'Um artigo, um congresso: Como forjar um partido de tipo Bolchevique' (J.V.O)

Acredito que o contingente de militantes que podemos auferir no movimento sindical, nas células nas empresas é mais do que suficiente para colocarmos uma luta política de massas e revolucionária no país, e com isso arrastar a população nessa luta enquanto a vanguarda política.

'Um artigo, um congresso: Como forjar um partido de tipo Bolchevique' (J.V.O)
"Recomendo leitura atenta, coletiva, releituras e preocupação genuína em fazer o nosso partido um partido de tipo Bolchevique e evitar de cairmos nos partidos comunistas europeus de tipo social-democratas."

Por J.V.O para a Tribuna de Debates Preparatória do XVII Congresso Extraordinário.

Recentemente tive a oportunidade de reler um artigo que anos atrás havia sido fundamental na minha formação e que por inconveniências da política e da nossa vida partidária, acabou sumindo da minha memória. O artigo se chama Como forjar um partido bolchevique – é preciso arrancar as massas aos social-democratas[1], do Ossip Piatnitsky, que foi militante profissionalizado do partido Bolchevique e da Internacional Comunista, responsável pela construção de centros clandestinos em vários países pela internacional.

Reler esse texto foi muito importante, pois ele me lembra algumas questões que agora que estamos construindo o embrião de um novo partido político, revolucionário e Leninista, talvez nos oriente melhor no que iremos construir ao finalizar o nosso congresso, mas acredito que possa ser de utilidade imediata no partido.

O texto ele tem uma função muito simples: criticar os partidos comunistas e seus vícios social-democratas nos países de capitalismo desenvolvidos à luz do que foi o partido bolchevique, sua experiência, estrutura organizativa, forma de luta, estratégia e prioridades.

De início, algo que nos é de fundamental importância e conhecimento, Piatnitsky inicia criticando a inserção dos reformistas no seio do movimento operário e como é difícil para os partidos comunistas arrancar as massas dos social-democratas. O motivo que o autor elenca como o elemento principal para isso, é o fato de que todos os métodos de trabalho dos partidos comunistas diferenciam em muito do partido bolchevique, tornando-os incapazes de fazer frente aos social-democratas.

Os partidos social-democratas e socialistas que em 1890 já existiam como partidos de massas nos principais países, haviam se adaptado ao regime e às legislações existentes. Antes da guerra mundial, a luta política travada pelos partidos social-democratas era uma luta pelas reformas no terreno da legislação social e pelo sufrágio universal. E mesmo essa luta era travada essencialmente por meio da cédula eleitoral.

Se de palavra não renunciavam ao objetivo final da luta do proletariado, o socialismo, de fato não empreendia nada sério e prático para preparar e travar batalhas revolucionárias, educar com esse objetivo os quadros necessários, dar às organizações do partido uma orientação revolucionária, romper no curso da luta com a legalidade burguesa, etc.. Toda a orientação dos partidos social-democratas e socialistas tendia essencialmente a obter por meio do sufrágio universal, igual e secreto, a maioria no parlamento, para “instaurar então o socialismo”. As mesmas tentativas de adaptação, que o Partido Bolchevique ilegal combateu violentamente, encontraram igualmente sua expressão na Rússia na pessoa dos mencheviques liquidadores (e na pessoa de Trotski), que qualificaram o regime de Stolypin de regime burguês e trataram de se adaptar a ele, passando à atividade legal e lutando por reformas, imitando os partidos socialistas da Europa ocidental. Os mencheviques não levavam em conta o fato de que as tarefas da revolução democrático-burguesa haviam ficado sem solução depois da revolução de 1905.No ocidente, os sindicatos estavam voluntariamente reduzidos ao par de organizações auxiliares das grandes massas operárias e à defesa exclusiva dos interesses econômicos imediatos da classe operária, coisa importante, certamente, mas nem sequer se propunham a tarefa de derrubar a burguesia e instaurar a ditadura do proletariado. Abandonavam todo o domínio da política “pura” ao partido político. Não se propunham a outro fim que concluir contratos coletivos e declarar greves econômicas. O papel das cooperativas era, todavia, mais reformista. Os sindicatos se achavam às vezes em desacordo, inclusive com os partidos social-democratas, sobre a fixação das festas revolucionárias e o desencadeamento de greves políticas, mas as cooperativas estavam, por sua vez, em desacordo com os sindicatos, que pediam sua ajuda nos períodos de greves econômicas. Por esta razão, os partidos social-democratas e socialistas estrangeiros, com muita tolerância à revisão bernsteiniana dos princípios fundamentais do marxismo, sem pensar nem sequer em fazer a cisão, mesmo quando alguns partidos social-democratas tivessem adotado resoluções contra os oportunistas, os revisionistas e os reformistas. Na verdade, quase toda a ação dos partidos social-democratas e das organizações operárias que dirigiam estava impregnada de bernsteinismo.

O primeiro elemento tem a ver com a estrutura organizativa do partido bolchevique:

Uma situação ilegal de todos os partidos até 1905, uma ausência de campanhas eleitorais e ao mesmo tempo (o qual é essencial) uma posição justa dos bolcheviques na questão da organização do Partido (o recrutamento para o Partido de operários de fábricas e de empresas, a criação de círculos de estudos políticos e gerais, tais foram na Rússia czarista as particularidades da formação do Partido bolchevique. A situação ilegal do Partido bolchevique, além das razões já mencionadas, o impulsionava a criar os grupos do Partido nas empresas, pelo fato de que era mais fácil e cômodo militar. A edificação do Partido começou, pois, nas fábricas e nas empresas. Isso deu brilhantes resultados, tanto nos anos de reação e depois da revolução de fevereiro como, particularmente, no curso da revolução de outubro, em 1917, da guerra civil e da grande construção do socialismo.

