'Uma crítica/autocrítica às direções de São Paulo' (Raquel Luxemburgo)
Não é preciso ter medo de colocar sua linha sobre algo e ela perder, faz parte da disputa, mas algumas direções preferem fazer toda uma construção e agitação por trás e não pelos meios corretos.
Por Raquel Luxemburgo para a Tribuna de Debates Preparatória do XVII Congresso Extraordinário.
Camaradas, como alguns sabem, estou afastada da organização, porém sinto a necessidade de colocar alguns pontos em forma de tribuna. Fui direção nacional da UJC e direção estadual da RR em São Paulo, por isso também utilizei a palavra “autocrítica” no título. Escrevo esta tribuna como uma crítica à forma que algumas questões foram conduzidas na época que eu fazia parte da direção da organização. Não sou uma pessoa de produzir grandes textos com várias palavras desnecessariamente difíceis só para encantar. Então, este texto será o mais breve, objetivo e nítido possível.
Preciso elencar alguns pontos sobre o meu afastamento. Em minha carta coloquei três pontos que me levaram ao pedido: dois deles eram de cunho profissional, iria ficar sem contrato de trabalho no fim de 2023 e precisava estudar e produzir um projeto para a seleção do doutorado, o terceiro ponto era o fato de não concordar com algumas condutas das direções de São Paulo e, diferentemente do que acontecia no antigo PCB, ao ver isso, eu não encontrava ânimo para disputar, ficava apenas profundamente triste. Além disso, antes de meu afastamento, me peguei chorando copiosamente antes de reuniões, tentava fazer de tudo para não participar de certas tarefas e não me sentia mais à vontade no meio dos camaradas de São Paulo.
Porém, não quero explicitar essas diversas situações, que podem ser subjetivas, prefiro colocar o que pra mim foi a cereja do bolo: um belo dia, uma pessoa da militância que eu tenho uma proximidade e muita confiança falou que queria conversar comigo sobre uma proposta. Marcamos uma conversa e ela me apresentou que tinha sido criada uma certa proposta de unificação dos CR’s da RR e juventude para melhorar os trabalhos e outras justificativas. A intenção era passar essa proposta entre algumas pessoas da direção para conseguir costurar uma proposta sem tanto desacordo. O camarada ainda me contou que estava me contando sobre essa proposta pois considerava muito importante minhas ponderações sobre o tema, apesar dos militantes que a estavam costurando não tinham a intenção de me contar previamente.
De primeira eu fiquei extremamente puta, não é possível que tentamos estruturar uma organização nova, com a promessa que as coisas serão abertas para a base e na primeira oportunidade, é isso que se faz. Coloquei que achava muito ruim a forma que a proposta estava sendo construída e não conseguia avaliar se tal medida seria boa ou ruim, pois o processo estava errado e isso me impedia de ir além. Não lembro ao certo a data desta conversa, minhas conversas são temporárias no WhatsApp, mas no dia 21/10/2023, data que eu estava na plenária de reorganização da UJC Rio e ao mesmo tempo estava acontecendo o pleno do CR de São Paulo eu já sabia da proposta há, pelo menos, duas semanas, ela já andava pelos corredores não oficiais de São Paulo há dias.
Quando a proposta foi colocada como pauta na plenária de São Paulo, pegando uma boa parte dos militantes de surpresa, eu sabia que, na verdade, os debates dela já estavam ocorrendo há muito tempo. Portanto, as direções tiveram tempo hábil para escrever uma proposta, pedir para ser encaminhada para as bases e realizar um debate qualificado na plenária. O que não houve foi disposição política para uma construção democrática. Tanto que uma das principais polêmicas na plenária foi o tempo para a discussão e assimilação da proposta. Foi depois disso que tive a certeza de que não queria continuar ali. No final, me abstive em todas as votações relacionadas com a pauta.
As coisas que iam acontecendo por debaixo dos panos me deixavam cada vez pior. Inclusive, depois da plenária do Rio de Janeiro, conversando com tantos camaradas, vi a vontade e a disposição militante deles e lembro de pensar: “eles não merecem essa organização”, esse pensamento tem se repetido sempre que vejo qualquer camarada da base demonstrando esperança em nossa organização. Essa desilusão também acontece, pois muitas direções de São Paulo, são também direções nacionais. Me pergunto o que quer uma direção nacional fazendo coisas como a que eu coloquei aqui? Ou o que quer uma direção nacional ao se dirigir para um militante de direção intermediária e fala: “vamos conversar mais. Você é um verdadeiro leninista”.
Precisamos falar abertamente para toda a base o que pensamos. Porque as direções não estão falando abertamente, via tribuna, o que pensam sobre o fim da UJC, sobre o fim dos núcleos/células de bairro? Todo mundo apresenta sua linha sobre essas questões no bar e em conversas de corredores. Não é preciso ter medo de colocar sua linha sobre algo e ela perder, faz parte da disputa, mas algumas direções preferem fazer toda uma construção e agitação por trás e não pelos meios corretos. Como militantes formados pelo antigo PCB, aprendemos a fazer política dessa maneira, mas é importante superarmos esse tipo de construção. Não quero incentivar uma caça às bruxas na organização, mas são questões vitais se queremos construir uma organização diferente do antigo PCB.
Por fim, depois da minha carta de afastamento, diversos camaradas me procuraram. Muitos para desabafar e falar que tinham a mesma percepção, mas alguns me procuraram de um jeito que, nitidamente, não era de acolhimento. Tanto na carta como agora, eu deixo nítido que estou em um estado de sofrimento mental. Então, peço que os camaradas do exemplo que dei, mas que não citei nomes, não me procurem e que os camaradas que querem “combater as direções” e que tentaram me procurar com um tom quase de fracionista, também não me procurem.