemas estruturais da moradia, como falta de iluminação, inexistência de espaços de lazer, falta de vagas e a consequente superlotação. Por isso, a mobilização estudantil entende que a alegação de segurança é, na verdade, parte de medidas higienistas que visam a expulsão dos estudantes mais pobres da universidade e a privatização da gestão da moradia.

As medidas de controle de acesso à moradia estudantil – expressas, dessa vez, na tentativa violenta e autoritária de implementação de grades –, fazem parte de um cenário amplo de desmonte do CRUSP. Desde o início das férias do meio do ano, a PRIP tenta implementar métodos de controle de acesso e vigilância dos moradores, prejudicando e ameaçando a autonomia de todos os estudantes, mas em especial os moradores irregulares, que não dispõe de vagas oficiais por falta de estrutura e regulamentação por parte da USP.

Ao entenderem que os problemas de segurança, de fato, existem no CRUSP, seus moradores demandam que as políticas de seguranças e permanência estudantil sejam formuladas junto aos estudantes que lá residem, e sirvam às suas necessidades. Ao contrário disso, o que se observa na moradia estudantil são implementações de medidas classistas, como a instalação de bases da Polícia Militar (PM) ao lado da residência, que se afastam dos problemas reais dos estudantes.