Durante a reação, depois de 1908, quando os comitês locais do Partido e sua direção (o Comitê Central) eram aniquilados periodicamente, nem por isso sua base deixava de se manter firme nas fábricas e empresas. As células do Partido continuavam a ação. Depois da revolução de fevereiro, as eleições dos soviets de deputados operários também eram realizadas por fábrica e por empresa. É importante destacar que as eleições para as dumas das cidades e bairros e para a Assembléia Constituinte tinham lugar não por empresa, mas por domicílio dos eleitores. Mesmo assim, depois das revoluções de fevereiro e de outubro o Partido bolchevique obteve os mesmos êxitos apesar de não ter organizações de bairro e de concentrar sua agitação nas empresas e nos quartéis. As células, os comitês de zona, e os comitês de cidade fizeram a campanha eleitoral sem constituir organizações especiais para as eleições por bairro. O Partido Bolchevique sempre tinha suas organizações de base no local de trabalho de seus membros. [grifos meus]

O elemento que busco elencar aqui é o fato de que as células por local de trabalho e empresas eram as principais do partido bolchevique, e foi com elas que o partido conseguiu resistir à repressão de 1908, se manter na luta dos trabalhadores e continuar seu trabalho e estrutura.

Mesmo assim, os partidos comunistas construíram sua organização como os social-democratas, por circunscrição eleitoral, por local de habitação dos membros do Partido e dos eleitores. Acrescente-se que não possuíam suas organizações sindicais e que onde as criaram, estas não tiveram nem têm até agora sólidos laços de organização com as empresas. Deste modo, as organizações do Partido Comunista nos países capitalistas estavam organizadas sem ligação permanente de organização com as empresas. É aí o principal defeito de organização do partidos comunistas, que deve ser destacado claramente pelos professores que ensinam nas escolas do Partido. As tarefas dos partidos comunistas eram outras, mas suas organizações tinham a mesma estrutura que as dos social-democratas. Se os social-democratas estavam ligados às empresas por intermédio dos sindicatos, os partidos comunistas nem sequer possuíam uma organização semelhante, e isso é igualmente válido, inclusive para partidos comunistas que têm uma grande influência nos sindicatos vermelhos (Partido Comunista Tchecoslovaco, Partido Comunista Francês). Desde sua aparição, os partidos comunistas adotaram as formas de organização do Partido Bolchevique. Mas durante e imediatamente depois da guerra, em muitos países, os operários nomearam delegados revolucionários (na Alemanha desempenharam um grande papel no curso das greves durante a guerra), elegiam comitês de empresa (por exemplo, os os shop stewards(1) na Inglaterra), e inclusive envia seus delegados aos soviets. Desta maneira puderam se convencer das vantagens da organização dos operários por local de trabalho com relação à organização do operários por local de habitação. Mas quando a tempestade revolucionária se acalmou, as tradições social-democratas recuperaram sua posição predominante sobre as formas de organização similares às formas bolcheviques de trabalho nas empresas. Isso é o que explica porque os partidos comunistas, e em particular as organizações de zona e de base do Partido, as organizações sindicais revolucionárias e os quadros que assumem de fato o grosso do trabalho revolucionário e do trabalho do Partido, renunciaram então aos métodos quase bolcheviques do trabalho nas empresas. E hoje em dia, ao não encontrar a resistência necessária nos dirigentes do Partido, se opõem a estes métodos, mesmo tendo demonstrado sua superioridade sobre os métodos social-democratas. [grifos meus]

O exemplo de 1923, quando o Partido não aproveitou a situação revolucionária para derrubar a burguesia, não somente porque faltava uma verdadeira direção revolucionária, mas por carência de ligação ampla e sólida com os operários das fábricas e empresas, basta para provarmos que a ausência de organização do Partido nas empresas influi poderosamente no trabalho do Partido Comunista. Em 1923, a social-democracia alemã havia se debilitado consideravelmente. Seus efetivos baixavam de uma maneira inaudita. Os sindicatos reformistas contavam, em 1922, com 9 milhões de membros... (7.895,065 na Confederação do Trabalhador e o resto no Sindicato de Funcionários). Em 1923 não conservavam mais que 3 milhões de membros. O aparato dos sindicatos reformistas se desagregava. Já não se pagava aos funcionários. Nesse momento o Partido Comunista Alemão teria podido se adonar do poder se tivesse uma direção revolucionária, se tivesse travado uma luta verdadeira contra o partido social-democrata e os reformistas, e se tivesse estado com as empresas, se as tivesse mobilizado empregando a tática revolucionária da frente única na luta pela ditadura do proletariado, em lugar da frente única de Brandler com os social democratas saxões de “esquerda” e seu governo Zeigner. A conferência convocada em 1923 pela direção oportunista de Brandler para decidir se era preciso obrar ou não, reuniu em sua maioria funcionários do Partido, chefes do movimento cooperativo e sindical entre os quais figuravam bom número de oportunistas de direita do tipo Brandler, Talheimer e Walcher, sem ligação com as massas. Eles ignoravam a vida e o estado de ânimo das massas operárias e foi esta conferência a que decidiu não intervir.  [grifos meus]

Um elemento presente nesse trecho e melhor desenvolvido ao longo de todo o texto é a crítica do autor ao abandono da estratégia de priorizar as células de empresa para as “células de rua”, ou seja, as células por local de habitação.

Na Rússia czarista as células (ou os bolcheviques isolados nas empresas onde não havia células) tiravam proveito de todas as reprimendas dos patrões: a brutalidade dos contramestres, os erros intencionais no pagamento dos salários, as multas, a negativa de pagar o subsídio por acidente de trabalho, etc. Propaganda era feita nas oficinas, eram distribuídos volantes, comícios eram organizados nos pátios e nas portas de fábricas, assim como reuniões de operários simpatizantes e revolucionários. Os bolcheviques imputavam os acidentes nas empresas ao regime autocrático, porquanto os operários experimentavam em suas costas o chicote dos mercenários do czar, o presídio e a deportação por seus protestos e suas greves contra os patrões. Ao mesmo tempo, as células, em sua agitação, ligavam a autocracia ao regime capitalista e devido a isso é que, desde o começo mesmo do movimento, os bolcheviques ligavam as reivindicações econômicas às reivindicações políticas, e a luta econômica à luta política.

Quando o estado de ânimo dos operários era favorável à greve, as células bolcheviques se punham à cabeça do movimento. As greves se propagavam de uma oficina a outra, de uma fábrica a outra, enquanto que, sob a direção e a influência das organizações do Partido Bolchevique, estes movimentos de greve tomavam amiúde a forma de manifestações de rua. Deste modo, as greves econômicas se transformavam em uma batalha política. A história do movimento operário na Rússia czarista viu mais de uma greve isolada de empresa se transformar em greves de todas as empresas de uma cidade e se estender a outras cidades. Todas estas greves, em que pese o trabalho clandestino dos bolcheviques, custavam enormes sacrifícios da parte desses e dos operários revolucionários. Mas com o exemplo destas vítimas, se formavam sem cessar novos quadros na luta e na ação cotidiana para continuar a batalha. As células bolcheviques se converteram assim nas organizações da luta das massas no terreno econômico e político.

