'Uma resposta sobre o debate de delegação nata' (Valen)

Infelizmente ainda temos uma estrutura organizativa herdeira do PCB que é marcada por moer camaradas até a quebra, a instância de direção se torna sempre um reduto de homens brancos pequeno burgueses e/ou de camadas médias.

'Uma resposta sobre o debate de delegação nata' (Valen)
"Espero que neste congresso e durante os próximos anos possamos repensar o que é um corpo dirigente e nossa divisão de tarefas, mas temos que trabalhar com a materialidade do que temos agora e só falar para es militantes dessa instância "participem ai da etapa de sua base" não será a vitória democrática que pensamos que será."

Por Valen para a Tribuna de Debates Preparatória do XVII Congresso Extraordinário.

Como uma das pessoas que esteve na reunião onde isso foi deliberado, me vejo na obrigação de participar deste debate e colocar pontos que vejo que ainda foram pouco colocados, não só sobre a legitimidade em abstrato da delegação nata mas também sobre a possibilidade material da participação da atual Coordenação Regional em seu debate. Para isso adaptei um email que enviei internamente a CR sobre o tema após as primeiras críticas de alguns militantes terem aparecido.

Acho importante debatermos sobre a legitimidade ou não de delegades natos, pensando até em como vamos ter os militantes da Coordenação regional participando caso seja deliberado coletivamente que eles não existam. Com a normativa de que membres da CR tem que estar presentes em pelo menos um período de todas as etapas de base feitas no estado, cada integrante da Coordenação Regional terá que assistir 2 etapas de base, mas sabemos que tem grandes chances de camaradas dessa instância acaberem não podendo dar assistência para duas ou nem para uma etapa congressual, sobrando para algumes militantes darem 3, 4 ou mais assistências, tendo casos apresentados na reunião que um militante da UJC no último congresso teve que dar 6 assistências congressuais. Um cenário tão possível que eu já trato como inevitável que diverses camaradas vão ter que "escolher" entre estar na sua etapa de base ou dar assistência para outra, por ser o único camarada disponível. Sempre quando um camarada do meu núcleo falava que sentia falta da minha presença nas reuniões de núcleo eu sempre falava "O núcleo tem dezenas de militantes mas o que eu dou assistência só tem um assistente", mas um cenário que define a minha participação política em um congresso é totalmente diferente e deve ser pensado com seriedade.

Proletarização da direção

Além disso camaradas, pensando em meu caso pessoal mas que sei que é compartilhado por diverses camaradas dessa instância, eu trabalho, estudo, cuido de casa e a carga de tarefas que eu cumpro para a Coordenação Regional é muito grande, simplesmente vejo como inviável eu ter o tempo e fôlego de cumprir tudo isso além de talvez 4 ou 5 etapas de base contando a do meu núcleo.

Infelizmente ainda temos uma estrutura organizativa herdeira do PCB que é marcada por moer camaradas até a quebra (só ver a alta rotatividade nos últimos anos de pessoas negres, não homens e proletarizadas nas nossas fileiras e principalmente nas de direção), a instância de direção se torna sempre um reduto de homens brancos pequeno burgueses e/ou de camadas médias. Uma divisão de tarefas e uma lógica de formação de quadros pequeno burguesa que para ume camarada se "destacar" este precisa pegar quantidades galopantes de tarefas e assim ser "promovido" para uma instância de direção onde somava uma quantidade maior ainda de tarefas, um verdadeiro processo de funil onde pessoas proletarizadas, que não dispõe das mesmas condições materiais, sempre quebravam e ficavam no caminho, essa lógica meritocrática também levava as instâncias de direção sendo vistas como instâncias de pequeno poder e formulação política (como vistas no mundo acadêmico), que a direção tem que “convencer e ensinar as bases” e não a de síntese política e direcionamento dos trabalhos políticos da organização baseado nas diretrizes e acúmulos trazidos pelo conjunto da militância. Então sim camaradas, não consigo participar do meu núcleo, não por "falta de vontade, distanciamento da base" ou como o camarada Doni colocou “Tenho certeza de que todos ês atuais dirigentes são perfeitamente capazes de participar dessas etapas e de contribuir imensamente para seu enriquecimento, justamente em razão dos diversos saberes que ês levaram a ser eleites para essas funções.” mas por pura falta de condições materiais, já aceitei que não terei praticamente tempo nenhum de descanso até o congresso estadual, essa CR têm uma função gigantesca de garantir que aconteçam as etapas de base do congresso e seja feita a maior etapa congressual estadual em termos quantitativos, logísticos e financeiros e não tendo algum mecanismo ou entendimento da minha dificuldade e de tantes outres camaradas de participar politicamente nesse meio tempo no processo congressual, entendam que simplesmente não terá maneira concreta de garantir que esses militantes consigam participar em sua etapa de base e possivelmente ser eleite delegade, pelo menos de suas partes mais proletarizadas. Espero que neste congresso e durante os próximos anos possamos repensar o que é um corpo dirigente e nossa divisão de tarefas, mas temos que trabalhar com a materialidade do que temos agora e só falar para es militantes dessa instância "participem ai da etapa de sua base" não será a vitória democrática que pensamos que será.

Sobre as duas outras alternativas que foram apresentadas: a primeira de ter uma etapa congressual dentro da própria CR, primeiro que novamente, como e quando conseguiriamos reunir uma instância de caráter estadual e com dezenas de membros? Já é muito negativo não conseguirmos ter um pleno ordinário em uma data que de para quase completude da instância e garantir a participação de camaradas do interior, dependendo como fosse marcada, novamente esses camaradas teriam suas participação excluída do congresso, além de que nos próximos meses tirar um fim de semana inteiro onde não poderá ter etapas de base por ter uma etapa estadual acontecendo, atravancando o congresso em todo o estado. A outra é de que a assistência participe do congresso da instância ao qual elu da assistência, aí temos duas visões disso, de participar da instância de base que elu acompanha regularmente, que teria a mesma dificuldade logística de participar da de sua própria instância de base e a outra delu participar da própria etapa em que está assistindo a etapa congressual e isso camaradas, é uma gigantesca incompreensão do que é o papel da assistência e como nessa posição que exige uma mediação e imparcialidade em diversos momentos pode influenciar por autoridade esta própria etapa congressual, essa última proposta não deve jamais ser cogitada.

Acho importante nos debruçarmos sobre como o atual modelo de CR exige que os militante cumpram quantidades enormes de tarefas burocráticas para sua existência e como a própria idéia dos Comitês Locais, que da maneira como estão nas teses beberam muito do debate feito pela CR UJC-SP nos últimos meses, com a primazia do território na dinâmica política e essas instância como corpos dinâmicos capazes de acompanhar a conjuntura local e a dinâmica dos organismos de base e com o corpo dirigente próximo e atuante nessas tarefas de base, mesmo que não necessariamente em um organismo de base, vejo até como essencial aos poucos antes do congresso irmos aos poucos diminuindo o tamanho numérico da CR e de suas responsabilidades, como nas tarefas do dia a dia na capital que ainda temos que repassar com qualidade as tarefas e responsabilidades da CL Capital.

Novamente, acho um erro uma instância intermediária deliberar sobre isso, tentei no pleno colocar esse posicionamento com a proposta de referendar no congresso dessa decisão, estou aberto e anseio por alternativas plausíveis para este cenário político-organizativo que passamos.

Infelizmente essa foi minha primeira escrita de tribuna, a própria dinâmica de vida e militância na qual estou inserida tem me impedido de ter tempo para escrever dos temas no qual sinto que ainda faltam debate, mas espero ter contribuído com esta humilde reflexão.