Em 1921, o terceiro Congresso da Internacional Comunista formulou as primeiras teses sobre a organização dos partidos comunistas nos países capitalistas. Até 1924 os partidos comunistas fizeram ouvidos de mercador. Atualmente existem em todos os partidos comunistas células de empresa que, mesmo assim, sobretudo nos partidos comunistas legais, passam o tempo sem fazer nenhum trabalho prático nas empresas. As tradições social-democratas na estrutura do Partido se arraigaram de tal maneira nas filas do Partido comunista que dominam os membros do Partido, inclusive quando aplicam os princípios de organização. Existem em muitos lugares células de empresa do Partido, mas se acham longe de modificar os métodos de seu trabalho. Discutem as questões do Partido, participam nas campanhas de reeleição dos comitês de empresa, inclusive às vezes editam jornais de fábrica, mas não se ocupam das questões da empresa, não se dedicam a uma propaganda verbal individual nas oficinas, na porta das fábricas, nos trens nos quais viajam os operários. Raramente organizam comícios por ocasião das reuniões convocadas pelos comitês operários de empresa, onde tomam a palavra os reformistas e os social-democratas e onde, mais que em qualquer outro lugar, pode-se demonstrar e provar sua traição. As células de empresa não dirigem nem controlam o trabalho dos comunistas nos comitês sindicais de empresa dirigidos pelos reformistas. [grifos meus]

E continua:

Pode-se dizer o mesmo da maioria das células de empresa dos países capitalistas. Isso não significa que ali não tenha células que trabalham admiravelmente e que demonstram que o sistema das células de empresa é superior à estrutura social-democrata de organização do Partido. Mas, desgraçadamente, essas células constituem uma minoria. A enorme maioria das células de empresa não funcionam e, no melhor dos casos, funcionam mal. Um fenômeno bastante corrente até a data é que a célula não agrupa os membros do Partido na empresa. O Partido Bolchevique não conhecia mais que apenas uma organização de base: a célula de empresa, de estabelecimento público, de quartel, etc. tendo em conta as condições existentes no estrangeiro, a Internacional Comunista se viu obrigada a adotar uma forma complementar de organização: as células de rua. Estas células de rua estavam destinadas às servientas (empregadas?), aos pequenos artesãos, etc. elas deviam levar a ação comunista por bairro. As células de rua deviam compreender os membros do Partido desempregados até o momento em que encontrassem emprego. Não se podia obrigar um comunista parado a assistir as reuniões da célula da empresa onde tivesse trabalhado (admitindo que essa célula existisse) quando nem sequer tinha o dinheiro necessário para a viagem. As células de rua tarefas bem determinadas: ir de casa em casa, distribuir volantes, ajudar nas campanhas eleitorais a por de fora o trabalho das células de fábrica. [grifos meus]

Eu acho esse último trecho de importância fundamental, pois demonstra que as células de bairro foram “invenção” da Internacional Comunista devido a condições diferentes que existiam nos países capitalistas. Isso tanto demonstra a sua relevância, quanto demonstra também neste trecho o seu caráter suplementar na luta de classes. Outro ponto relevante desse trecho diz respeito às células e agitações nos quartéis, algo de fundamental importância em um país como o nosso que conta com um contingente de mais de 360mil militares na ativa[2], uma força armada de tipo moderna, profundamente anticomunista, de ideologia de “poder moderador” de tipo imperial e com respaldo jurídico via GLO (Garantia da Lei e da Ordem) para intervir na república brasileira de forma tirânica. Termos células nos quartéis é fundamental para voltarmos a ter comunistas organizados dentro das forças armadas, ampliando seu número, trabalhando politicamente onde for possível em regime de semiclandestinidade e clandestino, elaborando um sistema nosso de inteligência dentro das forças armadas, e quando a luta política exigir, passar para o lado do povo.

Nas grandes cidades do estrangeiro, acontece que o operário trabalha na cidade e vive nos subúrbios. Às vezes, inclusive em um povoado a algumas dezenas de quilômetros da cidade. À noite e nos dias festivos, osa membros do Partido que moram longe de seu lugar de trabalho devem ser utilizados pelas células de rua e os comitês de zona para o trabalho do Partido em seu bairro respectivo. Mesmo assim, o trabalho fundamental desses membros do Partido segue sendo o trabalho nas células de suas empresas.

Mas, em lugar de fazer dela uma organização auxiliar, os partidos comunistas tem dado sua preferência à célula de rua. Se dedicam a criar células de rua até que estas agrupem na realidade 80% dos efetivos do Partido, às vezes mais. Em outros termos, os partidos comunistas encontraram uma fenda pela qual tentam passar a antiga forma de organização antiquada dos membros do Partido por local de habitação. E toda a luta travada pela seção de organização do Comitê Executivo da Internacional Comunista, durante cinco anos, para que os partidos comunistas revisem a composição de suas células de rua e eliminem delas os que trabalharem nas empresas, não deu nenhum resultado. Se tomarmos as cifras do Partido Comunista alemão, no final de dezembro de 1931, 1.983 células de empresa e 6.196 células de rua.

Baseando-nos em seus efetivos, pode-se dizer que são consideráveis, mas pouco ativos. Noutros casos, para não organizar células nas empresas, se constituíram grupos de concentração. Reúnem-se alguns comunistas de muitas fábricas e empresas e se constitui um grupo para realizar trabalho nestas empresas. Esta forma de organização está muito difundida na Inglaterra, mas não dá os resultados que poderiam dar as células de empresa. Na França se procede dessa maneira: a um ou dois operários de uma empresa são agregados de doze a dezesseis membros do Partido que trabalham fora. E a isso se chama uma célula de empresa! Estes doze ou dezesseis membros do Partido, na maioria das vezes estimando que na empresa se ocupam de futilidades, fazem com que a célula se interesse naturalmente por tudo, menos pela empresa.

Outra parte fundamental do texto, fala como os partidos comunistas priorizaram células por local de habitação frente à pelas empresas, o que os tornou partidos enfraquecidos, inclusive os “grupos de concentração” que na prática tornou as células por empresa fracas para travar as lutas e as necessidades dos trabalhadores. Seguindo no texto, o enfoque passa a ser a correlação entre a agitação e propaganda dos bolcheviques, assim como na organização das formas de luta revolucionárias.

Mas isso não quer dizer que o Partido Bolchevique, que as células de empresa, que os bolcheviques isolados seguiam a corrente e dissimulavam nas empresas os princípios bolcheviques. Pelo contrário, tanto nas fábricas como nos periódicos e nos volantes ilegais, os bolcheviques levavam a cabo uma campanha encarniçada contra os mencheviques, os liquidadores, o trotskismo, os SR, os socialistas-populistas, etc. Os bolcheviques, por sua agitação persuasiva, por seus argumentos nas discussões com os membros de outros partidos, por suas proposições motivadas e oportunas, pelo conhecimento da situação dos operários nas empresas, por seus métodos de trabalho, pela atração dos operários a participar na solução dos diferentes problemas, por uma preparação minuciosa da luta, por seus métodos de organização, demonstravam a justeza e a superioridade de sua ação sobre as dos outros partidos. É por isso que o Partido Bolchevique logrou construir nas fábricas e nas empresas a frente única na base com os operários de todas as tendência durante todo o período da história do movimento operário da Rússia, inclusive no momento em que, em 1913-1914, os mencheviques reprovavam aos bolcheviques que “jogavam às greves”, inclusive sob Kerenski, no mês de agosto de 1917, na ocasião da greve geral organizada pelos bolcheviques contra a Assembléia Governamental de Moscou na qual se penduravam os mencheviques e os SR e, mais tarde, durante as jornadas de outubro de 1917, quando os bolcheviques desencadearam a insurreição contra a burguesia, os mencheviques e os SR.

Os partidos comunistas de hoje em dia carecem de algumas condições favoráveis. Mas é assim que devem travar a luta econômica, e não somente a luta econômica, contra os social-democratas, os burocratas sindicais reformistas, os fascistas, os amarelos, pois todos eles são aliados dos patrões. A menor imprudência que cometam, os comunistas, assim como os membros da oposição sindical e dos sindicatos vermelhos, são lançados às portas das fábricas. Isto obriga a aplicar métodos de trabalho que devem dar na luta do proletariado revolucionário o máximo de efeito e o mínimo de perdas.

Estes métodos não podem ser mais que os métodos bolcheviques experimentados. Os comunistas têm o dever de superar todas as dificuldades. Quanto mais dificuldades, mais deve-se levar a cabo um trabalho comunista perseverante e minucioso na empresa, em suas portas e onde houver operários e desempregados. Os métodos e o conteúdo do trabalho devem ser bolcheviques. É mister persuadir sistematicamente, com argumentos convincentes e probatórios, e não com injúrias, os que pensam de outra maneira, sobretudo os social-democratas e os operários reformistas. É preciso desmascarar sistematicamente, com as provas nas mãos, em termos simples e inteligíveis, a social-democracia e os reformistas, mas ao mesmo tempo é necessário não esquecer dos nacional-socialistas e em geral a todos os partidos adversos que tenham uma base operária. Mas só a propaganda não basta. [grifos meus]

É preciso organizar a luta, provar aos operários que os comunistas sabem combater e paralisar as manobras dos social-democratas e dos reformistas. Pode-se conseguir isso aplicando os métodos bolcheviques de trabalho e de organização, não de uma maneira mecânica, mas tendo em conta a situação. Atualmente, quando a situação dos operários de todos os países capitalista tem se agravado incrivelmente e há milhões de desempregados, quando todas as consequências da crise econômica e financeira, às quais se acrescentam os gastos para a preparação das guerras imperialistas e da agressão contra a URSS, recaem sobre os trabalhadores, o Partido Comunista tem a possibilidade e o dever absoluto de superar todas as dificuldades e de melhorar seu trabalho.

Esses pontos são fundamentais, principalmente devido ao assédio constante que nossa militância recebe dos social-liberais quando criticamos o governo Lula apontando uma “esquerda que a direita gosta”, ou “esquerdismo” quando o caluniador é um ex-leninista. O autor deixa bem claro que a agitação contra a influência das outras ideologias no seio do movimento operário deve ser combatida assiduamente. Assim como se deve sempre apostar na organização dos operários para lidar com todos os problemas que lhe são respeitos, e também apostar na organização da luta política, nas greves, nos piquetes. Comunista que não sabe organizar essas mobilizações nunca estará à altura dos Bolcheviques.

O próximo ponto do texto é uma leitura que para nós, ex-militantes do PCB, irá praticamente parecer que foi escrito analisando o partido. É com relação aos métodos de recrutamento do partido bolchevique e dos partidos comunistas nos países capitalistas.

Como se opera o recrutamento nos partidos comunistas? Os bolcheviques recrutam e recrutavam os operários revolucionários nas empresas. Só depois da tomada do Poder organizaram semanas de recrutamento para o Partido, ou seja, campanhas determinadas que eram levadas a cabo igualmente nas empresas. Antes da Revolução de Outubro, os bolcheviques recrutavam no curso da ação cotidiana. Os novos aderentes eram iniciados no trabalho do Partido e assistiam aos círculos políticos. Como se efetua até agora o recrutamento nos partidos comunistas dos países capitalistas? O recrutamento se faz nos comícios e nas reuniões. Às vezes até na rua (na Inglaterra). Um orador foi muito eloquente, entusiasmou o operário, que pediu sua adesão e entrou no Partido. Suponhamos inclusive, que indicou seu endereço. Mesmo assim, nossas organizações do Partido não se esforçaram nem se esforçam muito mais hoje em dia por se ligar com tais camaradas, inclui-los na organização do Partido, ir visitá-los em suas casas, averiguar em que fábrica trabalham para que seja ingresse na célula de empresa ou na célula de rua mais próxima. [grifos meus]

Antes que os partidos comunistas se decidam a fazer este trabalho, muito mais aderentes tiveram tempo de desaparecer: mudar de endereço, ir para outra cidade ou esfriar a respeito da adesão à organização comunista. É precisamente porque o recrutamento do Partido não ocorre nas empresas — sobre o trabalho da base da célula comunista na empresa, pela criação de um meio de operários sem partido ativos que se destacam na ação cotidiana e sobretudo no momento das greves e das manifestações que a célula deve ganhar novos membros — que aqueles que conseguimos atrair nos abandonam. Poderia citar cifras surpreendentes que indicam flutuações dos efetivos dos partidos comunistas. Em janeiro de 1930, o Partido Comunista da Alemanha dava a cifra de 133.000 cotizantes, em 1930 registrou 143.000 adesões. Por conseguinte, em 1931, o Partido deveria ter 276.000 aderentes. No fim de dezembro de 1930 não tinha mais que 180.000. Isto quer dizer que no transcurso de 1930, 95.000 aderentes abandonaram o Partido. Em 1931, a seção de organização do C. E. da I. C., segundo as estatísticas do Partido Comunista da Alemanha, da cifra de 210.000 novas adesões. Mas um contingente igual ao de 1930 saíram do Partido. Teriam abandonado o Partido se estas organizações soubessem trabalhar bem, se tivessem se ocupado dos novos membros, se os tivessem feito participar no trabalho do Partido, se lhes tivessem facilitado a literatura necessária e constituído círculos onde pudessem estudar? Teriam então saído das fileiras do Partido? Não creio. [grifos meus]

Isso é um problema absurdo que é fruto direto do método de trabalho dos partidos comunistas, mas que acredito que tenha respaldo também em nosso partido. Recrutar pessoas sem um trabalho político definido para que possam cumprir, com uma análise científica, com toda uma lógica do trabalho que demonstre razão de ser e engaje os aderentes, os mesmos simplesmente irão perder interesse no partido comunista. Quem nos busca não quer entrar para “ver o que podemos fazer”, são pífios o número dos que se colocam nessa tarefa. A maioria quer entrar para ser dirigido! Trabalho político claro, destacamento de tarefas, instrução e execução, tudo isso condizente com o quanto esse militante pode de fato oferecer ao partido, só com isso é possível de fato recrutar aderentes sem que se percam. E mesmo um partido com várias e várias vezes mais militantes e inserção política na luta de classes em seu país como foram os partidos comunistas citados, ainda assim a perda de interesse era enorme como mencionado. Precisamos aprender com essa lição na hora de elaborarmos nossos métodos de agitação para novos aderentes e como organizar a nossa agitação, caso contrário replicaremos o modelo de adesão em massa sem um trabalho político bem meditado e estruturado para que possam trabalhar, o que gera desinteresse e por consequência a saída desses militantes. Rever nossos métodos é urgente.

O próximo ponto que busco trazer tem relação com o papel da imprensa no partido:

No período ilegal e no período atual, a imprensa do Partido Bolchevique, intérprete da opinião do Partido, executa suas decisões. A imprensa mobiliza, organiza e educa as massas operárias. Não é possível separar a imprensa do Partido dos comitês do Partido. No estrangeiro, os partidos social-democratas nomeavam os redatores dos jornais do Partido nos congressos. Foi visto tal ou qual Comitê Central não poder nada fazer contra um jornal: este tinha sua própria linha política, o Comitê Central a sua. Tal foi o caso da Alemanha com o Vorwärts e na Itália com o Avanti. Evidentemente os partidos comunistas repudiaram essas “excelentes” tradições. Mas essa “independência que a imprensa social-democrata possuía antes da guerra deixou marcas profundas nos partidos comunistas. Por certo que não se pode dizer que os redatores dos jornais comunistas sejam designados pelos congressos e sejam independentes do Comitê Central e dos comitês do Partido. Não é esse o caso. Mas acontece muito amiúde que o Comitê Central e os comitês do Partido prestem muito pouca atenção à imprensa do Partido: a imprensa trabalha por seu lado, o Comitê Central e os comitês do Partido trabalham pelo seu. A linha política do Comitê Central e dos comitês do Partido difere amiúde da linha dos jornais do Partido, e isso não ocorre porque o Comitê Central, os comitês do Partido ou os comitês de redação assim o queiram.

O Partido Comunista Alemão possui 38 diários. Se estes 38 diários dispusessem de uma direção justa e racional, poderiam exercer uma influência muito maior que a que exercem na realidade entre as massas operárias. O Partido Bolchevique não possuía, desde 1912 até 1914, mais que apenas um diário legal, o Pravda. E que proezas realizava então o Pravda na Rússia! Que ajuda inestimável aportava este diário aos militantes locais, apesar de que não podia dizer tudo o que quisesse por causa da censura! Tratava as questões mais importantes e mais sérias numa linguagem popular, acessível aos operários menos educados. O Pravda reservava um grande espaço para a vida das fábricas e das empresas. Nos países que citei, os jornais são legais. Podem dizer mais ou menos o que for preciso para expressar e aplicar a linha política do Partido. Os jornais, como as organizações operárias de massa, são canais por onde os partidos comunistas podem e devem exercer sua influência entre os operários, podem e devem conquistar os operários. Mas é preciso saber utilizar e dirigir os jornais do Partido.

Os diários comunistas legais não se distinguem, em muitos países, nem por uma exposição popular, nem pela acuidade dos temas, nem pela concisão dos artigos. Os jornais estão cheios de artigos escritos em estilo de teses, ao invés de exposições populares e condensadas das principais tarefas atuais. A imprensa é culpada de que os militantes ativos, todos os membros do Partido e os operários revolucionários não possuam todos os argumentos necessários para combater os partidos social-democratas, os sindicatos reformistas, os partidos nacional-socialistas e outros a quem os operários ainda seguem. A imprensa do Partido deve não somente traçar a linha política fundamental, citar os fatos concretos da traição dos social-democratas e dos reformistas, da demagogia dos nacional-socialistas, mas também indicar a forma de explorar estes fatos. As maiorias dos jornais comunistas não têm crônica das fábricas e das empresas! Falta espaço na imprensa do Partido para este gênero de coisas! [grifos meus]

Excelente trecho por não só estabelecer bem como era a característica dos jornais dos comunistas como também a diferença deles dos Bolcheviques.  

Crônicas de fábricas, menos teses e mais explicações populares e fundamentadas com argumentos, dados e fatos convincentes. É também importante salientar que tal documento era importante tanto para os militantes do partido, quanto para os operários menos formados. Em uma época em que nossos militantes podem ter fácil acesso digital ao nosso material, pensarmos quantidade de jornais físicos, impressão, distribuição, mas também formas digitais de compartilhar o material com os demais trabalhadores mesmo no diálogo direto e presente, com grupos de telegram/wpp, QR code, aplicativos, site, vídeos, reels, cards, etc. Não depender tanto de mídia física para massificar o nosso conteúdo é um luxo que precisamos aproveitar de forma fervorosa!

O próximo ponto é sobre como fazer agitação política de qualidade, e é um dos pontos mais importantes do artigo inteiro:

Os bolcheviques souberam transformar este movimento de greves econômicas provocado pelos agentes de Zubatov, de Chaievics e companhia, em um movimento político considerável que abarcava toda a Rússia meridional. Numerosos partidos comunistas ainda não sabem organizar o trabalho de agitação de uma maneira conveniente.

Enquanto os camaradas dirigentes, redatores, propagandistas, etc., pensam que já que eles compreendem os acontecimentos e sabem se orientar, tudo é mais ou menos claro para os operários. É assim que abordam os operários social-democratas! Ao invés de pegar o menos fato de traição, indicar seu lugar, sua data, citar testemunhos, lembrar os termos exatos do ato, a data em que os líderes reformistas e social-democratas tiveram conversações com os ministros e fabricantes, traíram os interesses da classe operária, ao invés de explicar pacientemente todos estes fatos aos operários social-democratas, reformistas e sem partido, nossos camaradas não têm na boca mais que social-fascistas e burocratas sindicais. E isso é tudo. E pensam que tendo dito “social-fascistas” e “burocratas sindicais” todos os operários compreendem o sentido que estes termos injuriosos tem e acreditam que os líderes reformistas e social-democratas os merecem. Desta maneira não se faz mais que afastar os operários honestos, membros dos partidos social-democratas e dos sindicatos reformistas, pois eles não se consideram nem social-fascistas nem burocratas sindicais. [grifos meus]

É muito comum em nossa agitação sermos taxativos, falarmos, por exemplo, ao criticar determinada organização ou figura política com grandes conceitos como “conciliação de classes”, “pelegos”, falando de limites da política reformista, “social-liberais”, etc., porém não demonstramos onde e porquê cada uma dessas categorias se justifica. É quando o governo coloca que se deve financiar via BNDES presídios privados e todos os seus ministros passam meses e meses sem abrir a boca até que por pressão popular de poucos isso aconteça, que demonstramos que tal governo atende interesses da burguesia, que seu compromisso com o antirracismo é performático e estético, etc. Precisamos ser mais científicos e minuciosos, pacientes e contínuos para ganharmos as massas. Pouco adianta teses abstratas, assim como agitação esporádica, ou confundir imprensa partidária com mera comunicação externa. Precisamos de uma verdadeira imprensa bolchevique e agitação e propaganda à par da luta de classes no país.

Considerações finais

Camaradas, por que trago esse texto? Por um motivo muito simples: criticando os partidos comunistas europeus o camarada Ossip Piatnitsky nos demonstrou como algumas linhas estratégicas e métodos de trabalho eram insuficientes para a luta de classes nesses países ao mesmo tempo em que demonstrava melhor o funcionamento e a estrutura do partido bolchevique. Um partido que tinha as células nas empresas, a agitação e propaganda, a imprensa e a luta política nas greves e ações diretas os seus principais pilares para influenciar a classe trabalhadora. Ainda faz com esse texto a diferença entre partidos comunistas viciada nos métodos da social-democracia de seus respectivos países para os métodos bolcheviques de trabalho, deixando mais claro em questões de trabalho mais cotidiano a diferença entre as organizações. Isso é o tipo de literatura que acho mais útil para demonstrar o “dia a dia” do trabalho político e organizativo dos partidos revolucionários, muito importantes para nós que temos dificuldades em iniciar nossos trabalhos junto ao proletariado nos locais de trabalho e não conseguimos organizar massas em uma luta política radicalizada de forma independente. Principalmente pelo fato que temos muita leitura de teorias, pouco de métodos de trabalho prático, inclusive total abandono e negligência do mesmo sendo taxado por oportunistas como Mazzeo de “marxismo vulgar”. Que alívio não ter mais tal figura como nosso dirigente!

Outro motivo que me fez trazer esse texto tem a ver com os nossos debates internos nas tribunas, assim como da composição social do nosso partido. Um partido que irá nascer da juventude, maioria dela fora dos espaços estratégicos de trabalho, e que justamente por isso parte significativa das nossas tribunas tem relação com trabalho em núcleos urbanos e movimentos sociais, algo próximo do modelo dos partidos comunistas e social-democratas citados no texto, ou dos movimentos sociais mais horizontais e não partidários que nos é muito típico no Brasil de hoje em dia. Ou seja, me parece que não estamos dando a devida prioridade no partido de tipo bolchevique. Eu sei que o sindicalismo brasileiro está mal das pernas e que houve mudanças significativas na organização do trabalho. Ao mesmo tempo em que sei que o proletariado brasileiro independente disso continua gigantesco, com dezenas de milhões de trabalhadores, um contingente imenso de trabalhadores pronto para serem organizados em um exército revolucionário em luta por uma revolução. Assim como sei que numericamente os partidos revolucionários sempre foram pequenos, mas movimentavam massas muito maiores em sua luta, pois é isso que significa ser vanguarda.

Acredito camaradas que desde já devemos modificar os nossos métodos de trabalho político, ao invés de diluir nossa militância em uma série de células com micro-funções para atuação nos bairros procurando alguma atividade para fazer, devemos instituir um competente aparelho de agitação e propaganda e voltar esse trabalho militante para conseguir aderentes nas fábricas e empresas estratégicas de cada região do país. Com isso acredito que iremos modificar significativamente a nossa composição social do partido e começar a resolver essa imensa debilidade política de nosso partido.

Não digo aqui obviamente para abrir mão dos trabalhos nos bairros, até porquê já temos alguns bastante consolidados e vários militantes que terão esse como sua forma principal de atuação, mas falo no sentido de que além de precisarmos delinear bem que tipo de trabalho nos bairros nós precisamos, uma prioridade é uma prioridade, e se temos várias prioridades então não temos nenhuma. A prioridade, camaradas, são células por empresa, fábricas e pelo local de trabalho, recrutando o proletariado brasileiro e iniciando pelos mais estratégicos do país, já presentes em nossas resoluções. É ir atrás desses militantes, dos membros mais destacados, dos mais indignados e interessados com fervor, só assim sairemos dessa situação de sermos eternamente um partido com notas políticas nas redes e participação majoritariamente auxiliar em movimentações de massa, para um partido que intervém decisivamente na luta de classes.

O partido bolchevique no período da revolução tinha em torno de 250 mil membros, e pôs em marcha uma população muito maior, o que foi suficiente para garantir a vitória do processo revolucionário. Acredito que o contingente de militantes que podemos auferir no movimento sindical, nas células nas empresas é mais do que suficiente para colocarmos uma luta política de massas e revolucionária no país, e com isso arrastar a população nessa luta enquanto a vanguarda política. Mas para isso precisamos bater o martelo que não vamos mais deixar de lado essa categoria estratégica para outras formas de luta e categorias, priorizando-os na prática mesmo que em nossas resoluções dizemos que não.

Recomendo vivamente a todos os camaradas que leiam e releiam esse texto, tenham atenção aos detalhes, o que eu coloquei aqui foi mais relativo a nossa situação atual, outros elementos importantes constam no texto, muitos deles somos mais maduros em debater, outros estão mais distantes da nossa realidade atual. Recomendo leitura atenta, coletiva, releituras e preocupação genuína em fazer o nosso partido um partido de tipo Bolchevique e evitar de cairmos nos partidos comunistas europeus de tipo social-democratas. Compartilho para finalizar com a lista de sugestões do camarada ao final do texto, pois também as acho instrutivas na sua exposição.

As tarefas atuais

1) O trabalho comunista sindical nas empresas

Em que ponto deve ser concentrada a atenção nas escolas do Partido? Custe o que custar no trabalho nas empresas. Sem trabalho nas empresas é impossível combater vantajosamente pela ditadura dos proletariado. Essa é a questão. Mas o trabalho nas empresas adquire uma importância de primeira ordem ante a proximidade da guerra imperialista, que significa em primeiro lugar a destruição do movimento operário revolucionário legal, das organizações comunistas e dos sindicatos vermelhos legais. Nestas condições, o trabalho nas empresas se converte mais que nunca no meio mais importante e, por assim dizer, no único, de ligar-se às massas operárias das fábricas e das empresas, de influenciá-las e de dirigir sua ação. Além disso, em período de conflitos as empresas se ocupariam quase exclusivamente da fabricação de armamentos, do aprovisionamento dos exércitos imperialistas do país ou dos outros países, e a luta contra a guerra deverá ser, mais que nunca, travada nas empresas.

É difícil fazer ação na empresas. Hoje em dia, aproveitando-se do desemprego, expulsa-se a todos os operários revolucionários. Nossa tarefa consiste em penetrar nas fábricas e empresas a todo custo, por todos os meios, sob outra bandeira se for necessário, a fim de fazer nelas o trabalho comunista. É preciso fazer uma grande agitação popular, como os bolcheviques faziam antes da guerra e de fevereiro a outubro de 1917. Os partidos comunistas dos principais países capitalistas são momentaneamente legais. Têm sua imprensa, podem convocar reuniões. A agitação deve reverter outro caráter, desencadear-se nas fábricas, nas portas das empresas, nas paradas de bonde, do metrô, em todos os lugares onde trabalham e se concentram os operários e empregados. É preciso criar quadros de militantes que saibam se expressar breve e claramente; é preciso formá-los, instrui-los e enviá-los para a rua, para as empresas, as fábricas para desencadear ali a agitação. Isto é possível? Certamente. É preciso que voltem a militar em seus partidos respectivos, que compreendam e saibam realizar este trabalho.

2) as greves

Como preparar uma greve? Como dirigi-la, como formular as reivindicações? Estas não são questões simples. Para a maioria dos partidos comunistas, dos sindicatos vermelhos e das oposições sindicais, estas questões raramente recebem soluções felizes. Ainda bem recente, um bom número de partidos comunistas não apresentavam mais que as reivindicações do programa máximo e descuidavam das reivindicações imediatas. Atualmente pensam assim: formulemos apenas as reivindicações imediatas sem ligá-las à política e ao programa máximo, pois quando não apresentávamos mais que as reivindicações políticas os operários não nos seguiam e todo o trabalho se ressentia disso. Sabemos por experiência que os bolcheviques sempre ligavam o político ao econômico e vice-versa. Conheço um caso que remonta a 1905, no qual os bolcheviques, ao declarar uma greve política, formularam reivindicações de ordem econômica e vice-versa.

Preparar bem uma greve é uma tarefa difícil. Na organização e na direção de uma greve, assim como nos objetivos perseguidos pelos social-democratas e os reformistas, por um lado, e os bolcheviques, pelo outro, havia grande diferença. Os bolcheviques recolhiam dados sobre a situação dos operários nas fábricas e empresas, militavam entre eles a fim de explicar-lhes sua situação. Uma vez terminado o trabalho preparatório (exame pela célula de todos os detalhes da greve de acordo com os militantes revolucionários sem partido), se declarava a greve, formulavam-se reivindicações e se elegia um comitê de greve que reunia os operários e propunha ante eles as questões relativas à greve. Se o comitê de greve e os militantes revolucionários eram detidos, da mesma maneira era constituído outro comitê de greve. Os contratos coletivos não existiam.

Se a greve era declarada repentinamente como consequência do agravamento das condições de trabalho, de um acidente, da ausência de um sistema de proteção nas máquinas, etc., os bolcheviques da empresa ou da fábrica se punham à cabeça do movimento e formulavam as reivindicações. Assim, a greve era preparada por baixo, nas empresas, e inclusive nos casos em que se estendia de empresa em empresa, ou de cidade em cidade, isso não se fazia sempre espontaneamente. As organizações urbanas do Partido, nas zonas e nas células, discutiam os métodos para desenvolver o movimento. Os bolcheviques, ao declarar as greves, perseguiam dois objetivos:

1. melhorar a situação material e cultural dos operários, e
2. objetivo ainda mais vasto, arrastar as grandes massas operárias na luta para derrubar a burguesia e instaurar a ditadura do proletariado.

Os social-democratas e os reformistas, desde que os sindicatos foram criados, se esforçaram por centralizar as greves de maneira que os operários nas fábricas e empresas não pudessem fazer greve sem o consentimento de seu sindicato. Se começavam a greve sem seu consentimento, o conselho sindical (o presidente) não a sancionava, considerando-a uma greve “selvagem” e não lhe dava nenhuma ajuda material. Se sancionava a greve, tomava sua direção e os grevistas não tinham nada que fazer senão, por acaso, organizar piquetes de greve nas portas das fábricas quando fosse necessário. Quando os sindicatos reformistas se tornaram mais fortes, começaram a assinar contratos coletivos a longo prazo com as uniões patronais e era raro ver estalar greves durante a duração do contrato. Às vezes greves importantes eram declaradas na ocasião da renovação dos contratos coletivos. Aí, as greves eram dirigidas pelos comitês centrais dos sindicatos. Os grevistas deviam, no melhor dos casos, formular as propostas de greve. Os sindicatos reformistas eram guiados na luta econômica (antes da guerra, eram eles que dirigiam as greves) apenas pela idéia de melhorar a situação material e cultura da classe operária, sem cuidar da luta contra o conjunto do sistema burguês.

Os partidos comunistas que dirigem os sindicatos vermelhos, que são quase sempre organizações paralelas aos sindicatos e à oposição sindical e que não englobam grandes massas, na adotaram mais amiúde um método bolchevique, mas reformista, social-democrata, de organizar a greve nas empresas, método que consiste em preparar seu próprio despacho sem conhecer sempre bem o estado de ânimo dos operários. É por isso que ainda ocorre com frequência que os operários não respondem aos chamamentos de greve lançados pelos sindicatos vermelhos e as oposições sindicais ou que os próprios operários - o que menos se pensava - os que se declaram em greve.

Nas escolas internacionais do Partido os alunos devem aprender a organizar, sustentar e dirigir as greves.

3) A luta contra os reformistas e os partidos social-democratas

É preciso desmascarar a social-democracia e os reformistas e mostrar a diferença que há entre suas palavras e seus atos. É mister fazê-lo diariamente na imprensa do Partido, nos volantes, na agitação verbal. É necessário ler a imprensa reformista e replicar imediatamente suas manobras. É preciso reagir sob uma forma popular e acessível. Todo artigo, todo discurso dos social-democratas e dos reformistas pode fornecer aos agitadores e propagandistas comunistas uma documentação suscetível de alimentar sua ação contra esses elementos. Só assim poderemos desmascarar a social-democracia. Do contrário é pouco provável que se consiga isso. Desmascarando os social-democratas e os reformistas, não há que perder de vista os outros partidos e organizações que têm influência, ou que querem adquiri-la, entre a classe operária (católicos, nacional-socialistas, etc.).

Os partidos democratas de certos países assumem diferentemente seu papel de principal sustentáculo social da burguesia. Até as últimas eleições, o partido trabalhista da Inglaterra desempenhou abertamente este papel frente ao governo. Nem bem se apercebeu que os operários lhes viravam as costas, decepcionadas por sua política, e que essa ameaça era real, sacrificou seus dirigentes e passou à “oposição”. Na França, depois da guerra, o Partido Socialista não participou do governo. Às vezes, nas vésperas das eleições, ocorre inclusive de votar no parlamento contra tal ou qual lei, sabendo certamente que o governo obterá a maioria apesar de tudo. Na realidade, o Partido Socialista francês é o fiel servidor e sustentáculo do imperialismo militar francês. Quanto aos social-democratas na Alemanha, é inútil mencioná-los. São uns virtuosos na arte de enganar as massas e seu partido é o mais hábil em manobrar na II Internacional.

Os partidos comunistas devem, assim como os bolcheviques russos, prever as manobras dos social-democratas e denunciá-las às massas. É preciso desmascarar estas manobras a cada vez que os social-democratas as realizem e enganem os trabalhadores. Os partidos comunistas, os sindicatos vermelhos, todas as organizações revolucionárias de massa devem denunciar sem trégua os social-democratas e os reformistas, pois se não livrarem os operários de sua influência, os partidos comunistas não poderão conquistar a maioria da classe operária, sem a qual é impossível combater com êxito a burguesia. Os partidos comunistas devem travar uma luta enérgica e infatigável contra os nacional-socialistas que exploram a traição dos social-democratas e dos reformistas, assim como os erros e debilidades dos partidos comunistas para difundir sua influência entre a pequena-burguesia e enraizar-se entre as massas de desempregados mediante consignas demagógicas, e frequentemente até consignas comunistas.

4) O desemprego

Estamos na presença de uma desocupação formidável. Exceto o Partido Comunista, ninguém, na realidade, se ocupa dos desempregados. E quando era possível organizar os desempregados, quando era fácil fazê-lo defendendo seus interesses cotidianos, os partidos comunistas não souberam aproveitar esta situação. Poucos comunistas trabalham nas empresas, porque são expulsos. Por isso, não é fácil desenvolver a ação na empresa. Mas, por que não se organiza a ação militante entre os desempregados nas bolsas de trabalho, nos asilos noturnos, entre as longas filas de desempregados que esperam para receber pão e sopa? Entre os desempregados, são numerosos os membros do Partido e dos sindicatos revolucionários. É tão difícil organizar o trabalho entre os desempregados por meio destes camaradas? Na Tchecoslováquia e na Polônia, as organizações de desempregados souberam, em certas partes, mobilizar as importantes massas e fazer pressão nas municipalidades, ao cabo da qual os desempregados obtiveram subsídios. Na América, os desempregados não recebem subsídios nem do Estado nem do patronato. Os desempregados se vêem obrigados a recorrer à casa de beneficência. São despejados em massa de seus alojamentos. Em 1930 e 1931, apenas em Nova Iorque, foram despejadas 552.496 famílias. As organizações comunistas e revolucionárias dispõem ali de um vasto campo de ação e, mesmo assim, não tiram proveito desta situação senão em pequena escala. Ora criam associações estreitas de desempregados, ora se dedicam a organizar manifestações, mas perdem de vista que devem organizar refeitórios, construir um movimento capaz de impedir a expulsão dos desempregados de seus alojamentos, exigir e obter subsídios para os desempregados, etc...

Saudações comunistas


[1] https://www.marxists.org/portugues/piatnitsky/1930/mes/forjar.htm

[2] https://www.correio24horas.com.br/entre/o-brasil-esta-pronto-para-uma-guerra-confira-um-raio-x-das-forcas-armadas-0422